LETRAMENTO: PRÁTICAS INCLUSIVAS NO ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO.

Por Alcinda Maria de Jesus Solon Pety | 30/10/2015 | Educação

LETRAMENTO: PRÁTICAS INCLUSIVAS NO ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO.

Alcinda Maria de Jesus Solon Pety.

 

 

 

RESUMO

Este artigo tem como objetivo realizar estudos sobre letramento no processo educacional como também relatar uma experiência com práticas de letramento desenvolvida no cotidiano do Atendimento Educacional Especializado com alunos que tém deficiência. Para Mortatti (2004) “O processo de letramento vai além de ler e escrever, ou seja, é uma prática social que enfoca a função social da leitura e da escrita em uma sociedade letrada, em que a pessoa utiliza vivências de letramento em diversos contextos sociais”. Teve-se como metodologia nesse estudo, a leitura, debate e discussões durante as aulas deletramento mediado pela professora da disciplina e tivemos como resultados, mais esclarecimentos e sustentações com referenciais teóricos metodlógicos sobre o processo educacional e letramento.

Palavras-chave: Letramento, Inclusão e Atendimento Educacional Especializado.

____________

- Alcinda Maria de Jesus Solon Pety, Professora em Atendimento Educacional Especializado na Secretaria Municipal de Educação – SEMEC. Pós graduação Latu Sensu em: Alfabetização infantil-UEPA, Educação Especial/Inclusiva-UNIVES, Atendimento Educacional Especializado-UEM, atualmente cursando pós graduação em Docência na Educação Infantil-UFPA e Mestrado rm Formação Educacional Interdisciplinares e Subjetividade – UNASUR. (alcindapety@hotmail.com ).

2

INTRODUÇÃO.

O texto tém como tema: Letramento: Práticas Inclusivas no Atendimento Educacional Especializado (AEE), no qual após enfatizarmos alguns conceitos e concepções sobre letramento no processo educacional, será explicitado uma experiência contextualizando com práticas de letramento.

Compreende-se que vivemos em uma sociedade em que muitas pessoas ainda tém dificuldades na compreensão da leitura e escrita como função social em seu dia a dia, nesse sentido consideramos a prática de letramento como fator de grande relevância social para a melhoria da qualidade de vida das pessoas levando em consideração o seu processo sócio cultural.

Justifica-se a preocupação por essa temática de estudo em razão da necessidade de buscar e aprender novas referências e concepções sobre letramento no processo educacional considerando-se que a maioria dos nossos alunos que são atendidos na educação especial, ainda não sabem ler escrever e os mesmo apresentarem grande dificuldades na compreensão desse processo de compreensão da leitura e da escrita.

Este estudo tem como metodologia leituras e discussões com referências ao letramento intercalados a atividade pedagógica com práticas de letramento na sala de recursos multifuncional-SRM, envolvendo alunos com deficiências.

Após a realização dos estudos concluiu-se que letramento são práticas e vivências sociais de leitura num processo diacrônico em uma sociedade que: Mortatti (2004), não basta apenas saber ler e escrever, pois é preciso também saber fazer uso da leitura em diversas funções sociais.

O LETRAMENTO NO PROCESSO EDUCACIONAL.

 

Considera-se que letramento é algo bem relevante por nos remeter reflexões sobre o verdadeiro sentido do significado da palavra letramento no processo educacional.

3

No entanto, falar em educação nos remete a pensarmos no processo Educacional em diversas épocas como: idade antiga, idade média e idade moderna em uma sociedade de que vem se constituindo historicamente e ganhando mais visibilidade no destaque da importância de uma sociedade culturalmente letrada.

Compreende-se ainda que a educação são conhecimentos passados de geração a geração preservados ou modificados pelas pessoas. Enquanto que letramento está atrelado à aquisição e a função social da leitura e da escrita das pessoas, em um contexto vivenciado em diversas situações socios culturais.

De acordo com Mortatti (2004), a palavra letramento começou a ser utilizada no Brasil  a partir dos anos 80 por pesquisadores das áreas da educação e linguísticas.

No entanto, ainda se discute letramento e alfabetização em uma perspectiva de saber ler e escrever e de acordo com o estudo realizado compreende-se que alfabetização trata do sentido técnico de ensinar a pessoa a ler e escrever e enquanto que letramento remete a função da leitura e escrita para situações significativas na vida do cidadão.

