Leitura crítica do poema Havemos de Voltar de Agostinho Neto
Por Daiana S. Moura | 17/03/2012 | LiteraturaLeitura crítica do poema “Havemos de voltar” de Agostinho Neto
A leitura crítica do poema “Havemos de voltar” de Agostinho Neto apresentada abaixo foi feita a partir da seguinte passagem de Albert Memmi, em Retrato do colonizado precedido do retrato do colonizador:
“A libertação do colonizado deve ser efetuada por meio da reconquista de si mesmo e de uma dignidade autônoma. O impulso na direção do colonizador exigia, no limite, a auto-recusa do colonizador será o prelúdio indispensável à retomada de si mesmo. É preciso se livrar dessa imagem acusadora e aniquiladora.” p.170
Havemos de voltar
Às casas, às nossas lavras
às praias,
aos nossos campos
havemos de voltar
Às nossas terras vermelhas do café
brancas de algodão
verdes dos milharais
havemos de voltar
Às nossas minas de diamantes
ouro, cobre, de petróleo
havemos de voltar
Aos nossos rios, nossos lagos
às montanhas, às florestas
havemos de voltar
À frescura da mulemba
às nossas tradições
aos ritmos e às fogueiras
havemos de voltar
À marimba e ao quissange
ao nosso carnaval
havemos de voltar
À bela pátria angolana nossa terra,
nossa mãe havemos de voltar
havemos de voltar
À Angola libertada
Angola independente
(Agostinho Neto)
A partir da leitura da passagem de Albert Memmi, em “Retrato do colonizado precedido do retrato do colonizador” e do poema “Havemos de voltar”, de Agostinho Neto, podemos chegar a seguinte conclusão, conforme a análise crítica de ambos os textos: Albert nessa passagem diz que para haver totalmente a libertação do colonizado, é necessário voltar às origens, aos costumes, às tradições. Toda a cultura africana é necessária ser retomada e apagar a assimilação (a cultura do outro) feita pelo colonizador. É na busca dos rituais, da oralidade, da dança, da própria identidade como pátria e nação. É importante a auto-recusa, a recusa do que lembra o colonizador, o opressor, o ditador de regras.
Em “Havemos de voltar”, Agostinho exemplifica em todas as palavras o que Memmi citou nessa passagem. Agostinho emprega bem as palavras, fazendo um jogo rítmico que lembra uma canção, um hino. O autor demonstra no poema, a vontade de voltar às origens, das tradições e inclusive utiliza termos próprios do vocabulário africano, como: marimba, quissange, mulemba e etc. E ao finalizar cita “A Angola libertada, Angola Independente”, não seria somente a liberdade no papel, em um contrato estatal, mas é a liberdade que Albert M. se refere, é a liberdade da cultura do outro, inclusive da língua do outro, do colonizador.