Leitura e escrita nas séries iniciais

Por josuelto lopes dos santos | 15/02/2018 | Educação

 LEITURA E ESCRITA ALFABÉTICA NAS SÉRIES INICIAIS.

READING AND WRITING LETTER IN SERIES START.

Josuelto Lopes Dos Santos

josuelto@hotmail.com

RESUMO

O presente artigo teve como objetivo pesquisar a concepção de alguns autores sobre a aquisição da leitura e da escrita alfabética no processo de alfabetização, bem como a importância da boa formação do educador dentro desse contexto. Assim, foi possível perceber que se trata de um processo que varia de educando para educando e que requer do educador a compreensão de como isso acontece, pois, é um processo que passa por vários estágios de desenvolvimento (onde o educando é o agente do mesmo, com sua bagagem e seu tempo particular) e a falta de conhecimento do educador sobre esses aspectos pode ser um entrave nessa caminhada. Contudo é certo dizer que não há receitas prontas e infalíveis nesse processo, pois o desenvolvimento e a aprendizagem é algo particular de cada educando.

 

Palavras chave: leitura, escrita alfabética, processo de apropriação.

 

ABSTRACT

This article aims to research the design of some authors on the acquisition of reading and alphabetic writing in the literacy process, and the importance of good teacher education in this context. Thus, it was revealed that it is a process that varies from student to student and requires the educator to understand how this happens, then, is a process that goes through several stages of development (where the student is the agent of the same with your luggage and your private time) and the lack of knowledge of the educator on these aspects can be an obstacle on this journey. Yet it is fair to say that there are no ready recipes and infallible in this process, for the development and learning is something particular to each student.

 

Keywords: reading, alphabetic writing, the process of appropriation.

 

INTRODUÇÃO

As flores de amanhã são as sementes de hoje!

Colhe belas flores quem escolhe plantar boas sementes.

No tempo certo elas florescem!

Karoline Penteado

O presente artigo tem como objetivo a conclusão do curso de Pedagogia. A escolha do tema em questão deu-se divido ao grande desafio e dificuldades enfrentados pelos professores nas escolas, principalmente nas salas de aula do Ensino Infantil e do Fundamental I com relação às questões sobre: como as crianças aprendem a ler e escrever e como o professor pode ajudá-las nesse processo? Outro problema bastante comum de ser observado é a falta de conhecimento dos professores com relação aos níveis de escrita, ou seja, a dificuldade de identificar de forma correta em que nível de escrita o seu aluno se encontra.

Compreender como se dá a apropriação da leitura e da escrita alfabética nas séries iniciais é um fator fundamental para que as metodologias empregadas nessas finalidades tenham, de fato, o resultado esperado. Porém, é preciso salientar que nem todos os educadores têm conhecimento sobre como isso se dá na prática. Muitos dos métodos, ainda hoje utilizados, são baseados em memorização de letras, sílabas, palavras até se chegar ao texto, como se ambas as coisas andassem separadas umas das outras. Há, na verdade, uma fragmentação do processo, uma prática baseada na memorização mecânica das coisas, o que acaba tornando os educandos meros espectadores da aprendizagem, quando na verdade eles deveriam ser (pois assim são) os agentes da própria aprendizagem.

Segundo Freire (1996) a leitura e a escrita são sistemas construídos paulatinamente. As primeiras escritas feitas pelos educandos no inicia da aprendizagem devem ser consideradas como produções de grande valor, porque de alguma forma os seus esforços foram colocados nos papeis para representar algo.

Ferreiro (1985) e Freire (1996) ainda afirmam que a aprendizagem é um processo de evolução, onde escrever e ler são duas atividades da alfabetização e a leitura de mundo antecede a da escrita.

Daí, a grande importância de se conhecer como as crianças pensam a escrita, valorizar as suas mais ternas produções e, consequentemente, orientá-las na caminhada rumo à escrita e à leitura de acordo com o nível de conhecimento que cada uma possui.

Considerando o trabalho que a pesquisadora Emília Ferreiro, dentre outros autores, tem desenvolvido nessa área, pretende-se descobrir caminhos que nos levem a compreender melhor como, de fato, acontece o processo de apropriação da leitura e da escrita alfabética nas séries iniciais.

Pois, acredita-se que uma vez conhecedor desse processo, o professor poderá enfim, de forma significativa e com mais eficiência, auxiliar os educandos na busca dessas conquistas.

