Irã e Rússia: As Ameaças dos Dois Orientes

Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho | 04/10/2024 | Política

Nos últimos dias, a escalada de tensões no Oriente Médio alcançou níveis de um alerta mundial. Mas, se considerarmos apenas a criação de Israel, geograficamente situado na maior parte da então Palestina sob mandato britânico, podemos entender o imbróglio atual. 

Obviamente, as potências vencedoras de Segunda Guerra Mundial sabiam que a população palestina jamais aceitaria perder seu país, em razão do que quer que fosse. Por isso, após a instituição de Israel pela ONU, várias guerras se travaram, para forçar a desocupação da Palestina: a Guerra de Independência de Israel (que fora atacado por Líbano, Síria, Transjordânia, Iraque, Arábia Saudita e Egito, de modo a resultar num grande aumento do território israelense, e na consequente criação da Cisjordânia e na tomada, desta e de Jerusalém Oriental, pela Transjordânia, e no estabelecimento da Faixa de Gaza, anexada pelo Egito), a Guerra do Canal de Suez (que teve contornos mais econômicos que da Questão Palestina em si, e ao final da qual Israel ocupou a egípcia Península do Sinai), a Guerra dos Seis Dias (com a resultante juntada forçosa, ao território israelense, da Cisjordânia, Jerusalém Oriental, Faixa de Gaza e Colinas de Golã, estas então pertencentes à Síria), e Guerra do Yom Kippur (em que Síria e Egito atacaram Israel, com o objetivo de retomarem a Península do Sinai, a Faixa de Gaza e as Colinas de Golã, sob domínio israelense desde a Guerra dos Seis Dias). As outras guerras, até logo depois dos ataques de 07 de Outubro de 2023, foram informais.

E é neste vácuo de seguidas derrotas militares dos Estados árabes que foram surgindo, por ocasião das mesmas, organizações como a OLP (Organização para a Libertação da Palestina), de Yasser Arafat, a FPLP (Frente Popular para a Libertação da Palestina, um braço da OLP, da qual participou, inclusive, o terrorista venezuelano Ilich Ramírez Sánchez, conhecido como “Carlos, o Chacal”, décadas antes de seu país aderir ao sistema socialista) e outras, cujos atentados contra o Estado Judeu marcaram época.  E muitas destas organizações, apareceram na informalidade, e, baseadas em países como o Líbano, a Síria e o território da Faixa de Gaza (de cujo área Israel havia anteriormente se retirado) passaram a ser financiadas pelo Irã, que até 1979 mantinha relações diplomáticas e comerciais normais com Israel: a partir de então, com sua Revolução Islâmica, os aiatolás sobem ao Poder, e grupos como o Hezbollah (controlador do Sul do Líbano), o Hamas e a Jihad Islâmica (nascentes na Faixa de Gaza, sendo que o Hamas atualmente a governa, ao passo que a Cisjordânia, também já desocupada por Israel, é controlada pelo Fatah), passaram a ter condições militares suficientes para declararem guerra. Inclusive a Israel, motivo pelo qual os hebreus já invadiram o sul do Líbano diversas vezes, desde o início da década de 1980, a fim de erradicar o Hezbollah, assim como já o fizeram, antes, e agora fazem na Faixa de Gaza, para pôr fim ao Hamas.

Tecidas essas considerações, vamos aos aspectos militares da atualidade: se esses grupos podem confrontar Israel de uma forma tão contundente, o alerta mundial se deu pelo lançamento, contra Israel e na última semana, de um míssil balístico por parte do Hezbollah, bem como um ataque maciço, com mais de cem mísseis, provindos do Irã. Senhores, um míssil balístico, dependendo de sua capacidade, pode levar uma ogiva nuclear, que até agora somente não foi usada pelo Irã porque, no começo da década de 1980, a Força Aérea de Israel destruiu as usinas persas de fabricação de materiais nucleares. Hoje isso não seria mais possível, eis que não somente o contexto de agressividade naquela região, mas também a geopolítica da Europa Oriental não admitem: nesta última Assembleia Geral da ONU, o presidente da Ucrânia, Volodymir Zelensky, alertou que seus serviços de inteligência detectaram a intenção do ditador russo, Vladimir Putin, de explodir suas usinas nucleares, a fim de cortar o fornecimento de energia nuclear dentro de toda a Ucrânia. 

A explosão de usinas nucleares, consideradas das maiores do mundo, seria uma catástrofe mundial, com o vazamento de radioatividade, contaminadora da atmosfera, em níveis superiores, mesmo, às bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki. Portanto, se Israel fizer algo similar, como o fez na década de 1980, não seria diferente. Os próprios EUA têm ciência disso, ainda mais na iminência da vitória da candidata presidencial Kamala Harris, do Partido Democrata, que quer “limites” ao conflito árabe-israelense, ou a uma eventual guerra persa-israelense, que nunca se materializou, direta ou formalmente. 

Por isso, a fim de não criar um precedente que autorizaria, implícita e politicamente, Vladimir Putin a fazer algo similar na Ucrânia, os EUA não apoiariam dito ataque preventivo de Israel (que não considerada a liderança dos EUA para nada, esta é que é a verdade), embora também não viessem a condená-lo, já que vendedores de bilhões em armas ao Estado Judeu.

Então, creio que, futuramente, os EUA venham a considerar, como únicos modos de frear o Irã, a formação de um Estado Binacional e armar a Arábia Saudita, majoritariamente sunita (ao passo que o Irã é xiita). Afinal, ambos são rivais no pretendido controle de forças na região, tanto que os sauditas, aliados dos EUA e hoje não mais tão hostis a Israel, tem interferido na Guerra Civil do Iêmen, cujo governo atual, hostil à Arábia, não passa de um ventríloquo do Irã. 

Com a interferência e crescente influência da Arábia Saudita, contumaz vendedora de petróleo aos EUA a preços módicos, a influência iraniana tende a diminuir. O que não se espera é que Netanyahu, já um assassino, seja um novo Vladimir Putin.

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