LEVANTAMENTO GEOPALEONTOLÓGICO DAS DEPRESSÕES TECTÔNICAS DE RESENDE, VOLTA REDONDA E ITABORAÍ, NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, BRASIL
Por Carlos Henrique de Oliveira Filipe | 15/07/2009 | Arte1 INTRODUÇÃO
Este trabalho tem por objetivo realizar um levantamento geopaleontológico da depressão pertencente ao "Sistema de Rifte da Serra do Mar", pertencente ao sistema denominado "Rifte Continental do Sudeste do Brasil". Será dada ênfase nas bacias das regiões de Resende, Volta redonda e Itaboraí (todas no estado do Rio de Janeiro – Brasil), a fim de determinar a presença e a importância do registro fossilífero das bacias acima mencionadas.
2 BACIA DE RESENDE
A Bacia de Resende é uma depressão tectônica de idade terciária situada no médio curso do rio Paraíba do Sul, no extremo oeste do Estado do Rio de Janeiro. Apresenta forma alongada na direção N75E, com cerca de 50 quilômetros de comprimento e 5 a 6 quilômetros de largura, perfazendo área de 240 quilômetros quadrados de exposição de sedimentos terciários e quaternários. A espessura máxima dos sedimentos é hoje de cerca de 200 metros. Tal depressão pertence ao "Sistema de Rifte da Serra do Mar" (ALMEIDA 1976), denominado "Rifte Continental do Sudeste do Brasil" (RICCOMINI 1989). Este sistema de rifte estende-se por 1 000 quilômetros ao longo da faixa litorânea do sudeste do Brasil, compreendendo ainda as depressões de Curitiba, Sete Barras, São Paulo, Taubaté, Volta Redonda, Itaboraí, Guanabara e São João. Os primeiros estudos detalhados sobre o preenchimento sedimentar da Bacia de Resende foram realizados por AMADOR (1975), que definiu as formações Resende (Mioceno/Plioceno) e Floriano (Pleistoceno), ambas constituídas por depósitos continentais, fluviais ou de cones aluviais coalescentes. A Formação Resende foi então subdividida em uma porção basal, arenosa a síltico-arenosa, de planície fluvial de rios anastomosados em clima semi-árido, e uma porção superior, rudácea, formada por corridas de lama sob clima mais úmido. Esta porção foi denominada "membro rudáceo da Formação Resende" (AMADOR 1975), ocorrendo no flanco sul do maciço alcalino do Itatiaia (Figura 1).
Estudos do IPT (1983) subdividiram a Formação Resende em um membro rudáceo, constituído de brechas sedimentares e conglomerados de leques aluviais coalescentes, e uma porção fluvial, constituída de bancos alternados ou gradacionais de conglomerados a siltes argilosos. Consideraram as duas subdivisões como contemporâneas, interdigitadas. Admitiram idade eocena para a sedimentação, com base em correlação com os depósitos da Bacia de Volta Redonda, estes incluindo derrame de lavas ankaramíticas datados pelo método K-Ar. Proposta semelhante foi apresentada por MELO et al. (1985), que denominaram as subdivisões da Formação Resende fácies (rudácea e fluvial).
Segundo Amador (1975), foram mapeadas na referida bacia duas formações: a Formação Resende, constituída por uma seqüência clássica de leitos tabulares e inconsolidados de areia média a grossa, arcoseana, tendo na parte superior predominância de seixos e matacões derivados de rochas alcalinas, e a Formação Floriano, que é constituída de leitos e lentes areno-argilosas, associada a um material argilo-síltico e apresentando também na parte superior depósitos rudáceos. A Formação Floriano é correlacionável à Formação São Paulo. A Bacia de Resende, como a de Taubaté, é de origem tectônica. O relevo se apresenta suavemente ondulado com algumas áreas de longos interflúvios tabulares.
Amador (1975) apresenta a seguinte divisão cronoestratigráfica para esta bacia:
- Membro rudáceo da Formação Floriano – Pleistoceno
- Formação Floriano – Pleistoceno
- Membro rudáceo da Formação Resende – Plioceno
- Formação Resende – Mioceno/Plioceno
LIMA e MELO (1994) coletaram um material fértil e bastante diversificado proveniente de depósitos rudáceos da Bacia de Resende, expostos em afloramento (grande corte em jazida de materiais de empréstimo e de construção) situado junto à ferrovia (antiga EFCB) na área urbana de Itatiaia, do lado esquerdo da subida de acesso ao Parque Nacional do Itatiaia, compondo-se de fungos, algas, esporos e grãos de pólen de gimnospermas e angiospermas. Quarenta e quatro espécies foram identificadas (ANEXO). Os fungos encontrados não foram relacionados. Observa-se também uma correlação entre as espécies encontradas nas diversas bacias da região (TABELA 1).
Recentemente, Fernandes et al (1991) constataram o registro de atividade biológica (icnofósseis) em sedimentos desta mesma formação em sua seção tipo, no km 307,5 da Rodovia Presidente Dutra (BR-116), sentido Rio de Janeiro-São Paulo. Esse registro, identificado por dois morfotipos associados ao icnogênero Skolithos Haldemann, 1840 (Skolithos sp. 1 S. sp. 2), ocorrem em fáceis de lamitos arenosos de cor cinza, depositados por processos gravitacionais (corrida-de-lama) em leques aluviais.
Sua origem é relacionada à atividade escavadora de insetos, provavelmente coleópteros das famílias Carabidae e Staphylinidae, no interregno de eventos deposicionais destas fácies (FERNANDES et al, 1991).