INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA DIMENSÃO EDUCATIVA DA AFETIVIDADE: A PERCEPÇAO DA AFETIVIDADE EM ESCOLA PÚBLICA DE SOBRAL CE

Por Emanuel Alisson Damasceno | 30/09/2015 | Educação

Introdução

O presente trabalho mostrará uma análise sobre afetividade no trabalho dos professores e alunos de uma escola “X ”, no município de Sobral CE. Explora as manifestações ou ausências de afeto presente no ambiente escolar e seus efeitos no desenvolvimento dos alunos.

Segundo o dicionário Aurélio (1994), explica que a palavra afeto vem do latim afetar (afetar, tocar) e constitui o psíquico que se manifesta em sentimentos e paixões, acompanhados sempre da impressão de dor, insatisfação, de agrado, desagrado, de alegria ou tristeza.

Para entender a contribuição da afetividade na formação educacional este estudo fundamenta-se nas teorias de Wallon, Piaget, Vigotsky e Marchand. Estudiosos estes direcionam parte de seus conhecimentos para essa temática ao longo de suas vidas.

A afetividade é um tema central na obra de Henri Wallon (1998), mas sua teoria não se encontra sistematizada como um conjunto de conhecimentos para organizado. Em sua opinião, ela se desenvolve, podendo ser identificada, em duas etapas, sendo a primeira de base orgânica (sensibilidade interoceptivas) , e a outra de base mais social (sensibilidade ao outro ).

A grande importância de se desenvolver a presente pesquisa é encontrar respostas que mostre o quanto a afetividade é fundamental na relação professor-aluno. A fim de detectar seus pontos fortes e fracos e ameaças que faz com que esse seus dois pilares fundamentais na construção  da sociedade não consigam  se entender.

A temática em questão traz consigo a afetividade como ferramenta educativa, visto que ele é necessário na formação de pessoas felizes, éticas, seguras e capazes de conviver com o mundo que cerca.

Para Morales (1998; 61) a conduta do professor influi sobre a motivação, afetividade e dedicação do aluno ao aprendizado. Podemos reafirmar que o aluno se vê influenciada por usa percepção em relação ao professor. O mesmo deve sempre reforçar a autoconfiança dos alunos, manterem sempre uma atitude de cordialidade e de respeito.

Neste sentido, é possível concluir que a afetividade não se limita apenas as manifestações de carinho físico, mas sim ela presente na postura do professor norteando sua conduta. E sendo referência para os alunos.

Nesta pesquisa busquei compreender a contribuição que estas manifestações de afeto oferecem no desenvolvimento dos educandos.

O objetivo geral desta pesquisa é compreender a importância da afetividade no trabalho dos professores. Os objetivos são detalhados da seguinte forma:

a)    Analisar se existe no educador o interesse de desenvolver afetividade nos momentos de interação do grupo.

b)    Identificar se a escola valoriza a temática do afeto e como isso ocorre efetivamente;

c)    Identificar as atividades desenvolvidas pelo professor que enfocam a afetividade na escola.

d)     Compreender se a forma como  o professor lida com os alunos desenvolve ou reprimi a boa conduta e habilidade do aluno.

Quando não existe uma relação entre professor e o aluno, uma relação sólida alicerçada entre autonomia, sensibilidade, dedicação profissional, pode vir desequilibrar toda a estrutura emocional de ambas as partes acarretando em prejuízos no processo de aprendizagem.

2. Referencial Teórico

Para esta investigação fez-se uma análise sobre o tema, objetivando fundamentar os conceitos que se deseja discutir. Na busca de desenvolver um trabalho sobre o tema a percepção da afetividade no processo educativo é preciso levar em conta o pensamento de Rossini (2002) quando afirma que “as crianças devem ter oportunidade de desenvolver sua afetividade”. E preciso dar-lhe condições para seu emocional floresça, se expanda, ganhe espaço.

[...] A falta de afetividade leva a rejeição aos livros a carência de motivação para a aprendizagem; ausência de vontade de crescer.

Wallon considera o desenvolvimento da pessoa completa e integrada ao meio em que está imersa, com seus aspectos afetivo, cognitivo e motor. Ou seja, a pessoa é vista como conjunto funcional resultante da integração de suas dimensões, cujo desenvolvimento se dá predominantemente o social o social.

