Jornalista e repórter
Por Romano Dazzi | 04/06/2009 | Crônicas
JORNALISTA / REPÓRTER
de Romano Dazzi
O Repórter tem, como dever profissional, observar e registrar os acontecimentos e contar o que viu e ouviu.
Claro que, se não os presenciou, ele estará apenas reportando as versões de quem lhe contou a estória e não os fatos.
É uma profissão seca, desagradável, fria, porque ele não pode tomar partido; não pode vibrar, não pode se deixar envolver.
Isto cabe a alguém diferente; alguém que está por perto, de olhos e ouvidos atentos; alguém capaz de sentir e se impressionar e chorar; alguém que vai dar um depoimento direto, uma opinião pessoal palpitante dos fatos a que assistiu, esmiuçando-os, expondo-os, defendendo-os, indignando-se, em lugar de só descrevê-los. Assim ele merece o título de Jornalista.
E quando aparecerem fatos novos, que venham desmentir o que ele pensava, deverá ter a coragem de mudar de opinião .
Como quer que seja, no instante em que sentir que algo mudou, enquanto o repórter anota e limita-se a informar, este outro vai olhar novamente as estrelas, recalcula a rota, dá uma virada no seu leme.
Corrigir posições é um sinal de amadurecimento.
E terá que agüentar – sempre - uma saraivada de protestos.
É uma tarefa dura, mas é uma lei da vida.
É isto que move o público, qualquer público.
Ele não quer somente informação; o boletim impresso, que rolava na tela nos primeiros dias da TV, foi logo substituído pelo locutor, que dava pelo menos um pouco de ênfase à notícia.
Mas não é o bastante; o público quer sentir que alguém está envolvido; e mais, quer deixar-se envolver; quer comentários, opiniões, contrapontos; quer lutar e sofrer; quer mergulhar na notícia, para sentir-se participante, ator, e não mero espectador dos dramas que ouve e lê.
Não é o sensacionalismo que faz a boa reportagem; é a paixão, nem que seja em um programa de receitas de cozinha.
O boletim meteorológico só ganhará respeito o dia em que a menina do tempo, depois de ter dado aquelas informações pasteurizadas, desabafar, como faria qualquer espectador e confessar candidamente:
- “gente, nós não acertamos uma; eu digo que vai fazer sol e chove; eu digo que vai esquentar, e esfria!” .
Ela estará interpretando justamente o que o espectador pensa; estará se identificando com ele e dizendo, de público, o que ele gostaria de dizer..
Diante de tantos fatos novos, de tantas vozes diferentes e contraditórias, de tantas tragédias em que cada um de nós se encontra envolvido, como parte de uma única e solidária humanidade, é preciso deixar-se envolver, ter uma opinião, brigar por ela – e se preciso, desistir dela, quando errada.
É isto, que todos queremos ver, ouvir, sentir, cheirar: paixão, envolvimento, compaixão, opinião.
Pode parecer uma forma estranha de se dar as mãos; mas é a maneira melhor de fazermos uma humanidade melhor.
O coração, sem o cérebro, continua a palpitar, a vibrar, a viver; o cérebro, sem o coração, está morto, pois é no coração que se encontram os sentimentos, os instintos, os valores, que fazem da vida esta grande aventura.