Judeus e Negros: Conflitos e Semelhanças

Por Sidcley Soares Almeida | 20/04/2010 | História

SIDCLEY SOARES ALMEIDA

Judeus e Negros: Conflitos e Semelhanças

Faz muitos anos escrevi uma estória para grandes e pequenos sobre o que acontece na democracia. Era sobre um bando de ratos que vivia num buraco do assoalho de uma casa. Todo mundo sabe que ratos gostam de queijo. E havia um queijo enorme, amarelo, cheiroso, sobre a mesa da sala onde estava o buraco. Os ratos, de dentro do seu buraco, olhavam o queijo e sonhavam sobre o dia em que juntos, ordenadamente, alegremente, haveriam de comer o queijo. O queijo era grande para todos. Todos comeriam o queijo fraternalmente. Nenhum rato ficaria com fome. Que sonho mais bonito! Mas por que não comiam o queijo? Por causa do gato que guardava o queijo. O gato era o obstáculo que se interpunha entre os ratos e o queijo. Eliminado o gato seria o paraíso! É sempre assim: diante do gato todos os ratos são irmãos. E marchavam gritando palavras de ordem: "Os ratos, unidos, jamais serão vencidos..." Pois não é que um dia o gato desapareceu? Para onde foi, ninguém sabe. Os ratos não podiam acreditar! Chegara a hora de realizar o seu sonho! A participação fraterna e socialista no bem supremo, o queijo. Correram para o queijo. Os ratos mais fortes, na frente. E os ratos fracos, humildemente, atrás, como na vida... Aí uma metamorfose aconteceu. Ao chegar ao queijo os ratos perceberam que queijos sonhados não eram iguais aos queijos reais. Os queijos sonhados são infinitos: pode-se comer deles à vontade que não acabam. Mas os queijos reais, cada mordida de um é uma mordida a menos para o outro. E à fraternidade seguiu-se a luta. Não entre gatos e ratos, mas entre ratos e ratos. E os ratos, que até então só sabiam sorrir e viviam cantando canções de fraternidade, arreganharam os dentes afiados uns para os outros. E aí os ratos se dividiram em ratos gordos de dentes afiados e ratos magros que viviam amedrontados. E os ratos magros, de dentro do seu buraco, olhavam para os ratos gordos, comendo o queijo. E notaram então uma horrível transformação: os ratos gordos tinham a cara igualzinha à do gato. Porque, entre gato e rato a diferença é pouca: só uma letra...

Rubem Alves,

A casa: Explicando política às crianças (2009)

Introdução

Durante toda a história da humanidade as atrocidades, as brutalidades e o extermínio de etnias fazem parte da formação dos impérios. A crueldade do povo dominante sobre o dominado não encontrou limites e era vista como um mecanismo de conquista. Podemos citar como exemplos desses massacres em massa a colonização de novos continentes, a carnificina das civilizações andinas, e de quase toda a população dos aborígenes da Oceânia, além de tantas outras barbáries acontecidas no percurso humano na terra.

No entanto, alguns episódios ficaram marcados na história do mundo, dentre eles estão o Holocausto contra os judeus acontecido na Alemanha e a intemperança com que os negros foram tratados nos Estados Unidos desde a fundação do país. Toda essa demasia foi impetrada com um único objectivo, a conquista do poder. Em nome do poder elites habituaram-se a humilhar, massacrar e exterminar pessoas e grupos étnicos, e dessa maneira conquistaram o mundo. Para Deleuze (2005, p. 37):

O poder não tem essência, ele é operatório. Não é atributo, mas relação: a relação de poder é um conjunto das relações de força, que passam tanto pelas forças dominadas quanto pelas dominantes, ambas constituindo singularidades. O poder investe (os dominados), passa por eles e através deles, apoia-se neles, do mesmo modo que eles, em sua luta contra esse poder, apoiam-se por sua vez nos pontos em que eles os afectam.

O objectivo do presente trabalho é uma análise das relações de poder e sua dimensão intimidadora e manipuladora, articulada contra judeus e negros durante um longo período histórico. Delinearei inicialmente a trajectória percorrida pelos judeus, partindo da Mesopotâmia, passando pela Europa até chegar à América. Em um segundo momento analisarei o percurso dos negros dentro da sociedade americana ao longo dos séculos. E por fim comentarei, pautado no livro "Race Matters" de Cornel West, as semelhanças, os conflitos e as discórdias surgidas depois da aproximação entre esses dois grupos, deixando a tentativa de aliança entre as duas etnias a cada dia mais distante de uma concordância.

01.A Jornada do Povo de Abraão

1.1. A Terra Prometida

De acordo com a bíblia, os judeus são uma nação escolhida por Deus como um povo separado e santificado. Segundo tradições judaico-cristãs, a história desse povo começa com o chamado de Deus ao hebreu Abraão, que teria sido um fiel seguidor do monoteísmo em uma altura em que a adoração de vários ídolos era uma prática muito comum. Deus promete a Abraão e a toda a sua descendência uma terra rica e sagrada, distinta de todas as outras terras, como recompensa pela sua fidelidade. Deus disse a Abraão:

Saia da sua terra, do meio dos seus parentes e da casa de seu pai, e vá para a terra que eu lhe mostrarei, farei de ti um grande povo, e o abençoarei. Tornarei famoso o teu nome e tu serás uma bênção. Abençoarei os que o abençoarem e amaldiçoarei os que o amaldiçoarem; e por meio de ti todos os povos da terra serão abençoados (Génesis 12:01).