Wallon esclarece a ligação entre emoção e atividade motora. Segundo ele, a emoção é um estádio da evolução psíquica que corresponde a um período mais tardio da evolução humana. (Wallon, 1971, p.262).

Ele distingue emoção e afetividade, porque emoção é uma manifestação de estado subjetivo com componentes orgânicos. Por exemplo, fome, choro, desconforto são sentidas e comunicadas através de choro ou algum desconforto. É um sentimento que tem papel preponderante no desenvolvimento da pessoa. É por meio dela que o aluno exterioriza seus desejos e suas vontades. Essa manifestação é extremamente importante. Mas não é estimulada pelo ensino tradicional.

A afetividade tem uma concepção mais ampla, pois envolve uma gama maior de manifestações tem papel fundamental no decorrer do desenvolvimento do individuo, e engloba sentimentos de origem psicológica e emoções de origem biológica. Ela ocorre num período mais tardio, na evolução da criança, quando surgem os elementos simbólicos. Com o surgimento destes elementos ocorre a transformação das emoções em sentimentos. O sentimento e a paixao são manifestações afetivas estimuladora da atividade psíquica. São os desejos, as interações e os motivos que vão mobilizar a criança na seleção de atividades e objetivos. Para Wallon (1978), o conhecimento do mundo objetivo é feito de modo sensível e reflexivo, envolvendo o sentir, o pensar, o sonhar e o imaginar.

Dantas afirma que, para o autor, é a atividade que :

“Realiza a transição entre o estado orgânico do ser e a sua etapa cognitiva, racional, que só pode ser atingida através da mediação cultural, isto é, social. A consciência afetiva é a forma pela qual o psiquismo emerge da vida orgânica: corresponde a sua primeira manifestação. Pelo vinculo imediato que se instaura com o ambiente social, ela garante o acesso ao universo simbólico da cultura, elaborado e acumulado pelos homens ao longo de sua história. Dessa forma é ela que permitirá a tomada dos instrumentos com os quais trabalha a atividade cognitiva. Neste sentido, ela lhe dá origem” (Dantas, 1992, p.85)

A dimensão afetiva, que é de fundamental importância para Wallon, seja do ponto de vista da construção da pessoa como do ponto de vista do conhecimento, sendo, portanto marcante para o desenvolvimento da espécie humana que se manifesta a partir do nascimento e estende-se pelo primeiro ano de vida da criança. Wallon explica que uma criança normal, quando já está se relacionando bem com o seu meio ambiente, em particular com sua mãe, sente necessidade de ser objeto de manifestações afetivas para que, assim, seu desenvolvimento biológico seja perfeitamente normal (Wallon apud Dantas, 1992.p85.).

Wallon dividiu o desenvolvimento infantil em estágios. Onde em cada etapa a criança estabelece um tipo de interação, tanto com o meio humano como no físico. A apresentando constante entrelaçamento entre os aspectos afetivos e cognitivos. No terceiro ano de vida, acontece uma reviravolta nas condutas da criança e nas suas relações com o meio, o qual é de suma importância para a existência da criança e que Wallon acredita haver desde o período fetal, prolongando se além do nascimento. É nesta fase  que se iniciam os conflitos interpessoais, onde a criança opõe-se a tudo que julga diferente dela, que venha de outro. O conflito eu- outro não é exclusivo do estágio da formação do eu, que o autor chamou de personalista; pois surgirá uma nova crise de oposição no período da adolescência, crise  essa necessária para a reconstrução da personalidade, sendo em sua opinião, um importante recurso para a diferenciação do eu.

Assim, vemos que para Wallon, a afetividade, além de ser umas das dimensões da pessoa, é uma das fases mais antigas do desenvolvimento, pois o homem logo que deixou de ser puramente orgânico passou a ser afetivo e, da afetividade, lentamente passou para a vida racional. Nesse sentido, a afetividade e inteligência se misturam, havendo o predomínio da primeira e, mesmo havendo logo uma diferenciação entre as duas, haverá uma permanente reciprocidade entre elas. “(...) a afetividade, para evoluir, de conquistas realizadas da inteligência, e vice-versa” (Dantas, 1992,p.90)

