LEVANTAMENTO DE ABELHAS RESPONSÁVEIS PELA POLINIZAÇÃO DE Crotalaria retusa EM UM TERRENO BALDIO DO BAIRRO FAROLÂNDIA EM ARACAJU-SE

Por LARISSA LIMA | 22/05/2011 | Arte

UNIVERSIDADE TIRADENTES
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
BARBOSA, A. DOS. S; LIMA, L. B; CRUZ, B. S; SANTOS, I. C. P. DOS & SANTANA, T. B. K.

INTRODUÇÃO

A ecologia das comunidades estuda as interações entre as espécies e a forma como essas interações influenciam no tipo e número desses organismos em certo momento em um determinado lugar, seu habitat (ROUBIK, 1989).
A organização de uma comunidade se dá pelas inter-relações de nichos entre os organismos que tem um conjunto de funções específicas (PLEASANTS, 1983).
Existem comunidades muito grande de insetos, uma delas é a das abelhas. Há no planeta cerca de vinte mil (20.000) espécies de abelhas, devido essa enorme quantidade, muitas não foram ainda identificadas e descritas, em especial nas regiões tropicais. Há séculos os cientistas se interessaram pela interação entre elas e as plantas floríferas. A utilização das abelhas como agentes polinizadores em culturas ou até mesmo em matas nativas aumentaram consideravelmente, pois dentre os polizadores naturais elas são os mais eficazes (SILVEIRA 2001).
A principal relação das abelhas com as plantas é o processo de polinização que é responsável pelo fluxogênico de uma espécie vegetal. Mas para que esse processo aconteça com sucesso existem alguns fatores, como: a biologia floral, a distribuição da planta e até mesmo o raio de alcance do polinizador (BARTH, 1991).
As abelhas nativas e/ou naturalistas dependem da vegetação nativa, pois é onde são encontrados seus alimentos, e são responsáveis pela reserva dos mesmos e ainda pelo pólen que é fonte de proteínas para sua colméia, o que garante a sobrevivência do enxame e perpetuando a espécie vegetal e vice-versa (SOUZA, 2007). Elas são adaptadas para realizar determinados processos devido a sua quantidade de espécimes e também a sua anatomia, pois nelas são encontradas peças bucais e corpos específicos especializados na coleta do néctar floral e ainda na transportação do pólen. São esses pontos que fazem das abelhas seres tão eficientes na polinização (KEVAN&BAKER, 1983; PROCTOR et al., 1996)
No Nordeste do Brasil, estudos realizados por Ducke (1907, 1908) possibilitaram descobertas de várias espécies de abelhas. Somente mais tarde é que deram início as pesquisas com enfoque ecológico e mesmo assim ainda precisa muito de pessoas capacitadas, pois a demanda é fraca (AGUIAR, 1995).
É de extrema importância conhecer a espécie de abelha, para posteriormente entender melhor a estrutura das comunidades, através de abordagens comparativas entre ecossistemas e a investigação de padrões na estruturação dessas comunidades na região Neotropical (MARTINS, 1995; AGUIAR, 2005). Além de serem também importantes para a economia, pois é através do processo (polinização) feito por elas que possibilita maior produção dos frutos e ainda mantém o ecossistema. (ROUBIK, 1995). Segundo COUTO e COUTO, 2002:

"A interação entre abelhas e plantas garantiu aos vegetais o sucesso na polinização cruzada que constitui numa importante adaptação evolutiva das plantas, aumentando o vigor das espécies, possibilitando novas combinações de fatores hereditários e aumentando a produção de frutos e sementes."

O levantamento de polinizadores em diversas culturas é feito primeiramente com os materiais coletados e logo depois identificados, também pela proteção e conservação de abelhas nativas em seu habitat (NISHIDA, 1958. FAEGRE&PIJL, 1976; CARVALHO et al, 1997; CARVALHO&MARQUES, 1995).
Alguns dos fatores que levam à escassez das abelhas nativas é a destruição das árvores, que acaba com o local onde elas vivem e dependem, pois as cortando não vão ficar ocas, que é onde as abelhas desenvolvem sua colméia para armazenação de mel; a diminuição da vegetação nativa, pois empobrecendo a quantidade das plantas consequentemente diminuirá a quantidade do alimento; e ainda a destruição das colônias, devido a manipulação na extração do mel feito por predadores, inclusive o homem (MAIA, 2004).
Como o número de estudos com abelhas no nordeste é escasso, este estudo poderá servir como ponto de partida para novas e mais aprofundadas pesquisas.
O presente trabalho teve como principal objetivo fazer um levantamento das espécies de abelhas que visitaram o terreno baldio do bairro Farolândia (Aracaju - Se) durante o período de observação de 3(três) dias tendo como finalidade coletar e identificar as mesmas.