Então, Abraão e seu povo deixam a terra da Mesopotâmia e se dirigem à terra prometida, encontrando no percurso vários obstáculos, como perseguições e escravidão. Deus diz a Abraão:

Saiba que teus descendentes serão estrangeiros numa terra que não lhes pertencerá, onde também serão escravizados e oprimidos por quatrocentos anos. Mas eu castigarei a nação a quem servirão como escravos e, depois de tudo, sairão com muitos bens (Génesis 15:13).

Deus então promete a Abraão: " Olhe para o Norte, para o Sul, para o Leste e para o Oeste: Toda a terra que tu estás vendo darei a ti e a tua descendência para sempre" (Génesis 13:14).

Portanto, após um longo período de deserto errante e de escravidão no Egipto, e de grande sofrimento, um outro líder (Moisés) é levantado por Deus para substituir Abraão e para conduzir o povo judaico. Deus diz a Moisés:

De fato tenho visto a opressão sobre o meu povo no Egipto, tenho escutado o seu clamor, por causa dos seus feitores, e sei quanto eles estão sofrendo. Por isso desci para livrá-los das mãos dos egípcios e tirá-los daqui para uma terra boa e vasta, onde manam leite e mel (Êxodo 3:07).

Então Moisés, com ordem de Deus, consegue libertar os judeus do cativeiro do faraó egípcio através de sinais divinos e pragas que assolaram o Egipto. Deus diz a Moisés: "suba este monte da serra de Abarim e veja a terra que dei aos israelitas" (Números 27:12). Então, cerca de 1200 anos A.C., o povo judeu entra na cidade de Canaã (hoje conhecida por Palestina).

1.2. A saída da Palestina e a Busca por Uma Nova Pátria

Portanto, a história semita é constituída por uma serie de migrações, muitas vezes de maneira forçada. Os judeus permaneceram na Palestina até o ano de 135 D.C., até serem expulsos pelos romanos, devido ao anti-semitismo, fenómeno de longa data na história e que se manifesta por motivos variados. Eles chegam à Europa Central nos primeiros séculos depois de Cristo, à região que viria mais tarde a ser a Alemanha, mas que naquele momento ainda pertencia ao império romano, e estabeleceram na região várias colónias judaicas e se destacaram principalmente através do comércio e do artesanato, constituindo com isso um povo antes mesmo da existência do povo alemão.

O espaço físico alemão era alvo de constantes invasões, estima-se que a região foi povoada, ainda no ano de 44 A.C., por um povo guerreiro a quem Júlio César denominou de germanos, eles se constituíram pela fusão de Godos, Vândalos e Bardos, em seguida a região é invadida pelos Romanos, Hunos, Saxões e Bávaros. Somente a partir do século IX é que se começa a formar o império alemão.

No ano de 900, os judeus já estavam envolvidos no comércio com a Boémia, diferentemente dos Cristão, que em sua maioria trabalhavam na agricultura, os judeus se destacavam como negociantes. Os soberanos alemães, em troca de protecção aos comerciantes judeus, lhes cobravam altos impostos, fazendo deles, a partir disso, dependentes da vontade dos mandatários da Alemanha.

Na Idade Média, os judeus tiveram grande ascensão económica, eram na sua maioria comerciantes, médicos e artesões, e contavam com a protecção de reis e bispos pois, muitas vezes, era das comunidades judaicas que dependiam a subsistência destes. A partir do século XI, um sentimento de inveja, relativa a boa condição financeira das comunidades judaicas, começa a aflorar na Europa, e o anti-semitismo chega a Alemanha através da França.

No concílio[1] de Clermont-Ferrand[2], o Papa Urbano II convoca a primeira Cruzada[3] objectivando a libertação da Terra Santa, no ano seguinte à convocação papal (1096), acontece a primeira Cruzada tendo como lema "Quem matar um Judeu, obterá perdão pelos seus pecados" (Kampmann, 1979 apud SOUZA, 2001). Consecutivos massacres a centenas de comunidades judaicas foram relatadas na Alemanha, estendendo-se para outros países da Europa, além da acusação de serem eles os culpados de propagarem epidemias.

A "peste negra" chega a França, depois à Suíça, e finalmente se espalha pela Alemanha. Os judeus são acusados de terem trazido a doença para o país, muitos são queimados juntamente com suas casas, expulsos das grandes cidades, além de outras tantas humilhações impostas à eles. Com objectivos financeiros, apenas os bispos tentam ajudá-los, através de baptismos no esforço de salvá-los dos suicídios em massa, mas pouco podem fazer contra a fúria já disseminada e enaltecida.

