LAURA COPPOLA- TETRAPARESIA ESTÁTICA

Por Richely Fernanda de Oliveira Gomes | 06/09/2016 | Educação

Richely Fernanda de Oliveira  Roséria Francisca Pereira

 

AGRADECIMENTOS

 

A nossos familiares e amigos que nos tem incentivado e carinhosamente compartilhado nesses períodos de estudos, novas perspectivas enquanto pessoas.

Aos nossos colegas que em todos os dias compartilham de suas vidas conosco numa caminhada de aprendizagem e crescimento.

Aos nossos professores, verdadeiros mestres que nos permitem almejar lugares mais altos e nos impulsionam a prosseguir.

À Professora Sandra Cavalcante pelo aprendizado, por compartilhar suas vivências e nos despertar para o amor, nossa essência e diferencial em tudo o que fazemos e somos assumindo o outro como um legítimo outro. 

INTRODUÇÃO

Esse trabalho relata a história de Laura Coppola, italiana, natural da cidade de Nápoles que nasceu com paralisia cerebral, manifestada em tetraparesia estática.

As crianças com essa forma de PC (paralisia cerebral) não seguem as etapas normais de desenvolvimento psicomotor, e não usam corretamente os membros para as praxias de defesa e manipulação de objetos. Elas não sustentam a cabeça, não sentam, engatinham ou se põem de pé na época estabelecida pelas tabelas de desenvolvimento, apresentando atividades muito limitadas e um contato muito pobre; têm dificuldade para deglutir e mais tarde para mastigar. Sua face já sugere o grave comprometimento psicomotor, com sialorreia (secreção abundante de saliva) contínua em virtude da disfagia e da capacidade de cerrar a boca. Menos frequentemente, nos casos graves em que a espasticidade é muito intensa, a hipertonia (aumento da rigidez) dos membros superiores é em extensão, assumindo os pacientes, atitude em descerebração.

A reabilitação quase sempre é extremamente limitada em virtude da severidade do acometimento motor e da inteligência; não obstante, é necessário encarar cada caso de maneira particular, pois há desenvolvimento intelectual satisfatório encoberto pela dificuldade de comunicação e da movimentação

 

TETRAPARESIA

Afeta o corpo todo - face, tronco, braços e pernas. Maior dificuldade para atividades diárias. pernas e pés mais prejudicados.

 

Dessa forma é Laura, que decidiu seguir os passos dos pais e se graduar em Matemática pela Universidade Federico II de Nápoles.

Sua história começou há seis anos, quando conheceu Guido Trombley, professor de análise matemática e reitor de Federico II, decidiu entrar em contato com Sinapsi, um núcleo da Universidade criado para assegurar o direito à educação para os alunos com dificuldades de aprendizagem, permanente ou temporária.

Depois de várias reuniões com um psicólogo e apresentador da seção passando por uma série de testes pedagógicos e acessoria técnica, como exigido pelo protocolo da Sinapsi, a menina recebeu uma assistente de comunicação, Valentina Ianuari, que nos últimos anos tem sido a intermediária entre Laura e a universidade, para uso das instalações, e para a comunicação entre os professores e colegas de classe. Elas iniciaram sua comunicação usando uma roda de papelão, construída pela mãe da menina, em que havia figuras das letras do alfabeto. Ianuari transcrevia para o computador as palavras que ela compunha com os olhos.

É desta forma que Laura se comunicava com seus parentes, amigos e com os professores, e com este mesmo método a jovem se apresentou na colação de sua graduação. As dificuldades a serem superadas foram enormes, a começar com os da leitura e estudo, mas os professores sempre tentaram não penalizar. Por exemplo, os exames que sempre fizeram, colocaram questões que exigiam respostas que, apesar de complexa, em sua essência, permitiam formas simplificadas de serem efetuadas.