Entende-se que no Brasil, ainda se tém muita dificuldade no sentido de as pessoas garantirem os seus direitos de aprenderem a ler e a escreverem, tendo um ensino de qualidade conforme estabelece a LDB – 9394/96, Mortatti (2004, p.25), enfatiza situações referentes a pequenas realizadas pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), pela a UNESCOn em que “Localizam o Brasil em penúltimo lugar, entre 41 países no que se refere às competências de jovens de 15 anos para a leitura”.

Entretanto, no Brasil ainda se tém dados não muitos positivos  de acordo com a UNESCO, o Brasil é o campeão de reprovação e repetência escolar e que vem se fazendo vários programas governamentais, mas a situação ainda é preocupante, principalmente nas séries iniciais.

Resultados esses que só vém a contribuir para aumentar o número de analfabetismo e de excluídos na sociedade em que vivemos, o que nos leva a refletir também sobre o processo de alfabetização da leitura e escrita das pessoas com deficiência.

4

DESENVOLVIMENTO DA LEITURA E ESCRITA NA ALFABETIZAÇÃO NO AEE.

Entende-se, que a aquisição da leitura e escrita no decorrer do processo de aprendizagem é fundamental e primordial no desenvolvimento do aluno, os educando que fazem parte do Atendimento Educacional Especializado-AEE, na sala de recursos, localizada no Liceu Escola no Paracuri.

Como também entendemos que nossos alunos que tém deficiência a maioria tem dificuldade no processo de ler e escrever, inclusive muitos se encontra na fase pré-silábica que segundo Figueiredo (2009. p.11) “Utiliza letras variadas na escrita da palavra (critério de variação de letras) – já sabe que para escrever se usa signos convencionais, por isso se indaga: como escrever o nome de diferentes coisas?”.

E nesse nível o aluno ainda não atribui o valor sonoro correto da escrita e escreve qualquer quantidade de letras para representar as palavras, a autora, apresenta situações relativas ao nível silábico que segundo a mesma em suas pesquisas com alunos que tem Deficiência Intelectual observou. Figueiredo (2009, p.11) “ Nesse nível, cada simbolo gráfico (letra, pseudoletra, etc.) representa um som da fala (unidades sonoras da palavra). A criança escreve estabelecendo a relação entre o número de símbolos gráficos e o número de silabas que compõem a palavra.”

Compreende-se que no nível silábico, o aluno já representa a sua escrita designando para cada letra uma sílaba e utiliza com maior freqüência as vogais, às vezes aparecem consoantes e quando solicitamos para o aluno fazer a leitura o mesmo ler pausadamente apontando para cada letra uma sílaba.

Figueiredo (2009, p.13) A autora ainda destaca como importante e significativa no desenvolvimento da aprendizagem da leitura e escrita o nível alfabético. “ O nível alfabético, a criança já compreende que cada um dos caracteres da escrita corresponde a valores sonoros menores que a sílaba, e realiza sistematicamente uma análise sonora dos fonemas das palavras que pretende escrever”.

O aluno neste nível já apresenta um bom avanço na compreensão da leitura e escrita, é aconselhável que o professor (a) trabalhe frequentemente com leitura diversa e produções de

5

textos, para que o aluno amplie o seu vocabulário e universo literário, permitindo o seu crescimento na vida social que segundo:Almeida(2008, p.16) “O letramento é composto pelas experiências de vida da criança, por meio da interferência dela própria, como elemento desencadeador da ação, uma vez que tenha consciência do mundo e do papel que pode desempenhar nele”.

Nessa perspectiva o letramento é visto como práticas sócias na vida do leitor, ou seja, faz parte da s experiências do cotidiano tanto da criança como da pessoa adulta. E ainda sobre letramento enfatiza: Tfouni (2008) Os seus estudos sobre letramento vai além da leitura e escrita remetendo a um social mais amplo relacionando aos fatos e acontecimentos da propria vivencias das pessoas interagindo com práticas de leituras sociais.

Entende-se que a autora vai além, em sua visão de letramento, a mesma procura refletir sobre as estruturas sociais tanto no sentido pessoal como social, e atribui também a consequências de mudanças sócias, culturais e pedagógicas no processo histórico em que vivemos, inclusive vamos pensar um pouco sobre a dificuldade de produção da escrita de alunos com deficiências.

A partir destas considerações e acreditando que os alunos do Atendimento especializado são capazes de aprenderem, desenvolvemos o projeto com práticas de letramento respeitando o ritmo de aprendizagem, como também suas especificidades levando em consideração que todos os alunos devam ser incluídos nas diversas atividades propostas na escola e no AEE, criando e possibilitando melhores condições de aprendizagem da leitura e da escrita.