MATERIAIS E MÉTODOS

A pesquisa foi conduzida na cidade de Aracaju que se localiza na região Nordeste, no estado de Sergipe apresentando um clima semi-árido, cuja precipitação média anual (Un) é de 1590 e a temperatura média(C) de 26°, com período chuvoso que se estende de março até agosto. Seu ecossistema é predominantemente composto por manguezais e restinga. O solo indiscriminado caracteriza-se por mangue, podsol, areias quartzonas marinhas, podzólico vermelho-amarelo e glay pouco úmido. A vegetação se apresenta através de campos limpos, sujos e vegetação higrófilas contendo também áreas de preservação (mangues e restingas). (http://www.aracaju.se.gov.br/cidade/ aspectos.asp)
O terreno baldio situado no bairro Farolândia, zona sul de Aracaju, caracteriza-se por uma vegetação predominantemente rasteira constituída principalmente por gramíneas, alguns coqueiros (Cocos nucifera) e mamoneiros (Ricinus communis L.). Lá também foi encontrada uma espécie de planta florífera, que foi coletada e identificada como Crotalaria retusa (Fig. 1), que foi o principal alvo.
O trabalho tratou de um estudo exploratório, pesquisa de campo, no qual foi observada diretamente durante três dias a presença de abelhas no dado terreno estabelecido. Foi utilizada a metodologia qualitativa mediante o método Sakagami et al. (1967), que consistiu na captura, com o auxilio de redes entomológicas, das abelhas visitantes das flores, estando às mesmas em repouso ou em vôo. As abelhas coletadas foram sacrificadas com a ajuda de um vaso mortífero contendo uma base de papel de jornal picado, uma camada de algodão umedecido com clorofórmio e um pedaço de papelão com alguns furos para permitir a passagem do produto usado, esse esquema pode ser visto na figura 2. Depois de mortas foram levadas até o laboratório para serem identificadas.


RESULTADOS

No período de três dias, 7(sete) à 9(nove) de Maio, entre das 10 às 17 horas, foi observado que as abelhas visitantes da Crotalaria retusa foram as mamangavas (Xylocopa spp.) em especial as Xylocopa grisescens, Xylocopa ceraensis e Xylocopa frontalis. Foi constatado que durante a observação, as abelhas aproximavam-se da planta e começava a revoar ao seu redor examinando as condições antes de pousar. Depois disso elas pousavam diretamente na flor, e ficavam ali por aproximadamente 30 segundos colhendo o seu alimento. Já a X. frontalis, pousava na flor por um tempo muito menor, equivalente a 5 segundos ou até menos, e logo voava.
No primeiro dia ocorreu somente a aparição de três exemplares de X. grisescens e um exemplar da X. ceraensis. No dia seguinte além de três X. grisescens e duas X. ceraensis, um exemplar de X. frontalis foi visto. Já no terceiro dia de observação, somente duas X. grisescens e uma X. ceraensis foi observada.