"Esta manhã - diz Peter Valerio, diretor do centro de Nápoles Sinapsi - Enviei uma carta de gratidão lindo, comovente. "É claro que nada poderia ter acontecido sem o trabalho da família em comum, com os operadores da Sinapsi e da instituição. Mas acima de tudo, é graças aos seus esforços e sua força de vontade que amanhã essa garota incrível irá realizar o seu sonho ".( Peter Valerio, diretor do centro de Nápoles Sinapsi em 27 de outubro de 2014)

Considerando os estudos acerca da linguagem e especialmente olhando para Laura, nos valemos da linguagem do ponto de vista interacional como afirma VYGOTSKY (1997),

el niño con defecto no es inevitablemente un niño deficiente. El grado de su defecto y su normalidad depende del resultado de la compensación social, es decir, de la formación final de toda su personalidad” (p. 20)1. O desenvolvimento de uma criança com PC não é inferior ao de outra criança, mas sim, diferente, singular, pois ela aprende caminhos alternativos para compensar, por exemplo, a falta de determinadas experiências motoras, para elaboração do seu pensamento, sendo a experiência social o alicerce dos processos compensatórios (PERES, 2003).

Se tratando do caso em questão destacamos os distúrbios da linguagem, do pensamento, da atenção e da memória. Como já citado, a criança com paralisia cerebral não fala como as demais criança e/ou não responde a ordens ou declarações verbais adequadamente. Quanto ao pensamento, estes se encontram diretamente ligados aos distúrbios da linguagem oral visto que há barreiras para se formar conceitos, associar ideias ou solucionar problemas, o que consequentemente requer uma análise de informações e processamento das mesmas, reagindo a situações diversas.

A atenção é o que nos auxilia a selecionar os estímulos que recebemos a todo instante; no caso da pessoa com PC, o distúrbio envolvendo a atenção pode prejudicá-la de maneira significativa, pois em sua maioria não conseguem realizar essa seleção de maneira plena, sofrendo interferência de outros défictis cognitivos. Nas falhas relacionadas à memória encontramos a dificuldade de lembrar o que foi ouvido, experimentado.

Percebemos assim algumas das dificuldades enfrentadas por Laura, que necessitaram de um esforço e trabalho árduo. O défict da linguagem, associado ao pensamento, impossibilitando-a de responder e corresponder ao profissional de comunicação de maneira mais rápida; a atenção que possibilitava a Laura organizar as letras que queria para poder se comunicar, enquanto piscava o olho; a memória necessária para a compreensão e utilização dos signos absorvidos por ela, como toda vez em que usava a roda de papelão com as letras do alfabeto, entre outras de porte físico como postura, controle do próprio corpo, adequação ao ambiente da sala e horas de estudo e do seu próprio limite enquanto pessoa que tem uma vida social, familiar. E reafirmamos que o relacionamento com a assistente, com o ambiente acadêmico, foi fundamental para que ela alcançasse seu objetivo.

CONCLUSÃO

Vemos em Laura Coppola a realidade da interação com o outro que permite a cada indivíduo completar-se para conquistar o seu potencial. O alvo era a graduação em Matemática e ela fez disso uma motivação e um exemplo de que é possível; é possível manifestar todo o seu potencial independente das barreiras que podem surgir no percursso, das dificuldades que em todo o tempo tentam nos parar, fisicamente, psicologicamente, espiritualmente. É possível romper as barreiras, transpor os obstáculos, é possível realizar-se inteiramente, e interiormente, e este último, na verdade é sempre o nosso primeiro e único propósito.

REFERÊNCIAS

TETRAPARESIA ESTÁTICA. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Paraparesia>. Acesso em 18 de novembro de 2014. 

GAROFALO, A. Napoli, comunica solo con lo sguardo: Laura a 23 anni si laurea in matematica. Il Mattino, Nápoles, Itália, 28 de outubro de 2014. Disponível em: <http://www.ilmattino.it/napoli/cronaca/napoli_ragazza_laurea_sguardo_matematica/notizie/0/980482.s.> Acesso em 17 de novembro de 2014.

 

ANSALIVE. Comunica solo con occhi, Laura dottoressa con 110 e lode. Ansalive, 29 de outubro de 2014. Disponível em: <Comunica solo con occhi, Laura dottoressa con 110 e lode>. Acesso em 17 de novembro de 2014. 

PERES, R. C. N. C. O lúdico no desenvolvimento da criança com paralisia cerebral espástica. 2003. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003. 

VYGOTSKY, L. S. Obras escogidas V: fundamentos de defectologia. Madrid: Visor, 1997.