Cabe ressaltar aqui que a forma de pesquisa para elaboração do presente artigo foi totalmente bibliográfica.

 

LEITURA E ESCRITA ALFABÉTICA NAS SÉRIES INICIAIS.

 

Tradicionalmente se pensava que para se apropriar da leitura e da escrita era preciso partir das partes menores (letras, silabas, palavras) para as maiores (fases, textos), ou seja, primeiramente se ensinaria as letras, depois as sílabas, as palavras, as frases até se chegar ao trabalho com os textos. Textos esses, sem nenhuma função sociocultural, descontextualizados.

Freire nos questiona:

         Porque não aproveitar a experiência que tem os alunos de viver em

         áreas da cidade descuidada pelo poder  público para discutir (...) a

          poluição dos riachos e dos córregos etc. porque não discutir com os

          alunos a realidade concreta? (FREIRE, 1999, p. 33).

 

E assim nos mostra que é de grande importância a contextualização do que se é trabalhado em sala de aula, ou seja, tem que ter um significado real para nossos alunos. Segundo os construtivistas, só se aprende quando se quer aprender e só se aprende quando é significativo.  Para Freire, conhecer é descobrir e construir não é copiar.

Ainda com relação ao método de alfabetização (se é que se pode falar em método) é preciso deixar claro que não é que a escola não deve ensinar as correspondências grafofônicas, muito pelo contrário, deve sim.

Segundo Lopes (2010) Nosso sistema de escrita é alfabético. Seu princípio básico e o de que cada “som” é representado por uma “letra”. Esse aprendizado é decisivo no processo de alfabetização, e se realiza quando o educando entende que o princípio que regula a escrita é a correspondência grafema-fonema.

Porém, é preciso ressaltar que isso não é a parte determinante do processo, ou seja, não deve ser entendido como foco principal do processo de apropriação da leitura e da escrita. Isso porque a parte fundamental nesse processo é compreender que as crianças constroem, ao longo de sua jornada, suas próprias hipóteses de escrita e de leitura, aonde elas vão inventando e reinventando essas hipóteses até se chegar ao que chamamos de convencional. Um ponto importantíssimo aí é a tomada de consciência dos educadores enquanto às hipóteses criadas pelas crianças.

Pois, só ciente disso, serão capazes de promover uma relação dialógica com os alunos. Permitindo assim, através de intervenções pedagógicas conscientes e, consequentimente, eficientes, que eles consigam progredir na sua jornada de aprendizagem refletindo sobre suas hipóteses e vencendo os obstáculos.

De acordo com a teoria exposta por Emilia Ferreiro e Ana Teberosky em Psicogênese da Língua Escrita, toda criança passa por quatro fases até que esteja “alfabetizada”:

pré-silábica: não consegue relacionar as letras com os sons da língua falada; Inicialmente, a criança não diferencia o desenho da escrita, e não dá nenhum significado ao texto.

Ela pensa que os desenhos dizem os nomes dos objetos. Só depois é que começa é que começa a fazer rabiscos típicos da escrita que tinha como forma básica (modelo). Se a forma básica for letra bastão, fará rabiscos separados, com linhas retas e curvas; se for a letra cursiva o modelo, fará rabiscos ondulados.

Admite que, é possível ler palavras diferentes com grafias iguais (depois nega essa hipótese) porque diz que, para ler nomes diferentes, eles devem ser escritos com letras diferentes – fatos conceituais do nível pré-silábico. Admitem que palavras com poucas letras não possam ser lidas (pé, pá, sol, etc.) – eixo quantitativo. Pra que se possa ler ou escrever uma palavra, torna-se necessário, também uma variedade de caracteres gráficos. E as palavras que possuem letras iguais também são rejeitadas – eixo qualitativo.

