LETRAMENTO E A IMPORTÂNCIA DO ATO DE LER NA VISÃO DE PAULO FREIRE

Por Maria Leonor Pereira de Carvalho | 26/01/2017 | Educação

O termo letramento vem sendo por alguns autores com o sentido de alfabetização. A noção de letramento está associada ao papel que a linguagem escrita tem na nossa sociedade. Logo, esse processo não se dá somente na escola. Os espaços que frequentamos os objetos e livros a que temos acesso, as pessoas com quem convivemos, também, são agencias e agentes de letramento. O letramento resulta também da construção de sistemas de significações estruturados logicamente na interação com novos objetos de conhecimentos no mundo da representação: as palavras escritas. Alfabetização é um conceito mais especifico que diz respeito á aprendizagem da língua escrita como uma nova linguagem, diferente da linguagem oral, mas a ela associada, isto é, á aprendizagem da escrita como uma nova forma de discurso, embora a escola também não seja o único espaço alfabetizador, o processo de alfabetização é trabalhado de um modo mais sistemático na escola. Neste lugar social é que podemos compreender e ampliar o nosso conhecimento sobre o mundo da escrita, e não só sobre a escrita, propriamente. Nesse ponto cruzamos alfabetização e letramento. De outra perspectiva, entretanto, podemos dizer hoje que alfabetizar, distanciando as crianças do mundo letrado, isto é, dando Ênfase á língua como um sistema, e não á língua como um bem cultural, como uma linguagem social, é sonegar informações importantes ás crianças, informações decisivas para sua entrada no mundo letrado da ciência, literatura, entre outras áreas de conhecimento. A língua está viva nos textos que foram e são produzidos, orais e escritos. Ajudamos mais as crianças em processo de alfabetização se mostraram as duas modalidades de linguagem verbal com suas semelhanças, mas também com as suas diferenças, do que se enfatizamos uma correlação forte entre elas. As crianças precisam saber que escrever não é a mesma coisa que falar, do mesmo modo que ler não é a mesma coisa que ouvir. São situações que envolvem circunstancias diferentes. As cidades, a sociedade, funcionam com base na escrita, ao lado de todo um funcionamento que não se torna visível e que envolve a maioria da população em torno da oralidade e de usos da escrita também. Mais próximos a ela são considerados melhores. São próximos da chamada variedade padrão da língua, a norma culta. Nos últimos anos, muitos educadores têm se preocupado com o quadro da crise da leitura. Mas, muitos educadores entendem que se o aluno não sabe ler, a leitura proposta pela escola, é porque não domina a língua materna. Sabemos que o ensino fragmentado, repassado pela escola pública é de péssima qualidade, principalmente se dirigirmos o assunto para o ensino da língua portuguesa. Nesse sentido, torna-se fundamental o professor entender a leitura (não só em estudo da língua portuguesa), como uma ponte segura para a produção de texto e ensino da gramática. Dessa forma, considerando a indissociabilidade da produção de leitura, produção textual e ensino da gramática tentarão fazer a exposição de fundamentações teóricas e técnicas de ensino de leitura, prática de produção textual, e levantar algumas considerações ao ensino da língua portuguesa. ... O desejo de ler, manifestado pelo aluno, precisa ser frequentemente estimulado e não enfraquecido com a imposição de leituras inadequadas á sua capacidade, ao seu interesse, ás suas necessidades. O incentivo a leitura requer, além de umas orientações personalizadas, um contato mais direto com os livros. (SANTOS, 1993, P. 135). Tal referencia nos alerta que o fracasso do hábito da leitura pelos alunos pode estar, entre outros fatores, na escolha inadequada dos textos que não correspondem ás expectativas e necessidades próprias dos leitores (textos literários, assuntos alheios ao grau de abstração, faixa etária ou simples questão de gosto). Tal referencia nos alerta que o fracasso do hábito da leitura pelos alunos pode estar, entre outros fatores, na escolha inadequada dos textos que não correspondem ás expectativas e necessidades próprias dos leitores (textos literários, assuntos alheios ao grau de abstração, faixa etária ou