LITERATURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - APRENDIZAGEM E EXPERIÊNCIAS

Por vanessa redigolo castilho | 29/12/2020 | Educação

LITERATURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL- APRENDIZAGEM E EXPERIÊNCIAS

 

Vanessa Maria Redígolo Castilho

Mestre em Educação -FCT-UNESP/ Presidente Prudente

 

Thiago Castilho Clemente,

Mestre IFMS/ Nova Andradina

 

Uillians Eduardo Santos,

Mestre em Educação FCT-UNESP/

Presidente Prudente

 


O presente artigo teve como finalidade demonstrar as diversas maneiras satisfatórias de trabalhar a literatura infantil com crianças de pouca idade, mais precisamente na faixa etária de dois e três anos. O objetivo norteador da pesquisa é compreender como a literatura infantil é apresentada às crianças e quais benefícios a mesma apresenta na formação da aprendizagem e de futuros leitores. Por meio de estudos de bibliografias referentes ao tema, nos baseamos em diversos autores como: Abramovich, (1997); Coelho (2000); Arce (2007); Lajolo (2008); Souza (2009) e outros. Os procedimentos metodológicos se deram por meio de uma entrevista estruturada e pequenos relatos de dez professoras que atuam em uma Escola Municipal de Educação Infantil que funciona em período integral no município de Dracena. Os resultados obtidos revelaram que na visão das docentes, a hora da história se constitui em um rico momento de interação, participação mútua, aprendizagem, descoberta e brincadeira. Ainda segundo as mesmas, há a necessidade de haver cursos de formação que envolvam essa temática e discussões voltadas para a literatura com crianças não leitoras. Em relação a variedade dos livros, (fato discutido por todas), as professoras destacam que os mesmos são importantes, contudo, é essencial que o professor seja um mediador da leitura e perceba que os grupos de crianças, ainda que pequenas, são heterogêneos, podendo haver necessidades e gostos específicos.

 

 

 

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Ao falarmos sobre a relevância da literatura na Educação Infantil no processo de aprendizagem, estamos falando também sobre a importância da descoberta, imaginação, criatividade, curiosidade e etc. A criança na primeira infância, assim como nas outras fases, precisa receber muitos estímulos para que se desenvolva em plenitude, dessa forma, as ações de práticas de leitura devem ser apresentadas às crianças desde pequenas proporcionando aprendizagens significativas.

A aprendizagem e o conhecimento são construídos a partir das trocas estabelecidas entre o sujeito e o meio. De acordo com Eulália Bassedas (1999), a criança pequena recebe muitas influências de pessoas que a rodeiam, de forma que uma relação positiva construtiva entre adultos é um dos elementos imprescindíveis para a obtenção de novas aprendizagens que estimulem suas capacidades. Portanto, cabe ao professor mediar práticas que favoreçam o desenvolvimento infantil.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2009) atestam que a criança é considerada como sujeito histórico e de direitos que “nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade [..], brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura”. (p. 12). Especificam ainda que as práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular da Educação Infantil devem ter como eixos norteadores as interações e a brincadeira e que “promovam o relacionamento e a interação das crianças com diversificadas manifestações de música, artes plásticas e gráficas, cinema, fotografia, dança, teatro, poesia e literatura”. (BRASIL, 2009. p. 26). Dessa forma, a literatura está prevista nas DCNEIs e deve ser trabalhada em sua totalidade. Partindo desse pressuposto, é na primeira infância que deve ocorrer o contato e a exploração com o universo literário, a ampliação dos conhecimentos e a familiarização com os livros, sons, narrativas e etc.

Procuramos evidenciar no presente artigo como a literatura infantil é apresentada pelos professores às crianças pequenas, mais precisamente na faixa etária correspondente de dois a três anos e quais benefícios a mesma apresenta na formação da aprendizagem de futuros leitores. Buscamos o aporte teórico em diversos autores como: Fanny Abramovich, (1997); Nelly Coelho (1991, 2000); Marisa Lajolo (1996, 2008); Cyntia Girotto & Renata Souza (2009), Ninfa Parreiras (2009, 2012), Lígia Cademartori (2010) e outros.