Os judeus tinham que se fazer reconhecer através de um sinal nas suas vestimentas e a cada dia isolavam-se em Guetos por medo de humilhações e represálias nas ruas, mas, por outro lado, os laços entre eles se fortaleciam e essa situação os tornavam mais unidos.

Apesar de todo o sofrimento, os judeus permaneceram fiéis à sua fé, todo o seu tempo livre era dedicado ao estudo do Torah. Eles valorizavam muito a intelectualidade e o nível de alfabetização era grande entre eles, mesmo nas camadas mais pobres se percebia um grande índice de alfabetização. As sinagogas, além de um lugar para oração e orientação espiritual, também eram pontos de encontro e de confraternização.

Mesmo com as contínuas perseguições e preconceitos ao longo dos séculos, a reforma protestante propagada por Martinho Lutero, quebrou a hegemonia de uma única religião e criou vários grupos religiosos na Europa. Esse fato contribuiu para uma maior tolerância religiosa, pois os grupos religiosos nascidos dessa reforma reconheceram a necessidade do pluralismo, aliado a isso, inicia-se uma fase regida pelo humanismo que defendia a igualdade religiosa.

No entanto, é a partir da Revolução Francesa que os judeus conseguem uma maior autonomia, mas ainda assim, as leis (que sempre retrocediam) dirigidas a eles eram altamente discriminatórias, e apenas os grupos de judeus com mais posses eram favorecidos, mais uma vez por interesses económicos. Mas foi um período em que eles conseguiram novamente uma projecção no mundo económico muito grande através do seu talento para os negócios e saíram do isolamento dos Guetos. Além de terem dado contribuições importantes na literatura, na música, na economia, na psicologia na política etc. Na constituição alemã de 1849, alguns direitos são estendidos à população judaica, tais como: direito religioso e direito à cidadania alemã.

Mas todo o sofrimento, discriminação, exclusão e preconceito enfrentado durante todo o percurso histórico ainda era uma constância e a libertação do cativeiro judaico ainda duraria gerações. O anti-semitismo era algo intrínseco à sociedade e livre de repreensões, desta maneira a religião judaica era tolerada na sociedade alemã mas não reconhecida publicamente, além do predomínio na Alemanha do medo generalizado de que os judeus dominassem toda a economia do país.

Os períodos em que o anti-semitismo era mais disfarçado variavam com períodos de crise económica, onde a falta de complacência era maior e eles eram apontados como culpados. Nessa conjuntura, a discriminação contra os judeus torna-se arma política, pois além de serem culpados pelas constantes crises, também eram acusados de serem conspiradores da revolução, destruidores de valores cristãos, além de assassinos de Cristo. E nesse ensejo eclodem as ideias disseminadas pelo Darwinismo, fazendo apologia a lei do mais forte, e os judeus são apresentados como homens pequenos, fracos e mesquinhos.

1.3. A Ira de Hitler

Em 1933, Adolf Hitler é nomeado chanceler da Alemanha, dando início a um movimento anti-semita que ficou conhecido na história da humanidade como "Holocausto". Visando a recuperação da economia alemã depois do fracasso da I Guerra Mundial, Hitler toma algumas medidas contra a população judaica, considerada culpada pelas crises, como já foi salientado aqui. Dentre as medidas defendidas por Hitler estavam a proibição de judeus exercerem determinadas profissões e boicotes a lojas judaicas. O conceito de Darwin estava mais do que nunca vivo nas ideias de Hitler, que via os judeus como sub-raça e venerava o porte físico, o vigor, a cor dos olhos e pele dos alemães.

Depois de dois anos no poder, Hitler legista as leis Nuremberg que retiram dos judeus a cidadania alemã, proíbe o casamento entre judeus e não-judeus, e defende a segregação nas escolas, além de os judeus terem a obrigatoriedade de usar marcas que os identificassem, como já tinha sido feito anteriormente, mas desta vez, usava-se a estrela de David, sob pena de execução. Entre 1941 até 1945, a grande prioridade de Hitler, além de vencer a II Guerra Mundial, foi matar os judeus. Cria-se no país campos de concentração, inicialmente para punir opositores ao regime de Hitler, tendo como objectivo humilhá-los, torturá-los e executá-los, mas num segundo momento esses campos de tortura e morte são estendidos a todos os judeus. Nos campos de concentração velhos, crianças e jovens eram levados para câmaras de gás e adultos eram usados em trabalhos forçados e posteriormente eram assassinados.

Hitler fracassa na sua tentativa de supremacia ariana, na Primavera de 1945 se vê cercado pelos aliados e pontos estratégicos alemães são atacados. Em 25 de Abril, a cidade de Berlim é cercada. Dois dias mais tarde, Hitler e a sua mulher Eva Braun suicidam-se. Finalmente, em 8 de Maio de 1945, termina a II Guerra Mundial. Estima-se que no Holocausto 6 milhões de judeus foram exterminados nos campos de concentração e mais de 16 milhões se refugiaram, além da execução de homossexuais, deficientes e gente de etnia cigana.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a maioria dos sobreviventes do Holocausto se recusaram a continuar na Europa, já não tinha sentido permanecer em terras onde a vida e a história de seu povo havia sido arruinada. Depois de passarem algum tempo em campos para desalojados, as comunidades judias restantes se destinaram a países como Austrália, Canadá e Estados Unidos.

