LIMITES NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Por Camila G. Meleke | 12/04/2009 | Educação

Sabe-se que este assunto é um tanto quanto delicado, pais, especialistas, educadores e até leigos arriscam um palpite, contudo, não foi possível determinar exatamente o que se deve ou não fazer em se tratando de educação e criação de filhos, tem-se várias teoriase muito se sabe também que a é prática é outra, ou seja, na teoria tudo dá certo, mas no "vamos ver" o "tiro acaba saindo pela culatra" (como se diz na gíria popular) na grande maioria dos casos.

A palavra limite designa ponto que não se deve ou não se pode ultrapassar.

O ser humano desde sempre conviveu com limites, no decorrer do seu desenvolvimento, tal como exemplo, o fato do feto se limitar ao útero da mãe até seu nascimento, alguns destes limites são superados outros não. É dever dos pais estabelecê-los a seus filhos, mostrando-lhes regras e valores socioculturais

Com o passar dos anos a criança, aos poucos, assimila e é capaz de distinguir os ensinamentos dos pais, ou seja, o certo ou errado.

Na faixa etária de 0 a 3 anos, o principal objetivo da criança é o prazer imediato, querendo a todo custo satisfazer seus desejos e curiosidades, período conhecido como: hedonista (busca pelo prazer, satisfação imediata) e egocêntrico (onde só se vê o eu).

Desde pequenos são capazes de aprender a lidar com a responsabilidade responsável e a aquisição dessa responsabilidade torna-se obrigatória para uma vivência em sociedade.

Tomamos como exemplo a liberdade de brincar com os próprios brinquedos, cabe aos pais mostrar a criança que isso requer cuidados, ou seja, o cuidado de guardá-los após o término da brincadeira, tal atitude desenvolve na criança o senso de responsabilidade e organização, que a mesma carregará ao longo de sua trajetória existencial.

Entretanto deve-se ter em mente que uma educação severa demais pode gerar filhos tímidos ou reprimidos ao extremo, filhos que não se permitem arriscar por medo da reprovação alheia, filhos inseguros e infelizes.

O melhor mesmo sempre foi e sempre será o diálogo, o incentivo, o encorajamento, claro que um castigo aqui ou uma palmadinha acolá não trará grandes traumas.

O pai/mãe que impõe limites a seu filho transmite a ele segurança, proteção, estabelecendo assim um vínculo de respeito, por outro lado, a criança que não recebe esse estímulo, tem atitudes negativas, como exemplo, a birra, que é gerada num momento de desejo, de impulso da criança e não é atendida pelos pais, ela se joga no chão, bate o pé, grita, chora ... Para poupar-se do constrangimento (geralmente isso ocorre em lugares públicos) os pais acabam cedendo, outro fator considerável é a mordida, para a criança é uma forma de obter a atenção do adulto, e quando vê seu objetivo atingido, passa a ter tal atitude sempre.

Atualmente nota-se que o respeito está um tanto quanto ausente nos lares, nas salas de aulas e até mesmo nas práticas sociais em geral, enfim nas relações interpessoais, hoje é visível que há muito "cacique pra pouco índio", muito se fala, mas pouco se faz... Todos querem o "poder", mas poucos têm a grandeza para desempenhar adequadamente esse papel.

É muito comum presenciarmos cenas de crianças de tão pouca idade e tamanha agressividade em falas, olhares e gestos, todavia, vale lembrar que muitas crianças vivem em lares desestruturados, sem carinho ou afeto e inúmeras vezes essas criança é desrespeitada e humilhada pelos próprios genitores.

A criança respeita, se for respeitada, é educada em suas atitudes, se for estimulada e incentivada a agir de tal forma, desde a primeira infância, que culminará num indivíduo educado e de caráter exemplar.

Lares estruturados, como se deve ser, cheios de afeto e amor geram sempre crianças de boa índole... Ledo engano! Nem sempre isso ocorre, pois este "outro lado da moeda" pode gerar também filhos sem limites, mal educados, que tentam a todo custo chamar a atenção dos que o cercam, haja vista, na maioria dos casos os pais são ultrapermissivos, e inconsequentemente, acabam gerando filhos insuportáveis.

"Um pai ou uma mãe que engole os próprios princípios e se cala a cada malcriação dá um atestado de que não se respeita, e os filhos entendem isso como um sinal para que não o respeitem também." (Içami Tiba, 2003).