Para a recolha de dados realizamos uma entrevista estruturada e pequenos relatos de dez professoras que atuam em uma Escola Municipal de Educação Infantil que funciona em período integral no município de Dracena. Destacamos também o que os professores pensam a respeito da importância da literatura e o que acreditam ser necessário para melhorarem sua prática pedagógica nesse âmbito literário.

 

Literatura & Educação Infantil

 

 Diante do atual cenário da Educação Infantil nos pautamos de inúmeras evidências que demonstram a importância do contato com a leitura desde a mais tenra idade. Estudos de Coelho (1991, 2000), Abramovich (2003), Parreiras (2009, 2012), Cademartori (2010) e outros, nos revelam que a literatura é extremamente benéfica na vida da criança e que a mesma se faz presente desde muito cedo, de modo que esse primeiro contato geralmente se faz presente na primeira infância através das pessoas mais próximas à criança ou posteriormente através da entrada na escola.  

Nesse sentido, Abramovich (2003) discorre que geralmente essa leitura inicial é feita pela voz da mãe e do pai contando contos de fada, trechos da Bíblia, histórias inventadas, narrativas de quando eles eram crianças e etc.  A autora relata que o ato de contar histórias é uma prática muito antiga utilizada ainda nos velhos tempos quando o povo assentava ao redor do fogo para esquentar, alegrar, conversar, contar casos, repetiam histórias para guardar suas tradições e sua língua.

Na Educação Infantil, a literatura assume (ou deveria assumir) um importante papel no desenvolvimento da criança, é nesse momento que a criança terá a oportunidade de conhecer a literatura fora do ambiente doméstico, é na escola que poderá manusear diferentes livros, ouvir contos, histórias, poemas, rimas e outros. Ou seja, é um momento de descoberta e deleite que deve ser preparado e organizado pelo professor. Não se trata de objetivar a alfabetização e sim de oferecer à criança (ainda com pouca idade) o gosto e o prazer pela leitura, mesmo que seja de maneira informal.

Destacamos dessa forma, que a literatura infantil não pode, nem deve ser vista como algo em segundo plano e sim como uma atividade rotineira e de grande importância dentro do currículo.  Conforme Abramovich (2003) e Parreiras (2012), é na infância que deve aprender a gostar de ler. Então trazemos à tona o seguinte questionamento: Como a criança terá gosto pela leitura se não houver alguém para apresentá-la?

Gládis Kaercher (2001) em seus apontamentos acerca da literatura infantil assegura que somente será possível formar crianças que gostem de ler com frequência e que tenham uma relação prazerosa com o livro se for proporcionado a ela desde muito cedo, um ambiente agradável com o livro e com o ato de contar histórias.

O Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (1998) nos confirma que ainda que a criança não saiba ler de maneira convencional, ouvir um texto já é uma forma de leitura. Ao comunicar práticas de leitura, o professor coloca as crianças no papel de “leitoras” sendo possível relacionar a linguagem com os textos, os gêneros e os portadores sobre os quais eles se apresentam: livros, bilhetes, revistas, cartas, jornais e outros.

Dessa maneira, ainda segundo o documento:

Ter acesso à boa literatura é dispor de uma informação cultural que alimenta a imaginação e desperta o prazer pela leitura. A intenção de fazer com que as crianças, desde cedo, apreciem o momento de sentar para ouvir histórias exige que o professor, como leitor, preocupe-se em lê-la com interesse, criando um ambiente agradável e convidativo à escuta atenta, mobilizando a expectativa das crianças, permitindo que elas olhem o texto e as ilustrações enquanto a história é lida. (BRASIL, 1998, p. 143).

