Leitura na Educação Infantil
Por Elisângela Soares Ramos | 20/11/2011 | Educação1 INTRODUÇÃO
Sabe-se que há necessidade de realizar um trabalho com as crianças iniciando pela Educação Infantil, onde começam a participar da vida em grupo e também são incentivadas a estabelecerem valores reconhecendo a importância da leitura na vida de cada um.
Com o objetivo de promover o desenvolvimento de valores como respeito, compreensão e outros, foi realizada a prática de Hora do Conto como recurso de leitura, propiciando o real envolvimento das crianças ao mundo mágico da história ouvida instigando seus questionamentos e enriquecendo seus conhecimentos.
O tema escolhido para a prática da Hora do Conto foi devido a grande dificuldade que as pessoas tem em aceitar o diferente, ou seja, a diferença do outro.
Na sequencia o leitor poderá constatar a importância da proposta de Leitura na Educação Infantil para o desenvolvimento da criança nas diversas áreas do conhecimento.
2 DESENVOLVIMENTO
A proposta de Leitura na Educação Infantil foi oportunizada a partir de intervenção de prática de leitura, realizada com crianças na faixa-etária de 4 à 6 anos inseridos nas turmas dos níveis Jardim A e B da Instituição de Educação Infantil M.M, situada no Bairro Santanaem Porto Alegre/RS, devido a necessidade demonstrada por parte das crianças em aceitar as diferenças do outro e/ou aceitar o diferente por evidenciaram, em situações coletivas, curiosidades quanto aspectos físicos de pessoas que os rodeiam, a cor da pele, cabelos, sotaques de linguagem de outras regiões, e outros. A prática de leitura foi apresentada através de Hora do Conto com exposição de imagens em varal e após manuseio do livro original da história “O Canto de Bento” em uma abordagem de surdez e língua de sinais.
A leitura na educação infantil é muito ampla e importante, estimula a criança em seu desenvolvimento emocional, social e cognitivo. Segundo Abramovich (1997) quando as crianças ouvem histórias, passam a visualizar de forma mais clara, sentimentos que têm em relação ao mundo. As histórias trabalham problemas existenciais típicos da infância, como medos, sentimentos de inveja e de carinho, curiosidade, dor, perda, além de ensinarem infinitos assuntos.
É através de uma história que se pode descobrir outros lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outras regras, outra ética, outra ótica...É ficar sabendo história, filosofia, direito, política, sociologia, antropologia, etc. sem precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula (ABRAMOVICH, 1997, p.17).
Garantir a riqueza da vivência narrativa desde os primeiros anos de vida da criança contribui para o desenvolvimento do seu pensamento lógico e também de sua imaginação,que segundo Vygotsky (1992, p.128) caminham juntos: “a imaginação é um momento totalmente necessário, inseparável do pensamento realista.”. Neste sentido, o autor enfoca que na imaginação a direção da consciência tende a se afastar da realidade. Esse distanciamento da realidade através de uma história por exemplo, é essencial para uma penetração mais profunda na própria realidade: “afastamento do aspecto externo aparente da realidade dada imediatamente na percepção primária possibilita processos cada vez mais complexos, com a ajuda dos quais a cognição da realidade se complica e se enriquece. (VYGOTSKY, 1992, p.129) ”.
O contato da criança com o livro pode acontecer muito antes do que os adultos imaginam. Muitos pais acreditam que a criança que não sabe ler não se interessa por livros, portanto não precisa ter contato com eles. O que se percebe é bem ao contrário. Segundo Sandroni & Machado (2000, p.12) “a criança percebe desde muito cedo, que livro é uma coisa boa, que dá prazer”. As crianças menores valorizam o livro pelas cores, formas e figuras que eles possuem e que mais tarde, darão significados a elas, identificando-as e nomeando-as.
2.1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Segundo Jean Piaget a faixa-etária dos 3 aos 6 anos (pré-leitura) caracteriza-se por um pensamento pré-conceitual. A criança manifesta uma mentalidade fértil, fantasiosa novos lugares e egocêntrica. O “eu” e o “mundo” confundem-se. É uma fase essencialmente simbólico onde a criança, com ajuda de vários recursos, entre eles a leitura, desenvolve sua linguagem, socialização, percepção, raciocínio lógico.
A literatura exerce papel fundamental nestas construções, através dela a criança apreende o mundo e a linguagem.
As história contatadas pelos pais e pelo educador são os primeiros contatos com o mundo literário. Através dela a criança “abre horizontes”, conhece novos lugares, constrói novos conhecimentos.
Como a criança é totalmente simbólica, a literatura vem ao encontro de suas necessidades e é através dela que a criança começa a questionar, comparar e principalmente resolve e elabora conflitos. Os sentimentos de amor, inveja, morte, medo, perda, coragem são vividos diariamente pela criança, porém ela não consegue expressá-los e é através das histórias, quando a criança se projeta nos personagens, que ocorre a identificação e a elaboração dessas situações.
Outro aspecto importante refere-se a construção da linguagem. Quando o educador lê a história está mostrando modelo de linguagem, sequência lógica de fatos propiciando a criança a organização de seu pensamento. Contar e ouvir uma história aconchegado a quem se ama é compartilhar uma experiência gostosa, na descoberta do mundo das histórias e dos livros.
Apesar da grande importância que a literatura exerce na vida da criança, seja no desenvolvimento emocional ou na capacidade de expressar melhor suas ideias, em geral, de acordo com Machado (2001), elas não gostam de ler e fazem-no por obrigação. Mas afinal, por que isso acontece? Talvez seja pela falta de exemplo dos pais ou dos professores.
O que se percebe é que a literatura, bem como toda a cultura criadora e questionadora, não está sendo explorada como deve nas escolas e isto ocorre em grande parte, pela pouca informação dos professores. A formação acadêmica, infelizmente não dá ênfase à leitura e esta é uma situação contraditória, pois segundo comentário de Machado (2001, p.45) “não se contrata um instrutor de natação que não sabe nadar, no entanto, as salas de aula brasileira estão repletas de pessoas que apesar de não ler, tentam ensinar”.
Neste sentido, quanto mais cedo a criança tiver contato com os livros e perceber o prazer que a leitura produz, maior será a probabilidade dela tornar-se um adulto leitor. Da mesma forma através da leitura a criança adquire uma postura crítico-reflexiva,extremamente relevante à sua formação cognitiva.
Quando a criança ouve ou lê uma história e é capaz de comentar, indagar, duvidar ou discutir sobre ela, realiza uma interação verbal, que neste caso, vem ao encontro das noções de linguagem de Bakhtin (1992). Para ele, o confrontamento de ideias, de pensamentos em relação aos textos, tem sempre um caráter coletivo, social.
O conhecimento é adquirido na interlocução, o qual evolui por meio do confronto, da
contrariedade. Assim, a linguagem segundo Bakthin (1992) é constitutiva, isto é, o sujeito constrói o seu pensamento, a partir do pensamento do outro, portanto, uma linguagem dialógica. É importante que o livro seja tocado pela criança, folheado, de forma que ela tenha um contato mais íntimo com o objeto do seu interesse. A partir daí, ela começa a gostar dos livros, percebe que eles fazem parte de um mundo fascinante, onde a fantasia apresenta-se por meio de palavras e desenhos. De acordo com Sandroni & Machado (1998, p.16) “o amor pelos livros não é coisa que apareça de repente”. É preciso ajudar a criança a descobrir o que eles podem oferecer. Assim, pais e professores têm um papel fundamental nesta descoberta: serem estimuladores e incentivadores da leitura
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O momento da Hora do Conto proporcionou às crianças a realização da leitura e compreensão da história ouvida, onde evidenciaram grande surpresa por desconhecerem tais necessidades especiais, portanto penso que a proposta de leitura na educação infantil é uma ferramenta bastante rica na ampliação do conhecimento, pois através desta a criança apreende o mundo e a linguagem;
Porém penso que, para tanto, se faz necessário o estímulo contínuo desta prática, a qual contribuirá para o despertar do interesse pela leitura na busca de novos conhecimentos. Vivemos, atualmente, em meio a tecnologia, onde todas as informações e lazer estão vinculados à “ máquina” e o livro parece ter sido esquecido e/ou ser coisa do passado. É necessário resgatar a importância de manusear um livro e encontrar neles um mundo repleto de encantamento e novos sabores, acreditando que o livro também é fonte de prazer em amplo campo de estudos, onde o mediador deve ter a sensibilidade para adequar o livro à idade cronológica da criança e valorizar o poder de uma história bem contada propiciando momento de prazer e estimulação para a leitura.
REFERÊNCIAS
ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil: gostosuras e bobices. 4 ed., São Paulo: Ed. Scipione, 1997,
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1992.
MACHADO, Ana Maria. Ilhas no tempo. 1 ed., São Paulo: Ed. Nova Fronteira, 2001.
PIAGET, Jean. A Literatura Infantil na escola. 11 ed., São Paulo: Ed. Global Editora, 1992.
SANDRONI, Laura; MACHADO, Luíz Raul. A criança e o livro. Rio de Janeiro: Ed. Ática, 1998.
VYGOTSKY, L.S. O Desenvolvimento Psicológico na Infância. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1992.