IRACEMA:da prosa para poesia
Por IRANILDO DA SILVA TEIXEIRA | 17/05/2014 | LiteraturaIRANILDO DA SILVA TEIXEIRA
IRACEMA:DA PROSA PARA O CORDEL/UM ESTUDO DE ESTILO
SOBRAL
NOVEMBRO DE 2013
IRANILDO DA SILVA TEIXEIRA
Iracema:da prosa para o cordel/ um estudo do estilo.
Aprovado em: ___/___/___.
Nota:________________
BANCA EXAMINADORA:
____________________________________
Prof. Ms. Domênico Sávio Rocha Cavalcante
SOBRAL
2013
Iracema:da prosa para o cordel/ um estudo do estilo1
Iranildo da Silva Teixeira2
Resumo: O presente artigo propõe um estudo de análise semântica e de estilo da obra Iracema, transpassada do gênero prosa para a poesia de cordel. Faço uma comparação entre os dois gêneros que tratam da mesma temática, porém o autor do gênero em cordel muda o estilo, o vocabulário, a estrutura fonética e as variedades lingüísticas, transformando a linguagem do texto alencarino mais popular e simples para a compreensão.
Palavras-chave:Cordel; prosa; linguagem; variações; sinônimos.
1. INTRODUÇÃO
A leitura constitui-se uma das tarefas básicas propostas á educação e é fundamental para compreensão do mundo. Como dizia Jorge Luiz Borges: “A leitura obrigatória é uma coisa tão absurda quanto se falar em felicidade obrigatória”. Ou seja, ler era pra ser algo prazeroso, um tipo de lazer, porém tem sido um desafio para os professores e um fardo para os alunos á prática da leitura.
Ao ler Iracema de José de Alencar escrita em prosa e ler Iracema em cordel escrita por Gadelha, são percebidas algumas particularidades indispensáveis da obra original, como o enredo, porém resumido, os personagens, o espaço e o tempo. No entanto, ao analisar o léxico várias diferenças são encontradas como: linguagem, vocabulário, o acréscimo de palavras para adaptar as rimas, sinônimos.
1_Artigo elaborado com o objetivo de obter as notas da Avaliação Parcial II e III da disciplina Semântica do Português, ministrada pelo Professor Ms. Domênico Sávio Rocha Cavacante.
2_Acadêmico do curso de letras-Habilitação em língua portuguesa do 7º Período.
Não poderia ter uma obra melhor em prosa para ser transformada em poesia de cordel como Iracema. Obra essa que narra a vida e conta a estória de amor do fundador do nosso estado, o jovem Martim Soares Moreno com a índia tabajara Iracema, “ a virgem dos lábios de mel”.Essa obra bastante elogiada pelo o maior escritor da língua portuguesa e fundador da Academia Brasileira de Letras Machado de Assis “que definiu o livro de Alencar como um poema em prosa”(ALENCAR, 2008, p.5). Ao estudar o gênero cordel, percebo a importância desse tipo de texto principalmente para nós nordestinos, onde somos temática principal da maioria das narrativas dos cordelistas. Infelizmente não sabemos valorizar o que temos de bom, preferimos apreciar as artes de fora ou aceitar o que a mídia propõe. No geral o cordel torna-se esquecido em razão dos tempos modernos em que vivemos. Como diz Vasquez(2008, p.12):
A literatura de cordel constitui, portanto, um universo de extraordinária riqueza que, longe de se esgotar como criação “tradicional” condenada ao desaparecimento pelo desenvolvimento dos modernos meios de comunicação.
A diversidade cultural, os valores, as artes presentes no Nordeste brasileiro é muito rica e o cordel que é quase uma particularidade nossa expressa isso. A obra Iracema em cordel é um exemplo da importância desse gênero e da capacidade do nordestino de criar, essa obra também mostra o cordel como um excelente recurso didático a ser explorado em sala de aula e desenvolver o hábito da leitura nos discentes. Portanto, ler Iracema que já se constitui um poema em prosa e ler a mesma temática em cordel, sobretudo no aspecto semântico irá desenvolver no leitor a capacidade analítica de pesquisador.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. DISTINÇÃO E PARTICULARIDADES DE IRACEMA EM CORDEL E PROSA: TRAÇOS ESTILISTICOS, SEMÂNTICOS E FONÉTICOS.