 

 Girotto & Souza (2012) entendem “que o contar e o ler histórias, do ponto de vista didático-pedagógico, podem contribuir para que a criança se aproprie e aperfeiçoe o uso de capacidades psíquicas capazes de elevar o seu desenvolvimento intelectual e pessoal. Destacam que o conteúdo destas atividades pode vir a motivar o agir infantil ao nível prático e mental, permitindo de forma mais prazerosa, a compreensão sobre as características e os usos da língua escrita.

Nessa conjuntura, cabe destacar que a literatura é vista pela criança como uma brincadeira, pois trata-se do momento no qual ela fantasia, dramatiza e socializa com seus pares.

A sonoridade presente nas poesias, parlendas, músicas e outros, se constitui em um outro fator que encanta as crianças e a fazem querer brincar, conhecer e querer que o professor (re) conte o texto. Silva (2010) explica que mesmo que a criança não saiba ler, ela é capaz de conhecer a sonoridade presente nos textos. Dessa forma:

As características principais do texto poético, que são o olhar novo sobre o trivial e a valorização do estrato sonoro da língua são predominantes no modo de a criança expressar-se e de ver o mundo. Antes de conhecer o significado das palavras, a criança se deleita com os seus significantes - esse invólucro que acondiciona o sentido em sons. (SILVA, 2010, p. 229).

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Entendemos que é possível realizar práticas leitoras com qualidade e propor aprendizagens significativas quando os profissionais da Educação acreditam na potencialidade do seu ``papel´´ enquanto mediadores e quando os mesmos também se constituem em leitores assíduos e propagadores da importância da leitura. Marisa Lajolo (2008) pressupõe que o professor precisa gostar de ler, deve praticar a leitura mantendo uma boa relação com esta, pois dificilmente alguém que não goste de ler, incentivará a leitura ou conduzirá o aluno a ela.

Nesse mesmo sentido, Kaercher (2001) também discorre que os adultos precisam gostar de ler, “ler com alegria e diversão; “brigando com o texto, discordando, desejando mudar o final da história, enfim, costurando cada leitura, como um retalho colorido, à grande colcha de retalhos-colorida significativa- que é a nossa história de leitura”. (KAERCHER, 2001, p. 83).

 

Afinal, o que é literatura infantil?

Para Nelly Coelho (2000, p. 27), “a literatura infantil [...], é arte: fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem, a vida, através das palavras. Funde os sonhos e a vida prática, o imaginário e o real, os ideais e sua possível/impossível realização”. Ainda segundo a autora, a literatura infantil é definida “como objeto que provoca emoções, dá prazer ou diverte, e acima de tudo modifica a consciência de mundo de seu leitor, [...] é arte. (p. 46).

Nas palavras de RILDO COSSON (2011, p. 17):

 A literatura nos diz o que somos e nos incentiva a desejar e a expressar o mundo por nós mesmos. E isso se dá porque a literatura é uma experiência a ser realizada. É mais que um conhecimento a ser reelaborado, ela é a incorporação do outro em mim sem renúncia da minha própria identidade.

 

Cosson (2001) ao falar sobre literatura também explicita que a mesma nos incentiva a desejar e a expressar o mundo por nós mesmos. Através da literatura “podemos ser outros, podemos viver como os outros, podemos romper os limites do tempo e do espaço de nossa experiência e, ainda assim, sermos nós mesmos” (17).  Nas palavras de (LAJOLO, 1996, p. 108). “A literatura foi (e ainda é) uma das linguagens através das quais diferentes comunidades constroem, reforçam ou reformatam sua identidade, desdobram e renovam poderes da linguagem verbal”.

Nesse contexto, podemos evidenciar que a arte literária traz muitos benefícios para vida da criança, a literatura vai muito além de narrar algo, a literatura é beleza, é artística, pode ser encantamento, pode ser diversão, pode aflorar sentimentos e etc. O mais importante é que, através da literatura, a criança é capaz de interagir, desenvolver a oralidade, brincar, sonhar, fantasiar. Girotto & Souza (2012, p. 46) afirmam que:

[...] a literatura infantil, assumindo a sua posição de forma de linguagem artística que possibilita a interação entre autor e leitor, mediada pela escrita e pela imagem – considerando que o livro é constituído por um todo que reúne linguagem verbal e não verbal com significados complementares –, desempenha uma função particular para o desenvolvimento psíquico da criança.

