Lembranças inesquecíveis de Engenheiro Goulart ( parte 2)

Por Nelson Barboza Leite | 05/04/2016 | Contos

 Lembranças inesquecíveis de Engenheiro Goulart ( parte 2)

O primeiro texto com 117 descrições, aparentemente, foi muito bem aceito. Despertou recordações, sugestões e agradecimentos. Como se previa, faltaram muitas histórias e pessoas e, de fato, vieram as sugestões. Com certeza, outras virão! Prometeram fotos e quase que uma intimação para fazer referência às novas gerações, que pretendem guardar e preservar o pouco da cultura, que restou daquele canto. Vamos dar sequência:

118-Mineirão – um crioulo forte e de pouca prosa, quando  chegava nos botecos de. Mas voz alta e muita valentia e briga  depois que tomava algumas doses da “branquinha”. Sua esposa, bem tranquila e paciente, pegava em seus braços e iam embora  para a Vila Nova. Muito esquecido! Dias depois não se lembrava de nada. E de repente, as cenas se repetiam....

119-Benjamim Pintor – uma pessoa cheia de dons artísticos. Pintava e desenhava de se admirar.  Inventava caricaturas e dava risada rouca e alta.  Falava grosso e baixo, balbuciava. Gordo, gostava de uma cerveja bem gelada e de contar histórias. Seu filho o Goulart  vivia grudado no pai. Cresceu, ficou  forte, meio atrapalhado e sumiu.....

120-Dona Maria da Injeção – A mãe da Dona Adelaide. Vó do Lucio. Um  amor de mulher. Bondosa, paciente e com muita habilidade na seringa. Para assustar alguma criança era só anunciar a chegada da Dona Maria. Prestativa. Com certeza, viu a bunda de toda a molecada do bairro. Nunca vi a Dona Maria triste ou se negar a aplicar a injeção em alguém e em qualquer lugar que fosse chamada;

121-Virgílio  Leiteiro – português cheio de vida. Muito ativo com sua charrete e aos berros entregando o leite. Nunca entendi uma palavra que dissesse. Falava rápido, em voz alta. Cumprimentava, xingava e ria, tudo ao mesmo tempo! Morava  para os lados da Dona Ida, do  João da Mata. Seu filho mais velho, o  Pinga, era tranquilo e educadíssimo. O filho mais novo, o Fernando, fazia parte da turminha de escola;

122- Seo Otavio do peixe – vendedor, roleiro, fazedor de tudo. Com uma carrocinha velha vivia vendendo variedades. Tudo  de primeira qualidade! Vendia peixe vivo! Mas a molecada  brincava com ele : olha o peixe podre! Ele ficava furioso. Tinha uma turminha grande de filhos e filhas.  Pessoas muito queridas no bairro. Sempre mal humorado e  desconfiado;

123- Albino –  irmão do João Baiano, pai do Didi. O  “homem da água”. Era o responsável pela ligação da Caixa de Água que abastecia parte da Vila Silvia. Pessoa boníssima e muito calado. Sempre num cantinho do bar, com sua caipirinha do lado. Brincava quando era provocado. Jogador de truco e amigão da família. Meu pai adorava o Albino por sua bondade, educação e permanente companhia;

124- Jorjão – filho do seu Tico, irmão do  Edmundo. Figura sisuda, de pouca brincadeira e sempre pronto às discussões mais variadas. Crítico e cético. Palmeirense roxo. Não era de se envolver  com brincadeiras. Gostava de pescaria e vivia disputando o peixe maior com o Mingão. O  jeitão esquisito fez dele uma pessoa  isolada e depressiva. Desagregou-se da família e teve fim triste nos quartinhos do Zeca Arruda;

125-Gonçalo – o vidraceiro do bairro. Baixinho, cabelinho comprido e encaracolado,  corcundinha, magrinho, a figura feita para cuidar de vidro. Muito pontual e sempre com o metro amarelo na mão e um pacotinho de massa. Era só chamar e o vidro era colocado. Morava só, mas sempre estava presente nas construções . Muito prestativo e atencioso;

126-Seo Zacarias – um baianão forte, moreno bem escuro, quase negro. Chegou na Vila Silvia com toda a família. Muitos filhos, filhas, genros e netos. Uma filha solteira, a Dulce. Muito bonita e enjoada. O Seo Zacarias fazia a figura do “Coronel”. Casa sempre cheia, muita conversa e tudo meio misturado. De vez  em quando uma encrenquinha, um parente novo, uma mudança chegando e outra indo embora;

127-Seo Nogueira – sempre vestido  à fazendeiro- bota, cinto largo e com frequência, a cavalo. Morava na casa grande da Dona Nézia – vó do meu “mais irmão” que primo Mario, mãe da minha querida tia   Zefa. Ele tinha um probleminha no  nariz  e a molecada não deixava por menos – “Nogueira do Nariz Comido”. Pessoa muito respeitada, de família grande e religiosa. Era uma referência... lá  perto da casa  dos crentes!

