Letramento e Alfabetização

Por Daniela Nascimento Silva Alvin | 01/09/2016 | Educação

RESUMO

Esse artigo tem como tema Letramento e Alfabetização. Entende-se que antes de ir para escola, a criança já possui conhecimentos prévios/conhecimentos de mundo sobre a escrita, por isso não se pode ignorar esses conhecimentos, mas partir deles desenvolver o processo de alfabetização. Aprender a ler é um processo natural, e complexo assim como o de falar. Porém, só será adquirido, se for ensinado, assim como a fala. Tenho como objetivo realizar uma reflexão sobre as maneiras de se facilitar o desenvolvimento de novos leitores críticos e pensantes. Observa-se que muitos alunos apresentam dificuldade em várias disciplinas por não saberem interpretar corretamente um texto lido, ou não saberem redigir corretamente seus pensamentos e opiniões, pois foram acostumados a retirar respostas prontas dos textos lidos e reproduzi-las. Como assunto o papel da escola, a responsabilidade dos pais e professores no processo de transformar as crianças em indivíduos alfabetizados e letrados. Ao compreender que a escola tem o papel de alfabetizar, os pais estão satisfeitos com a construção de saber de seus filhos, tornando desnecessário na visão desses acompanhar seus filhos para uma forma mais dinâmica e satisfatória em relação à construção da aprendizagem da criança com relação à alfabetização. Antes mesmo de aprender a ler, existe uma antecipação do letramento e alfabetização, isso se a criança estiver dentro de um contexto social onde a leitura e a escrita façam parte de seu convívio. Logo, podemos dizer que a criança não é um papel em branco, numa visão de que possui fundamentos de compreensão, de relacionar a escrita ao objeto por ela denominado. O artigo tem como objetivo principal focar o processo de aprendizagem vivido pelas crianças nas Classes de Alfabetização. Como objetivos específicos o artigo pretende identificar: i) qual o papel da escola na construção de sujeitos letrados e alfabetizados, reconhecer e trabalhar as dificuldades na leitura, na escrita e na oralidade; ii) buscar compreender formas mais ricas e adequadas para uma ação pedagógica eficaz e que seja capaz de articular a alfabetização e letramento para a aquisição e o uso  da escrita no contexto escolar e social. O presente trabalho tem como ponto de partida uma abordagem teórica sobre a Alfabetização e Letramento no processo de Aprendizagem da leitura em especial, na aquisição da escrita. Para sua realização serão apresentadas algumas concepções que fundamentam esta proposta de estudo no sentido de refletir com mais clareza e precisão o processo de aquisição da escrita da criança nos anos iniciais do ensino fundamental de nove anos e nesta perspectiva tentar compreender melhor o uso da língua em diferentes contextos sociais e a prática pedagógica no processo de alfabetização e letramento.

JUSTIFICATIVA

Ao imergir nessa temática, realizaremos uma viagem ao passado para compreender o tema em sua totalidade. A História da Alfabetização, em nosso país, foi centrada na História dos Métodos de Alfabetização. A disputa entre esses métodos, que visava garantir plenamente aos educandos a inserção no mundo da cultura letrada, produziu - se uma gama de teorizações e tematizações acerca de estudos e de pesquisas a fim de investigar essa problemática.

Ao findar do século XIX, a dificuldade de nossas crianças para aprender a ler e escrever, principalmente na escola pública, incitou debates e reflexões buscando explicar e resolver esses entraves. Com isso as práticas de leitura e de escrita ganharam mais forças ao fim desse século, principalmente a partir da Proclamação da República.

A educação nesse período ganhou destaque como uma das utopias da modernidade. Até então, nessa época, as práticas de leitura e escrita eram restritas a poucos indivíduos nos ambientes privados do lar ou nas “escolas” do império em suas “aulas régias”. Até o final do império, essas aulas ofereciam condições precárias de funcionamento e o ensino dependia muito do empenho dos professores e dos alunos.

Para a iniciação do ensino da leitura eram utilizadas as chamadas “cartas de ABC” e os métodos de marcha sintética, ou método sintético (da “parte” para o “todo”); da soletração (silábico), partindo dos nomes das letras; fônico (partindo dos sons correspondentes às letras); e da silabação (emissão de sons), partindo das sílabas. Em 1876, em Portugal, foi publicada a Cartilha Maternal ou Arte da Leitura, escrita por João de Deus, um poeta português.

O conteúdo dessa cartilha ficou conhecido como “método João de deus” e foi bastante difundido principalmente a partir do início da década de 1880. O “método João de Deus”, também chamado de “método da palavração”, fundamentava-se nos princípios da linguística moderna da época e consistia em iniciar o ensino da leitura pela palavra, para depois analisá-la a partir dos valores fonéticos.

