JONAS, O SINAL DE CRISTO

Por Cilas Emilio de Oliveira | 07/06/2013 | Religião

JONAS, O SINAL DE CRISTO.

             O livro do profeta Jonas nos fornece um quadro bastante interessante. A fuga do profeta, sua irresponsabilidade ante as ordens divinas, e o momento crucial quando, no ventre do peixe, tipificou o hades sofrido por Cristo. O navio para Tarsis desnuda a condição irreverente do mensageiro que, não obstante o conhecimento da onipresença divina, deixou-se enganar por um lampejo de sabedoria humana. Mal esperaria que o longo braço daquele  que todas as coisas estão patentes aos Seus olhos, o alcançaria, ainda que se dispusesse a ignorar o “ultimatum” divino.

            Mas, que implicância há nesse sinal para os dias de hoje, quando as comunidades  apegam-se a sinais e possíveis prodígios dos “homens de deus”?  Não estaria a “cristandade” ávida por sinais, a exemplos dos fariseus que queriam ver sinais da parte de Jesus?  Teria Deus, após o “Está escrito”, deixado uma válvula de escape para que sinas, visões, línguas estranhas e manifestações demoníacas trouxessem o complemento, tendo a mesma autoridade da palavra divina?  Admitindo esse escape, teríamos que concordar que essas manifestações teriam o mesmo peso, a mesma autoridade, as mesmas revelações e o mesmo valor das escrituras. Sabendo-se que quase todos as manifestações psíquicas são de caráter duvidoso,  principalmente aquelas concebidas por sugestões e transes, não haveria como autenticar os arroubos manifestados. Isso sem mencionar as inversões de valores na religiosidade.

            “Uma geração adúltera e perversa pede um sinal, porém, nenhum sinal será dado senão o sinal de Jonas”.  Com estas sábias verbas o Senhor não se fez de rogado. Desnudou o caráter imediatista e perverso daqueles que queriam pô-lo em dificuldade. Quando reportamos  este libelo de recusa, nos vem à mente a situação similar dos dias de hoje. Grupos manuseados por líderes que têm no palavreado fácil sua principal arma, andam à cata de manifestações sobrenaturais. Deixando a palavra viva e eficaz, a qual restringe as manifestações divinas à pessoa de Cristo, não atém para o caráter exclusivo outorgado ao Feito homem. Como sabemos, a Jesus foi dado ser o porta-voz do Pai, quando Ele passou a ser Aquele que fala hoje – através de suas palavras contidas nas escrituras, pela ação do Santo Espírito – barrando todas e quaisquer manifestações extra que possam paralelizar com os enunciados bíblicos:  “Havendo Deus, outrora, falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias falou-nos pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo”(Hb.1:1-2);            Nestes termos o Criador  restringiu à Palavra viva, aquilo que Ele quer transmitir. Vale ressaltar que na antiguidade, como a própria palavra bíblica ressalta, Deus usava de várias maneiras e formas para Se comunicar com sua criação. A figura dos profetas foi o meio mais utilizado por Deus para cumprir seus intentos. Porém, a culminância da comunicação divina se deu com o Deus-homem. A partir dessa época, todos os recados divinos estão contidos na palavra de Deus, mais precisamente nos enunciados bíblicos neo-testamentários, os quais contém a vontade do Pai àqueles que lhes são filhos. Fugir destas normas é contrariar os princípios divinos em detrimento dos enunciados bíblicos, aceitando “novos evangelhos” a gosto dos que manipulam a palavra de Deus.

            Quanto à ênfase dada por Jesus sobre o único sinal disponível sobre sua pessoa, tem no episódio de Jonas o remate de sua morte e ressurreição. Assim, a analogia desta “sombra do que haveria de vir”, é perfeitamente válida para a concretização do plano divino. Assim como Jonas passou três dias e três noites no ventre do peixe, assim também o corpo de Cristo permaneceu no seio da terra o mesmo tempo. Em outras palavras, Era este o sinal que Jesus deixaria claro através de sua prédica acerca do plano divino, o qual fora recusado pelos judeus.