 

Considerando a relevância da linguagem artística na literatura, cabe evidenciar que não são todas as obras publicadas que podem ser consideradas literatura. “Para uma obra ser literária, é necessário que haja a predominância da função metalinguística no texto e na imagem visual. É a poética que caracteriza o literário”. (PARREIRAS, 2009, p. 23). Outro aspecto que é preciso se atentar apontado por Abramovich (1993) é que muitas obras que se propõem como infantis, não são apropriadas, na verdade, apresentam adultos em miniatura exercendo funções completamente dissociadas de suas realidades.

Ao trabalhar com a literatura, é inadmissível que se abandone a beleza, a estética, o imaginário, ou caso contrário, não é literatura. Conforme Lajolo (2008), os livros de literatura infantil frequentemente são utilizados como pretexto para ensinar algo e avaliar a criança, são apresentados de maneira mecanizada. Para ela, a leitura deve ser livre, deve respeitar o momento de aprendizado de cada leitor, respeitando também o prazer ou a aversão em relação a cada livro.

Evidenciamos também que é um ponto crucial adequar o livro e as histórias à faixa etária na qual a criança está inserida. É preciso entender que as crianças pequenas ainda não possuem um amplo vocabulário, porém, são capazes de entender inúmeras coisas e precisam ter o contato com o livro. É importante que haja livros de diferentes formatos e tamanhos, ou seja, de plásticos, papelão, sonoros, macios, ásperos e outros.

 

Desenvolvimento

 

Para a realização da presente pesquisa utilizamos uma entrevista contendo seis perguntas sobre à prática pedagógica relacionada ao trabalho com a literatura Infantil. A escolha pela entrevista se deu na tentativa de aproximar os investigadores dos investigados e obter o maior número de informações sobre o objeto em questão.

Os sujeitos da pesquisa foram 10 (dez) professoras da Rede Municipal de Ensino, efetivas e contratadas de uma Escola Municipal de Educação Infantil/ Creche que atuam na turma de maternal com crianças na faixa etária de 2 (dois) a 3 (três) anos. Destacamos que todas as professoras são graduadas em Pedagogia, possuem experiência há mais de dez anos e nove delas possuem especialização na área educacional.

Para preservar a identidade das entrevistadas, em alguns momentos colocaremos a sigla (P1) correspondente a professora (1), (P2) para a professora (2) e assim sucessivamente para exemplificarmos alguns relatos considerados essenciais para a análise da entrevista.

Primeiramente indagamos: Você realiza o momento da “hora da história” com seus alunos frequentemente? Quantas vezes ao dia é realizada a “contação de história”?     

Todas as professoras responderam que realizam a “hora da história” frequentemente. Seis professoras afirmaram que a leitura de livros é feita uma vez ao dia e quatro disseram que a leitura é realizada em média quatro vezes por semana. As professoras também destacaram que esse momento é planejado, contudo, muitas vezes durante o dia, as mesmas estão sempre trabalhando com parlendas, rimas, pequenas poesias, contos de fadas e contando histórias inventadas a partir de uma determinada situação inesperada.

Aproximar a criança da literatura é extremamente benéfico para o desenvolvimento da mesma, portanto, a arte de contar histórias, ler livros e outros deve ser preconizada diariamente de forma natural. Para Kaercher (2001), o livro deve ser parte integrante do dia a dia da criança para que a mesma se torne leitora. Conforme ABRAMOVICH (1997, p. 24) “O livro da criança que ainda não lê é a história contada”, assim é por meio do adulto que as crianças terão essa aproximação.