128- Tietre – o sempre companheiro de nossa casa. Foi sempre muito querido por toda nossa família. Ajudou muito a todos nós. Muito amigo e prestativo. Cheio de contrastes. Achava que era bom de bola e era péssimo! Gostava de contar umas histórias fantasiosas e metido à atlético e forte. Era  vítima de brincadeiras, quando era pego no contra - pé! Virava  a vítima das gozações. E que turma brava....  judiava até sangrar;

129- Seo Chiquito e Dona Rosa – um casal maravilhoso! Com certa idade, adotaram o Carlinhos.   Moravam bem na frente  do Bar do Seo Leopoldo. Gente finiíssima e queridos por todos.   Não  me lembro de ter visto a Dona Rosa, ou o Seo Chiquito contrariados com alguma coisa.  Sempre sorridentes e felizes.O Carlinhos representava tudo para eles;

130 – Leandro – o homem tranquilo e sossegado. Chegou na Vila Silvia falando baixo e bem mansinho. Jogava de zagueiro calmo e  sereno. Nunca mudou a sintonia. Corintiano de muitas histórias. Gostava de futebol, de jogar, de acompanhar, de dar palpites, de tudo. O  seu filho Leandrinho era cópia do pai. O Leandro foi muito companheiro de todos e muito querido. Segundo,o Durão ele demorava mais de duas horas para tomar uma dose de pinga !!!

131- Joaquim Baiano – o “tomador de conta” de uma propriedade com lagoas e  extração de areia. Lugar de muito peixe e procurado pelos pescadores do bairro. O Seo Joaquim era o xerife. Tinha todo o tipo. Atarracadinho, fala mansa  e sempre apressado. Só algumas pessoas tinham autorização para pescar. Na propriedade tinha uma casa bem precária e com  imenso fogão a lenha. De vez em quando, meu pai, Seo Leopoldo,   arrumava uma autorização dos  seu Joaquim para uma pescaria e  na companhia  de um bando de gente  fazia uma deliciosa feijoada no fogão à lenha. Era uma festança!

132-Dona Aurea – a nossa professora – acompanhou uma grande parte da turma, em todos os anos do primário- no Grupo Escolar- Dedicada, muito bonita e autoritária. Gostava de tudo certinho e sempre tratando todos com muita educação. Nossa turma tinha o maior respeito pela Dona Aurea. De vez em quando era substituída pela Dona Rose, que foi morar em Eng. Goulart  e virou próspera  comerciante de tudo! Nunca  vou esquecer da delicadeza da Dona Aúrea e do tapa na cara que tomei da Dona Rose sem saber porquê! A  turma da classe :  Durão, Nunes, Nei, Abel, Irineu, Wilson, Baltazar, Ismael e outros. O primeiro e segundo ano no Grupinho de madeira ,ali nos Bancários e depois fomos transferido para um prédio novo – Grupo Escolar República do Uruguai, que tinha  a Dona. Nazaré  e o Seo Peixoto como administradores da escola e Seo Alípio como zelador  das classes. O Seo Lauro, que se transformou num amigão da turma do Bairro foi Diretor o Grupo por muitos anos;

133- Jaime Pimenta – pai do Jaiminho e do Alipio. Aparecia  de vez em quando na Vila.  Pessoa bem trajada  com muitas novidades sobre futebol.  Bom de prosa e de fácil relacionamento. Sempre acompanhado dos dois filhos. O Jaiminho,branquinho, do cabelo meio enroladinho e quando sorria fechava os olhos e o Alipio, todo sardento e quieto. Esse moço foi presidente do Vila Silvia,muitos anos. Ser presidente significava, segurar e tomar conta de tudo. Ficou amigão de toda a turma e admirado pelo time todo pelo esforço e companheirismo;