Mas o grande sonho de parte dos judeus era voltar para a Palestina. Em 29 de Novembro de 1947 a ONU concede uma pequena parte do território da Palestina para a formação do Estado de Israel e propicia um contentamento (temporário) muito grande para aquele povo tão sofrido.

02.A Trajectória, o Sofrimento e o Destino dos Africanos na América

2.1. A Chegada à América (Abusos e Omissões)

Muitos autores consideram o período de escravidão nos Estados Unidos como a mais cruel acontecida no mundo. É muito difícil fazer uma comparação de carácter moral (melhor/pior) sobre a escravidão, pois o acto de escravizar, por si só, já denota uma brutal violência contra o ser humano, levando em conta que lhes são ceifados, por meio de força, direitos básicos, como a liberdade e a igualdade. Essa condição fazia do escravo mais um objecto do que qualquer outra coisa, sendo que em algumas sociedades o negro era legalmente definido como mercadoria e seu preço variava conforme o seu sexo, a sua idade e o seu vigor físico.

A escravidão estava baseada num forte preconceito racial, segundo o qual o grupo étnico, ao qual pertenciam os proprietários dos escravos, era considerado superior. Em 1619, o primeiro navio holandês atraca na Virgínia com os primeiros negros trazidos da África. Oficialmente em 1625, William Trucker, a primeira criança negra, nascia nos Estados Unidos, em Jamestown. Gustavus Vassa, um nigeriano trazido para os Estados Unidos como escravo descreve, em sua autobiografia, a terrível experiência vivida na travessia da África até a América:

Conduziram-nos imediatamente ao pátio (…) como ovelhas em um redil, sem olharem para idade ou sexo. Como tudo me era novo, tudo o que vinha causava-me assombro. Não sabia o que diziam, e pensei que esta gente estava verdadeiramente cheia de mágicas (…) A um sinal de tambor, os compradores corriam ao pátio onde estavam presos os escravos e escolhiam o lote que mais lhes agradava. O ruído e o clamor com que se fazia isso e a ansiedade visível nos rostos dos compradores serviam para aumentar muito o terror dos africanos (…) Dessa maneira, sem escrúpulos, eram separados parentes e amigos, a maioria para nunca mais voltarem a se ver (KARNAL, 2007, p.63).

O comerciante ou proprietário dos escravos poderia comprá-los, vendê-los, presenteá-los, ou até mesmo trocá-los por uma dívida, sem que o escravo pudesse fazer qualquer tipo de objecção pessoal ou legal. Em duas décadas, a escravidão já estava presente em todas as colónias da América com legislação específicas para essa prática. A exploração dessa mão-de-obra tornou possível a produção de grandes excedentes e um enorme amontoo de riquezas. Devido a essa prática, foi possível a exploração de minas, a construção de pontes, estradas e canais de irrigação, propiciando assim o crescimento económico da América. A região Sul dos Estados Unidos era a mais interessada nesse negócio, pois vislumbrava com isso a solução para a falta de trabalhadores no país. Com a expansão dos Sulistas para o Texas, com seu vasto solo fértil, clima moderado e tantos recursos naturais, viram ali a possibilidade do cultivo das tantas terras através da mão-de-obra escrava.

Houve historiadores que fizeram defesa apaixonada de uma escravidão benéfica, principalmente sulistas como Ulrich Phillips. De fato tanto a literatura historiográfica quando a ficcional contribuíram para a manutenção da hegemonia sulista pois apresentava uma realidade romantizada e imaginária, mostrando uma relação social harmónica e uma sociedade feudal organizada e igualitária, causando nas pessoas e na sociedade uma falsa impressão de estabilidade. Senhores aristocráticos, heroínas brilhantes e escravos dedicados e leais.

Por outro lado, essa visão foi duramente combatida por historiadores mais críticos, como Herbert Aptheker e Kenneth Stamp, além de jornais surgidos na mesma época propiciarem, através de sátiras, uma reflexão e um despertar para o abolicionismo. Já que a América ficara miticamente conhecida como a terra da liberdade e oportunidade igualitária, não se justificava o cativeiro de pessoas, sem falar das mortes decorrentes de abusos e castigos cometidos pelos senhores de escravos, além das omissões das leis da época, que os isentava de qualquer culpa pelas mortes.

Segundo as leis vigentes na altura, matar um escravo não era um acto intencional, levando em consideração que um escravo era um bem e ninguém, intencionalmente, destruiria seus próprios bens. Essas leis deixavam evidente que os escravos na legislação das colónias americanas eram vistos como objectos físicos, privados de qualidades pessoais e individuais.

2.2. O Temor e a Dependência da Sociedade Americana

Diante da violência e da desumanidade que eram submetidos, os escravos resistiam e protestavam de maneiras variadas: eram lentos no trabalho, falseavam doenças, cometiam maus tratos aos animais nas quintas, fugiam, provocavam incêndios, se mutilavam, faziam rebeliões e cometiam assassinatos.