Para Edvania Rodrigues (2005) o ato de contar histórias é considerado como uma atividade própria de incentivo à imaginação e o trânsito entre o fictício e o real. Dessa forma:

“Ao preparar uma história para ser contada, tomamos a experiência do narrador e de cada personagem como nossa e ampliamos nossa experiência vivencial por meio da narrativa do autor. Os atos, as cenas e os contextos são do plano do imaginário, mas os sentimentos e as emoções transcendem a ficção e se materializam na vida real”. (RODRIGUES, 2005, p. 4).

 

Considerando que nessa fase da primeira infância, é muito importante que as atividades oferecidas sejam estimulantes e criativas, as histórias devem ser variadas de forma que despertem o interesse e curiosidade da criança sendo bem contadas e interpretadas.  

É muito comum que as crianças pequenas se identifiquem com os contos de fadas e com as experiências neles narradas. Parreiras (2009 p. 75) explica que “os contos de fadas são narrativas estruturadas como um sonho: há uma linguagem condensada, carregada de simbolismo. Cada personagem e cada tema nos remetem a outras questões. Representam valores universais e atemporais”.

A autora salienta em seus textos que as histórias trazem uma gama de sensações e traduzem sentimentos sendo possível com a leitura discutir valores como inveja, egoísmo ciúmes e etc. Dentro desse contexto apresentado pelos autores, consideramos que todo dia é propício para uma boa história entrelaçada com um momento de ludicidade.

Em seguida perguntamos: As crianças demonstram gostar desse momento?

Todas as professoras afirmaram que se trata de um momento na qual elas gostam muito. Cinco professoras acrescentaram que é visível o quanto a criança aprende diariamente com as histórias. As professoras de modo geral discorreram que a hora da história é um momento de brincadeira no qual eles participam, querem ficar com os livros, se divertem e pedem para que a história seja (re) contada.

Parreiras (2012) assevera que quando o livro permite que a criança brinque, se coloque na história e fantasie, ele é como um brinquedo, pois o brinquedo é considerado o primeiro objeto cultural na vida da criança. É por meio do brinquedo que ela se comunica e interage. “E por meio do livro, pode se colocar, pode imaginar, pode se divertir, pode compartilhar experiências com outras pessoas”. (PARREIRAS, 2012, p. 112).

É perceptível que as crianças sempre se sintam atraídas por histórias. Provavelmente tal fato ocorre naturalmente devido ao encantamento, magia e sonoridade. “A leitura de histórias é uma rica fonte de aprendizagem de novos vocabulários. Um bom texto deve admitir várias interpretações, superando-se, assim, o mito de que ler é somente extrair informação da escrita” (BRASIL, 1998, p. 145). Nessa perspectiva, VÂNIA DOHME (2005, p. 19) nos apresenta vários benefícios oriundos do prazer de ouvir histórias. São eles:

- Caráter: as histórias com heróis, conteúdos que proporcionam lições de vida, fábulas em que o bem prevalece sobre o mal. Por meio das histórias, principalmente, os meninos se defrontam com situações fictícias e com isso adquirem vivência e referências para montar os seus próprios valores;

 - Raciocínio: as histórias mais elaboradas, os enredos intrigantes, agitam o raciocínio da criança.

 - Imaginação: o exercício da imaginação traz grande proveito às crianças, porque atende a uma necessidade muito grande que elas têm de imaginar. As fantasias não são somente um passatempo; elas ajudam na formação da personalidade na medida em que possibilita fazer conjecturas, combinações, visualizações como tal coisa seria “desta” ou de “outra” forma.

 - Criatividade: uma vez que a criatividade é diretamente proporcional à quantidade de referências que cada um possui, quanto mais “viagens” a imaginação fizer, tanto mais aumentará o “arquivo referencial” e, consequentemente, a criatividade.

 

Salientamos que frente a gama de benefícios que a literatura apresenta às crianças, torna-se indispensável que esse momento seja realizado frequentemente tendo à criança como sujeito do processo, ou seja, participando de maneia ativa e não como mera ouvinte.

Seguimos: Na sua prática pedagógica, você já precisou mudar a história ou a maneira de contá-la devido à falta de interesse dos seus alunos? Caso a resposta seja afirmativa, responda o porquê que os mesmos não se interessaram. 