134- A turma do fim da rua –no final da rua principal da Vila Silvia,onde ficava o Bar do Seo Leopoldo e o bar do seo Dema,havia uma família enorme  do Seo Alcides e dona Maria Barboza –baixinha que falava sem parar. Os filhos Jair, o Zé Pobre,Joãozinho,Ivo,Celina e a filha mais velha Maria Barboza também,completavam  a filharada. O Joãozinho  e o Ivo faziam parte da turma da rua. Um dia,a tarde, a molecada foi nadar na lagoa do Ribeiro. O marido da Celina não sabia nadar e quase morreu afogado. O Zé Pobre,seu cunhado,franzino e com um pedaço de pau na mão puxou o nadador. A molecada tremia de medo. O nadador saiu quase morto. Deitou,vomitou e parece que nunca mais se atreveu a tal proesa;

135- Seo Serrano chocolateiro – pai do Devair e do Marcial. Da banda dos Bancários,era conhecido como “o homem dos chocolates”. Também  se dizia cantor,quando provocado. Sempre presenteava alguém com uma caixinha bem arrumada de chocolate. Gostava de contar e falar de sua arte. Muito alegre e sempre se divertindo com as pessoas;

136- O time de molecada – A grande atração da molecada  era o futebol. Quando a plaina dava uma arrumada na  rua já se formava um campinho. Jogo toda tarde. E a turma mais velha pondo fogo do lado de fora . Dificilmente, ficava sem uma briga e a mãe do perdedor vindo procurar o  batedor para dar um a conversa. A Dona Adelaide-mãe do Lucio,  vez ou outra na estava na procura de alguém. Desses joguinhos diários formavam-se um timinho que jogava de vez em quando no campo do Vila contra a turma de alguém  ou da Vila Buenos Aires . Nosso time :  no gol o Silas (irmão do Tietre) ou Claudio( irmão do Giba). Os dois horrorosos! O Lucio de beque – era grandão e até que ia bem – muito chorão e mais o  Clovis,João Baiano,Cueção,Pirilo,Nato,Zé André,  Sibério,Tite e alguns maiores o Durão,Nei. Esses jogos eram esperados e depois o  monte de conversa e as histórias dos gols  e os frangos dos goleiros. Prosa para dias e mais dias;

137-Seo  Ernesto  e a mortadela – o português pai do Ernesto, Chiquinho e Ernestinho era o grande fornecedor de frios aos botecos da região. Cabelinho branco e de caneta na orelha,o protuguezinho com seu jipinho verde,trazia mortadela,linguiça,salaminho em caixas de cebola. Queijo prato e presunto era produto de luxo. O Seo Leopoldo dizia que não comprava porque a geladeira era fraca,demoravara  para vender e estragava. Alem do inconveniente do freguês sempre querer pegar uma fatia para experimentar. O lucro,segundo  o meu pai,ficava por conta da boquinha;

138- Seo João Fogueteiro – não era da turma  antiga,mas logo ficou conhecido. O “homem dos foqguetes”. Ele trabalha de inspetor de alunos do Estadual da Penha e muito metido com festas na Igreja, comemorações,etc. Barulho de foguete era obra do  seo  João. Era bastante festivo e participativo nas festanças e quermesses da Igreja;

139-Seo Totó – homem forte e bem quietão.  Seus filhos Ticão e Zinho faziam barulho para compensar. Familia grande que se juntou com outra família grande do Seo Moreira dos bancários. Ticão casou com a Neuza e o Zinho casou com a irmã mais nova a Iracema. A Dona Nair a  matriarca muito reservada e Hilda,uma moça muito bonita, que se casou com o Orlando. O filho Orlandinho muito brincalhão e gozador parece que herdou o jeitão de todos;

140- Ze Andre – irmão do Fogueirinha e da Odete,uma negona de grandes e escandalosas gargalhadas. O Ze Andre tomou conta do time do Vila Silvia mais de 10 anos. Fazia tudo. Arrumava jogo,punha  a rede no campo,levava as camisas,varria o vestuário e apitava o jogo. E roubava se fosse preciso. Uma figura santa. Só bondade. Queridíssimo de todos. Com muita frequência  almoçávamos juntos  depois do jogo;

141- Seo Djalma – amigo e companheiro de trabalho do Seo Albino. Eram os comandantes da caixa de água que abastecia parte de Engenheiro Goulart. Pessoa tranquila, de voz mansa e de chapéu amassado.  Muito querido pela disciplina e pontualidade. Seus filhos, o Jonas e o Paulão, faziam parte do time de futebol;

142-Vicão – foi jogador do Corinthians.  Era amigo de pouca gente. Sempre quieto e não jogava em nenhum time de Goulart. Não cabia nos times do Bairro! Jogou no Corinthians alguns anos com o nome de Flavio e na lateral esquerda. Quando deixou o  futebol, ficou algum tempo jogando na Wolkswagem, que  disputava  a segunda divisão. Apesar de muito educado e tranquilo não dava muita liga com o pessoal do bairro. Morava na parte mais alta do bairro. Uma casona grande  e parecia cheia de mistério, era a casa da Dona Isaura;