Entretanto nesse universo de leitura com práticas de letramento, atendemos alunos com surdez que apresentam dificuldades no processo da leitura e construção de textos e de acordo com SEESP-MEC (2007, p.15) Nos remete questões que nos permite refletrimos sobre a aprendizagem da leitura e escrita de alunos surdos e que todos tem direito a aprender  e ter acesso ao conhecimento  de forma inclusiva. Considerando-se a aprendizagem da leitura e escrita em LÍBRAS – Língua Brasileira de Sinais, para facilitar a sua comunicação e interação social.

A nossa grande preocupação é inserir a participação dos alunos no sentido de ampliar o seu vocabulário lingüístico e isso requer que se busquem meios para melhorar a sua aprendizagem na escrita e na leitura, nesse contexto, ressalta-se ainda o Atendimento Educa-

 6

cional Especializado para alunos com baixa visão e cego que também tem direito a convivência e interação com os diversos meios de acesso à leitura e a escrita, inclusive. A utilização do código Braille para aprender a ler e a escrever.

Cabe ao educador possibilitar essas condições de acessibilidade, refletimos agora com SEESP – MEC (2007, p.21).

No entanto é importante trabalhar o processo de leitura com os alunos que tem deficiência, atividades com jogos moderadores como: quebra-cabeça, caça palavras, músicas de roda, adivinhações, etc. Portanto, nessa perspectiva foram desenvolvidas as ações do projeto proposto na visão ampla de leitura e escrita com praticas de letramentos com os alunos que tem deficiencia e são atendidos na educação especial.

   PRÁTICAS DE LETRAMENTO NO AEE

Considerando, que a maioria dos alunos atendidos na Sala de Recursos Multifuncional no Liceu Escola do Paracuri, tem dificuldades no processo de construção da leitura e escrita em sua vida diária  E que recebem Atendimento Educacional Especializado diretamente ligado ao Centro de Referência em Inclusão Educacional Gabriel Lima Mendes da Secretaria Municipal de Educação – SEMEC. 

Preocupados com esses alunos e em oferecer um atendimento e acompanhamento Educacional Especializado com qualidade, no intuito de contribuir para o desenvolvimento de sua aprendizagem relacionada ao processo da leitura e escrita que favoreçam para o crescimento pessoal e social do aluno.

Realizou-se atividades de leitura com práticas de letramento envolvendo os alunos que tem deficiências do tipo: Deficiência Auditiva (DA), Deficiência Visual (DV), Deficiências Múltiplas (DMU), Paralisia Cerebral (PC), Deficiência Intelectual (DI) e Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD deacordo com a Resolução Nº4 de outubro de 2009. MEC.

Percebeu-se que a maioria não saiba ler, não gostam de ler e não sabem escrever, e isso nos preocupou, pois nos assessoramento os questionamentos mais pertinentes dos professores

7

assistidos são justamente relacionados ao baixo desenvolvimento da leitura, e a escrita desses alunos, como por exemplo: tem professor (a) que fala “Eu já fiz de tudo e esse aluno não consegue aprender a ler” ou “Esse aí não quer nada, só quer brincar, está difícil ele aprender a ler e a escrever.”

Nesse sentido objetivando complementar e suplementar um currículo que favoreça uma aprendizagem significativa para a vida do aluno sentiu-se a necessidade de realizar o projeto com atividades de leitura e escrita com práticas e eventos de Letramentos na Sala de Recursos Multifuncional e Sala de Aula com práticas inclusivas que segundo Mantoan (2011, p.37).  “A inclusão implica uma mudança de paradigma educacional que gera uma reorganização das praticas Escolares: Planejamentos, Formação de turmas, Currículo, Avaliação, Gestão do processo Educativo”.

Segundo a autora acima citada, esse é  um grande desafio, trabalhar as diferenças nas escolas, considerando que as instituições, em maiorias não foram pensadas e construidas  na perspectiva de uma educaçãoa inclusiva inclusive quando se trata de ensinar a ler e escrever.

OBJETIVOS PROPOSTOS NAS IMPLEMENTAÇÕES DAS AÇÕES COM PRÁTICAS DE LETRAMENTO.

 

Teve-se como objetivos no decorrer das ações:

- propiciar condição e liberdade para que o aluno com deficiência possa tornar-se agente capaz de ler e produzir conhecimentos significativos, que favoreçam para o desenvolvimento de suas potencialidades na hora de usar e agir conforme situações do seu cotidiano;

- contribuir para o desenvolvimento da aprendizagem da leitura e escrita do aluno;

- desenvolver a linguagem verbal e não verbal do aluno, estabelecendo relação da linguagem oral e escrita aplicando em situações do seu meio social;

- interagir e socializar os conhecimentos adquiridos e produzidos em eventos sociais e culturais;

8

PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS PERCORRIDOS.