Nessa resposta, nove professoras afirmaram que já precisaram mudar a história ou o livro em algum momento, uma delas respondeu que esse fato nunca ocorreu, pois, as crianças sempre se encantam com esse momento.

As respostas sobre o possível desinteresse das crianças foram bem variadas como: história que falava de morte, tema desinteressante, narrativa muito extensa, falta de entonação de voz e espaço inadequado.

Em um relato a professora na qual denominaremos de (P1) afirmou:

 “Na época, acredito que minha falta de experiência nessa área contribuiu para que as crianças não se interessassem muito. A história era um pouco longa e não consegui chamar a atenção deles. Eu poderia ter utilizado artifícios para chamar a atenção durante a história, ter mudado a voz, o espaço também não era considerado adequado. Hoje fico atenta a esses detalhes”.

 

Quando as professoras destacam que a entonação de voz se traduz em um importante momento para chamar a atenção das crianças, elas mesmo sem saber estão em consonância com Souza & Girotto (2014, p. 11) quando afirmam que:

“Na contação, a escolha dos recursos e das técnicas é primordial para enriquecer a atividade e cativar o ouvinte para que ele busque, a seguir, o livro”. Segundo as autoras, o professor deve preparar esse momento com clareza, a leitura em voz alta “requer um ensaio prévio, para que o docente treine a pronuncia das palavras, a entonação das frases, a articulação de sinais de surpresa ou indagação, dentre outros elementos que remetem ao texto escrito” (p. 11).

 

Contar histórias é considerado uma arte, exige um momento de preparação, de planejamento e conhecimento. Conforme Dohme (2005) é necessário pesquisar, ler literatura especializada feita para as crianças, conhecer seus heróis, sejam eles pertencentes aos desenhos animados ou histórias em quadrinhos, assistir a filmes, conhecer suas brincadeiras e preferências. Em suma, é preciso estudar e ter claro os objetivos que se quer atingir.

Nesse mesmo sentido (P2) relatou que:

“Pela faixa etária das crianças eu notei que minha história não estava adequada, não chamava a atenção deles. Por influência de um curso sobre“ Contar histórias na Educação Infantil” na Secretaria de Educação, fui despertada pela “contadora” que há maneiras diferentes de contar histórias, de fazer leituras. Hoje com uma simples pena na cabeça eu me transformo em várias personagens levando eles para o mundo da imaginação”.

 

Pela análise das respostas, percebemos que as professoras conseguem refletir sobre sua prática, analisando os aspectos satisfatórios ou “não” de seu trabalho. Tal fato se traduz no amadurecimento da docência e reflexão da práxis.  

Diferentemente das demais respostas, (P3) evidenciou que: “Acredito que as crianças sempre estão atentas às histórias porque trabalhamos com muitos materiais diferenciados como: aventais, fantoches, brinquedos e outros, a criança interage conosco”.

A utilização de diversos materiais e artefatos contribuem para chamar a atenção das crianças e essa interação que ocorre entre adulto e criança se traduz em um rico momento de aprendizagem e socialização. Arce (2007) explica que todo trabalho na Educação Infantil deve ser pensado, planejado e preparado, pois no desenvolvimento infantil, sobretudo nesta fase, é primordial a interação da criança com o adulto. Destaca ainda que o desenvolvimento é mediado pelas relações estabelecidas com os adultos e com o meio circundante.

Perguntamos: O ambiente no qual você realiza a hora da leitura é considerado adequado? Caso a resposta seja negativa. Como você gostaria que fosse o ambiente?

 A maioria das professoras, ou seja, oito delas, consideram que o ambiente não é totalmente apropriado, pois os espaços são na maioria das vezes adaptados.  Elas também salientaram que as salas são pequenas não sendo possível as mesmas se movimentarem como gostariam. Duas professoras consideram o espaço adequado, entretanto, preferem ir à brinquedoteca e variar o lugar para contar histórias. As professoras gostariam que houvesse uma sala só para leitura, ou seja, uma biblioteca.