A obra Iracema de José de Alencar transformada em cordel por Guethner Wirtzbiki(Gadelha do cordel) também autor cearense é um exemplo de um texto a ser estudado em sala de aula. Para isso é necessário um aprofundamento e fazer um estudo comparativo entre a mesma obra escrita em dois gêneros, poesia e prosa.
Iracema em cordel difere da obra alencarina por ser uma síntese, um resumo, porém, detalhado. É uma adaptação da prosa para poesia, no entanto com a mesma temática e os mesmos personagens.
No campo estilístico a obra em cordel apresenta outros vocábulos que dão formato rimático a obra. O autor acrescenta outras palavras, mas o sentido semântico continua o mesmo. Pois de acordo com Pierre Guiraud o “sentido não está nas palavras e sim na pessoa”( GUIRAUD, P.26), ou seja, o sentido de uma palavra ou referente depende do conhecimento de mundo de cada falante ou do conhecimento lexical que cada pessoa possui. Exemplo disso é fazer um carioca ler um artigo de um cearense que possui variações lingüísticas dos cearenses. Outro exemplo está na própria obra Iracema, onde as palavras de origem indígena como:boicininga, oitibó, ará, jurema etc fazem com que falantes desconheçam o vocabulário indígena, portanto não compreendendo. Mesmo sendo de mesma língua não irá ter sentido por não ter o conhecimento de mundo. Como diz GUIRAUD (1991, p.26):
O sentido, tal como nos é comunicado no discurso, depende das relações da palavra com as outras palavras do contexto, e tais relações são determinadas pela estrutura do sistema lingüístico.
Como os dois autores são do mesmo contexto lingüístico, a mudança lexical torna-se fácil de compreender. Há uma relação semântica nas duas obras, por conter sinônimos na linguagem.Como exemplo, é o primeiro estrofe. Vejamos a comparação dos dois primeiros parágrafos da obra, nos dois diferentes gêneros. “Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frontes da carnaúba”(ALENCAR,2008, p.15).Agora a poesia:
Ó verdes mares bravios
da minha terra natal
onde canta a jandaia
defronte ao carnaubal
daí-me força nestes versos
de uma forma especial(GADELHA. 2010, P.15).
Gadelha do cordel resume a obra, sem fugir da temática e sem retirar ou acrescentar personagens. Torna a leitura de Iracema fácil e agradável, além de tornar sua obra um belo recurso didático a se trabalhar leitura em sala de aula. Várias passagens de Iracema são marcantes e uma delas considero o encontro da índia com o português Martim, fundador do ceará. Vejamos:
Por trás de algumas folhagens
Avistou uma donzela
A tomar banho no rio
Impecável estava ela
O forasteiro a fitá-la
Constatou como era bela.( GADELHA, 2010 p. 20)
As duas obras diferem no vocábulo, estilo e fonemas, mas possuem a mesma temática e apresenta os principais acontecimentos de Iracema, porém em síntese. Como a função da linguagem é fazer as pessoas se comunicar, para haver comunicação tem que haver compreensão. Ler um livro onde contenha um léxico com alto nível de formalidade irá exigir do leitor um grande conhecimento lexical. Como afirma David Berlo: “Usamos a linguagem para exprimir e obter sentidos. É a função da linguagem” (1991, p.42). Portanto, Gadelha torna a leitura de Iracema que possuí várias palavras indígena mais fácil de compreensão. Ele tira e acrescenta palavras na obra para construir rimas sem comprometer o sentido semântico da obra em prosa. Vejamos outra comparação das duas obras:
“Por que, disse ela, o estrangeiro abandona a cabana hospitaleira sem levar o presente da volta? Quem fez mal ao guerreiro branco na terra dos tabajaras?” (ALENCAR,2008, p. 28).
Agora em cordel:
Iracema foi seguindo
O rastro do estrangeiro
Perguntou-lhe: “porque foges
Sem avisar, forasteiro?