Quando a criança está na idade da escola maternal, dos três aos cinco anos, sua maneira de agir vai corresponder a princípios afirmados em etapas anteriores tal como descritas por Wallon, princípios esses necessários para evitar crises penosas na qual a maturação da criança, o eu psicobiológico podem fazê-la passar. Para o autor, é na escola maternal, que a criança começa a se emancipar da vida familiar. Nesse período, é necessário disciplina para que a criança seja feliz, uma disciplina de ordem maternal, diferente da que virá receber mais tarde na escola. É necessário, também, que haja relações desenvolvendo, na criança, o espírito de cooperação e solidariedade através das tentativas de trabalho em equipe. “No caso criança, no qual entre ela e o objeto a conhecer existe um mediador, geralmente na pessoa de um adulto, que ensina a calidez da veiculação afetiva entre eles cataliza poderosamente a reação que resulta na apreensão do objeto pelo sujeito”. (Dantas, 1997, p.68).

Afirma Vygotsky (1998), que as emoções “isolam-se cada vez mais do reino dos instintos e se deslocam para um plano totalmente novo”. Ao assumir uma perspectiva de desenvolvimento para as emoções, destaca-se que não há uma redução ou desaparecimento das mesmas, mas na verdade, sugere que existe um deslocamento para o plano do simbólico, da significação e do sentido.

Admite que a manifestação inicial da emoção parte da herança biológica, mas junto com outras funções psicológicas, nas interações sociais, ela perde seu caráter instintivo para dar lugar a um nível mais complexo de atuação do ser humano. Consciente e autodeterminado. Traz um enfoque histórico – Cultural, afirmando que “a atividade humana é explicada com referencia a influencias sociais e culturais pela reconstituição de seu desenvolvimento histórico na filogenia e na ontogenia” (apud Van Der &Valsiner, 1996,p 386). Isso não implica que Vygotsky descarte os argumentos das explicações mecanicistas e biológicas, mas mostra a necessidade de submetê-la à análise histórico-social, para tratar dos processos psicológicos superiores. Van Der Veer & Valsiner (1996) destacam que Vygotsky “tentou mostrar que a criança incorpora instrumentos culturais através da linguagem e que, portanto, os processos psicológicos afetivos e cognitivos da criança são determinados, em última instância, por seu ambiente social e cultural” (p.386).

Neste sentido Vygotsky defende que uma abordagem ancorada puramente nos processos corporais, além de ignorar as qualidades superiores das emoções, única e exclusivamente humanas, também não considera as transformações qualitativas que sofrem ao longo do desenvolvimento. Além disso, as contribuições está em harmonia com a própria distinção que faz entre processos psicológicos superiores e inferiores  e sua concepção de desenvolvimento cognitivo. Defende que as emoções não deixam de existir, mas evoluem para o universo do simbólico, entrelaçando com os processos cognitivos.

Neste sentido também entende as emoções numa perspectiva genética e de desenvolvimento. Para ele, á medida que o individuo se desenvolve as emoções vão encontrando formas de expressões mais complexa através do corpo, com conquistas com aquisição da marcha, da linguagem oral, da intencionalidade, da capacidade de representação, etc. Vai ganhando maior enriquecimento e complexidade nas maneiras de expressão. Surgem novas (palavras e idéias) além do contato corporal. As conquistas intelectuais são incorporadas à afetividade, dando-lhe um caráter eminentemente cognitivo (Dantas, 1992; Pinheiro, 1995; Galvão, 1996). Podemos perceber que tanto Wallon como Vygotsky, têm muitos pontos em comum, no que se refere à afetividade. Ambos assumem seu caráter social e tem uma abordagem de manifestações emocionais, portanto de caráter orgânico, vão ganhando complexidade, passando atuar no universo simbólico. Dessa maneira, ampliam-se as formas de manifestações, constituindo os fenômenos afetivos. Da mesma forma, defendem a intima relação que há entre o ambiente cultura/social e os processos afetivos e cognitivos, além de afirmarem que ambos inter-relacionam-se e influenciam mutuamente.

Wallon (apud Almeida, 1999) destaca que “afetividade e a inteligência contituiem um par inseparável na evolução psíquica, pois ambas tem funções bem definidas e, quando integradas, permitem à criança atingir níveis de evolução cada vez mais elevados” (p.51).

