LEGITIMIDADE NOS PROTESTOS: DE QUEM?

Desde Junho do ano passado, o país é assolado por uma inesperada e espontânea onda de manifestações, catalisada por um protesto contra o aumento das passagens de ônibus em São Paulo, mas depois se espalhando e assumindo um caráter genérico, muitas vezes descambando para o vandalismo por parte de alguns vândalos, erroneamente confundidos com manifestantes, de um lado, e mostrando a total falta de preparo da polícia de outro.

Inesperada dada a falta de tradição recente da população brasileira de sair as ruas para exigir seus direitos, mesmo com todos os desmandos por parte da classe política do país.E o tom aparentemente difuso das reivindicações só reforça o caráter espontâneo dos protestos, uma vez que nossa deficiente educação, uma das queixas da população, não dá base teórica para articulação do povo.O que não tira a legitimidade dos mesmos, ao contrário do que grande parte da mídia quer que pensemos.A verdade é que a população está acuada pelo cotidiano turbulento, quase insuportável das grandes, médias e até pequenas cidades, sentimento reforçado pelo total descaso nos serviços prestados ao contribuinte, tanto por parte do poder público quanto de empresas privadas, notadamente nas áreas de saúde, educação, segurança e transporte, sendo que as três primeiras são direitos essenciais “assegurados” pela Constituição, pelo menos no papel.Temos com certeza a maior carga tributária do mundo no quesito custo benefício, onde trabalhamos 4 meses apenas para pagar impostos, sem qualquer contrapartida por parte do estado.Não bastasse tudo isso, ainda há a escalada aparentemente interminável da violência, e uma sensação de impunidade geral, onde quem tem poder, seja financeiro ou político, comete atrocidades a todo instante e sai ileso, e onde a única vítima e prisioneira é a população.A mesma mídia que confunde vândalos com manifestantes, se aproveita do clima e insufla o clima de terrorismo seguindo interesses quase sempre não muito lisonjeiros, ao mesmo tempo que promove eventos esportivos não compatíveis com a realidade de um país que sofre tantas carências, onde os únicos vencedores são empreiteiros e apaniguados.

Nesse cenário de quase barbárie, alguns paladinos da moral e dos bons costumes que tem o privilégio dos meios de comunicação a sua disposição, uma concessão pública que serve a fins privados, ainda querem exigir “legitimidade” nos protestos.Só falta saber se é para rir ou chorar.