Laçaço

Por Andre Luis Hanum | 26/06/2011 | Contos

LAÇAÇO

PARTE I

O grande castelo é aberto agora
Onde se vê pela porta
Os cristais, os tapetes,
Os senhores, as senhoras...

Pela entrada se vê numa sombra
A mansa cor de uma balança
Que divide o castelo em duas porções:
Olhando-a, ela pesa mais para um lado
Ou para o outro.
Os olhos são cerrados e a balança lê a alma
E pesa para o respectivo lado.

O outro lado do castelo desaparece
Ficando aquele que pesou mais na balança.


PARTE II

Começam a ser percorridas
As dependências do respectivo lado,
Encontrando-se primeiramente
A porta dos objetivos não específicos,
Onde se vê em conflitos
O ser e seu comportamento.

É uma área bonita,
Onde a cada instante as paredes se deformam,
Terminando a mente confusa e obscura...
Seus objetos incompletos
Trocam constantemente de posição.
As janelas ora mostram uma paisagem, ora outra.
O relógio indica agora dez anos a frente,
Um segundo após, cem anos e dois segundos após,
Cinco anos atrás.

O tempo é indefinido;

O espelho reflete a parte oposta do pensamento
E as bolhas que se formam na inteligência
Confundem o ser.

O chão se abre dando a impressão
Que se pode afundar
No instante do grito
Que se impregna de lâmpadas azuladas
Que caem no chão
E fazem fechar a cratera,
Abrindo-a logo depois.

A porta da saída é aberta e ultrapassada
Voltando-se à mesma sala, curiosamente.
A mesma porta é encontrada fechada
E tentando-se abri-la
Novamente ultrapassamos
E nos encontramos no mesmo lugar,
Até que,
Se fingirmos que saímos,
Saímos realmente.


PARTE III


No corredor comprido
Onde foi começada a busca
Do incompreensível e do inatingível teoricamente,
É achada outra porta
Que representa uma caverna escura;
É a porta da convivência humana e dependência social.

Entrando por ela
Vemos-nos numa sala repleta de pessoas altas, bonitas,
E nós nos tornamos pequenos, obscuros e feios;
E elas voltam sua atenção para nós, rindo às gargalhadas.

Encontra-se no meio da sala uma caixa grande
Na qual entramos a fim de escondermo-nos
Das pessoas que têm olhos grandes e penetrantes,
Mas a caixa representa em seu interior a mesma sala,
Parecendo que ela diminuiu de tamanho
E cabe todo mundo, mais apertados,
E ficamos mais perto ainda das pessoas,
E as luzes são mais claras, sempre mais claras,
E as risadas mais finas e mais altas,
Nas caixas que são outras salas, mais apertadas.

Fechando-se os dois olhos
Conseguimos sair da sala,
Mas as gargalhadas zombeteiras
Ainda ficam claras e estridentes
Por mais algum tempo.


PARTE IV

Novamente no corredor atapetado nos encontramos;
O ar é perfumado e existem quadros bonitos,
A desfilar desenhos de caminhos em círculos
Onde se penetra e se vê num labirinto redondo.

Logo a seguir seguimos pelas outras salas a serem contempladas
E vimos uma com uma flor pregada com os dizeres: "O Inconformismo".

Entramos e vimos uma abelha num jardim florido;
Ela zumbia e por poucos instantes
Não notamos a colméia a flutuar
Por entre margaridas branquinhas...

Uma placa dizia:
"Aos visitantes um litro de mel".
Seguimos enraivecidos pelo jardim
A matar todas as abelhas, devido
A pouca liberdade de obtenção de produtos industrializados,
Da política reacionária, racional, abusiva...

Destruímos a colméia, enojados
E quanto mais destruíamos,
Mais chegávamos a conclusão que estávamos certos disto.
No fundo destruíamos as abelhas
Por estarmos lindamente apaixonados com sua obra.

Por fim, voltamo-nos contra as flores
E nos arremessamos contra elas a faca
E quanto mais flores arrancávamos,
Mais flores nasciam
Com carinhas muito mais alegres que as outras.

Lutamos desesperadamente contra este poder criativo,
Mas não conseguíamos nos manter em posição vantajosa.
O jardim continuava bonito;
Por fim, inventamos uma máquina permanente,
Que possuía facas afiadas,
Que iam cortando automaticamente todas que iam nascendo.

Provamos nossa índole e a porta foi aberta.


PARTE V


Novamente no corredor, vimos as portas douradas;
Avistamos uma que se abria lentamente
E o interior era vislumbrado.

Os pés colocados para dentro
Eram imediatamente arremessados com
Violência para o teto.
Ficávamos de cabeça para baixo...

As orelhas espichavam-se até atingir o tamanho da sala
E a largura da altura;

Por fim
Eram arrebentadas com enorme dor
E delas saía um líquido amarelo
Que atingia o assoalho
Transformando-se em preto
E voltava sob a forma de facas,
Que dilaceravam a boca, os olhos e o nariz,
Transformando-os em uma porta que se abria,
Criava dentes e engolia os pés.
As pernas pingavam pelo chão,
Escorriam para o ralo e iam para o esgoto,
Exalando mau cheiro.
O abdômen era comprimido e transformado
Em pedra pequena, que se abandonava no espaço,
E se chocava contra o pescoço, fazendo-o desaparecer.
Sobravam enfim os braços
Que fechavam a porta dobrando-a,
E a arremessavam no teto com força
E tudo desaparecia,
Aparecendo nossos corpos e o corredor.



PARTE VI


A seguir apareceu uma porta diferente,
Forte, quase impossível de ser aberta;
Do chão nasceu uma árvore
E o corredor estalou.
A árvore cresceu, deu um fruto,
E dele uma semente
Que se transformou numa chave.
Com ela abrimos uma porta
Onde não existia interior;
Só um véu que nos cobriu
E nos deixou novamente na entrada do castelo.



PARTE VII

Existiam ainda muitas portas no corredor do lado esquerdo
E respectivamente muitas salas,
Que poderíamos percorrer e não deu tempo,
Pois a porta diferente
Forçou-nos a voltar ao início
Ou nos destruiríamos ante tantos defeitos humanos.

A balança nos indicou no início
O lado esquerdo do castelo, fazendo desaparecer o lado direito.

Mas agora não havia escolha;
Por mais que olhássemos para a balança tentando voltar para o corredor dos problemas,
Ela não parava de se inclinar para o lado direito,
Fazendo desaparecer lentamente o lado esquerdo do castelo.


EPÍLOGO


Novamente outro corredor igual ao primeiro,
Com a única diferença:
No primeiro existiam muitas salas
Com muitos exemplos de caminhos humanos,
E no segundo só existia uma porta e a palavra








"AMOR"