Vygotsky ( Apud Oliveira, 1992) defende que o pensamento “ tem sua origem na esfera da motivação, a qual inclui inclinações, necessidades, interesses, impulsos, afeto e emoção Nesta esfera estaria à razão última do pensamento e, assim, uma compreensão completa do pensamento humano só é possível quando se compreende sua base afeto-voliiva” ( p76). Afirma,  ainda, que o conhecimento do mundo objetivo ocorre quando desejos, interesses e motivaçoes aliam-se à percepção, memória, pensamento, imaginação e vontade, em uma atividade cotidiana dinâmica entre parceiros

                                                                              (Machado, 1996).

Já Piaget (1954/1994) considera a afetividade como a energética da ação sendo ela fundamental para o funcionamento da inteligência, mas ressalta que não modifica a estrutura da mesma. A afetividade é a mola propulsora de todo o tipo de atividade, em outros termos, a afetividade é a energia que impulsiona a ação.

A obra de Piaget é extremamente conhecida no que se refere à construção da lógica do pensamento e pouco sobre a dimensão afetiva. É verdade que Piaget se dedicou de forma restrita ao campo da afetividade, mas suas ideias a esse respeito são muito interessantes e contribuíram para a discussão sobre a superação da dicotomia entre a inteligência e afetividade.

Segundo o autor, o aspecto cognitivo tem influência mútua, uma vez que um não pode funcionar sem o outro, sendo indissociáveis. “Em sua visão, não é possível separar, na ação, ambas as dimensões, ou seja, em “toda conduta”, seja qual for, contêm necessariamente estes dois aspectos: o cognitivo e o afetivo” (Piaget, 1954, p.288).                                                                                            

Piaget diz que, pela reciprocidade, ocorre a descentração afetiva que leva aos sentimentos e a vida moral. O amor só é mútuo e duradouro e há reciprocidade com uma outra pessoa, quando se tem os mesmos interesses ou valores. Trazendo para a escola, percebemos que se não houver entre professor e aluno, interesses comuns, dificilmente haverá um bom desenvolvimento na aprendizagem. Se não houver, por parte do professor, respeito aos valores sociais que vão doferenciar de aluno, de relação que possa colaborar com o desenvolvimento da aprendizagem do aluno, objetivo fim de uma escola.

Com base na perpectiva Piagetiana, o professor deve ser um profissional comprometido não só com a construção de conhecimento do aluno, mas um professor que saiba viabilizar, entre seus alunos, as trocas necessárias ao exercício de cooperações que irão sustentar o desenvolvimento de personalidade autônomas no domínio cognitivo, moral, social e afetivo

Outro estudioso que deu uma valiosa contribuição para o estudo da afetividade foi o interacionista Vygotsky (1992), que em suas teorias, mostra que a criança incorpora instrumentos culturais através da linguagem e que, portanto, os processos psicológico afetivos e cognitivos da criança são determinados, em ultima instancia, por seu ambiente cultural e social. Além disso, o autor permite reconhecer e compreender o processo de internalização também das emoções e sentimentos, pois pressupõe que são as práticas sócio – culturais que determinam os conhecimentos apropriados pela criança

Diante do que foi exposto, evidencia-se a presença contínua da afetividade nas interações sociais. E o professor pode desta forma, auxiliar a criança a cultivar valores de solidariedade e justiça. Wallon (1975) insiste na importância de que o professor deve conhecer as condições de existência de seu aluno para saber quais os valores que nela estão sendo cultivados, nos outros meios.

Afetividade que inicialmente é determinante basicamente pelo fator orgânico passa a ser fortemente influenciada pela ação do meio social. Tanto que Wallon defende que uma evolução progressiva da afetividade, cujas manifestações vão se distanciando da base orgânica da base orgânica, tornando-se cada vê mais relacionada ao social.

A afetividade também é conhecida como conhecimento construído através da vivência, não se restringindo ao contato físico, mas à interação que se estabelece entre as partes envolvidas, na qual todos os atos comunicativos, por demonstrarem comportamentos, intenções, crenças, valores, sentimentos e desejos, afetam as relações e, consequentemente, o processo de aprendizagem.

