Invenção da infância como fenômeno social

Por Melissa Andrade Trinchão | 16/09/2018 | Educação

Introdução

A partir do momento em que a sociedade começou a olhar com mais atenção para as nossas crianças, foram desenvolvidos projetos para ampará-las assim como a compreensão do que é Ser Criança.

O trabalho a seguir é baseado nos estudos sobre a invenção da infância como fenômeno social, o Plano Nacional pela Primeira Infância, assim como a importância de ouvir seus anseios, suas brincadeiras e efetivar sua participação na sociedade complementando com exemplos efetivos de modelos de educação italiana.

Contudo é de grande importância também o destaque aos atuais estudos em cima do tema sobre desaparecimento da infância.

Assuntos pertinentes para a formação com excelência de professores que lidam com crianças e adolescentes em fases diferentes, assim podendo agregar valor em seu desenvolvimento. Pois a educação é dinâmica e deve acompanhar as mudanças na sociedade, a exemplo da disseminação do acesso à internet.

 

Desenvolvimento

A infância não pode ser vista apenas com “romantismo”, pois socialmente se distingue. Partindo dessa ideia, a infância às crianças é brincar e ir para a escola; porém na realidade existem diferentes sociedades onde as mudanças no mercado de trabalho impactam em sua criação, fazendo vivenciar infâncias diferentes. Um exemplo são crianças que estudam em colégios particulares, podendo brincar e estudar no período da tarde e, outro são crianças que precisam trabalhar para ajudar no sustento da família e, ocasionalmente conseguem estudar.

Um dado relevante para o atual trabalho é o marco do Plano Nacional pela Primeira Infância que foi em maio de 2002 realizada na 27ª Sessão Especial da Assembleia das Nações Unidas.

A proposta desse Plano foi focar na primeira infância com a relevância aos seis primeiros anos de vida, pois essa fase constitui uma etapa da vida com sentido e conteúdo próprios intransferível para outras idades e sedimentada na adolescência. Dessa maneira são criadas diretrizes para nortear os pais, educadores e todos os envolvidos para uma formação mais adequada e acolhedora para nossas crianças e adolescentes.

Outro item a considerar é a importância da escuta, criando uma abertura para uma conversa e deixando com que elas desenvolvam suas ideias e, consigam expor seus sonhos e medos, podemos fazer uma viagem ao território da infância. As crianças têm sido colocadas na posição de quem só escuta e não no lugar de quem fala. Ela pensa com seus sentimentos, não com sua inteligência e, é importante esse esforço por parte daqueles que estão participando da sua formação intelectual e cognitiva – seja a família, seja o professor. O saber ouvir é algo tão rico que devemos dar a devida atenção, pois os saberes escoados não são obtidos apenas dos ensinamentos em sala de aula, mas também podem ser construídos a partir dos saberes com as relações delas com os adultos que fazem parte do seu dia a dia.

Observando as crianças, adentramos no universo infantil e esse processo é complementado com as brincadeiras. O ato de brincar, a liberdade de expressão nas brincadeiras, a criança não nasce sabendo brincar, ela precisa aprender através de interações com outras crianças: organizar os brinquedos, detectar diferentes texturas, sons e cores, regras em jogos entre outros itens que faz com que ocorra a sua socialização.

Quando brincam, as crianças descobrem sentidos atribuídos às coisas e, assim, o exercício de criar, o desenvolvimento da imaginação é potencializado. Esse “faz de conta” revela um trabalho mental intenso, no qual tudo que é imaginado é concebido por ela. (CARVALHO, PEDROSA E FERREIRA, 2012).

Participar de jogos, de debates, de decisões, participação com suas ideias e propostas de melhorias para os projetos de arquitetura, entre outras formas de expor seu modo de pensar e agir, faz com que elas desenvolvam o senso crítico e consequentemente adultos seguros.

Um ato errôneo de muitos adultos é a omissão de informações para as crianças, com o objetivo de proteção. Porém é um equívoco, pois quanto mais as crianças participarem e terem informações pertinentes sobre determinados temas, mais elas estarão seguras e poderão se defender.

Essa abordagem de participação, o acolhimento e interpretação da complexidade da vida das crianças é destaque na escola italiana. É caracterizada por uma abordagem pedagógica e antropológica que trata a centralidade da criança que aprende, deixando-a participar, criar, construir seus saberes e desenvolver seus dons.