Por acaso os tabajaras
Não são povo hospitaleiro?”(GADELHA, 2010 p.28).
Vemos que no gênero cordel o autor modifica o vocabulário para dar uma feição poética na estrofe, pois o que caracteriza esse gênero é a rima composta com sextilha. “A Sextilha é uma estrofe com rimas deslocadas, constituída de seis linhas, seis pés ou de seis versos de sete sílabas, nomes que têm a mesma significação. Na Sextilha, rimam as linhas pares entre si, conservando as demais em versos brancos”( LINHARES, Francisco). Na verdade as maiores características do cordel estão na linguagem popular, no folhetim que é no estilo xilogravura feito artesanalmente e tendo na maioria das vezes temas religiosos, fantásticos, lendas e comédias. O cordel em folhetim ou tem 8, 16, 24 ou 32 páginas e acredito que o autor de Iracema em cordel não confeccionou sua obra da forma tradicional por possuir páginas que extrapolam essa regra. Como a obra original de Alencar possui uma riqueza de conteúdo, ao ser resumido em folhetim perderia muito a qualidade do enredo.
2.2.IRACEMA UMA PROSA POÉTICA
Como já foi citado anteriormente, Machado de Assis considerou a obra Iracema uma prosa poética. Isso se deve por conter em Iracema uma sensibilidade transmitida nas palavras, no enredo e no discurso dos personagens. Exemplo disso é o encontro de Iracema e Martim ou a solidão e sofrimento da índia com seu filho Moacir no momento de abandono, onde a mesma e seu filho tem por companhia seu cachorrinho jati. O diálogo dos personagens cheio de romantismo, as alegorias presentes na obra, o contato e a exaltação da natureza, o amor entre Martim e a índia tabajara transformam a obra Iracema em um lindo poema.
Gadelha foi muito feliz em escolher transformar esta obra em poesia de cordel, pois através de uma adaptação e com uma linguagem mais popular a leitura da obra de Alencar torna-se fácil e mais agradável. As palavras, os dialetos, vocabulários de língua indígena foram explicadas por Gadelha através de sinônimos. Ele fez uma síntese, tirando e acrescentando palavras para criar rimas em sextilhas e assim explicar a estória. Tanto a obra original em prosa, quanto em cordel são essenciais para se fazer uma leitura agradável e um estudo semântico, além de ser um excelente recurso a ser usado em sala de aula.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao fazer esta pesquisa sobre o campo semântico pude reler a belíssima obra do autor cearense José Martiniano de Alencar que já se constitui uma bela poesia, porém sem rimas. Ao me deparar com a obra em cordel escrita por Gadelha, também cearense, descobri que a linguagem possui várias funções e uma delas é emocionar. A obra Iracema possui um sentimentalismo capaz de sensibilizar qualquer leitor, isto transpassado em qualquer gênero, principalmente no cordel que já possui suas próprias características de lirismo.
É interessante perceber a criatividade desse escritor em passar a obra alencarina para a poesia. Ao usar uma linguagem simples própria de um cordelista, sobretudo nordestino e explicar o vocabulário do povo indígena, Gadelha transforma a leitura de Iracema fácil e agradával. Isso mostra a criatividade do povo nordestino e que o cordel é atemporal e para toda idade, apesar da mídia padronizar o que é bom para a sociedade. Cabe a nós estudantes de letras valorizar o que é bom e nos caracteriza. O cordel não é ultrapassado e nem insignificante é arte, cultura, informação e porque não dizer entretenimento.
4. BIBLIOGRAFIA
ALENCAR, José de. IRACEMA. Editora Komedi, Campinas: 2008.
BERLO, David. O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO: introdução á teoria e a prática. Ed. Martim Fontes. S. Paulo, 1991
CORDEL, Gadelha do. IRACEMA EM CORDEL: mito fundador cearense. Expressão Gráfica Editora, Fortaleza: 2010.
.GUIRAUD, Pierre. A SEMÂNTICA. Difusão Editorial s/a S. Paulo:1991.
