Lembrança por toda a vida

Por Jocinei dos Santos | 21/12/2010 | Contos

Lembrança por toda a vida
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Não escolhemos amigos por idade, raça, cor ou religião, muito menos pelo fato de ser humano. Para ser amigo de verdade, basta apenas retribuir com a mesma moeda toda a atenção e carinho que recebemos. Amigos como já falei no início, pode ser humano, pode não ser. Pode ser aquele filhote de cachorro que o avô nos deu de presente e que cresceu junto com a gente, fazendo parte de nossa inesquecível infancia.
Essa história baseia-se na vida de um garoto pobre que não tinha amigos, seu amigo de verdade era um filhote de cachorro que ganhou de presente do avô no dia de seu aniversário, um cãozinho do tipo vira-lata, mas que possuía uma coragem de leão.

Raul, o garoto, cresceu na cidade grande, longe do sossêgo da fazenda, bicho que voa e que canta raramente o garoto podia ver da janela do quarto onde ele dormia, por causa da ausência das arvores, o mundo cinzento onde o garoto vivia, levava até ele uma imaginação rica em aventuras.
Todos os dias em que acordava, o garoto olhava da janela do quarto e sonhava que podia voar por entre os arranha-céus da cidade, sonhava que era o super herói, o menino que salvou o mundo, tudo poderia sonhar, viver a fantasia ainda não era proibido.
Todos os dias, o garoto ia até a padaria, o padeiro já o conhecia e por ser um garoto esperto, sempre levava um sonho para comer enquanto andava pela rua. Era um garoto de origem humilde, sua mãe trabalhava em uma loja de roupas não tão longe dali, e o menino ficava com o avô que era aposentado. Um dia seu avô quis lhe fazer uma surpresa e lhe deu de presente um cachorrinho que para o menino era muito especial. Ele ficou tão feliz com o presente que havia ganhado que o seu maior passa tempo era brincar com o seu novo animal.
Desde aquele dia, sempre que o garoto saía de casa ele levava o cachorro para passear, era o seu amigo preferido, mas os animais crescem e ficou um enorme do cachorro que já não tinha mais espaço para ele dentro de casa.
Agora o menino não se sentia mais sozinho, sempre que voltava da escola, estava o cachorro a esperá-lo no portão de casa, tinha mania de lamber o rosto do garoto que apenas ria enquanto sua mãe dizia para ele tomar banho.
Um dia Raul levantou-se cedo para comprar pão, o seu cachorro foi junto, ao dobrar a esquina, um cão raivoso resolveu partir para cima do garoto, ele começa a gritar então o seu amigo preferido o cachorro, saiu à frente do menino e brigou com o cão raivoso que acabou recuando e deixando o garoto em paz, esse dia foi especial para o menino que nunca mais esqueceu aquela cena.
Mas nem tudo parecia ser o que era, nas férias do garoto, seu avô e sua mãe resolveram passar o mês de julho no interior para rever os amigos que lá tinham deixados. Raul foi e levou com ele o seu animal de estimação.
Ele só não imaginava que seu bicho de estimação, amigo preferido, não voltaria com ele assim que as férias chegassem ao fim.
Tudo pronto para a viagem, o garoto empolgado que pela primeira vez iria conhecer a fazenda, se arrumou primeiro, arrumou o cachorro e junto com a mãe e o avô foram embora para o ponto de ônibus onde pegariam a estrada por mais de quatro horas.
Foram quatro horas de viagem, e o garoto ansioso, imaginando como seria os pássaros do interior, as plantas, o rio, a fazenda em fim a vida longe da agitada cidade grande.
Logo que chegaram, o garoto e o cachorro foram os primeiros a descerem do ônibus, o menino ficou encantado com tudo que viu, principalmente o chão molhado de chuva e o cheiro natural do campo. O cachorro estranhou um pouco o lugar mas logo aprendeu a conviver com a nova vida. Para o garoto seria apenas as férias, para o cachorro toda a vida. O menino pode acorda mais cedo para observar o avô ordenhar as vacas, tomou leite fresco, passearam pela fazenda, e ainda foram pescar no lago. Raul nunca tinha visto peixes vivos, e o cachorro nunca tinha nadado tão bem em um rio.