No primeiro momento tivemos como metodologia: apresentação de textos de jornal e depois explorar com as crianças o contexto da leitura com interpretação e produções de textos, desenhos de forma lúdicas e criativa, realização de trabalhos com jornal, revistas, bula de remédios, cartazes de rua, calendário, encartes de farmácia, lojas, supermercados, por meio de leituras e reflexões relacionando a situação social do seu cotidiano, apresentação de músicas como: cantigas de roda, de rua e socialização com crianças, recorte e colagem de frases, letras e palavras com utilização de jornais revistas e encarte.

No segundo momento realizamos com os alunos: leituras de versos, poemas, trava-línguas e adivinhações com utilização de livros na SRM e textos no computador, realização de atividades programadas extraclasse como: passeio ao bosque, museu, cinema, planetário, supermercados, farmácias, cerâmicas conforme pesquisa consultada aos alunos sobre outros locais que desejam conhecer, produção de textos de acordo com à atividade programada e situações do cotidiano, apresentação e dramatização de histórias e poesias, atividades com músicas de relaxamento para trabalhar a concentração dos alunos, exibição de filmes e depois explorar a linguagem oral e escrita com produções de textos;

E no terceiro momento continuamos as ações, sendo: realização de leituras em grupos, atividades culturais como: danças regionais, pesquisas sobre as atividades culturais no entorno do bairro do Paracuri, onde as crianças e pessoas envolvidas se dirigiam ate as cerâmicas locais, oficinas com a utilização da argila de forma criativa e lúdica no núcleo de artes, a partir das historias contadas na SRM e Sala de Aula, construção de jogos pedagógicos com os alunos como: quebra-cabeça, seqüência de histórias, construção de fantoches com os alunos, para depois criarem histórias e fazerem dramatizações,

E por fim tivemos as avaliações realizadas, na qual ouvimos os alunos e as famílias, observamos o desenvolvimento dos alunos e o envolvimento das famílias com o intuíto de refletirmos sobre os pontos positivos e negativos do projeto.

 

 

 

9

RECURSOS MATERIAIS UTILIZADOS.

 

Utilizou-se com recursos: livros de autores regionais e nacionais, coleção de histórias infanto juvenil, jogos pedagógicos, fantoches de animais e personagens, CDs, DVDs de histórias, micro system, máquina fotográfica, filmadora e televisão, lápis de cor/cera e comum, tesourinha sem ponta, canetinhas, fitas adesivas transparentes grandes, fio de algodão, pincel para pinturas, tinta guache, tinta pasta d’água, argila, cola de isopor/média, cola branca média, papel laminado, camurça e entre outros recursos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Após a realização desse estudo, pude compreender que alfabetização e letramento são atividades contínuas em que alfabetizar é ensinar a ler e escrever e letramento é a utilização dessa escrita nas diversas situações de vivências das pessoas no contexto social.

       Considera-se importante que o professor desenvolva as ações de alfabetização num contexto de  letramento principalmente com alunos que tem deficiencia, pois irá possibilitar um mundo de contato com diversas formas de leitura em que os mesmos percebam a função  social da leitura e da escrita com diversas práticas sociais com eventos variados, envolvendo situações do próprio contexto dos alunos.

 

 

 

 

 

10

REFERÊNCIAS.

 

ALMEIDA, Geraldo Peçanha, Práticas de alfabetização e letramento. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2008.

FIGUEIREDO, Rita Vieira, Avaliação da Leitura e da Escrita; uma abordagem psicogenética. Organizadores, Adriana Leite Limaverde Gomes, Claudiana Maria Nogueira de Melo, Maria Cilvia Queiroz Farias, Fortaleza: ed. UFC, 2009.

MORTATTI, Maria do Rosário longo, Educação e Letramento, coleção paradidaticos, serie educação, São Paulo. UNESP. 2004.

MANTOAN, Teresa Egler, O Desafios das Diferencias nas Escolas. 4ª ed. Petrópolis Vozes, 2011.

MEC, Ministério da Educação, Secretária de Educação Especial, Marcos Políticos-legais da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, col.  UFC, Brasília, 2010.

 MEC, SEESP, SÁ, Elizabet Dias, Izilda Campos, Myriam Silva, Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Visual, São Paulo: 2007.

TFOUNI, Leda Verdani; letramento e Alfabetização. 8. ed. coleção Questões da Nossa Época, São Paulo: Cotez, 2006.