Linhas gerais sobre Theodore Roosevelt e Woodrow Wilson
Por Eduardo da Nóbrega Monteiro | 28/10/2014 | PolíticaAté o início do século passado, os EUA apresentavam-se ao mundo com uma tendência isolacionista em política externa. Os primeiros anos da nova república, o país adotava sua política externa com um caráter mais de defender e reforçar sua recente independência. Todavia, dois fatores foram fundamentais para que os EUA fossem lançados ao mundo em pautas mundiais: alta e rápida expansão nacional e queda paulatina do sistema mundial euro-centrista.
Dois presidentes da república foram fundamentais para que esse caminho pudesse se tornar realidade: Theodore Roosevelt e Woodrow Wilson. Tinham bastante pouco em comum, talvez apenas a noção de que os Estados Unidos tinham um papel fundamental no cenário internacional e justificaram a falta de pro atividade norte-americana com ideais bem distintos.
Theodore Roosevelt era bastante realista, não reconhecia eficácia no Direito Internacional já que os Estados são soberanos. Era defensor veemente da ideia de equilíbrio de poder, aferrou-se em um papel voltado para a política externa dos Estados Unidos a partir de um contexto no qual os anseios nacionais o exigiam e o equilíbrio de poder global nunca poderia ser atingido sem a atuação americana.
Uma característica marcante de seu governo foi a interpretação de caráter muito intervencionista e imperialista, da Doutrina Monroe. Alguns casos expressam bem essa afirmação, em cinco anos, os EUA interferiu diretamente em assuntos internos de países ocidentais: forçaram o Haiti a sanar dívidas com bancos europeus ( 1902 ); no ano seguinte, apoiaram a revolta na região que hoje é o Panamá, contra a Colômbia e por fim tomou para si a Zona do Canal; três anos depois ( 1906 ) houve a invasão de tropas americanas a Cuba.
Para Woodrow Wilson, a justificativa da atuação da política externa estadunidense era "messiânica". O país não deveria apenas buscar o equilíbrio de poder na ordem global e, sim propagar suas vertentes sobre como um país deve ser, para o mundo. Ideia totalmente repudiada pelos diplomatas do Velho Mundo, por ser muito contrária aos princípios realistas da época.
O "dever ser", defendido por Woodrow Wilson, defendia a paz era consequência da disseminação da democracia, os Estados devem ser julgados nas mesmas bases éticas e morais que os indivíduos e o interesse nacional deve aderir a um sistema de leis universal ( Direito Internacional ). Esse idealismo de Wilson anda com as atitudes de política externa estadunidense até hoje.
Com posições ideológicas bem diversas, fato é que suas atitudes transformaram a forma de pensar política externa nos EUA. Theodore Roosevelt foi mais realista e com um caráter até de Darwinismo social atribuída as relações internacionais. Woodrow Wilson, era um idealista defensor do Direito Internacional, da paz conquistada pela democracia. A ideia de "farol" a seguir e a de "messiânico" são marcas de suma importância desses dois governos e de tomadas de decisão até hoje em Washington.
A GUERRA DA COREIA E A TEORIA DA CONTENÇÃO
A ideia inicial dos Estados Unidos era a de mandar suas tropas de volta para casa ao fim da Segunda Guerra Mundial, todavia não foi isso que aconteceu. Os americanos continuaram em solos estrangeiros criando, de várias formas e meios, programas para prevenir uma tomada de ideais comunistas na região da Europa, essa foi chamada de Política de Contenção.
Durante pouco mais de três anos, pós-guerra, essa política funcionou como havia sido premeditado. A Aliança do Atlântico Norte era sua frente militar contra a expansão soviética e o Plano Marshall era a frente econômica e militar, na Europa Ocidental. O programa de ajuda Grego-Turco foi importante para os anseios estadunidenses, posto que foi afastado do leste do Mediterrâneo qualquer ideal soviético.