143- Fominha -  bom de bola, gozador e colaborador.   Juntamente com o seu irmão o Nelsinho, e o Marcilio formavam um conjunto quase que inseparável. Jogavam muito bem e eram muito queridos pelo espírito permanente de gozações. Conseguiu manter uma grande amizade no bairro;

144- Nunes – irmão do Mané. Foi companheiro de escola  e de bola por muitos anos. Fez medicina em Botucatu, casou-se com a filha da Dona Tereza e mudaram-se para Ourinhos. Alguns anos depois toda a família foi para Ourinhos. De vez em quando, já formado, dava algumas orientações médicas ao meu pai. Muito  cauteloso e educadíssimo. Com certeza, construiu uma carreira de muito e merecido sucesso. 

145- Seo Zé Rodrigues – chefe da Estação. Chegou no Bairro e logo se enturmou com toda a turma. Festeiro, sempre arrumando alguma comemoração. Conhecia todo o pessoal que embarcava diariamente. O Chefe da Estação tinha  jeitão de delegado do Bairro. Tinha pose de dono do trem e não de chefe da estação. De repente, se mandou para Jacareí;

146- João Amarelinho – jogador de sinuca, irmão do Paulinho. O João vivia de mão no queixo, sempre pensativo e louco para jogar bilhar. Não bebia, não fumava e conversava muito pouco.  O Paulinho ,um tanto introvertido também, era mais  próximo da  turma. Eram muito educados e não se metiam nas estrepolias da molecada. Casou- se com a irmã do Malaquias, filha do  Seo Botinha;

147- Seo Luiz Mineiro – velhão tranquilo de voz macia e pausada. Com seu chapéu inseparável ficava horas papeando. Sempre com muitas e curiosas histórias. Família grande. O  Reis  era o caçula e trabalhou no Bar do meu pai por alguns anos. Era  como nosso irmão pela dedicação, responsabilidade e educação Seu irmão Nonô e seu primo Ripiadinho completavam o quadro da respeitável e amiga família. O Reis era bom de bola e não faltava  aos jogos. Gente  finíssima;

148- As  duas grandes famílias do Bairro – A família do Seo Amadeu e a família dos mineiros- Famílias com mais de  30 parentes – filhos, filhas, genros, noras, netos. Figuras inesquecíveis e todos morando  bem  próximos – formavam um bolo. Estilos bem diferentes: a turma dos turcos, sempre  agitada e  participativa em tudo do bairro, à semelhança da mineirada . A Dona Judith, a matriarca dos mineiros sempre com a casa cheia e o fogão a lenha  aceso e comida à disposição de quem chegasse. Torcedora fervorosa do São Paulo  e do Vila Silvia. Aos domingos a mineirada toda torcendo da cerca da casa. Gritavam e, quando havia oportunidade, se metiam nas encrencas do Nelson Mineiro. Torciam e gritavam muito pelo Zezé, ponta esquerda, cheio de manias  e que só jogava quando o marcador não era “negrão”;

149- As correções da relação anterior : O Ricardo,filho do Mirtola, enviou-me algumas correções para  serem feitas na relação anterior : o nome da Haydee  e não Aidê, filha do Seo Marcelino e não Marcolino ;  não era venda do seu Massao era  venda do Seo Sadao ; a  japonesa esposa do João Minhoca chamava-se Juliana e a esposa do Merinho e filha do seo Otadio não era Ceci ,era Edite.  A Ceci, era filha do Dona Judite mineira e casada com o Seo Claudionor. A esposa do Seo Porfirio era a Dona Jamile,uma as filhas do Seo Amadeo, o turco bravo, mas de coração bom! As joponesinhas da tinturaria,segundo a Haydee eram Maria e a Yaeko. É só mencionar que faremos as devidas correções.  Antecipadamente, nos desculpamos por eventuais enganos;

150- Confraternização em Igaratá – dia 27 de fevereiro de 2016, fizemos uma bela feijoda no sitio – Muitos presentes, muita cerveja e muita risada. Uma manhã  maravilhosa e cheia de histórias. Sentiu-se a falta de gente que não podia faltar : Amadeuzinho, Mirtola, Gordo( Valdir), Maurão,Durão,Hildo,Didi, Zé do Açougue, Dico e outros. Foi uma maravilha,  muito agradecido pela  participação de todos! Na próxima vamos ter o Maurão cantando! Só  com essa turma de Engenheiro Goulart  é possível isso!