Leitura Instrumento De Cidadania

Por Noeli Viapiana | 04/08/2008 | Crescimento

1 IMPORTÂNCIA DA LEITURA NO DESENVOLVIMENTO DO SER HUMANO

O mundo globalizado, dominado pelo uso intensivo das novas tecnologias da informação e da comunicação e pelas mudanças na economia (trans-nacional), exige a atualização contínua na busca de soluções locais para as necessidades da população. Neste tempo, espaço e cultura definidos, as pessoas precisam saber: onde localizar informações e principalmente como saber usar as diversas fontes de informações. Cabe ao bibliotecário exercer esta atividade, pois é qualificado para administrar a informação, disponibilizando-a de acordo com a demanda, e através de projetos que motivem a leitura poderá estar incentivando as pessoas a buscarem com mais afinco a satisfação destas necessidades informacionais.

O objetivo deste artigo focaliza aspectos de como estimular a proposição de projetos de leitura nos ambientes educacionais e sociais como: escolas, asilos, creches, favelas, centros comunitários e de bairros, entre outros. Pois a democratização do conhecimento é essencial para o desenvolvimento educacional, econômico, político e social da nação, assim sendo é fundamental promover a integração do cidadão através de canais que facilitem sua participação e produção do conhecimento.

Ao concordarmos que, quem lê, amplia seus horizontes e conseqüentemente está mais aberto para todas as artes e ciências, pode-se dizer que a pessoa é cidadã do mundo e precisa capacitar-se para obter autonomia cultural e intelectual. E a leitura é uma janela no tempo e no espaço, pois amplia horizontes e possibilita o fortalecimento de idéias e ações. É necessário apontar projetos e programas de leitura que o bibliotecário também necessita participar.

2 AMBIENTE DE LEITURA

Espaços públicos de leitura podem ser desde bibliotecas públicas e escolares, ou espaços mais reservados em entidades sociais como asilos, creches, favelas, centros comunitários e de bairros, locais de acesso e freqüência de grande público como em rodoviárias, terminais urbanos, entre outros. Estes ambientes precisam oferecer informação segura, objetiva e clara.

A pessoa para poder interagir na comunidade em que reside ou trabalha necessita de informação. A informação pode auxiliar direta ou indiretamente o ser humano seja para o desenvolvimento da sua identidade, cidadania, e desempenho  profissional. A leitura torna-se mola propulsora de seu auto-desenvolvimento.

Nos ambientes de acesso e uso da informação é necessário promover e fortalecer o processo da leitura, reflexão e debate. As ações leitoras precisam acontecer em espaços educacionais, desde o ambiente familiar aos ambientes de ensino fundamental e também no ensino profissionalizante, indiferente se para crianças, jovens, adultos e idosos. Porém as ações de leitura necessitam de planejamento, organização e execução.

Não basta ler, precisa haver análise do que se lê, discutir e interpretar para dar sentido e conseqüentemente fazer uso da leitura. Isto significa reforçar a competência individual e coletiva no entender, utilizar, refletir e discutir utilizando os processos de escrita e de leitura para interagir na sociedade.

E o interagir na sociedade, fomenta uma busca de compreensão e reflexão do sujeito desde as demandas de simples atividades até as mais complexas. Atuar no mundo em prol de si e dos outros, na busca de uma sociedade melhor. Exemplificando, se é um profissional bibliotecário, garantir-se neste campo de atuação, buscar constantemente a informação para si primeiramente e assim através do conhecimento "promover" os "projetos". A promoção no caso da leitura colabora em formar leitores.

Ampliar o acesso para as pessoas, seja da periferia, por exemplo,  aos recursos culturais dentro e fora de sua comunidade, repercute em direcionar ações como dinamizar sessões semanais de leitura com acompanhamento de alguma autoridade sobre o assunto a ser estudado (professores, padres, pastores, policiais e políticos entre outros), fortalecendo a participação de todos os membros da família para desenvolver a comunicação e o diálogo entre os participantes e de acordo com as necessidades da base das comunidades.

Ana Maria de Oliveira, professora do ensino fundamental, médio e educação de jovens e adultos, mestre em literatura comparada da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), menciona no artigo com o título "populares e os clássicos" :

Em sociedades como a nossa, cujos traços característicos são a exclusão e o autoritarismo, as oportunidades culturais não chegam de igual forma a todas as camadas sociais. E de maneira mais difícil a literatura, por se tratar de arte escrita e que conta com o poder de uma boa imaginação, sem ter a seu favor o recurso da imagem, da cor e outros.