É importante ressaltar que em uma determinada fase, a criança não separa letra de números. Acredita que os nomes de pessoas (realismo nominal), animais e coisas têm relação com o seu tamanho, peso ou idade. Assim, animais ou pessoas grandes deveram ter nomes grandes, por conseguinte, as coisas pequenas terão nomes pequenos. E quando as crianças são convidadas a lêem a sua escrita, elas passam o dedo direto pela palavra demonstrando que não representa a pauta sonora das palavras. Portanto o maior desafio do educador nesse nível é auxiliar os educandos a perceber que a escrita representa os sons da fala.

silábica: interpreta a letra a sua maneira, atribuindo valor de sílaba a cada uma;

Essa constitui um grande avanço, e se traduz num dos mais importantes esquemas construídos pela criança, durante o seu desenvolvimento. Pois pela primeira vez, ela trabalha com a hipótese de que a escrita representa partes sonoras da fala, porém, com uma particularidade: cada letra representa uma sílaba. Assim, utiliza tantas letras quantas forem as sílabas da palavra. De inicio a escrita da criança está restrita a letras de sua experiência, assim é normal não ter valor sonoro – silábico restrito. Posteriormente, a escrita da criança contém a correspondência sonora das vogais ou consoantes – silábico evoluído.

Dentro dessa hipótese ainda é normal as crianças acreditarem que existe uma quantidade mínima de três letras para escrever. Assim, palavras monossílabas e dissílabas precisam ser escritas com um mínimo de três ou quatro letras (letras de correspondência sonora mais algumas aleatórias) – hipótese de quantidade mínima. Acreditam ainda, que uma mesma palavra não pode ser escrita com letras repetidas em seqüência – hipótese de variedade de letras. No nível silábico, quando a criança é convidada a ler sua escrita, ela mostra para cada pauta sonora uma letra representada.

silábico-alfabética: mistura a lógica da fase anterior com a identificação de algumas sílabas;

Esta fase apresenta-se como uma transição entre o nível silábico e o nível alfabético.

A criança começa perceber que o esquema de uma letra para cada sílaba não funciona e, assim, procura acrescentar letras à escrita da fase anterior.

Segundo Emília Ferreiro, um adulto mal informado poderá, nessa fase, achar que as crianças estão omitindo (comendo) letras, o que não é verdade. As crianças estão é acrescentando letras à sua escrita da fase anterior. Trata-se de um progresso e não de um retrocesso.

alfabética: domina, enfim, o valor das letras e sílabas;

Trata-se da fase final do processo de alfabetização de um indivíduo. Nesse nível, pode-se considerar que as crianças já venceram as barreiras do sistema de representação da linguagem escrita. Ela já é capaz de fazer uma análise sonora dos fonemas das palavras que escreve. Isso, porém, não significa que todas as dificuldades foram vencidas. Pois, a partir daí, surgirão os problemas relativos à ortografia, porém trata-se de outro tipo de dificuldade que não corresponde ao do sistema de escrita alfabética que ela já superou. Importante lembrar também que o fato de se chegar ao nível alfabético de escrita não quer dizer que a criança está alfabetizada.

Como diz Morais (2012):

(...) não podemos confundir “ter alcançado uma hipótese alfabética de escrita” com “estar alfabetizado”. A passagem da primeira condição à seguinte deverá ser, o resultado de um cuidadoso processo de ensino-aprendizagem, agora não mais (ou principalmente) de aspectos conceituais do sistema alfabético, mas, sim de das convenções som-grafia, algo que infelizmente não vem sendo priorizado por muitos educadores.

 

No tocante a apropriação da leitura, os PCNs afirmam que: Para tornar os alunos bons leitores a escola terá de mobilizá-los internamente, pois aprender a ler requer esforço. Precisará fazê-los achar que a leitura é algo interessante e desafiador, algo que, conquistado plenamente, dará autonomia e independência. (...) Uma prática de leitura que não desperte e cultive o desejo de ler não é uma prática pedagógica eficiente.

Mas, como se fazer isso? Primeiramente é preciso saber que não existe uma fórmula pronta e com total garantia de eficiência. Entretanto já ajuda bastante se o educador for um leitor, alguém que realmente goste de ler, pois é praticamente impossível fazer alguém se apaixonar por algo que não se apaixonado. Outro ponto a ser levado em consideração é como se trabalha a leitura com os alunos. Pois as atividades de leitura devem ser significativas e para isso precisam cumprir diferentes propósitos: buscar informações, divertir, estudar, seguir instruções, etc.

De acordo com o PCN Língua Portuguesa p. 55: É preciso, portanto, oferecer-lhes os textos do mundo: não se forma bons leitores solicitando aos alunos que leiam apenas durante as atividades na sala de aula, apenas o livro didático, apenas porque o professor pede. Eis a primeira e talvez a mais importante estratégia didática para a prática de leitura: o trabalho com a diversidade textual. Sem ela pode-se até ensinar a ler, mas certamente não se formarão leitores competentes.