simples questão de gosto). Além disso, a falta de uma biblioteca contribui muito para a não leitura. O contrato direto com os livros, a possibilidade de tocá-los viria a favorecer uma escolha livre, sobre o qual e o quê gostaria de ler. Sem contar com os comentários ouvidos de outros colegas sobre outras obras interessantes, ou mesmo jornais, revistas, documentários – conforme a necessidade que o aluno sinta de esclarecer uma determinada curiosidade, informação ou apenas satisfação pessoal. Para tornar os alunos bons leitores, para desenvolver, muito mais do que a capacidade de ler, o gosto e o compromisso com a leitura, a escola terá de mobilizá-los internamente, pois aprender a ler (e também ler para aprender) requer esforço. Precisará fazê-los achar que a leitura é algo interessante e desafiador. Nesse sentido, algumas condições são muito importantes. Dispor de uma boa biblioteca na escola; Dispor, nos ciclos iniciais, de um acervo de classe com livros e outros materiais de leitura; Organizar momentos de leitura livre em que o professor também leia. Para os alunos não acostumados com a participação em atos de leitura, que não conhecem o valor de possuí, é fundamental ver o professor envolvido com a leitura e com o que conquista por meio dela. Ver alguém seduzido pelo que faz pode despertar o desejo de fazer também. Planejar as atividades diárias garantindo que as de leitura tenham a mesma importância que as demais; Possibilitar aos alunos a escolha de suas leituras. Fora da escola, o autor, a obra ou gênero são decisões do leitor. Tanto quanto for possível, é necessário que isso se preserve na escola; Garantir que os alunos não sejam importunados durante os momentos de leitura com perguntas sobre o que estão achando, se estão entendendo e outras questões; Possibilitar aos alunos o empréstimo de livros na escola. Bons textos podem ter o poder de provocar momentos de leitura junto com outras pessoas de casa, principalmente quando se trata de historias tradicionais já conhecidas; Quando houver oportunidade de sugerir títulos para serem adquiridos, pelos alunos, optar sempre pela variedade; é infinitamente mais interessante que haja, na classe, por exemplo, 35 diferentes livros – o que já compõe uma biblioteca de classe – do que 35 livros iguais. No primeiro caso, o aluno tem a oportunidade de ler 35 títulos, no segundo, apenas um; Construir, na escola, uma politica de formação de leitores, na qual todos possam contribuir com sugestões para desenvolver uma prática constante de leitura que envolva o conjunto da unidade escolar. Segundo Paulo Freire a leitura do mundo procede sempre a leitura da palavra. O ato de ler se veio dando na sua experiência existencial. Primeiro, a ‘’ leitura’’ do mundo pequeno em que se movia; depois, a leitura da palavra que nem sempre, ao longo da sua escolarização, foi a leitura da ‘’ palavra mundo’’. Na verdade, aquele mundo especial se dava a ele como o mundo de sua atividade perspectiva, por isso, mesmo com o mundo de suas primeiras leituras. Os ‘’textos’’, as ‘’palavras’’, as ‘’letras’’ daquele contexto em cuja percepção experimentava e, quando mais o fazia, mais aumentava a capacidade de perceber se encarnavam numa série de coisas, de objetivos, de sinais, cuja compreensão ia aprendendo no seu trato com eles, na sua relação com seus irmãos mais velhos e com seus pais. A leitura do seu mundo foi sempre fundamental para a compreensão da importância do ato de ler, de escrever ou de reescrevê-lo, e transformá-lo através de uma prática consciente. Esse movimento dinâmico é um dos aspectos centrais do processo de alfabetização que deveriam vir do universo vocabular dos grupos populares, expressando a sua real linguagem, carregadas da significação de sua experiência existencial e não da experiência do educador. A alfabetização é a criação ou a montagem da expressão escrita da expressão oral. Assim as palavras do povo vinham através da leitura do mundo. Depois voltavam a eles, inseridas no que se chamou de codificações, que são representações da realidade. No fundo esse conjunto de representações de situações concretas possibilitava aos grupos uma ‘’ leitura da leitura’’ anterior do mundo, antes da leitura da palavra. O ato de ler