DISCUSSÃO

As abelhas mais usadas para culturas em grande parte do mundo são: as abelhas de mel (Apis mellifera), as mamangavas (Xylocopa spp.), nas plantações de maracujá, maçã, espécies do gênero Osmia e outras plantas frutíferas, e a Megachile rotundata que poliniza a alfafa (MALAGODIBRAGA, 2005).
Iniciaram recentemente trabalhos com a flora e a fauna da região Nordeste do Brasil e poucos locais foram estudados. Martins (1994) observou e coletou 42 espécies de abelhas da família Anthophoridae e Apoidea na caatinga (Casa Nova - BA), e 147 espécies de abelhas em sua maioria das famílias Anthophoridae, Alictidae e Megachilidae no cerrado (Lençóis ? BA). Já em 1995, através das pesquisas florais foi observado que dentre as plantas que mais foram visitadas pode-se citar as Leguninosae, Ochnacea, Musaecae, Rubiaceae, Compositae, Boraginaceae e as Lythraceae (SILVEIRA, 2001).
Em outros estudos em pomares de acerola (Malpighia emarginata D. C.) descritos por Martins et al (1999) para a avaliação do efeito da polinização na produção de frutos, pôde-se observar que as Apoidea, em especial as Anthophoridae e Apidae foi mais vistas no local (SOUZA, 2007).
Melo et al. (1997) cita que as abelhas visitantes da Malpighia glabra L. foram as Anthophoridae e Halictidae, dentre elas as Centhris fuscata, Centhris aenea, Centhris spousa, Epicharis bicolor (Anthophoridae), Trigona trigona sp., Trigona trigona spinipes, Plebéia spp., Partamona cupira, Nonnatrigona testaceicornis (Meliponinae), A. mellifera (Apinae) (SOUZA, 2007).
Trabalhos feitos por Gottsberges et al. (1998) com abelhas visitantes numa ilha contendo vegetação de dunas e de praias em São Luiz ? MA ele percebeu que a maioria das plantas que faziam parte da vegetação eram melitáfitas e receberam a visita de 18 espécies de abelhas, principalmente as Anthophoridae (SILVEIRA, 2001).
A polinização usada na cultura do girassol (Helianthus annuus L.) é a cruzada e tem como principais agentes as abelhas. Através de estudos realizados na região do Recôncavo Baiano foram encontrados 26 espécies de abelhas, dentre elas a mais vista foi a Apis mellifera, em seguida a Nannotrigona testaceicornis e a Trigona spinipes (MACHADO E CARVALHO, 2006).


CONCLUSÃO

Conclui-se, portanto, que as abelhas Anthophoridae, dentre elas as mamangavas (Xylocopa spp.), especificamente Xylocopa grisescens e Xylocopa ceraenses são os principais agentes polinizadores e a Xylocopa frontalis supostamente pode ter surgido de uma mata nativa que existe por perto, e que ela era somente um visitante da planta C. retusa que se localiza no bairro Farolândia em Aracaju-SE.


AGRADECIMENTOS
Ao Prof°. Dr. José Roque Raposo Filho pela orientação durante todo o processo de produção deste trabalho.

REFERÊNCIAS

AGUIAR, C. M. L. Abundância, diversidade e fenologia de abelhas (Hymenoptera: Apoidea) da caatinga (São João do Cariri, PB) e suas interações com a flora apícola. Universidade Federal. 104p. 1995. (Dissertação de Mestrado).

AGUIAR, C. M. L. Estrutura da comunidade de abelhas (Hymenoptera: Apoidea: Apiformis) de uma área na margem do domínio da caatinga (Itatim, BA). Londrina, Neotrop. Entomol. vol.34 no.1, 2005.

Aspectos geográficos de Aracaju. Disponível em: http://www.aracaju.se.gov.br/cidade/ aspectos.asp. Acesso em: 01 de Mai. 2007.

CARVALHO, C.A.L. Diversidade de abelhas (Hymenoptera: Apoidea) e plantas visitadas no município de Castro Alves-BA. Escola Superior "Luiz de Queiroz"/USP, Piracicaba-SP.p.184,1999(Dissertação de Doutorado).

CARVALHO, C.A.L. Diversidade de abelhas (Hymenoptera: Apoidea) em uma área de transição cerrado-Amazônia. Acta amazônica. 34(2): p.319-328, 2004.

MAIA, G. N. Caatinga: árvores e arbustos e suas utilizadas. 1 ed. São Paulo: D&Z Computação Gráfica e Editora. 2004. 413 p.

MACHADO, S. C.; CARVALHO, C. A. L. Abelhas (Hymenoptera: Apoidea) visitantes dos capítulos de girassol no Recôncavo Baiano. Santa Maria, Cienc. Rural vol.36 no.5, 2006.

SILVA, F.O. DA.; VIANA, B.F. Distribuição de nichos de abelhas Xylocopa (hymenoptera: Apidae) em uma área de dunas litorâneas. Neotrop. Entomol. 31(4), Londrina, 2002.

SILVEIRA, M.S. Levantamento preliminar da fauna apícola (hymenoptera: Apoidae) na serra de Itabaiana-SE. Universidade Federal, 2001(PIBIC-CNPq/UFS).

SOUZA, D.L.; RODRIGUES, A.E.; PINTO, M.S.C. As abelhas como agentes polinizadores. Redvet. 8(3), 2007.