Grande parte das instituições de Educação Infantil não possuem espaços adequados para a eficácia das atividades, no entanto, é possível criar estratégias que tornem o espaço aconchegante. Abramovich (1993) nos alerta sobre o cuidado que se deve ter em escolher o livro, o espaço e que também é necessário proporcionar às crianças a liberdade para que cada um encontre um jeito gostoso de ficar, seja sentado, deitado, enrodilhado, ou seja, cada um a seu gosto. Diante do exposto, é possível afirmar que além do ambiente e espaço favorável, a criança também precisa estar confortável.

Ainda nos pautando nos estudos da autora, destacamos que o professor deve organizar o ambiente de tal forma que haja um local especial para livros, gibis e revistas, no qual as crianças possam manipulá-los e “lê-los”, seja em momentos organizados ou espontaneamente.

Continuamos: O acervo de livros de sua escola é considerado bom e suficiente? Tema algo que considere importante para uma boa realização da prática de contar histórias que sua escola ainda não possui? As crianças possuem acesso aos livros?

Todas as professoras consideram o acervo de livros bom, contudo, apesar de haver muitos livros, nem sempre é suficiente. Elas evidenciaram que a EMEI possui muitos livros de diferentes tamanhos, formatos, com histórias interessantes e que as crianças possuem acesso podendo manuseá-los, pois os mesmos ficam em uma altura na qual as crianças alcançam.

 Duas delas evidenciaram que ainda que a escola possua muitos livros e bebetecas, seria bom sempre renovar as coleções e ter um baú com mais fantasias e acessórios. (Elas utilizam fantasias e utensílios para auxiliarem na montagem dos personagens).

Uma das professoras também relatou que acha importante haver mais livros com recursos sonoros, pois as crianças gostam muito. Oferecer uma diversidade de livros para as crianças se constitui em uma preocupação que as mesmas possam desfrutar de um ambiente leitor diversificado. (BRASIL, 1998, p. 143). O fato da criança poder manusear o livro é considerado algo muito positivo. Parreiras (2009) explica que a “a aproximação da criança com os livros deve acontecer como a aproximação com os brinquedos: ver, tocar mãos e pés, levar a boca.” (p.28).

Segundo a autora primeiramente há uma relação de ludicidade, de gostar do livro para depois estreitar a relação que o ser humano vai ter com o mesmo. Corroborando com essa afirmação, Miguel Manguel, (1997) assegura que o leitor tendo contato com o livro, estabelece uma relação íntima, física, onde todos os sentidos se relacionam, os olhos colhem as palavras na página, os ouvidos ecoam os sons que estão sendo lidos, o nariz inala o cheiro familiar de papel, o tato acaricia a página áspera ou suave e ainda segundo o autor, às vezes até mesmo o paladar é percebido. Abramovich (1993), também destaca a relevância de deixar que a criança possa escolher o livro, pois para ela, não é possível que alguém aprenda a gostar de ler, sem que possa escolher o que ler.

Cabe ao professor também ter um cuidado com o tipo de livros que possui em sua biblioteca, sendo que os mesmos devem ser adequados à faixa etária da criança. Francisca Maciel (2008) nos alerta que o ideal é haver obras significativas nacionais e estrangeiras, exercer um controle de qualidade na aquisição desses livros, possibilitar que se tenha um universo de opções de livros que possa ser lido, compreendido e assimilado. O que se espera de um livro é que a criança, “ao explorá-lo brincando, adquira, de modo próprio e gradativo, de acordo com seu próprio ritmo, familiaridade com a estrutura da língua, que ela viva experiências de linguagem. E que isso seja feito ludicamente”. (BRASIL, 2015, p. 16).

Ainda em relação aos livros, é necessário que o professor fique atento, pois nem todos livros publicados trazem histórias literárias. Para ser considerada literatura, é preciso que “a obra deve ter um encantamento trazido pelas palavras e ilustrações: o uso das figuras de linguagem, como as metáforas, de linguagem poética, de coisas subentendidas, de ludicidade, de duplo sentido, de repetições”.  (PARREIRAS, 2012, p. 108).