Na primeira década republicana foi instituído o método analítico que diferentemente dos métodos de marcha sintética, orientava que o ensino da leitura deveria ser iniciado pelo “todo” para depois se analisar as partes que constituem as palavras. Ainda nesse momento, já no final da década de 1920, o termo “alfabetização” passou a ser usado para se referir ao ensino inicial da leitura e da escrita.

A partir da segunda metade da década de 1920, passa-se a utilizar métodos mistos ou ecléticos, chamados de analítico - sintético, ou vice-versa. Esses métodos se estendem até aproximadamente o final da década de 1970. Nesse cenário surge Paulo Freire, que propõe e estimula a inserção do adulto iletrado no seu contexto social e político, na sua realidade, promovendo o despertar para a cidadania plena e transformação social. É a leitura da palavra, proporcionando a leitura do mundo.

Suas ideias nasceram no contexto do Nordeste brasileiro a partir da década de 1950, onde metade dos seus 30 milhões de habitantes era analfabeta, com predomínio do colonialismo e todas as vivências impostas por uma realidade de opressão, imposição, limitações e muitas necessidades. O método de alfabetização de Paulo Freire é resultado de muitos anos de trabalho e reflexões dele no campo da educação, sobretudo na de adultos em regiões proletárias e subproletárias, urbanas e rurais, de Pernambuco.

No processo de aprendizagem, o alfabetizando é estimulado a articular sílabas, formando palavras, extraídas da sua realidade, do seu cotidiano e das suas vivências. Nesse sentido, vai além das normas metodológicas e linguísticas, na medida em que propõe aos homens e mulheres alfabetizandos que se apropriem da escrita e da palavra para se politizarem, tendo uma visão de totalidade da linguagem e do mundo.

O método Paulo Freire estimula a alfabetização/educação dos adultos mediante a discussão de suas experiências de vida entre si, os participantes da mesma experiência, através de tema/palavras geradoras da realidade dos alunos, que é decodificada para a aquisição da palavra escrita e da compreensão do mundo. Para Freire “Estudar não é um ato de consumir ideias, mas de criá-las e recriá-las1”.

Já no início da década de 1980, foi introduzido no Brasil, o pensamento construtivista de alfabetização, fruto das pesquisas de Emília Ferreiro e Ana Teberosky sobre a Psicogênese da Língua Escrita. O Construtivismo não se constitui como um método, mas sim como uma desmetodização em que na verdade, propõe-se uma nova forma de ver a alfabetização, como um mecanismo processual e construtivo com etapas sucessivas e hipotéticas.

Nessa mesma época, foi constatado um número enorme de pessoas “alfabetizadas”, mas consideradas como analfabetos funcionais, que são as pessoas que decodificam os signos linguísticos, mas não conseguem compreender o que leram. Surge então o termo “letramento”. Estar letrado seria então, a capacidade de ler, escrever e fazer uso desses conhecimentos em situações reais do cotidiano. Alfabetizar letrando é de fundamental importância, pois garante uma aprendizagem muito mais significativa, afinal como afirma Soares:

“Alfabetizar letrando ou letrar alfabetizando pela integração e pela articulação das várias facetas do processo de aprendizagem inicial da língua escrita é sem dúvida o caminho para superação dos problemas que vimos enfrentando nessa etapa da escolarização; descaminhos serão tentativas de voltar a privilegiar esta ou aquela faceta como se fez no passado, como se faz hoje, sempre resultando no reiterado fracasso da escola brasileira em dar às crianças acesso efetivo ao mundo da escrita2.”

Ao longo desta viagem outro nome importante surge, Jean Piaget, sua teoria é uma importante referência para entendermos o desenvolvimento e a aprendizagem humana. Ele organizou o desenvolvimento cognitivo em estágios; seu estudo fora feito por meio da observação de crianças, dentre elas seus três filhos. Sua teoria era de que o conhecimento é construído por cada sujeito na interação com seu ambiente.

Dessa forma, procurou identificar como o homem constrói seu conhecimento, como ele o procura, organiza e assimila a seu estado anterior de conhecimento, ou seja, a gênese do conhecimento, defendendo então que as pessoas passariam por estágios de desenvolvimento. Isso aconteceria por meio da equilibração que se configura entre a assimilação e a acomodação, resultando em uma adaptação ao mundo exterior. A assimilação aconteceria vinda do mundo exterior e na acomodação o processo é inverso, acontecendo de dentro da criança para fora.

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