Pode-se comentar, que precisa existir mecanismos para garantir a busca, o acesso e uso da informação. Além disso, a literatura vista como arte escrita, conta com o poder da imaginação estimulando o raciocínio e a interpretação. É preciso saber conciliar a estética e as técnicas de leitura. O ser humano vive e convive em sociedade, portanto tudo acontece em contexto social, econômico, cultural, educacional e político.

Desde a colonização se observa um cruel processo de segregação das camadas sociais desfavorecidas de cultura escrita, o qual permitiu (e ainda permite) a alguns, não só o acesso, mas a detenção dos produtos culturais eruditos, e legou a outros, de maneira tirânica, apenas uma parte da cultura, a qual chamou pejorativamente de popular.

A falta de intimidade com a palavra escrita, com livros, revistas e jornais entre os alfabetizados não é um problema recente. Já em 1936 Mário de Andrade, então criador do primeiro Departamento de Cultura de São Paulo, dizia: "A disseminação no povo do hábito de ler criará fatalmente uma população urbana mais esclarecida, mais capaz de vontade própria, menos indiferente à vida nacional."

E lamentavelmente o tempo passa, no caso mais de meio século, e ainda o povo não tem o acesso para fazer uso da informação. Os poucos locais públicos de acesso à informação estão muitas vezes com acervos desatualizados e com bibliotecários que pouco conseguem fazer para tornarem suas bibliotecas espaços dignos para a conquista da cidadania.

2.1 Projetos de leituras

Questões básicas precisam ser apontadas, pois, necessitam de reflexão e também de diretrizes a serem estabelecidas por nossos representantes seja em assembléias (congresso, senado, câmara) e também em eventos, como o Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação  e Ciência da Informação, nos quais bibliotecários de diferentes regiões têm a possibilidade de estarem reunidos para discutirem viabilidades práticas.

É preciso lembrar que faltam políticas claras e objetivas para inclusão social, seja pela leitura, pela escrita e pelos caminhos da informática. Não basta saber ler e escrever é preciso utilizar estes conhecimentos para interagir positivamente na sociedade. Assim surgem questões entre as quais compartilhamos com nossos colegas bibliotecários: quais são os projetos e programas de leitura no Brasil em que o bibliotecário pode e deveria participar?

A maior parte dos programas e projetos de leitura estão vinculados a instituições públicas de ensino. As organizações privadas começam a desenvolver projetos com foco da responsabilidade social. Em ambos os casos  aonde o bibliotecário deveria estar atuando como um agente promovedor de mudanças sociais, culturais e educacionais e interferindo positivamente no desenvolvimento da nação.

Como desenvolver a responsabilidade social do ser humano na sociedade do conhecimento? Uma questão pautada no mundo globalizado que exige profissionais cada vez mais qualificados, com habilidades para tomar decisões e também se relacionar desde com os próprios colegas e principalmente com seu leitor.

Os profissionais bibliotecários e suas ações em unidades de informação são levados cada vez mais, a participar ativamente do fluxo de informações. Esta participação se efetua através da prestação de serviços aos usuários virtuais que podem estar localizados em qualquer lugar do planeta, ou o usuário que prefere interagir pela tela do computador na própria biblioteca. Cada unidade precisa direcionar produtos e serviços acessíveis (acessibilidade) e fáceis de utilizar (usabilidade) para que a informação possa circular livremente no ciberespaço.

O acesso crescente e massivo de usuários remotos, exige do bibliotecário dessas unidades de informação focalizar ações para desenvolver possibilidades para a integração do ser humano na sociedade. Isso significa, pensar global e agir local, é o conviver na aldeia global imaginada por McLuhan.

Será necessário considerar as mudanças que assolam as relações humanas no cotidiano, observando que estão mais fragmentadas e muitas vezes sem vínculos afetivos e culturais. Além disso, o fluxo da informação passa a ganhar mais velocidade na transmissão e recepção, isto significa saber utilizar ferramentas para acessar outros tipos de fontes de informação e principalmente como interagir (como funciona o e-mail, formulários on-line, até mesmo cadastros para conseguir seu emprego).

Perguntas são somadas ao mar de dúvidas: será que o ser humano se tornará mais isolado? Como poderá interagir mantendo a singularidade na Sociedade da Informação que preconiza ser uma sociedade de / e em redes de relações? Se relações são fragmentadas e efêmeras quais os significados dos relacionamentos, serão meramente econômicos ou de interesses momentâneos ? E como interfere a velocidade do fluxo da informação nas redes de relações e no tempo e espaço? E o que acontecerá com as pessoas quando não têm mais tempo para amadurecer os contatos e em sedimentar novos valores? Certamente é preciso acalmar o impulso pelo novo e tecer algumas discussões. Que estas sejam respaldadas em leituras de palavras, símbolos , imagens e contextos. Na Sociedade da Informação será vital saber pensar, saber cuidar, saber apreender e saber – fazer, para o saber conviver com o próximo!

