LEMBRANÇAS DE VELHOS!

Por Ciro Toaldo | 14/07/2020 | Sociedade

LEMBRANÇAS DE VELHOS!

PROFESSOR Me. CIRO JOSÉ TOALDO

 

Estamos vivendo o tempo de reflexão, onde valores da existência estão sendo retomados! Veio em minha mente um livro que estudei no mestrado, intitulado: Memória e Sociedade: Lembranças de Velhos, autora Eclésia Bosi, Cia das Letras, 1994. Obra que narra por meio de entrevistas a história social de São Paulo, como o dia-a-dia dos imigrantes operários!

Sempre tive vontade de ouvir as histórias dos ‘velhos’ e isto ganho ainda mais força quando me tornei historiador! Não há como negar que os ‘velhos’ em muito contribuíram para edificação do passado de suas comunidades! Infelizmente a história focada nos últimos tempos no nosso país, ligada ao viés marxista e altamente ideológico, levou o esquecimento de lindas, tristes e emocionantes histórias dos antepassados!

Também ocorreu a barbaridade histórica, com a dimensão positivista de lembrar somente heróis e grandes figuras da história. Não é para deixar de lado os ‘vultos’ patrióticos, devemos conhecer eles, mas também se deve ter em mente que a história, por exemplo, de Capinzal/Ouro (SC), construiu-se por meio de infinitas pessoas que em seu anonimato deixaram importantes contribuições, mas elas não foram prefeito, vereadores ou ocuparam cargo importante!

Quando se conta a história, por exemplo, de Capinzal, também deveríamos saber quem foi ‘Tia Bena’ e que fazia suas andanças pelas ruas da cidade Capinzal. Saiba que daquela forma, ela fez parte desta história!

Lembranças de velhos! Quanta saudade de meus avós seja do lado paterno, moradores em Capinzal, na Rua Aparício Ribeiro (ao lado da atual prefeitura), nona Lúcia e nono Anselmo Toaldo. Ele, um exímio alfaiate, seus ternos eram muito elogiados e ela, uma fantástica cozinheira, fazia o melhor ‘agnolini’ de Capinzal (sem falta de modéstia). Ficava muitas horas ouvindo as histórias de meus avós paternos. Os avós maternos foram outras criaturas maravilhosas, nona Leonor e nono Ciro Dambrós, eram também meus padrinhos de batismo. Moravam em Ouro, no alto da Rua Presidente Kenedy, onde tínhamos uma visão panorâmica do centro de Capinzal. Nono Ciro, um simples saboeiro do Frigorifico Ouro, mas um mestre em carpintaria ela sabia fazer um pouco de tudo! Nona Leonor, como nona Lúcia, uma extraordinária cozinheira. Aliás, estas ‘velhas’ senhoras cozinhavam como ninguém as maravilhas da cozinha italiana!

Lembranças de velhos que continuam atuais! Infelizmente neste mundo tecnológico, eles não são tão lembrados e, quando há algo feito para eles, poucos conseguem ter seus privilégios. Cito um caso, o de minha ‘mãe, quase com oitenta anos, para poder ouvir melhor, já gastou muito dinheiro com aparelhos para audição; quantos, sem nenhuma condição financeira, acabam ficando isolados em seus cantos, sem poder ouvir! Nem cito a questão de outras áreas de saúde, observe o absurdo dos planos de saúde para quem chega aos setenta anos, por exemplo! Este foi um dos dramas de meu falecido pai, chegando ao absurdo de ter quase todo seu salário destinado ao pagamento dos planos de saúde dele e de minha mãe!

Não estou fazendo sensacionalismo, apenas escrevo um dos dramas vividos por minha família! Fatos que demonstram menosprezo aos nossos ‘velhos’, na fase da vida, onde poderiam curtir com prazer suas boas ‘lembranças’, amargam os infortúnios de ser mero descarte, dentro de uma sociedade que não aprendeu a valorizá-los (apesar de termos alguns avanços)!

Recordar é viver quando o ‘velho’ cultiva com dignidade suas lembranças. Justiça seja feita: na região de Capinzal/Ouro e em grande parte dos estados do Sul do Brasil a maioria das famílias cuida bem de seus ‘velhos’ (em sua própria casa), ao ponto de termos poucos asilos e casa de repouso (obviamente cada caso tem suas particularidades)!

Valorizemos as lembranças e a memória de nossos queridos e heroicos velhos, assim a nossa história estará completa!

Pensem nisto e até o próximo! Deus abençoe todos, especialmente nossos ‘velhos’!

 

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