Os dias passaram e Raul descobria cada vez mais os mistério que nos guarda a natureza, o campo era um bom lugar para fazer perguntas e obter as respostas, mas sinceras do mundo. Como nascem as flores? Como brotam as sementes? De onde vem os filhotes dos animais?
Mil perguntas e uma resposta na ponta da língua: Ame a natureza e entenda a vida!
Tão pequeno e já sabia pensar na vida, os mais velhos ficavam admirados pela esperteza e inteligência do garoto ainda naquela idade, um menino que só tinha sete anos de idade.
O mês de Julho passava de presa, pois coisas boas são mesmo assim, sempre passam de pressa que não nos deixam pensar um pouco mais ou viver um pouco mais esse grande prazer que nos dá.
As coisas boas da vida é como chuva que cai lá fora no rio, é como as danças da folhas no vento, o canto dos pássaros, e como o amor que não dura para sempre ou poderia ser se não tivéssemos que nos separarmos das coisas que amamos.
Era uma manha tão bela como tinha sido as outras durante todo aquele mês na fazenda, mas Raul precisava voltar para casa, o começo das aulas forçava o garoto a dar adeus a paz no campo.
Tudo pronto para o embarque, Raul olhou nos olhos da mãe e perguntou:
-Mãe cadê o Spike? Eu não ouvi ainda.
A mãe olhou para o avô dele e tratou logo de inventar uma historia para acalmar o garoto.
Filho o Spike cresceu e não pode mais ficar lá em casa, ele não é mais um cachorrinho, já está grande demais e não há espaço para ele lá em casa.
Os olhos do garoto encheram de lágrimas, Raul não consegui entender a reação da mãe.
-Por que mãe o Spike não pode ir com a gente?
-O que eu vou fazer lá na cidade então?
-Quem vai me receber no portão quando eu chegar da escola?
-Quem vai fazer bagunça no meu quarto quando eu deixar a porta aberta? -Quem vai me acordar bem cedo puxando o lençol da minha cama?
-Quem vai ser meu amigo mãe?
-Não pode responder minhas perguntas, por que as perguntas que vem do coração não podem ser respondidas não é mãe?
O garoto soluçava em quanto a mãe não sabia o que fazer para ajudar o filho, ela estava decidida a deixar o cachorro na fazenda, ela acreditava que lá ele poderia ser mais feliz, o lugar era amplo e não tinha perigos como na cidade grande.
Raul não conseguia entender, queria mesmo ficar e não entrar no ônibus, o garoto poderia entender as coisas com facilidade, mas deixar um amigo para trás era a pior coisa do mundo. Spike veio até onde o garoto estava, o menino então abraçou o cachorro e quase não o deixa mais, ele era criança de mais para entender algumas coisas que só adulto entende. O garoto com a ajuda do avô entrou no ônibus agora calado, apenas deixava cair às lágrimas do rosto, lágrimas reaisque marcavam o dia que um garoto levaria aquela lembrança para toda a vida.
O motorista do ônibus ligou o motor, era a hora de o garoto deixar para trás seu melhor amigo, Spike do lado de fora como se entendesse o apelo do garoto, latia para querer entrar, mas aquilo era impossível. O ônibus foi saindo e o cachorro o acompanhava, o garoto correu até a janela de trás do ônibus para dar adeus ao amigoque na estrada ia-se perdendo de vista. Não havia nada no mundo que pudessem parar as lágrimas do menino que insistia em olhar da janela o cachorro que aos poucos cansava e desistia, parando pouco a pouco em um tempo que o garoto não podia parar.
Quando chegou a casa o menino não falou com a mãe, apenas subiu para o quarto e chorou, chorava toda dor que sentia naquele momento. Era só um garoto, mas prometeu que um dia voltaria para buscar seu amigo de volta.
A mãe do menino sentia-se culpada por tudo que o garoto estava passando, ele até foi mal no começo das aulas, não falava com os coleguinhas da escola, passava as noites olhando para a lua, era a mesma lua que ele admirava todas as noites quando estava na fazenda. Era só um garoto, mas pensava feito gente grande, até sofria como gente grande só não conseguia entender por que gente grande não entende que a amizade é tudo nessa vida.
O tempo era só uma conseqüência, o lado bom da vida mesmo é que amigo de verdade a gente nunca esquece, são lembranças que carregamos no coração, cravado no fundo da alma e por toda eternidade.