Percebe-se aí, que não só o trabalho com a escrita, mas também o trabalho com a leitura requer a contextualização, o significado real para os educando. Pois o trabalho de leitura voltado para o cotidiano permite, de forma mais eficiente, a leitura do que se propões a ser lido, encoraja-os a leem mais e os mostra que a leitura é algo intimamente ligado à realidade, às coisas do dia a dia e que, portanto, faz parte da vida humana.

Assim, é papel da escola e portanto do educador adotar diversas estratégias para propiciar, de forma prazerosa e não impositiva, um trabalho que vise o bom desenvolvimento de leitura.

Ainda de acordo com o PCN de Língua Portuguesa (p. 60-64) algumas estratégias de trabalho podem contribuir nesse sentido:

  • Leitura diária
  • Leitura colaborativa
  • Projetos de leitura
  • Atividades sequenciadas de leitura
  • Atividades permanentes de leitura
  • Leitura feita pelo professor

Aqui é preciso ressaltar que o educador tem papel determinante nesse processo, uma vez que ele precisa: ser um leitor, (parece absurdo o fato de nem todos os educadores gostarem de ler, mas infelizmente é uma realidade triste), criar estratégias de leitura pra desenvolver com os educandos e, acima de tudo, fazer com que os educandos leiam por prazer e não por imposição. Enfim, precisa “seduzi-los” para o mundo mágico da leitura.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Considerando as fontes pesquisadas para a realização deste artigo, é possível concluir que a aquisição da leitura e da escrita se dá paulatinamente, uma vez que aprendemos a ler quando escrevemos e aprendemos a escrever quando lemos. Embora ambas nem sempre sejam dominadas/adquiridas ao mesmo tempo e com a mesma intensidade. Ficou claro que a aprendizagem dessas práticas requer organização, planejamento e conhecimento de causa por parte do educador, uma vez que ele será o guia dessa jornada. Um guia que deverá, intencionalmente, instigar nos seus educandos a reflexão, a exploração, a construção, a desconstrução e a reconstrução das hipóteses, das possibilidades de leitura e escrita.

Uma vez que dentro desse contexto os educandos terão que superar etapas/níveis, e estes só serão superados mediante situações intencionalmente desafiadoras, planejadas e propostas pelo educador. Não é difícil perceber a importância do preparo desse educador para a realização de tal tarefa. Porém, não se pode perder de vista a certeza de que dentro de todo esse processo o educando é, acima de tudo, o agente do seu próprio conhecimento, conhecimento que é produzido a partir da bagagem que cada um traz consigo da sua própria vivencia diária e das reflexões que fazem sobre a nossa língua e o seu sistema de leitura e escrita.

Contudo, conhecer as hipóteses de escrita propostas, identificá-las nas escritas dos alunos e planejar atividades respeitando cada um desses níveis se torna papel fundamental a ser desenvolvido pelos professores alfabetizadores na busca incessante por levar os alunos a superar as barreiras dos níveis de escrita. Não só isso mais também ser um amante da leitura, ler para os alunos bons textos/livros e de gêneros diversificados, desenvolver atividades que levem as crianças a criarem estratégias, a criarem o hábito e o prazer pela leitura, pois assim como o ensino da escrita o ensino da leitura também deve ser planejado e motivado, deve acima de tudo cuida-se para que seja algo prazeroso. Como bem se sabe tornar as práticas de leitura e escrita algo real/contextualizado e significativo é indispensável.

 

REFERÊNCIAS

 

FERREIRO, Emília e TEBEROSKY, Ana. A Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artmed, 1985.

BRASIL. Ministério da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: língua portuguesa/Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília, 1997. 

TEBEROSKY, Ana e COLOMER, Teresa. Aprender a Ler e Escrever – Uma Proposta Construtivista. Porto Alegre: Artmed, 2003.

LERNER, Délia. Ler e Escrever na Escola: O real, o possível e o necessário. Porto Alegre: Artmed, 2002.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. 23 Ed. São Paulo: Cortez, 1989.

LOPES, Janine Ramos, ABREU, Maria Celeste Mattos de, MATTOS, Maria Celia Elias. Caderno do educador: Alfabetização e letramento 1.Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. 2ª Ed.

MORAIS, Artur Gomes de. Como Eu Ensino - Sistema de Escrita Alfabética. 1ª Ed. São Paulo: Melhoramentos, 2012.