Por fim, indagamos: Você gostaria de participar de cursos de formação na área da literatura? Considera importante haver cursos específicos e formações nessa área? Por quê? 

Nesse questionamento todas as professoras evidenciaram a necessidade de haver cursos e formações que envolvam essa temática. Afirmaram que gostariam de aprender novas técnicas, gostariam de conhecer mais sobre o assunto e principalmente e de melhorarem a própria prática, pois acreditam na importância de sua mediação. As professoras também elucidaram que pouco aprenderam sobre literatura no curso de Pedagogia. Duas professoras afirmaram não terem tido essa disciplina e que o tema foi abordado esporadicamente.

Evidenciamos que o curso de Pedagogia apresenta muitas lacunas e a disciplina referente a Literatura Infantil (na maioria dos cursos) possui uma carga horária pequena em relação à outras disciplinas. Ademais, é possível constatar que em algumas faculdades, a disciplina nem sempre fez parte da grade curricular.

A formação inicial e contínua é essencial para que os professores possam obter novos aprendizados e enriquecer a prática cotidiana.  O ministério da Educação e Cultura através do documento “Proposta de Diretrizes para a formação inicial de professores da Educação Básica, em cursos de Nível superior” (2000) afirma que “melhorar a formação docente implica instaurar e fortalecer processos de mudança no interior das instituições formadoras, respondendo aos entraves e aos desafios apontados” (p. 12). O documento aponta a necessidade de uma revisão profunda dos diferentes aspectos que interferem na formação inicial de professores, como: a organização institucional, a definição e estruturação dos conteúdos para que respondam às necessidades da atuação do professor, os processos formativos que envolvem aprendizagem e desenvolvimento das competências.

 

Considerações finais

 

A pesquisa nos revelou através da fundamentação teórica e da investigação em questão que a literatura está presente na Educação Infantil correlacionada com a aprendizagem significativa e desenvolvimento integral das crianças.

Em linhas gerais destacamos que é possível desenvolver um rico trabalho com literatura com crianças que tenham pouca idade através de brincadeiras, musicalização, parlendas, poesias, hora da história e outros. Esse trabalho, quando bem elaborado, se resulta em um momento “mágico” de descoberta, aprendizagem, interação, criatividade, imaginação e outros.

Elucidamos que a criança não se torna uma leitora e apreciadora da literatura sozinha, é necessário que haja um processo e a mediação do professor, consideramos que essa mediação se torna possível e eficaz quando o mesmo também se identifica como um leitor e quando há um planejamento de sua prática educativa objetivando o que se quer alcançar.

É importante que a criança tenha familiaridade com a literatura e com a leitura de forma lúdica e prazerosa, nesse processo, a escolha dos livros, o repertório, os gêneros e o ambiente se traduzem em elementos primordiais para que isso ocorra naturalmente. Haja vista, o deleite da literatura não se constitui por imposição, nem de forma isolada.

A presente pesquisa também nos denunciou que o curso de Pedagogia apresenta falhas em relação a disciplina de Literatura, destacamos que a disciplina deveria ocupar um lugar de destaque, com ementas significativas, visto que a mesma apresenta elementos que corroboram com a aprendizagem.

Salientamos que a presente pesquisa não pretende esgotar as discussões acerca do assunto e sim fomentar novos debates e apontamentos relevantes à temática.

 

 

 

Referências:

 

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1993.

 

ARCE, Alessandra; MARTINS, Lígia Márcia (Org.) Quem tem medo de ensinar na educação infantil? em defesa do ato de ensinar. Campinas, SP: Editora Alínea, 2007.

 

BASSEDAS, E.; HUGUET, T.; SOLÉ, I.  Aprender e ensinar na Educação Infantil. Tradução de Cristina Maria de Oliveira. Porto Alegre: Artmed, 1999.

 

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