A partir do século XVIII, com o aumento expressivamente alto da escravidão, surgem também diversas leis preocupadas em fiscalizar os passos dos escravos, a escravidão havia crescido tanto a ponto de uma iminente revolta tornar-se um pesadelo para a população branca. Apesar do número de escravos na média das treze colónias não ultrapassarem 20% da população, por volta de 1740, em regiões como a Carolina do Sul, cerca de 60% da população era composta por negros, e era justamente nessas regiões que imperava o constante medo generalizado de rebeliões.

Segundo uma dessas leis, os escravos eram proibidos de saírem para a cidade aos domingos, a fim de evitar ajuntamento de negros nas ruas, consequentemente, propiciar o aparecimento de algum tipo de organização em pró de rebeliões; nenhum escravo poderia portar armas de qualquer natureza, sendo punidos os crimes praticados por estes indivíduos com maior rigor pelos juízes, principalmente se esses delitos fossem frutos de rebeliões colectivas contra autoridades institucionais.

Portanto, no período entre 1619 até 1860, cerca de 400 mil negros foram transportados da África para os Estados Unidos, e até o final do período colonial, meio milhão de negros habitavam as colónias inglesas da América. Durante os movimentos em pró da independência, a escravidão não sofreu nenhuma alteração, pois a liberdade pregada naquela altura não tinha cores negras.

No entanto, na primeira metade do século XIX, as divergências quanto as questões escravistas começam a fazer parte das disputas de opinião nos Estados Unidos. O reduto da escravidão localizava-se no Sul do país, nas regiões produtoras de tabaco e algodão como Virgínia, Geórgia e Maryland. Nessas regiões, ter um escravo significava posição de prestígio social. Além disso, o pensamento de que brancos e negros não conseguiriam viver em harmonia reforçava a conservação da escravidão, considerando que a abolição da escravatura significaria conviver com os negros – a raça indigna e inferior para os escravocratas[4] – o que traria transtornos à sociedade.

Um outro entrave para se conceder liberdade aos negros era o fato de eles serem "bens", e como "bens valiosos", já faziam parte do mercado económico do país, além de a sua força de trabalho nos campos ser responsável pela mobilização de milhões de dólares. A maior parte dos abolicionistas no final do século XIX, era formado por pessoas religiosas. A ideia do perdão dos pecados fazia com que pessoas se preocupassem em realizar boas obras na terra. Pregadores abolicionistas enfatizavam o dever religioso de defender os direitos das pessoas à liberdade e igualdade em uma sociedade fundada com esses princípios morais.

O mito do "povo escolhido por Deus", pautado na bíblia e na saga de Abraão, estava muito presente nas mentes dos americanos. A concepção religiosa passaria mais ainda a povoar o imaginário colectivo da nação que, assim como os judeus, acreditava ser eleita para um destino glorioso. A partir disso, desenvolve-se o conceito de "destino manifesto", justificado na missão de disseminar a ideia de sociedade americana para as regiões vistas como carentes e necessitadas de ajuda.

2.3. A Conquista de Novos Territórios

Baseado nesse argumento social de "destino manifesto", o governo americano consegue anexar o Texas como território americano. Em 1823, o governo mexicano assina um acordo permitindo a entrada de pessoas dos Estados Unidos no território do Texas, com o objectivo de colonizar e desenvolver a região. Contudo, várias divergências surgidas entre os colonos americanos e o governo mexicano causaram vários conflitos na região. Umas das divergências era que os mexicanos libertavam todos os escravos que chegavam à região e forçavam os novos colonos a se converterem ao catolicismo.

Em 1830 o governo mexicano proibiu a entrada de mais imigrantes na região por não respeitarem as regras impostas pelo governo local. Mas os abusos e os desrespeitos contra a legislação mexicana aumentavam à medida que a imigração tornara-se um factor incontrolável pelo governo mexicano.

Era a época da chamada "Conquista do Oeste" e as dificuldades para consolidação de um Estado Nacional no México, marcadas por constantes conflitos internos e ditaduras, acabaram criando condições mais favoráveis ainda para a expansão dos Estados Unidos.

Os colonos americanos iniciam uma revolta e declaram em 1836 a independência da região, adoptando uma constituição baseada na constituição americana. Para os EUA, no seu período de expansão as guerras de fronteiras arrogavam um símbolo definidor da identidade e do espaço geográfico do país. O objectivo era afastar toda e qualquer ameaça a soberania americana, pois aquele povo tinha um destino a ser cumprido através da promessa divina.

Mesmo o país conseguindo a anexação do Texas, consequentemente, aumentando o poder económico do Sul, os estados do Norte não aceitavam a expansão da escravidão, aumentando com isso, a tensão e os conflitos entre as regiões. O Sul buscava o aumento do seu império de algodão, através da mão-de-obra dos escravos e o Norte, mais avançado em termos industriais, tentava a expansão das terras livres, preocupados com o aumento do poder económico dos sulistas.