Voltando ao ambiente nos quais são ensinados os processos de leitura e escrita. O que acontece nestas esferas nas quais faltam políticas públicas, conforme expõem Lindoso (2004) de acesso e uso da informação no Brasil que pouco favorecem espaços para aprimorar estas habilidades e competências conhecidas como letramentos, como menciona Soares (2003, 2004)?

Quais os direcionamentos a serem alcançados a longo prazo nas políticas públicas de acesso e uso da informação? Quais e como essas políticas serão implantadas e continuadas? Será que continuarão a serem pulverizadas e efêmeras (no máximo a duração de um mandado político) ou circulará somente entre gabinetes de representantes políticos ou de gestores que não têm comprometimento com a qualidade de ensino e pesquisa no pensar e fazer estratégico (longo prazo) no Brasil?

E certamente as questões financeiras também são somadas seja no ambiente cultural ou até mesmo de sobrevivência. Não se pode esquecer que os salários recebidos pela maioria da população não permitem adquirir  livros ou outros materiais para complementar o nível básico de leitura (para exercer a cidadania e também sobreviver dignamente). Assim, o que adianta a leitura e escrita ser vista meramente como um dado estatístico de alfabetização e fazer pouco uso no cotidiano e muito menos no exercício da cidadania de cada um? A princípio pode-se dizer que faltam espaços públicos de leitura no Brasil para muitos brasileiros!

Soluções seriam bem-vindas se todos  os municípios brasileiros contassem com uma melhor infra-estrutura no acesso e uso da informação, seria o primeiro passo. Seqüencialmente seria a atualização dos acervos e contar com profissionais capacitados e competentes para atender com qualidade e eficácia. Certamente outros valores estariam presentes na sociedade brasileira. Há necessidade da presença do bibliotecário nestes campos de atuação, profissional que demande a eficiência e eficácia na sua atuação, e não simplesmente um guardador de livros. Está na hora do profissional bibliotecário, abraçar sua profissão como uma ferramenta promotora e propulsora da era da informação, modificando positivamente o cenário de atuação profissional ao desenvolver ações leitoras e promover o acesso e uso de fontes de informação para a coletividade. Ao gerenciar ambientes como bibliotecas públicas e bibliotecas nas escolas com material atualizado, sejam jornais e revistas, fontes visuais (televisão a cabo) e também pontos de acesso à internet o bibliotecário.

Cabe lembrar que é necessário beneficiar com as políticas públicas de acesso e uso da informação a população, essa sendo subsidiada pelo Estado.  No momento existem carências, devido principalmente pela má distribuição de renda no Brasil e de problemas de gestão nos diversos segmentos sejam municipais, estaduais e federais. É fundamental proporcionar ações concretas para minimizar as cruéis situações descritas por Lindoso (2004) em seu excelente livro "O Brasil pode ser um país de leitores? Política para a cultura / política para o livro." O que precisa é evitar políticas distintas para interesses comuns, como espaços públicos fortalecidos e adequados para acesso e uso da informação. A promoção da leitura á população poderá se efetivar num movimento dos bibliotecários do Brasil. Assim a presença do profissional, tem dimensões efetivas, responsabilidade social e valorização do próprio profissional perante a sociedade.

No sentido de mapear ações leitoras realizadas no Brasil nas quais o bibliotecário possa participar, realizou-se listagens as quais estão disponibilizadas na Internet "Biblioteca Virtual em Biblioteconomia e Ciência da Informação" (http://www.ced.ufsc.br/bibliote/virtual ) para motivar o engajamento e também divulgar iniciativas desta natureza. No Anexo A Programas de Leitura e Anexo B Projetos de Leituras e Bibliotecas observam-se diversas possibilidades para ações nas quais seria desejável a participação efetiva de bibliotecários.

3 CONCLUSÕES

A leitura é a mola propulsora na libertação do pensamento e possibilita desencadear reflexões e desenvolver ações para melhoria da cidadania e desenvolvimento do ser humano.

Concordamos e enfatizamos as sábias palavras de Ana Maria de Oliveira: "Sensibilidade não escolhe proveniência social. Negar às camadas populares o direito à inclusão através da leitura é negar às pessoas a condição de seres de vontade, instigadas pelos fenômenos da vida, é privá-las do acesso à apropriação da palavra como construção da identidade."

Cabe ao bibliotecário, ser estimulador de leituras, não pode ficar omisso ao que acontece com a população menos privilegiada. Precisa ser criativo e ousado para desencadear mudanças eficazes na sociedade.

O bibliotecário deve ocupar o seu lugar efetivamente como um profissional que promove a cultura e educação no país.