Iron Maiden: Alexandre o Grande e a Cidade de Aristóteles como resultado final da Civilização Helenística
Por Marcelo Vagner Bruggemann | 17/01/2022 | HistóriaIron Maiden: Alexandre o Grande e a Cidade de Aristóteles como resultado final da Civilização Helenística
Por: Prof. Ms. Marcelo Vagner Bruggemann
Eu como um fã fiel da banda britânica Iron Maiden, não posso dizer que é a maior banda de todos os tempos, porque tem lá os Beatles, Rolling Stones, Led Zeppelin, Kiss, Black Sabbath e algumas outras. Mas posso sim afirmar com base no público que facilmente passa das centenas de milhares em qualquer show pelo planeta, que Iron Maiden é sem dúvida a maior banda da história.
Além disso, os velhos garotos do Iron, enchem de orgulho os fãs por serem hoje o que sempre foram em suas origens: bons amigos, nunca se envolveram com polêmicas que envergonhassem os fãs, e principalmente são profissionais impecáveis, altamente competente naquilo que fazem, que é – há mais de 40 anos – tocar o melhor e mais puro heavy metal tradicional.
E não somente com o som de qualidade, mas com as letras inteligentíssimas que muitas delas são verdadeiras aulas de história, de filosofia, de literatura como bem lembra o professor Lauro Meller, o qual defendeu sua tese de doutorado pela PUC/MG analisando letras do Iron Maiden, e pasmem, o professor brasileiro chegou no Pós-Doutorado no Institute of Popular Music da Universidade de Liverpool, na Inglaterra, se debruçando na pesquisa de sua banda de infância.
Meller, lembra que as músicas do Maiden fazem o ouvinte se sentir na pele de um faraó no Antigo Egito revoltado ao se descobrir mortal; outra vez, o sentimento encontra-se na imagem de um nativo da América do Norte massacrado pelo homem branco; ou ainda, de soldados angustiados em campos de batalha das grandes guerras mundiais, só para citar alguns exemplos. A rigor, como lembra o acadêmico em Iron Maiden, as canções da banda britânica “são portas de entrada para outros conhecimentos”.
E de fato, quem um dia se debruçou sobre o texto da música Alexander, the Great, que majestosamente encerra o álbum Somewhere in Time, de 1986, reconhecidamente um dos melhores da história da banda, vai encontrar a figura de Alexandre o Grande, que é uma verdadeira aula de história com uma pitada de geografia, e quase ao final da canção traz ainda uma reflexão, de como Alexandre “pavimentou o caminho para o cristianismo”.
Curiosamente na Bíblia, falo a Bíblia porque eu como professor de História sou leitor das Sagradas Escrituras, vejo no livro do profeta Daniel no capítulo 11, versículo 3, que diz, “surgirá na terra um rei guerreiro, que conquistará um vasto império, porém ele não reinará e seu reino será dividido em quatro partes, e nenhum em proveito da sua descendência.
De fato, com 19 anos Alexandre já era o rei de toda a Grécia, e partiu para a conquista de todo mundo conhecido, começando pela região da Ásia Menor, onde hoje é a Turquia, depois desceu em direção ao sul e conquistou as terras da Fenícia, Palestina e toda aquela região por onde Cristo iria viver seus 33 anos. Em seguida, foi para o Egito, e lá, foi tratado como um faraó, ou seja, um deus para os egípcios, logo em seguida, avançou para região da Mesopotâmia onde é hoje o Iraque, e lá entre os rios Tigre e Eufrates enfrentou Dario III, rei dos Persas, na épica batalha de Gaugamela… Alexandre não parou por aí, avançou até ao norte da Índia conquistando tudo pela frente e só foi parar nas instransponíveis cadeias montanhosas ao norte do Afeganistão.
Uma jornada de apenas 10 anos e pasmem, nunca perdeu uma batalha! Por onde Alexandre passou, fundou cidades com o nome de Alexandria, sendo a principal delas a Alexandria do Egito, fundou centros de estudos que eram chamados de bibliotecas, promoveu casamentos entre os seus soldados gregos com as mulheres das regiões conquistadas, e como diz na letra do iron Maiden Alexandre levou a cultura grega para o todo mundo conhecido, pavimentando assim o caminho para o cristianismo.
No entanto Alexandre, está longe de ser um reles conquistador, ele foi sim um homem admirado pela nobreza de seus atos, fruto de sua educação esmerada e exemplar recebida de Aristóteles que fez dele um apaixonado pela cultura helênica que estabeleceu o helenismo como a primeira universalidade da história. Na verdade, a própria grandeza de Alexandre está no seu esforço de unificar a realidade humana em todas as direções por meio da multiplicidade cultural mesclando as crenças e civilizações estabelecendo assim uma nova civilização, a helenística, que culturalmente falando se tornou moda na era romana, preservando a unidade entre educação e sensibilidade em uma tendência universalmente aceita, mas com um grande detalhe, a universalidade cultural grega seria sustentada pelas polis, as cidades-estados, sendo a mais famosa a de Alexandria no Egito, para a qual ele tinha uma visão muito ambiciosa.
É impossível calcular o número de cidades fundadas por Alexandre, é bem provável que chegue a uma centena, mas é só pelo entendimento do valor das cidades no mundo grego que é possível entender o modo operante do cidadão grego. Logo, Alexandre o conquistador mantém a estrutura básica das cidades-estados no centro da universalidade de seu vasto império como instrumento para a transmissão dos valores gregos a uma coleção tão vasta e heterogênea de sociedades.
Alexandre, moldado pelo seu grande mestre Aristóteles tem na “Cidade” a sua identificação política, pois ele entende que o homem é classificado como animal político por natureza, destinado a viver na cidade. A cidade, segundo Aristóteles, fornece a estrutura que assegura a vida humana e constitui – por natureza e em termos de valor – a condição necessária para o indivíduo, pois só quem vive na cidade pode se completar como ser racional. Portanto, deve-se acreditar que Alexandre entendia que apenas um homem da polis (políticos) pode criar leis e políticas, estar a serviço do que é certo e justo e é conduzido à felicidade como resultado para o fim último que é o bem comum da cidade.
O resultado da filosofia de Aristóteles, professor de Alexandre pode ser constatado na prosperidade e no brilho das cidades alexandrinas: o afluxo de letras, o patrocínio aos artistas para que pudessem criar suas obras de arte nelas, a criação de bibliotecas e universidades, a vida civil como modelo de boa vida se aproxima à cidade completa, autossuficiente e feliz de Aristóteles, na qual o bem-estar e os bons atos são o objetivo comum da parceria e dos cidadãos individuais.