VASQUEZ, Pedro. O universo do cordel. Instituto cultural Banco Real, Recife-PE: 2008.
IRANILDO DA SILVA TEIXEIRA
IRACEMA:DA PROSA PARA O CORDEL/UM ESTUDO DE ESTILO
SOBRAL
NOVEMBRO DE 2013
IRANILDO DA SILVA TEIXEIRA
Iracema:da prosa para o cordel/ um estudo do estilo.
Aprovado em: ___/___/___.
Nota:________________
BANCA EXAMINADORA:
____________________________________
Prof. Ms. Domênico Sávio Rocha Cavalcante
SOBRAL
2013
Iracema:da prosa para o cordel/ um estudo do estilo1
Iranildo da Silva Teixeira2
Resumo: O presente artigo propõe um estudo de análise semântica e de estilo da obra Iracema, transpassada do gênero prosa para a poesia de cordel. Faço uma comparação entre os dois gêneros que tratam da mesma temática, porém o autor do gênero em cordel muda o estilo, o vocabulário, a estrutura fonética e as variedades lingüísticas, transformando a linguagem do texto alencarino mais popular e simples para a compreensão.
Palavras-chave:Cordel; prosa; linguagem; variações; sinônimos.
1. INTRODUÇÃO
A leitura constitui-se uma das tarefas básicas propostas á educação e é fundamental para compreensão do mundo. Como dizia Jorge Luiz Borges: “A leitura obrigatória é uma coisa tão absurda quanto se falar em felicidade obrigatória”. Ou seja, ler era pra ser algo prazeroso, um tipo de lazer, porém tem sido um desafio para os professores e um fardo para os alunos á prática da leitura.
Ao ler Iracema de José de Alencar escrita em prosa e ler Iracema em cordel escrita por Gadelha, são percebidas algumas particularidades indispensáveis da obra original, como o enredo, porém resumido, os personagens, o espaço e o tempo. No entanto, ao analisar o léxico várias diferenças são encontradas como: linguagem, vocabulário, o acréscimo de palavras para adaptar as rimas, sinônimos.
1_Artigo elaborado com o objetivo de obter as notas da Avaliação Parcial II e III da disciplina Semântica do Português, ministrada pelo Professor Ms. Domênico Sávio Rocha Cavacante.
2_Acadêmico do curso de letras-Habilitação em língua portuguesa do 7º Período.
Não poderia ter uma obra melhor em prosa para ser transformada em poesia de cordel como Iracema. Obra essa que narra a vida e conta a estória de amor do fundador do nosso estado, o jovem Martim Soares Moreno com a índia tabajara Iracema, “ a virgem dos lábios de mel”.Essa obra bastante elogiada pelo o maior escritor da língua portuguesa e fundador da Academia Brasileira de Letras Machado de Assis “que definiu o livro de Alencar como um poema em prosa”(ALENCAR, 2008, p.5). Ao estudar o gênero cordel, percebo a importância desse tipo de texto principalmente para nós nordestinos, onde somos temática principal da maioria das narrativas dos cordelistas. Infelizmente não sabemos valorizar o que temos de bom, preferimos apreciar as artes de fora ou aceitar o que a mídia propõe. No geral o cordel torna-se esquecido em razão dos tempos modernos em que vivemos. Como diz Vasquez(2008, p.12):
A literatura de cordel constitui, portanto, um universo de extraordinária riqueza que, longe de se esgotar como criação “tradicional” condenada ao desaparecimento pelo desenvolvimento dos modernos meios de comunicação.
A diversidade cultural, os valores, as artes presentes no Nordeste brasileiro é muito rica e o cordel que é quase uma particularidade nossa expressa isso. A obra Iracema em cordel é um exemplo da importância desse gênero e da capacidade do nordestino de criar, essa obra também mostra o cordel como um excelente recurso didático a ser explorado em sala de aula e desenvolver o hábito da leitura nos discentes. Portanto, ler Iracema que já se constitui um poema em prosa e ler a mesma temática em cordel, sobretudo no aspecto semântico irá desenvolver no leitor a capacidade analítica de pesquisador.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. DISTINÇÃO E PARTICULARIDADES DE IRACEMA EM CORDEL E PROSA: TRAÇOS ESTILISTICOS, SEMÂNTICOS E FONÉTICOS.
