Jogando Pega-Varetas
Por Marcos Baptista Mendes | 23/10/2009 | Filosofia As transformações que atingem as
sociedades, em especial, as mais urbanas, têm-se mostrado tema candente
nos meios acadêmicos, despertando considerável número de pesquisadores
para o estudo das múltiplas variáveis envolvidas neste processo.
Dentre estas variáveis, a segurança ganha especial destaque por
constituir, ao nosso ver, uma das mais significativas evidências da
turbulência que envolve os relacionamentos humanos, dentro de cenários
em permanente mutação. E creio que esse seja o grande desafio para os
estudiosos na área da Segurança Pública e das instituições voltadas à
preservação da ordem e administração de conflitos: a fugacidade dos
valores e, consequentemente, daquilo que chamaríamos "realidades
sociais". De acordo com o sociólogo polonês e radicado na Inglaterra
Zygmunt Bauman, vivemos o tempo da "modernidade líquida", onde os
contextos sociais assemelham-se aos líquidos, amoldando-se a cada
recipiente onde são depositados.
Estas considerações nos levam a refletir sobre a efemeridade e o
relativismo que revestem alguns conceitos que, em nossa opinião, servem
de lastro identitário para os sujeitos, como, por exemplo, família,
escola/educação, Estado/governo, igreja/religião e trabalho/empresa. A
crise destes referentes, assomados de uma ética sócio-política,
notadamente capitalista (ou seria melhor, mercantilista?), das
desigualdades sociais e daquilo que chamamos de "cultura do
descartável" – com raízes na evolução de um desenvolvimento tecnológico
e científico, voltado ao consumismo -, provocam medo nas pessoas,
levando-as a dois tipos de comportamento social: a crescente
comunitarização, pela sensação de segurança, de intimismo, de
identidade, de pertencimento, que este tipo de conduta proporciona e,
num viés mais aterrador, as ações de violência, como forma de
linguagem, de estratégia de sobrevivência e, pasmemos, até de
participação social, do tipo "cidadania nefasta".
Diante desse contexto, a formação de novos quadros para as instituições
policiais requer uma abordagem de ordem científica, reflexiva,
transversal e multidisciplinar, capacitando os novos integrantes dessas
corporações a lidarem com a particularização dos cenários, com a
administração de problemas pontuais e específicos de um determinado
segmento, mantendo, contudo, uma visão holística, dentro da idéia da
sociedade como um todo multifacetado. É um exercício que se assemelha
ao jogo infantil de "pega-varetas". Há de se ter cuidado para, em
removendo uma, não mexer com a outra.