2.4. A Abolição Contrastando com a Segregação

Os conflitos tomam feição de guerra com a ideia de separação da região Sul contra a união, deflagrada pela elite sulista, dando origem aos denominados Estados Confederados, formados por Carolina do Sul, Alabama, Florida, Mississípi, Geórgia e finalmente o Texas. O inicio dos conflitos militares acontece em Charleston, na Carolina do Sul, depois da invasão de um forte das tropas da União pelos confederados sulistas em 1861. Estava deflagrada ali a Guerra Civil.

O Norte do país contava com um número muito maior de pessoas aptas a participarem da guerra, além de ter a industrialização como aliada, embora o Sul contasse com grandes nomes da estratégia militar, mas isso não foi suficiente. Aos poucos, a falta de recursos e de investimentos exigidos pela guerra foram assolando o Sul do país, e a Inglaterra e a França se recusaram a ajudar os sulistas que se viam a cada dia mais encurralados.

Além disso, o presidente Lincoln proibiu as trocas comerciais com os estados do Sul, dificultando, assim, a aquisição de bens de primeira necessidade tanto para a população como para as tropas que se viam a cada dia sem roupas, sem armas e sem alimentos. Esse factor facilitou a fuga em massa de tropas sulistas dos campos de batalha e levou os senhores de terra a convocarem os escravos para participarem na guerra.

Tal medida caracterizou-se como o fim da escravidão, já que não se concebia que escravos lutassem para defender uma região que os condenava a maus tratos e ao trabalho compulsório, levando-os também a fuga em massa, pois os escravos sabiam que em mãos dos nortistas poderiam alcançar a liberdade. O presidente Lincoln, então, propôs a emancipação gradativa dos escravos, em que o governo pagaria aos senhores sulistas a quantia equivalente ao valor dos escravos em troca da sua liberdade.

Diante das pressões crescentes dos abolicionistas e da ausência de um acordo sobre a escravidão nas novas terras do Oeste, Lincoln percebeu que a emancipação total dos escravos lhe traria uma popularidade maior no país e aceleraria o fim da guerra. Assim, no dia 1 de Janeiro de 1863, foi proclamado a Lei de Emancipação dos Escravos nos Estados Unidos da América.

Contudo, a emancipação dos escravos deu origem a um outro problema, a segregação. Negros e brancos não podiam conviver juntos nos espaços públicos do país, dando inicio a mais uma luta negra, dessa vez por direitos cívicos, que duraria décadas e traria muito sofrimento e morte a esse povo.

É muito fácil se constatar que na sociedade americana, o sucesso individual está muito atrelado à raça, é inegável que pessoas de pele branca têm muito mais oportunidades do que pessoas de cor, alimentando a cada dia a supremacia branca sobre a negra. Mesmo os negros estando inseridos no mercado de trabalho, e a América apresentando os maiores índices de mão-de-obra negra de todos os tempos, em todos os âmbitos sociais, dando origem a uma classe média negra crescente nos dias actuais, as oportunidades e valorizações dadas a eles exibem ainda hoje marcas evidentes de discriminação e favoritismo.

03.Similaridades e Diferenças na Relação entre Negros e Judeus

Mesmo com trajectórias semelhantes ao longo da história da humanidade, enfrentando sofrimento, discriminação, genocídio e muita luta pela sobrevivência, a relação entre negros e judeus nos Estados Unidos é ainda conturbada e inundada de recíproca discriminação e mágoa.

Considerando que ambos, judeus e negros, são povos sofridos e alvos das piores atrocidades cometidas contra o ser humano, quais as causas que levam ao conflito e não ao entendimento? A verdade é que os discursos académicos disseminados tanto por intelectuais negros quanto os judaicos têm contribuído para o desenvolvimento de atritos, dificultando a aliança entre esses povos. Intelectuais negros, em seus estudos, acusam os imigrantes judeus de perpetuarem a escravidão na América. Já os intelectuais judaicos, na mesma linha acusatória, enfatizam que os negros não reconhecem o sofrimento dos semitas durante todo o seu percurso, começado ainda em Jerusalém e atingido seu auge no Holocausto.

Estarão estes intelectuais equivocados? Infelizmente, não. É fato que os judeus realmente lucraram com a escravidão quando vieram para a América. Também é fato que os negros não reconhecem a história de sofrimento do povo judeu, como bem afirma West (1997): "(..) poucos negros reconhecem e admitem um fato fundamental da história judaica: um profundo ódio pelos judeus está arraigado bem no centro da cultura europeia medieval e moderna" (p. 72).

É sabido que, sobretudo na Europa, o ódio pelos judeus têm base religiosa e social. Religiosa devido ao fato de na história cristã os judeus serem apontados como o povo que condenou e crucificou Jesus Cristo. Social porque os judeus sempre foram a maioria na área comercial. O mito estabelece-se no estereótipo, atribuindo aos judeus a imagem de "infames transgressores do sagrado" (WEST, 1997, p. 72) e criadores de "pretensas tramas conspiratórias visando ao poder e ao controle" (WEST, 1997, p.72). Como resultado, tem-se como consequência a intolerância religiosa e social contra o povo judeu.