A obra Iracema de José de Alencar transformada em cordel por Guethner Wirtzbiki(Gadelha do cordel) também autor cearense é um exemplo de um texto a ser estudado em sala de aula. Para isso é necessário um aprofundamento e fazer um estudo comparativo entre a mesma obra escrita em dois gêneros, poesia e prosa.
Iracema em cordel difere da obra alencarina por ser uma síntese, um resumo, porém, detalhado. É uma adaptação da prosa para poesia, no entanto com a mesma temática e os mesmos personagens.
No campo estilístico a obra em cordel apresenta outros vocábulos que dão formato rimático a obra. O autor acrescenta outras palavras, mas o sentido semântico continua o mesmo. Pois de acordo com Pierre Guiraud o “sentido não está nas palavras e sim na pessoa”( GUIRAUD, P.26), ou seja, o sentido de uma palavra ou referente depende do conhecimento de mundo de cada falante ou do conhecimento lexical que cada pessoa possui. Exemplo disso é fazer um carioca ler um artigo de um cearense que possui variações lingüísticas dos cearenses. Outro exemplo está na própria obra Iracema, onde as palavras de origem indígena como:boicininga, oitibó, ará, jurema etc fazem com que falantes desconheçam o vocabulário indígena, portanto não compreendendo. Mesmo sendo de mesma língua não irá ter sentido por não ter o conhecimento de mundo. Como diz GUIRAUD (1991, p.26):
O sentido, tal como nos é comunicado no discurso, depende das relações da palavra com as outras palavras do contexto, e tais relações são determinadas pela estrutura do sistema lingüístico.
Como os dois autores são do mesmo contexto lingüístico, a mudança lexical torna-se fácil de compreender. Há uma relação semântica nas duas obras, por conter sinônimos na linguagem.Como exemplo, é o primeiro estrofe. Vejamos a comparação dos dois primeiros parágrafos da obra, nos dois diferentes gêneros. “Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frontes da carnaúba”(ALENCAR,2008, p.15).Agora a poesia:
Ó verdes mares bravios
da minha terra natal
onde canta a jandaia
defronte ao carnaubal
daí-me força nestes versos
de uma forma especial(GADELHA. 2010, P.15).
Gadelha do cordel resume a obra, sem fugir da temática e sem retirar ou acrescentar personagens. Torna a leitura de Iracema fácil e agradável, além de tornar sua obra um belo recurso didático a se trabalhar leitura em sala de aula. Várias passagens de Iracema são marcantes e uma delas considero o encontro da índia com o português Martim, fundador do ceará. Vejamos:
Por trás de algumas folhagens
Avistou uma donzela
A tomar banho no rio
Impecável estava ela
O forasteiro a fitá-la
Constatou como era bela.( GADELHA, 2010 p. 20)
As duas obras diferem no vocábulo, estilo e fonemas, mas possuem a mesma temática e apresenta os principais acontecimentos de Iracema, porém em síntese. Como a função da linguagem é fazer as pessoas se comunicar, para haver comunicação tem que haver compreensão. Ler um livro onde contenha um léxico com alto nível de formalidade irá exigir do leitor um grande conhecimento lexical. Como afirma David Berlo: “Usamos a linguagem para exprimir e obter sentidos. É a função da linguagem” (1991, p.42). Portanto, Gadelha torna a leitura de Iracema que possuí várias palavras indígena mais fácil de compreensão. Ele tira e acrescenta palavras na obra para construir rimas sem comprometer o sentido semântico da obra em prosa. Vejamos outra comparação das duas obras:
“Por que, disse ela, o estrangeiro abandona a cabana hospitaleira sem levar o presente da volta? Quem fez mal ao guerreiro branco na terra dos tabajaras?” (ALENCAR,2008, p. 28).
Agora em cordel:
Iracema foi seguindo
O rastro do estrangeiro
Perguntou-lhe: “porque foges
Sem avisar, forasteiro?