implica na percepção crítica, interpretação e ‘’reescrita’’ do lido. Há muitas frases que são escritas, ou simplesmente verbalizadas, que carregam significados os quais passam despercebidos de todos nós e, na maioria das vezes, refletem um senso comum sobre o ato de ler. Sendo assim, não provocam reflexões, estudos, discussões mais aprofundadas em torno do que seja esse ato. Essas frases estão presentes em outdoors, jornais, revistas, livros, rádios, Televisão, cinema, as quais são lidas por toda a sociedade e, diga-se de passagem, bem visualizadas, bem- verbalizadas. Veiculam-se frases como: ler é prazer! Quem lê fica melhor! Ler é bom! Como se elas representassem verdades absolutas sobre a leitura. Essas frases. Se não fizerem parte de um contexto, podem acarretar problemas de interpretação, de compreensão, de significação, e com isso, forma-se uma corrente que tende a ser verdadeira, mas sem nenhuma consistência do que seja real. Ora, se ler é bom, dentro desse contexto, por um acaso, uma bula de remédio, ou um texto técnico, nos causa tanto prazer assim? É preciso entender que ler não é um ato mecânico de decodificação; é muito mais do que isso. É o estabelecimento de relações dentro de contextos, de vivencias de mundo; não são frases ou palavras soltas, lidas proficientemente que nos levam a entendem que isso seja o ato de ler. Ler é um ato complexo. Ler exige sacrifícios. Ler é ir e voltar pelo texto. Ler é descobri fios condutores que perpassam o texto. Ler é descobrir é descobrir- se; não é simplesmente passar os olhos por cima das palavras. Ler é criar mecanismos para que a lavra tenha vida, tenha significados. Mas, enfim, ler é realmente bom? Acreditamos que sim, levando-se em conta o contexto de uma escola e de uma sociedade comprometida com a leitura, com a formação de leitores para toda a vida e não somente leitores escolares, leitores de momento, leitores de moda. Na escola, onde na maioria das vezes o ato de ler tem espaço – espaço este ás vezes mal entendido, deturpado – deveria haver empenho de todos para que se criassem bons programas de leitura em que fosse discutido e refletido o papel de leitura e o que dela poderíamos aproveitar – num bom sentido – em que ela poderia ajudar, transformar, mudar. Para que isso acontecesse, seria necessário que houvesse condições de trabalho para a formação de leitores, como por exemplo, que as escolas tivessem boas bibliotecas com acervo atualizado de livros, jornais, revistas, um bom computador ligado á internet para a descoberta eletrônica da palavra, do mundo virtual. Criar, nas salas de aula, o hábito e o gosto pela leitura, através de leituras individuais e coletivas; leitura em voz alta para que se descubra que a palavra tem melodia, tem encanto, tem vida, palavra esta que somente fica morta se não tiver ninguém que dê vida a ela, que a mostre, que a desvele, que ensine os seus segredos. Contar histórias! Com quem sabe contar. Que tenha o prazer de contar. De estimular. De levar á reflexão. Com tudo isso- e mais do que isso-, no final, se bem feito, poderíamos afirmar com precisão; ler realmente é muito bom! Em síntese, os conceitos de leitura são muitos e variam conforme as perspectivas teóricas e seus campos de atuação, dentre os inúmeros envolvidos no assunto. Portanto, para aqueles que consideram a leitura como ato de decodificar sinais gráficos, ou seja, um ato mecânico, a leitura poderá se tornar uma pratica sem vida e sem alma, mas se, em vez disso, considerar como leitura suas experiências e vivencia, a leitura se tornará uma prática muito mais ampla e viva, na qual o pulsar das informações baterá no mesmo ritmo das emoções. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários á pratica educativa. São Paulo. Paz e Terra, 1997 ______________. Politica e educação. 3.ed. São Paulo. Cortez, 1997. ______________. Ação Cultural para a liberdade. 6.ed. Rio de Janeiro, 1982. ___________. Pedagogia do Oprimido. 18. Ed. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1988. __________. Pedagogia da Esperança: um Reencontro com a Pedagogia do Oprimido. 3. Ed. Rio de Janeiro, 1994. SANTOS, M.L. A expressão livre no aprendizado da língua portuguesa. Pedagogia Freinet. 2. Ed. São Paulo: Scipione, 1