Quando chegam nos EUA, entre 1881 e 1924, a história dos judeus não segue este mesmo caminho. Em solo americano tornam-se mais um contingente de imigrantes europeus, trazendo apenas, nos dizeres de West (1997, p. 72), "uma sólida herança de incentivo às qualidades que lhes asseguraram a sobrevivência e a identidade: autonomia institucional, ensino rabínico e empenho nos negócios". Com o objectivo de alcançar status na sociedade, tornaram-se cúmplices, assim como os demais imigrantes europeus, da barbárie racial ocorrida nos Estados Unidos contra o povo africano.

De acordo com West (1997), pelo histórico de sofrimento ao longo dos séculos, o povo judaico, de entre todos os imigrantes, deveria ter sido o povo a sentir mais compaixão com a opressão dos negros. No entanto, optaram pela perpetuação dos estereótipos negativos sobre os negros e a acumulação de privilégios disponíveis aos americanos brancos.

Ao analisar a trajectória dos judeus nos EUA é clara a escolha de obter status em detrimento do sofrimento do povo negro, contudo é preciso conhecer a história deste povo; as perseguições, a intolerância, a humilhação; para compreender as razões de suas escolhas. É crucial ter conhecimento de que à medida que o cristianismo ganhava terreno no monopólio das fontes de riqueza dos países do Ocidente, a influência judaica voltava ao estado de prostração em que esteve mergulhada nos últimos tempos do império romano. Os judeus não podiam ter autoridade alguma sobre os cristãos; eram afastados dos cargos públicos e eram privados dos direitos de cidadania quando implicava em algum cargo de autoridade, como ter escravos, servos e até criados domésticos.

Em cada lugar que viveram, os judeus viram-se obrigados, na sua qualidade de estrangeiros, a mudar suas características de vida. Nos EUA isso não foi diferente: a sociedade escravista da época exigia deles, imigrantes europeus de pele clara, a mudança de dominados para dominantes, de oprimidos para opressores. Aliado aos outros factores que caracterizam a história dos judeus, abraçar a escravidão constituiu mais "um pano de fundo histórico para as actuais preocupações dos judeus com a auto-suficiência e seu temor pela extinção do grupo" (WEST, 1997, p. 72).

O povo negro, em sua maioria, como já abordado anteriormente e bastante enfatizado por West, não reconhece a trajectória histórico-social do povo judeu, o que ocasiona acusações sobre a participação dos judeus na barbárie da escravidão. Da mesma maneira, grande parte dos judeus não direccionam um olhar profundo sobre o que a escravidão representou para o povo negro, recusando-se a enxergar a seguinte similaridade: a degradação e subjugação de um povo.

Considerando que a grande discórdia diz respeito mais à compreensão mútua destes povos, West (1997, p. 74) tem razão quando afirma que "o que está em jogo aqui não são simplesmente as relações entre os dois grupos, mas, o que é mais importante, o conteúdo moral das identidades de negros e judeus e de suas consequências políticas".

Cabe destacar que já houve um período na história dos EUA em que negros e judeus tentaram se entender. West (1997) afirma que entre 1910 e 1967 ficou marcado como sendo o de maior aproximação e empatia entre esses povos. Essa tentativa de aproximação foi permeada de iniciativas de intelectuais e activistas das duas comunidades como W.E.B. Du Bois, Abraham Cahan, Elliot Cohen, James Baldwin, Abraham Joshua Heschel e Martin Luther Kink Jr.

Contudo, esse período de cooperação entre as duas etnias é hoje ignorada pelos negros que preferem salientar a rápida inserção dos judeus na classe média americana em oposição ao aumento da miséria dos negros. Em contrapartida, os judeus criticam as acções governamentais que visam propiciar a subsistência e o progresso dos negros.

Os negros vêem a defesa do estado de Israel, pelos judeus, como interesses económicos, por outro lado, os judeus acreditam que com essa visão os negros estão rejeitando os direitos dos Judeus de lutarem pelo resgate de suas raízes étnicas. Dessa forma, defende West (1997), sem um entendimento imparcial do profundo sofrimento dos judeus, os negros não compreenderão a forte ligação desse povo com Israel, assim como, sem um olhar tolerante sobre a condição ininterrupta dos negros como povo explorado na sociedade americana, os judeus não entenderão toda a tentativa de retratação da sociedade americana na actualidade.

Os judeus acreditam que o drama vivido por eles durante toda a história humana, principalmente o Holocausto na Alemanha, foi a pior crueldade acontecida no mundo, em contra partida, os negros acreditam que as atrocidades cometidas em África pelas elites brancas, principalmente em países como Kenya, Uganda e Etiópia, sem falar na colonização das Américas, foram ainda pior do que aconteceu com o povo judaico. Diante de tantas diferenças entre essas duas etnias percebe-se a dificultando em se criar uma aliança, vislumbrando, com isso, uma maior interacção e um respeito mútuo.

