Lá vamos nós

Por Celia Regina Lopes Feitoza | 14/04/2011 | Crônicas



Aqui vamos nós

Foi um encontro perfeito. O sol voltou-se a nossa cena, seus raios foram ourives do nosso momento. Não haviam nuvens naquela hora primeira da tarde, que balbuciava sem uma nova e avassaladora paixão. Paixão. Eis o verdadeiro combustível que nos foi necessário, não de forma cristalizada, mas a cada dia uma nova dose, longas doses, doces doses...
Olhares que reluzem um brilho interior potente e elétrico, esse olhar... Ah! Esse olhar! Bastou uma vez. Fiquei inebriadamente seduzida. Houvesse milhões a me olhar, foi somente aquele que me penetrou.
Suas formas, curvas, fortes, vibrantes, agressivas, exageradamente maior que pequenos cálices de liberdade. Os cálices foram bebidos a pequenos e grandes goles, vorazmente tomados com intrepidez, robustez, calma, sons de guitarras eletricamente enlouquecidas, acompanhados de melodia suave e constante.
Sentir! Sentir a toque minucioso, o paulatino encontro da dupla, completando-se. Fortalecendo-se. Ora aquietando-se, ora extremado pelo vibrar das correntes da ventania sendo vencida com intrepidez e ardor.
Há que se lembrar das dores. Sim, dores. Dissabores que pareciam perpassar os ossos, corroer o íntimo desejo de estar junto. Arrependimento? Fim? Não. Recomeço! Como uma paisagem que o tempo muda, assim as maus dias também se esvaíram, ficaram lembranças, lições e cicatrizes. Muitas cicatrizes.
Aliás, porque paixões plenas permitem frestas abertas por onde entram as dores e tomam toda a casa? Deveriam sim, fechar as portas ao que não é belo, bom e nobre. Não concordo. É bom que venham tempestivas ocasiões, para termos a audácia de levantar de novo, de retroceder para avançar mais uma vez, de vencer as curvas, frenagens quando necessário, mas estugar quando a estrada da vida permite, de curar as cicatrizes, mesmo que estas sejam superadas por outras inda maiores, e ainda assim se forem maiores, valeu cada minuto, cada lágrima, cada riso, cada montanha ultrapassada, cada ponte que foi utilizada para ligar nossos mundos. As cicatrizes? Estão bem guardadas no álbum de recordações de uma vida intensa e plenamente vivida.
Eu decido dar a partida. A largada depende unicamente de você. É você e seu destino. E seus desejos, e seu poder de controle e dominação por si e pelo outro. Ir além é o desejo de todos, mas poucos tem a coragem de ligar o motor, percorrer o altiplano do sonho e seguir intransitivamente, sem esquecer-se dos obstáculos, mas rumo impreterivelmente ao seu ponto de chegada. Se não sabe aonde vai, ótimo. Eu sei aonde não quero ir. O restante: aqui vamos nós.
Desacelerar? Às vezes.
Estacionar? Apenas para repor energias, recarregar as baterias.
Seguir em frente? Isso pra mim é viver.