Jornalismo é Ativismo

Por Samuel Leal | 11/12/2014 | Sociedade

Jornalismo é Ativismo

Publicado em 3 de Novembro de 2014, originalmente em inglês, no site mediaforchange.org

por Shamina de Gonzaga

Perguntas como “onde você tem andado?”, referindo-se à ignorância de alguém a respeito de um fato amplamente coberto pela mídia, ou expressões como “estar por dentro”, sugerem que certas histórias importam ou, talvez, que umas importam mais que outras. O que é reportado torna-se o que é importante agora, “o que está rolando”. Mesmo considerando verídica a existência de um limite de espaço ou tempo no ar para que se reporte tudo que está acontecendo a qualquer momento, é difícil descartar o papel controlador dos processos que determinam aquilo que constitui “notícia” ou quais perspectivas serão ouvidas ou omitidas a cada nova história.

O estímulo para reportar tem origem no julgamento de que uma coisa merece ser documentada, compartilhada, lembrada. O ato de documentar e reportar é, portanto, intrínseco a uma tomada de posição....”

Eu tenho buscado documentar, frequentemente em colaboração com outros colegas, a perspectiva daqueles que parecem excluídos das plataformas de mídia, discutindo os aspectos que os afligem. Um exemplo seriam os pontos de vista dos migrantes a respeito das políticas de migração. Eu tenho me esforçado para identificá-los, não como jornalista ou repórter, mas como uma ativista que entrevista, edita e escreve com foco numa causa específica e geralmente para organizações não-governamentais com uma agenda. Nos EUA, a noção de objetividade é posta como um padrão de integridade jornalística. Entretanto, a distinção entre jornalistas e ativistas tem atiçado cada vez mais minha curiosidade.

Uma diferença clara pode estar no fato de que ativistas tendem a reunir pessoas diretamente afetadas por uma questão em particular. Na mídia isto é bem menos significativo: não se espera de um jornalista que ele pertença a uma comunidade para que possa fazer uma matéria sobre ela. Entretanto, o ideal de reportar objetivamente pode levar alguém a omitir as influências que dão formato ao resultado final das histórias que vão ao ar ou são publicadas. Meu grau de receptividade a determinada mídia depende do nível de credibilidade que atribuo às suas fontes e à percepção que tenho dos parâmetros para publicação. Quanto a estes últimos, minha expectativa é de total aderência por parte dos produtores de mídia, não significando, entretanto, que eu espere por objetividade ou ausência de preconceito.

O estímulo para reportar tem origem no julgamento de que uma coisa merece ser documentada, compartilhada, lembrada. O ato de documentar e reportar é, portanto, intrínseco a uma tomada de posição, o que reflete ou pode ser impactado por fatores tais como valores ou interesses do repórter, suas referências, sua conexão pessoal com o tema e seu nível de compreensão (ou a falta destas), considerações comerciais, pressões políticas, pressupostos sobre o que seria relevante ou teria apelo para a audiência ou para os consumidores de mídia....

Se definirmos ativismo como uma prática em apoio ou em oposição a um tema. Se o que escolhemos para apoiar ou nos opormos é o resultado do que acreditamos ser vedade com a informação que podemos acessar. Se assim for, então o jornalismo está conectado ao ativismo, mesmo que ele não transmita, explicitamente, uma mensagem política.

Neste blog, pretendo explorar a fronteira entre jornalismo e ativismo. Farei isso a partir de insights de pessoas cujo trabalho e identidade ultrapassam esses dois mundos, incluindo “narco-repórteres” na fronteira entre os EUA e México e jornalistas “infiltrados” em áreas de conflito.

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