As dificuldades na relação entre esses dois grupos serão superados a medida em que cada comunidade se auto analisar e mudar determinados conceitos em relação ao outro, e não se preocupar só com seus próprios interesses, antes reflicta sobre o que ser negro ou ser judeu significa em termos morais. Negros e judeus são iguais a medida em que ambos os grupos têm sofrido degradações e opressões ao longo da história, e portanto deveriam ser aliados em pró de um bem comum. Essa reflexão deve ser cogitada num campo moral, onde sérias discussões sobre democracia e justiça determine como cada grupo se define, principalmente no campo político, e ajude a formular estratégias para driblar as armadilhas do Calvinismo.

Afirma West (1997) e com razão, que o anti-semitismo dos negros funda-se em alguns sustentáculos que eles consideram importantes na conservação das diferenças. A cumplicidade dos judeus em relação à escravidão e o racismo nos Estados Unidos reforça a ideia de que o judeu é igual a qualquer outro grupo de pele branca que imigrou para a América. Desta maneira:

essa percepção nega a verdadeira história dos judeus e o tratamento a eles dispensado. E as interacções específicas de judeus e negros nas hierarquias das empresas e instituições de ensino colocam os judeus em uma posição de evidência como opressores da comunidade negra e, assim, corroboram essa concepção errónea de que eles são idênticos a todos os outros brancos (WEST, 1997, p. 76).

Nesta visão equivocada, os judeus passam de oprimidos a opressores e cada luta por liberdade sempre se transforma em uma nova forma de opressão. Para os negros, o povo judeu é perpetuador da tirania americana. A ascensão rápida da comunidade Judaica na América em comparação com o retrocesso que sofrera os negros a cada dia, é mais vista (pelos negros) como favoritismo e nepotismo entre os judeus do que resultado de trabalho duro e honesto, levando assim os negros a acusarem os judeus de traição. Nessa perspectiva, os judeus são mais vistos pelos negros como obstáculos do que como aliados na luta pela justiça racial e pela acção afirmativa.

Conclusão

É incalculável o número de seres humanos mortos da pior maneira que os próprios seres humanos foram capazes de engendrar. A pior de todas essas formas de matar, a mais absurda, é a matança justificada em nome de Deus. A justificação de acções monstruosas em nome de Deus foi causadora de sofrimentos inenarráveis que constituem tenebrosos capítulos envolvendo negros e judeus na história humana.

Durante séculos a inquisição e a própria sociedade americana foram organizações que se dedicaram a interpretar maldosamente textos sagrados que deveriam merecer respeito de quem neles dizia acreditar. O que ficou marcado nos anais da história foi um monstruoso pacto entre religião e estado contra direitos humanos fundamentais: o direito à escolha, o direito à liberdade e o direito à vida.

Como foi observado até aqui, o percurso dos negros e dos judeus ao longo dos séculos ficou marcado pelas arbitrariedades e desumanidades impetradas por grupos racistas detentores de poder em busca de capital. Através da trajectória percorrida nesse trabalho, procurei mostrar as peculiaridades de cada povo e sua luta heróica pela sobrevivência e por direitos que lhes propiciassem condições dignas de viver.

Embora desgastada e marcada por mágoas e ofensas, a relação entre negros e judeus deveria ser repensada a partir da perspectiva do respeito mútuo às diferenças. Não podemos negar que, de fato, os judeus contribuíram para que perdurasse a aflição dos negros na América, mas o que se percebe na sociedade americana, por parte dos negros, é uma excessiva e obsessiva valorização desse momento histórico, deixando de lado a luta na tentativa de um bem maior, o bem comum de ambas as etnias.

Referências Bibliográficas

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Trachtenberg, Alan. The Incorporation of America: Culture and Society in the Gilded Age. NY: Hill and Wang, 1982.

West, Cornel. Race Matters. Boston: Beacon Press, 1994.



[1] O Concílio é uma reunião de autoridades eclesiástica tendo como objectivo discutir questões pastorais, de doutrinas, de fé e de costumes morais na tentativa da manutenção da sua hegemonia. Segundo a bíblia, no livro de Actos dos Apóstolos, o primeiro concílio ocorreu em Jerusalém, quando os apóstolos se reuniram para discutir sobre os temas que estavam dividindo os primeiros cristãos: de um lado os judeus convertidos e do outro lado os convertidos não judeus.

[2] O concílio de Clermont-Ferrand aconteceu em 1095 e foi inaugurado pelo Papa Urbano II. Esse concílio se objectivou, entre outras coisas, à conceder o perdão a todos os pecados daqueles que fossem ao Oriente defender os peregrinos, cujas jornadas (Cruzadas) se tornavam cada vez mais perigosas.

[3] Chama-se "Cruzada" os movimentos militares, de carácter Cristão, que partiram da Europa Ocidental em direcção a Terra Santa (Palestina) e Jerusalém, tendo como objectivo colocar essas regiões sob o domínio Cristão. Esses movimentos estenderam-se entre os séculos XI e XIII, quando esses territórios estavam sob o domínio dos Turcos Muçulmanos.

[4]Destaca-se aqui o termo "escravocrata" e não "homem branco" com o intuito de não incorrer em generalizações. Importante salientar que em toda sociedade que lucrou com a escravidão negra sempre existiram grupos que defendiam a liberdade dos negros, os chamados abolicionistas.