Mas nem tudo é perfeito para os EUA, essa teoria de contenção apresentava uma falha profunda que fazia com que o país agisse em ideais principais de pouca veracidade: os comunistas não estariam também fazendo esse jogo e de que esperariam a deterioração de seu próprio modelo de regime institucional. Um bom exemplo de como essa teoria foi posta a prova foi na Guerra da Coreia.
Em Junho de 1950, os Estado Unidos foram postos a prova sobre sua política de contenção no cenário internacional. Nessa época a Coreia do Norte, tida com agressora, avançou o Paralelo 38 ( fronteira proposta e respeitada até então, pela ONU ) e atacou a Coreia do Sul. De fato isso não teria relevância partindo dos princípios da teoria tendo em vista que a contenção era pra ser feita na Europa. A Ásia não fora vista como ponto estratégico pelo país ocidental e viu os soviéticos avançarem por lá.
O fato é que os militares americanos, um pouco confusos, cogitaram duas hipóteses para esse avanço: ataque surpresa promovido pela URSS aos EUA, ou uma invasão da Europa Ocidental, enquanto todos estivessem voltados para o outro lado do mundo. Essas hipóteses são tomadas de princípios da época que na regeriam hoje em dia nas relações internacionais, já que isso viola diversos princípios de direito internacional e contrariaria os princípios fundamentais da ONU.
É também verdade que Moscou e Pyongyang acreditavam que Washington não dava bola para o continente asiático, ainda mais para Coreia totalmente fora do perímetro de políticas norte americanas. Os Estados Unidos não haviam interferido como normalmente fazem na situação de guerra civil na China - ator de bem mais peso e importância para o equilíbrio de poder da região - logo a ida a Coreia era tida como conquista quase que fácil. Ou seja, os comunistas achavam
que seria fácil porque os Estados Unidos não davam o devido respeito a região da península e os EUA realmente não deram importância ao valor geopolítico da Coreia.
Entretanto, contrariando o senso comum, muitas pressões internas e externas fizeram com que os Estados Unidos tomassem uma decisão importante sobre como reagir a essa situação. Eles viram que os comunistas estavam em "marcha" e deveriam ser detidos mais por princípios americanos do que por de fato estratégia. Pode ser bem explicado o papel americano na Guerra da Coreia a partir de termos de idealismo wilsonianos, seria liberdade/democracia contra ditadura.
Mesmo com as Nações Unidas inibindo os anseios americanos, os Estados Unidos teve amplo apoio de alguns países do Tratado do Atlântico Norte ( Inglaterra e Turquia ) que mandaram tropas em boa quantidade para apoiar a causa americana. Se diziam regidos pelo princípio da ação coletiva e demonstrar que a agressão não compensa - um tanto contraditório dizer que a agressão não compensa quando o país agride também.
Douglas MacArthur, comandante das forças americanas no Pacífico e um dos generais mais reconhecidos até hoje por lá, comandou também a ida a Coreia. Desembarcou em Inchon, um porto que fica em Seul, e avançou sobre o exército norte-coreano na região do Sul e o caminho para o Norte ficou em aberto.
Após esse acontecimento, o governo americano da época era de Truman, em que se via com algumas opções à mesa após o inicio da vitória dos americanos sobre o exército norte-coreano. Parar as tropas no Paralelo 38 e retomar ao status quo ante; avançar mais sobre a península e mostrar aos norte-coreanos como é ruim esse tipo de mediada; avançar até a fronteira com a China.
A opção de avançar até a China não era de fato a decisão mais estratégica, tendo em vista que seria quase que uma afronta a honra sino-soviética. General Mac Arthur insistiu no avanço até a fronteira chinesa, no rio Yalu. Entretanto diversos descompassos entre ordens em Pequim e Washington fizeram com que os chineses entrassem em guerra com as frentes "sul-coreanas"que por fim levou as tropas a descerem e reestabelecerem o Paralelo 38 algum tempo depois.
Bibliografia:
Diplomacy - Henry Kissinger