Não estaria o momento presente tomado pelos modernos fariseus, que querem ver sinais e prodígios, dando como certos e válidos, visões, curas, línguas, êxtases, transes e tantas outras manifestações de caráter humano-religiosas? Neste cenário de contraste entre o recado divino e o paradoxo humano, ocorrem verdadeiras fugas da essência evangélica. Enquanto a palavra divina coloca Cristo como Senhor, para que seu senhorio seja abraçado pelo homem, a modernidade religiosa destrona o Senhor de suas prerrogativas. De Senhor que exige submissão, passa a ser considerado um servo, um doador de benesses, sem que seja necessário  submeter-se às Suas diretrizes.

Outro aspecto diz respeito ao lugar que o homem ganhou no seio dessas comunidades. Como Cristo fora destronado, outro senhor teria que tomar Seu lugar.  Assim, apeteceram-se os líderes, colocando o próprio homem como centro da mensagem.  Dessa maneira ele – o homem – é o elemento visado nesses aglomerados. Os apelos que se sucedem, feitos em seu nome, suplantam quaisquer formas de direcionamento ao Senhor. Cristo não é colocado em evidência no sentido em que Seu senhorio seja reconhecido. Com efeito, o que manda são os direcionamentos ao homem, passando este a receber o conteúdo religioso. Não se cogita da renúncia requerida pelo Senhor, nem é observado o desprendimento que se deve ter em relação às coisas do mundo. Ao contrário, sendo o homem o centro, a ele é ordenado que busque os valores materiais para obter o conforto que a situação favorável possa lhe proporcionar. Nesse emaranhado de conceitos fugazes, gira na órbita da religiosidade o caráter da “barganha”.

O aspecto deveras interessante – já abordado mais acima – tende a colocar fatos oriundos das massas como sinais de que o elemento humano esteja coeso com o que se requer dele. Tanto é verídico que sem os “sinais” da presença do que é divino não há familiaridade com a palavra. Sem manifestações visíveis não se pode autenticar uma comunidade. Sem esses sinais não há como considerar outras greis como possuindo o Espírito Santo. Esta tem sido a posição dos que laboram por ver no concreto a autenticidade espiritual. Sem sinais e prodígios ( curas, línguas estranhas, cair em torpor epilético, visões) não existiria a presença do Consolador entre os membros de outras comunidades. Somente os êxtases poderiam autenticar a verdadeira assembléia?

Sem dúvida, os sinais requeridos pelos fariseus continuam a ser requisitos para uma “boa vivência espiritual”.  As palavras em reposta às argüições farisaicas, proferidas por  Jesus, sintetizam a necessidade de reconhecer na Sua caminhada rumo ao Calvário, a essência da cruz. Não o objeto em si, porém seu significado. A cruz significa a tomada de posição ante as coisas deste mundo, ao mesmo tempo em que retira do homem quaisquer anseios ligados ao sentido carnal. Não poderia ser diferente, visto que não se pode almejar a matéria em detrimento do espiritual. Assim também, a transformação do que é invisível em forma visível (sinais, prodígios, visões) suplanta o caráter da fé, tão sabiamente enfatizado pelo apóstolo em Hebreus 11.

Em relação ainda ao evangelho, é norma nos aglomerados eclesiais modernos o barateamento da mensagem evangélica. Dessa maneira o caráter humano-material suplanta o fator espiritual. Na verdade, as conquistas da matéria, do conforto, dos bens e posições sociais, têm na religião atualmente seu ponto alto. Ao destronar Cristo do centro do culto querem os líderes fazer valer suas inversões de valores, deixando os ensinos de Cristo, o qual requer desprendimento das coisas materiais, bem como a renúncia e a negação de sim mesmo. A exigência do desprendimento físico-material, não é cogitada no seio das neo-comunidades, por ser o apelo à matéria sua principal bandeira. Anunciassem o puro evangelho nessas assembléias; o evangelho que requer desapego do reino deste mundo, com absoluta certeza os átrios dessas greis se esvaziariam, devido a serem os dotes desta vida o chamariz que atraem milhões. A busca de sinais, tanto de visões, como da matéria, não deixam a luz do evangelho raiar. 

 

Artigo completo: