Jesus e os profissionais da Segurança Pública
Por Aparecido da Cruz | 25/02/2019 | ReligiãoIntrodução
Olá amados! Que a paz que excede todo o entendimento e que vem de Cristo, conosco esteja e conosco permaneça. (Saudação na Capelania Policial 3i)
As Escrituras trazem em seus registros, muitos momentos de encontro dos colaboradores de segurança pública com profetas e muitas outras autoridades religiosas e líderes espirituais. Foi assim nos diversos registros históricos e escriturísticos de que temos conhecimento e através também da Bíblia, chegaram até nós.
Sob este prisma, gostaria de compartilhar neste artigo com os senhores e senhoras, um desses importantes encontros, lincando-o ao Tema “Jesus e os profissionais da Segurança Pública” de forma breve e concisa, visitando logo no primeiro capítulo, alguns exemplos fundamentais para alcançarmos o propósito deste artigo.
Espera-se que este artigo possa lançar luzes e novos olhares não só sobre os aspectos religiosos em voga, mas que possa ser norteador de pesquisas mais relevantes e profundas, remetendo-as ao cotidiano destes profissionais, bem como suas nuances formativas.
Ao olhar os textos apresentados e com face na experiencia educacional deste autor, foi possível observar a aplicação das lições sugeridas neste artigo, não só no cotidiano de fé, mas e também no ideário da gestão e educação em segurança pública.
1 - Alguns relatos notórios envolvendo agentes da segurança pública
No Evangelho Segundo Marcos no capitulo 15 e versículo 39 lemos sobre o Centurião da Cruz, com a famosa frase “Verdadeiramente este era o filho de Deus”, ou seja, O primeiro a reconhecer publicamente Jesus como filho de Deus.
Em Atos 10 a figura do centurião Cornélio ilustra uma gigantesca porta aberta para o Evangelho junto aos gentios, colaborando na expansão da corrente do bem, pois embora bondoso, pessoa de oração e jejum, Cornélio também dava esmolas. Porém, lhe faltava uma coisa, estar no rol dos que faziam profissão de servir a Cristo de maneira total, ampla como nos ensina Tiago 1 e 27.
Registrado nos Atos dos Apóstolos 27. 1 a 3 lemos sobre certo centurião chamado Julio, da alta Coorte Imperial, que tratou Paulo com humanização e assegurou-lhe os direitos humanos fundamentais, cumprindo um papel para além de seu tempo com maestria e responsabilidade.
No livro de Filipenses 1.13 remonta o discurso do apostolo Paulo em que aponta a guarda pretoriana como testemunha de suas aflições pelo amor de Cristo, utilizando-se daquela referência como fidedigna, ou seja, digna de credibilidade.
Em Lucas 3.14, um grupo de soldados perguntam a João Batista “O que faremos?”. Pois o discurso de João era um discurso que perturbava a consciência, que demandava reflexão e ação. A recomendação dada foi: sejam bondosos (a cortesia não compromete a firmeza), não pratiquem o peculato nem qualquer tipo de corrupção, demonstrando nada além do óbvio, senão que cumprissem sua missão com hombridade, honra e zelo.
Não há duvida, que direta ou indiretamente, foram momentos em que Jesus ou seu nome foram alvo de ações em que estavam envolvidos agentes da segurança pública da época. O que se fossemos traduzir em exemplos, muito nos faria discorrer sobre cada atitude e cada experiência deixada por cada uma dessas situações e profissionais nelas envolvidos.
2 – A cidade e o centurião de Cafarnaum
2.1 A cidade de Cafarnaum
Cafarnaum (em grego Kαφαρναουμ, transl. Kapharnaoum; em hebraico: כפר נחום, transl. Kephar Nachûm, "aldeia" ou "vila de Naum”) é uma cidade bíblica que ficava na margem norte do Mar da Galileia, próxima de Betsaida (terra natal de Simão Pedro) e Corazim.
Muito perto passava a importante Estrada do Mar, que ligava o Egito à Síria e ao Líbano e que passava por Cesárea Marítima.
O fato de possuir uma alfândega Mateus 9.9 e uma guarnição romana sugere que Cafarnaum se tratava de uma cidade fronteiriça entre os estados de Filipe e Herodes Antipas. De acordo com o relato bíblico, o centurião daquela cidade, o qual podemos denominar como o gestor de segurança pública da época, mostrou-se particularmente amistoso para com os judeus (povo subjugado), construindo-lhes a sinagoga da cidade (Mateus 8:5-13; Lucas 7:1-10) sendo o que poderíamos chamar de um facilitador de diálogos.
Jesus realizou vários milagres em Cafarnaum (o servo do centurião, a sogra de Pedro, a cura de um paralítico e do filho de um oficial) e ali ensinou freqüentemente (cf. João 6.24-71; Marcos 9.33-50). Na verdade, a cidade ficou conhecida como o seu quartel-general durante seu ministério na Galileia e foi chamada a sua cidade, pelo fato de aí ter fixado residência (Mateus 9.1; cf. Marcos 2.1). Contudo, apesar do real impacto do seu ministério entre o povo, este acabara por se afastar da cidade; sendo previsto que, junto com Betsaida e Corazim tempos depois poderia seria destruída.
2.2 O centurião de Cafarnaum
Na leitura: Lucas 7.1 a 10 encontramos um relato muito rico e abrangente, que nos descortina a figura emblemática de um centurião diferente, bem como algumas importantes lições, que se aplicadas no cotidiano do profissional de segurança pública, podem e muito auxiliar na gestão e eficiência do seu trabalho. Vale ressaltar, que semelhante aos profissionais de segurança pública de nosso tempo, o centurião e todo o seu corpo de soldados eram vistos com um mix de temor (predominante), admiração e ostensividade, fazendo jus a famosa frase “Quando em perigo o ser humano clama por Deus e chama pela policia, passado o perigo este mesmo ser humano se esquece de Deus e amaldiçoa a policia”.
O ponto de contato do centurião com Jesus se dá justamente diante de um quadro que fugia de sua capacidade de resposta, desafiando-o a aprender algumas lições e experiências importantes, que servem para toda a vida. Dentre elas:
a) Reconhece que precisa de Formação Continuada (Novos saberes/Novos olhares)
É o veiculo base de consciência, de onde viemos, onde estamos e onde queremos chegar. É o GPS do saber.
Não fazia parte da formação e da cultura dos centuriões acreditarem em milagreiros, ajudar criados e muito menos ter compaixão por alguém. Se o centurião se preocupa com quem lhe serve, ele deixa a lição de que o Profissional de Segurança Pública precisa desenvolver um olhar melhor sobre a sociedade e ao grupo a que serve, precisa melhorar sua percepção.
b) Tem humildade para pedir ajuda – Desenvolve o Respeito pelo mestre
A humildade do centurião e o reconhecimento de sua condição de impotência ante o cenário que se apresentou (algo inusitado) o conduziram a seu objetivo completo. Era um cenário fora de seu controle e de sua capacidade de resposta.
Neste contexto, uma pergunta se torna inevitável, você já experimentou uma situação como esta? Seria ilógico responder que não, pois se é comum as pessoas enfrentarem situações difíceis, imagina no cotidiano do profissional de segurança pública, que sofre pressões e incompreensões de todos os lados.
A lição que fica, todos já sabem, é impossível enfrentar tudo sozinho, sem compartilhar com pessoas de confiança e principalmente com o Mestre, que de maneira atenta e segura, ouve através da conversa diária com ele, nossas dores e aflições, conduzindo-nos a melhor das soluções.
c) Aprende que não é possível alcançar seus objetivos de forma meramente natural
Apenas com o GRADIENTE uso da Força Policial não são solucionados todos os problemas. Segurança precisa de estratégia e também precisa de segurança. (Salmo 127:1), pois quem cuida, também precisa ser cuidado.
d) Compreende o poder e os valores da palavra – “Dize uma palavra”
A palavra enviada por meio de servos confiáveis e idôneos, à época era tão eficaz quanto a própria presença de quem os enviou. Lembremos:
Rosa Maria Rigo na obra “O poder da palavra no processo de Humanização da Educação” escreve: A palavra, esse dom celeste que Deus deu ao homem e negou a todos os outros animais, é a mais sublime expressão de toda natureza, ela revela o poder do criador, e reflete toda a grandeza da sua glória divina. Servindo de mediação entre educador e educando a palavra tem seus significados e sentidos construídos a partir da relação destes dois sujeitos, tornando possível o ato educativo concebido como participação, criatividade, expressividade e relacionalidade.
E não apenas isso, mas a fala do centurião encanta o mestre, que de pronto faz menção que “nem mesmo em Israel achou fé como aquela”.
e) Entende que o encontro não é casual – É único, marcante e real
Os romanos eram taxados como impositores, eram vistos com desconfiança por todos; que tinham medo, sem, contudo, ter respeito por eles. No encontro com Jesus, ficou claro que aquele momento teve um significado para além da institucionalidade, foi um encontro com o milagre físico e espiritual.
3 - Conclusão
Sabemos que até hoje, muitos profissionais de segurança pública estão insensíveis ao chamado do mestre, muitas vezes perdendo a oportunidade do encontro e o prazer do aprendizado para além das graduações, patentes, cargos e nomeações.
O centurião estava diante de uma causa incomum, fora de suas competências e habilidades, sendo convidado pela situação a aprimorar competências e a sair do senso comum. Sua compaixão por “apenas” um servo, o elevou a qualidade daquele que se coloca no lugar, demonstrando sair do casulo, sem perder suas raízes, desenvolvendo uma fé extraordinária para aprimoramento de talentos e dons.
Enfim, encantar o mestre nos envolve em uma atmosfera de legitimidade com o real sentido de servir ao público como profissional de segurança pública, onde a missão é divina, a atuação é extremamente nobre e necessária e o resultado final deve ser o equilíbrio e desenvolvimento da sociedade.
Afinal! A existência do profissional de segurança pública é fundamental para que outros possam continuar existindo, estando clara e evidente esta premissa no texto lido e no decorrer deste artigo, realçando ainda, que o abraço do encontro com Cristo mostra a cruz, de onde de braços abertos ele nos convida para os braços protetores do Pai.
Neste abraço, que não segrega, não exclui, nem discrimina de verdade, nossas ansiedades e perturbações não encontram mais força bruta para nos abater, mas encontra no fardo leve e no jugo suave de Cristo (Mateus 11.30) uma porta aberta para dias melhores, o que não significa ausência de dificuldades, mas graça e sabedoria para gerencia-las da melhor maneira.
4 – Referencias
A BÍBLIA. Nova Tradução na Linguagem de Hoje. Tradução de João Ferreira Almeida. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2008. 1110 p. Velho Testamento e Novo Testamento.
A BÍBLIA. Revista e Atualizada. Tradução de João Ferreira Almeida. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2006. Edição comemorativa aos 25 anos da Associação PM’s de Cristo.
CRUZ, APARECIDO. Curso Capelania Policial e Global. São Paulo: Capelania Policial 3i, 2018.
CRUZ, APARECIDO. O Direito a Assistência Religiosa e a Capelania Interconfessional. Vitoria da Conquista: FATECBA, 2015.
Envolvimento do autor com a Segurança Pública
Aparecido da Cruz é Doutor em Capelania Militar, Especialista em Direito Militar, Especialista em Segurança do Trabalho e Defesa Civil, formado em Educação Física, Gestão de Segurança Pública e Privada e Ciências Jurídicas. Participante ativo dos Painéis de Defesa no Comando Militar do Sudeste (SP) e do Fórum Científico da Escola de Educação Física do Exército (RJ). Servidor Federal na Educação, Tutor da Rede EaD SENASP, membro da Associação Internacional de Polícia, diretor da Sociedade Amigos do Exército Brasileiro SAEB e Capelão da Escola Superior de Ciências Policiais e Capelania Policial 3i. Participou do Leadership Summit para Forças de Segurança em 2015 na AOPM, do Seminário Internacional de Segurança Pública e Gestão da Atividade Policial em 2017 na Academia de Policia Militar do Barro Branco (SP) e de diversas outras capacitações da área. Aluno da ANP Cidadã da Policia Federal, aluno do EaD do Supremo Tribunal Militar e da Capacitação para Operações de Campo das Nações Unidas. É Membro do Circuito de Provas Militares do Brasil na modalidade corredor amador. Atua como Educador Policial Multiplicador e possui Curso Avançado de Comando pelo CESDH. Foi Juiz Suplente pela Secretaria da Justiça e Defesa da Cidadania de São Paulo no RCPN de Itaquera. Autor independente de 10 livros, diversos artigos na internet, diversos folhetos. É coordenador do NUPREC – Núcleo de Ações Voluntarias em Proteção e Defesa Civil desde 2012. De formação multifacetada, possui ainda, diversos cursos na área educacional, é jornalista com registro no MTE e Instrutor de Bombeiros Civis e Militares
Contatos com o autor deste artigo Pastor Capelão Aparecido da Cruz: cepesf.ead@gmail.com e bombeiro.aparecido@gmail.com