Criança é um indivíduo em potencial, então se observar a criança teremos respostas para o currículo pedagógico. Pois criança traz muita informação, e isso sempre foi defendido pelo pedagogo Loris Malaguzzi, onde afirmava que a criança deve ser ouvida, desenvolver a pedagogia da escuta, criar a programação pedagógica por meio de campos de experiências e respeitar a realidade das crianças.

Infelizmente, em contrapartida é crescente um aspecto que a sociedade herda do avanço da proliferação das mídias, a correria da vida atual por parte dos pais entre outras evidências da modernidade, que é o desaparecimento da infância.

Estudos apontam que os meios de comunicação promovem a extinção da infância por vários indicadores, como exibir crianças como mini adultos (a chamada “adultificação”), comerciais como o McDonald's não fazerem distinção de idade para suas campanhas, entre outros itens.

A internet e redes sociais tornaram parte do cotidiano das crianças e adolescentes, pela facilidade de acesso (ver quando e como quer). Assim, as fantasias tornam forma com a internet e, isso faz com que as crianças pulem etapas essenciais para sua formação. Sem contar os perigos presentes nas redes sociais, a erotização, uso do álcool e de drogas.

Interessante apontar que Neil Postman (1931-2003) um dos mais importantes teóricos da comunicação já tinha feito apontamentos sobre todo esse excesso da exposição da criança, bem antes de todo esse impacto na sociedade. Ele foi um visionário!

Por fim faço um convite para a seguinte reflexão: “O fim da infância é o fim do nosso futuro”.

 

Considerações finais

Em virtude dos temas abordados nas aulas e nos seminários sobre a concepção e invenção da infância, assim como todo o percurso dos debates sobre a escuta, a participação da criança, modelos participativos das crianças no currículo pedagógico entre outros indicadores, a disciplina contribuiu de forma significativa para como trabalho com meus alunos na faixa dos seis aos quinze anos.

Onde pude conhecer uma forma mais democrática, mais humana com a ampliação dos meus saberes pedagógicos e agregar de forma impactante valores para meus novos conhecimentos. Pois a infância muda conforme mudam os valores, a sociedade e todos os elementos que fazem parte da formação das crianças e, nós professores devemos acompanhar essas mudanças de forma que ainda mantenhamos a inocência das mesmas e, participar de forma ativa na construção de seus valores, de suas habilidades e competências. O papel do professor nessa “avalanche” de informações é de grande importância e, nunca podemos perder a esperança e o foco.

Referências bibliográficas e referências de vídeos:

BARBOSA, M. C. S. Culturas infantis: contribuições e reflexões. Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v. 14, n. 43, p. 645-667, 2014.

CARVALHO, A. M. A.; PEDROSA, M. I.; ROSSETTI-FERREIRA, M. C. Brincar, Aprender, Ensinar. CARVALHO, A. M. A.; PEDROSA, M. I.; ROSSETTI-FERREIRA, M. C. Aprendendo com a criança de zero a seis anos. São Paulo: Cortez, 2012.

CARVALHO, R. S. de.; SILVA, A. P. S. da. A participação infantil em foco: uma entrevista com Natália Fernandes.

POSTMAN, N. O adulto-criança. In: POSTMAN, N. O desaparecimento da infância. Rio de Janeiro: Graphia, 1999.

POSTMAN, N. A criança em extinção. In: POSTMAN, N. O desaparecimento da infância. Rio de Janeiro: Graphia, 1999.

KISHIMOTO, T. M. Brinquedos e Brincadeiras na Educação Infantil. Anais do I Seminário Nacional: Currículo em Movimento. Perspectivas Atuais. Belo Horizonte, novembro de 2010.

A invenção da infância -https://www.youtube.com/watch?v=c0L82N1C7AQ . Acesso em 25 de abril de 2018

Como garantir uma infância plena?: https://www.youtube.com/watch?v=p6UtbpCKurY. Acesso em 27 de abril de 2018.

Linguagens na EI – Conhecendo Reggio Emilia. https://www.youtube.com/watch?v=vEnTD8wOZz4&t=155s. Acesso em 29 de abril de 2018

O olhar e a voz das crianças nos projetos de arquitetura: https://www.youtube.com/watch?v=Gt2mb48RVK8. Acesso em 29 de abril de 2018

Plano Nacional pela Primeira Infância (páginas: 21-31; 116-118; 126-129) http://primeirainfancia.org.br/wp-content/uploads/2015/01/PNPI-Completo.pdf. Acesso em 29 de abril de 2018

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