Jorge, empaticamente Amado

Por Alberto Coutinho de Freitas | 27/09/2013 | Crônicas

Jorge Amado é o Brasil caboclo por excelência. Em seu trabalho, ele consegue personificar as características marcantes que se incorporam em nossa formação cultural como o jeito moleque, a malandragem, a sensualidade e o misticismo, sem esquecer-se da garra, da coragem, da ousadia e da inteligência de nosso povo. Com linguagem agradável e acessível, este autor consegue miscigenar nossas experiências, dores e alegrias, sem deixar de lado os aspectos social e histórico com os quais reveste suas criações. Dessa forma, ao ganhar o espaço televisivo e adentrar em lares, que de outra forma, poderiam não ter acesso às suas obras, Jorge Amado consegue empaticamente ganhar o coração do brasileiro.

De sua sensível perspectiva, este renomado escritor descreve nossa brasilidade através de tipos e estereótipos temperados com o charme da Bahia. Seus personagens ganham feições de pessoas com as quais convivemos ou que passam despercebidas por nós até que no-la identificamos em uma produção televisiva baseada num de seus livros. Seja na figura Quincas Berro d´água que abandona tudo para ser um ébrio; seja na violência policial de hoje materializando a truculência do coronel Boaventura e do capitão Natário; seja em Gabriela, com a sempre ressaltada sensualidade da mulher brasileira; ou na luta de Pedro Arcanjo contra o aniquilamento da cultura africana que encontra paralelo no avanço pentecostal que aniquila e incita a violência contra os templos de umbanda e candomblé nos dias de hoje.

Em verdade, as obras de Jorge Amado são como espelhos que refletem a alma de nosso povo, fazendo com que as mocinhas, os vilões e as bruxas de nosso imaginário abandonem as feições europeias e americanas dando espaço ao característico nacional, sem deixar de lado a realidade social, política e histórica. Em meio aos conflitos existenciais de seus personagens, temos como pano de fundo, as transformações sociais ocorridas na Bahia de suas narrativas, mas que tanto valem para analisar as mudanças que ocorreram no Brasil como um todo. Acontecimentos estudados hoje nos livros de histórias como a importância do cacau para a economia no século XVII; o coronelismo na República velha; o crescimento de cidades e seus respectivos conflitos e a seca que é tão presente e estudada, mas em nada aliviada são recorrentes em sua obra e fazem parte do universo estudantil brasileiro. Jorge Amado, feito professor, trabalha de forma didática e multidisciplinarmente, temas exigidos em vestibulares pelo Brasil e convida os telespectadores a uma gostosa aula de história, enfocando através de aquarelas em movimento os múltiplos aspectos de nossa realidade.

Outra justificativa para o sucesso de Jorge Amado junto ao público televisivo é o fato dele captar esse misticismo latente em nossa gente. A fé de nosso povo, segundo o autor, assume um aspecto antropológico e se transforma numa das marcas de nossa brasilidade. As diferentes facetas da nossa religiosidade narradas pelo autor, nos leva a situações bem humoradas como as provocadas pela Perpétua, irmã de Tieta em Tieta do Agreste, mas também se refere a situações de luta e resistência, com a história do mulato Pedro Archanjo, em Tenda dos Milagres.

Por diversas razões Jorge Amado pode ser considerado um autor popular, mas não no sentido popular dessa expressão. Alcançando o público televisivo, ele demonstra que é possível levar cultura refinada e de bom gosto às massas. Fica comprovado que além de seu talento para organizar palavras, ele cativa, encanta e provoca aquela empatia que justifica o sucesso que a literatura de Jorge Amado faz também na televisão.