Por acaso os tabajaras
Não são povo hospitaleiro?”(GADELHA, 2010 p.28).
Vemos que no gênero cordel o autor modifica o vocabulário para dar uma feição poética na estrofe, pois o que caracteriza esse gênero é a rima composta com sextilha. “A Sextilha é uma estrofe com rimas deslocadas, constituída de seis linhas, seis pés ou de seis versos de sete sílabas, nomes que têm a mesma significação. Na Sextilha, rimam as linhas pares entre si, conservando as demais em versos brancos”( LINHARES, Francisco). Na verdade as maiores características do cordel estão na linguagem popular, no folhetim que é no estilo xilogravura feito artesanalmente e tendo na maioria das vezes temas religiosos, fantásticos, lendas e comédias. O cordel em folhetim ou tem 8, 16, 24 ou 32 páginas e acredito que o autor de Iracema em cordel não confeccionou sua obra da forma tradicional por possuir páginas que extrapolam essa regra. Como a obra original de Alencar possui uma riqueza de conteúdo, ao ser resumido em folhetim perderia muito a qualidade do enredo.
2.2.IRACEMA UMA PROSA POÉTICA
Como já foi citado anteriormente, Machado de Assis considerou a obra Iracema uma prosa poética. Isso se deve por conter em Iracema uma sensibilidade transmitida nas palavras, no enredo e no discurso dos personagens. Exemplo disso é o encontro de Iracema e Martim ou a solidão e sofrimento da índia com seu filho Moacir no momento de abandono, onde a mesma e seu filho tem por companhia seu cachorrinho jati. O diálogo dos personagens cheio de romantismo, as alegorias presentes na obra, o contato e a exaltação da natureza, o amor entre Martim e a índia tabajara transformam a obra Iracema em um lindo poema.
Gadelha foi muito feliz em escolher transformar esta obra em poesia de cordel, pois através de uma adaptação e com uma linguagem mais popular a leitura da obra de Alencar torna-se fácil e mais agradável. As palavras, os dialetos, vocabulários de língua indígena foram explicadas por Gadelha através de sinônimos. Ele fez uma síntese, tirando e acrescentando palavras para criar rimas em sextilhas e assim explicar a estória. Tanto a obra original em prosa, quanto em cordel são essenciais para se fazer uma leitura agradável e um estudo semântico, além de ser um excelente recurso a ser usado em sala de aula.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao fazer esta pesquisa sobre o campo semântico pude reler a belíssima obra do autor cearense José Martiniano de Alencar que já se constitui uma bela poesia, porém sem rimas. Ao me deparar com a obra em cordel escrita por Gadelha, também cearense, descobri que a linguagem possui várias funções e uma delas é emocionar. A obra Iracema possui um sentimentalismo capaz de sensibilizar qualquer leitor, isto transpassado em qualquer gênero, principalmente no cordel que já possui suas próprias características de lirismo.
É interessante perceber a criatividade desse escritor em passar a obra alencarina para a poesia. Ao usar uma linguagem simples própria de um cordelista, sobretudo nordestino e explicar o vocabulário do povo indígena, Gadelha transforma a leitura de Iracema fácil e agradával. Isso mostra a criatividade do povo nordestino e que o cordel é atemporal e para toda idade, apesar da mídia padronizar o que é bom para a sociedade. Cabe a nós estudantes de letras valorizar o que é bom e nos caracteriza. O cordel não é ultrapassado e nem insignificante é arte, cultura, informação e porque não dizer entretenimento.
4. BIBLIOGRAFIA
ALENCAR, José de. IRACEMA. Editora Komedi, Campinas: 2008.
BERLO, David. O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO: introdução á teoria e a prática. Ed. Martim Fontes. S. Paulo, 1991
CORDEL, Gadelha do. IRACEMA EM CORDEL: mito fundador cearense. Expressão Gráfica Editora, Fortaleza: 2010.
.GUIRAUD, Pierre. A SEMÂNTICA. Difusão Editorial s/a S. Paulo:1991.
VASQUEZ, Pedro. O universo do cordel. Instituto cultural Banco Real, Recife-PE: 2008.