"Hora da bronca", constata-se, atualmente uma grande ausência do posicionamento paterno, sim, os homens têm se omitido cada vez mais no que diz respeito ao seu papel na educação dos filhos, e as desculpas são inúmeras, falta tempo, sobra cansaço e por ai vão, muitos não têm a consciência da dinâmica familiar, são totalmente alienados no quesito educação e responsabilidades de pai e ao sinal do primeiro problema se assustam e se desesperam tentando encontrar um culpado pela situação.

Outro fator de peso é que os filhos acabam sendo "terceirizados", ou seja, é legada a outra pessoa que não a mãe ou o pai a educação dos mesmos e em sendo assim o educador em questão (babás, avós, creches) acabam por não exercer autoridade nenhuma a criança. Os pais por sua vez, sentindo culpa pela ausência diária, deixam de exercer a autoridade, de impor limites, "pensa-se muito que um presente ou uma permissão pode preencher aquele vazio que ficou pela ausência".

Esse tipo de postura pode trazer consequências seríssimas também. Um exemplo claro disso é a criança soltar um palavrão e todos ao seu redor acham graça, aquilo para ela então passou a ser algo permitido, legal e ela repetirá aquele palavrão a todo o momento e lugar, até chegar a hora em que será repreendida ou castigada pelo ato, já é o que basta para "dar um nó" na cabeça desta criança.

Os pais, por vezes pecam por achar que a criança é nova demais para assimilar esse ou aquele limite, outro engano, sabe-se hoje que a criança é como uma "esponjinha" e pode absorver muitos ensinamentos, basta à paciência e o amor para fazê-lo.

Segundo Içami Tiba, atualmente toda essa falta de valores por parte dos filhos e a omissão dos pais, reflete no bom relacionamento educador-educando, ou seja, o relacionamento aluno-professor está tão deteriorado que não é raro haver "ódio mortal" entre eles, os alunos tratam seus professores como empregados, extinguindo assim a relação saudável que deveria existir.

Hoje, a mãe trabalha fora, ausenta-se diariamente, em consequência disso, os filhos vão cada vez mais cedo para a escola, ainda na época da educação familiar, o que acaba culminando na indisciplina e na falta de limites, provenientes do aluno, pois sabe-se que a criança vai para a escola para que a mesma lhe forneça a educação e/ou a criação, ocorre à inversão de papeis, antes o que era um dever dos pais, passou ou pensa-se que passou, a ser dever, prioridade da escola. Será que os professores estão preparados para tal responsabilidade? A grande maioria dos docentes não recebeu em sua formação aulas de capacitação para exercer o papel de formação de personalidade, isso sempre foi dever dos pais, por isso, o resultado das relações escolares é tão catastrófico.

"A indisciplina e o desinteresse pela disciplina são resultado natural no aluno ignorado pelo professor" (Içami Tiba, 2008, pag.70)

"O novo paradigma da educação é capacitar o professor para, além de transmitir o conteúdo pedagógico, ser também um orientador." (Içami Tiba, 2008, pag.73)

Tudo tem seu momento, um não na hora exata, não faz mal a ninguém (porém faz-se necessário uma explicação plausível para tal ato), pelo contrário, faz com que a criança compreenda que sua liberdade termina quando começa a liberdade do outro e vice-versa.

É necessário que os pais façam valer seus direitos e deveres como educadores e disciplinadores de seus lares e também o primordial papel de ensinar valores, hoje quase extintos.

Muitas vezes para solucionar problemas de conduta ou formação é essencial que pais e professores passem por três estágios: o da conscientização do problema (é um excelente começo); a informação, ou seja, conhecer possíveis soluções para resolver o mesmo e o último item é o da ação (preventiva ou corretiva), no mais puro sentido da palavra. De nada irá adiantar reclamações e lamentos sobre as dificuldades a serem enfrentadas, o máximo que irá ocorrer é uma ausência ainda maior da educação de seu filho, permitindo a propagação de erros de gerações passadas.

Só assim veremos mudanças nos relacionamentos em geral, assim teremos filhos seguros, maduros e cheios de orgulho de seus pais e da educação que receberam e porque não dizer, teremos alunos mais disciplinados que respeitam seus educadores, que por sua vez sentir-se-ão mais motivados a continuarem seu árduo e prazeroso ofício...

Ofício de ensinar e acima de tudo aprender a cada dia, em cada momento.