As experiências vividas em sala ocorrem, inicialmente, entre os indivíduos envolvidos no plano externo (interpessoal). Através de mediação, elas vão se internalizando (intrapessoal) ganham autonomia e passam a fazer parte da história individual. Essas experiências também são afetivas. Os indivíduos internalizam as experiências afetivas com relação a um objeto específico (Tassoni, 2001, p.3)

Vale acrescentar que o professor deve estar engajado nas condições e experiências de cada aluno, de modo que possa trabalhar a partir das individualidades, trocando ideias e constantemente refletindo sobre sua prática. Compete o professor o domínio afetivo como meio de facilitar aprendizados, como forma de promover, entre os alunos, o reconhecimento de suas limitações e potencialidades, assim como o desenvolvimento de aspectos importantes para a sua participação social, autonomia e equilíbrio pessoal, na busca de sua independência e realização pessoal.

                                                                              (Pinto, 2001,p.43).

A criança ao se desenvolver psicologicamente, vai se nutrir principalmente das emoções e dos sentimentos disponíveis nos relacionados que vivência. São esses relacionamentos que vão definir as possibilidades de a criança buscar no seu ambiente e nas alternativas que a cultura oferece a concretização de suas potencialidades, isto é, a possibilidade de estar sempre se projetando na busca daquilo que ela pode vir a ser.

A importância das relações humanas para o crescimento do homem está escrita na própria história da humanidade. O meio social é uma circunstancia necessária para a modelagem do individuo. Sem ele a civilização não existiria, pois graças à agregação dos grupos que a humanidade pode construir os seus valores, os seus papéis, a própria sociedade. Cruzando psicogênese e história, Wallon demonstrou a relação estreita entre as relações humanas e a constituição da pessoa, destacando o meio físico e humano como um par essencial do orgânico na constituição do individuo. Sem ele não haveria evolução, pois o aparato orgânico não é capaz de construir a obra completa que é a natureza humana, que pensa, sente e se movimenta no mundo material.

Ao abordar a importância da afetividade e da emoção na relação professor /aluno, nos pautamos nos estudos de Wallon, Vigotsky e Piaget. Assim foi possível solidificar conceitos importantes na compreensão deste trabalho realizado.

3. Aspectos Metodológicos

 

O presente estudo foi desenvolvido tendo como modalidade de pesquisa o método qualitativo. Segundo Chizzotti (2001, p.79),

Abordagem qualitativa parte do fundamento de que há relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um vinculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. O objetivo não é um dado inerte e neutro; está possuído de significados e relações que sujeitos concretos criam em suas ações.

Neste sentido a presença do pesquisador, não é neutra e nem este concede o campo como algo estático por  onde se tira uma lei imutável. Ele passa a ser um lugar de contato, um momento um dialogo (Pitombeira, 2005), onde se dar a voz ao sujeito- objeto em contato direto, onde a realidade é, na verdade, uma construção a partir da historicidade de cada um (Lobo, 1997), não havendo a necessidade de se provar, prever ou propor leis.

Cuja abordagem centra-se numa metodologia exploratória e descritiva, descritivo á medida que buscou “descrever as características de uma determinada população ou fenômeno” (GIL,1989, P.45), e exploratória uma vez que se objetivou proporcionar uma visão geral, aproxima, de determinado fato ( id, Ibid), tendo que interpreta-los, uma vez que a postura do pesquisador é claramente de envolvimento com o ambiente pesquisado.

 

3.1 Sujeitos da Pesquisa

 

 

Para compreender a realidade estudada, os sujeitos abordados foram selecionados a partir de critérios: como estar na realidade pesquisada. Procurando seguir esta linha de pensamento, foi feita então a abordagem com 4 (quatro) alunos e1 (uma ) professora do 5º ano da escola X. Os alunos observados tem 10 e 11 anos de idade, dos quais não poderiam deixar de fazer  parte do grupo de sujeitos da pesquisa por ser a clientela que recebe as vantagens trazidas por esta pesquisa e, portanto, são os mais indicados a responderem.

3.2 Instrumento de coleta de dados

 

O estudo fez uso de observação, e questionário. Conforme Chizoot (2001; 90) as observações participantes ocorrem da seguinte forma “a observação participante é obtida por meio do contato do pesquisador com o fenômeno observado, para recolhera as ações dos atores em seu contexto natural, a partir de sua perpectiva e seus pontos de vista.

            Para efetuar as observações necessárias a pesquisa, escolhi uma turma do 5º ano do ensino fundamental da escola X, visto que nesta série encontra-se crianças, cuja a faixa etária é compreendida entre dez e onze anos. Com esta idade estas crianças são capazes de expressar nitidamente sua personalidade.

Tanto em seu comportamento quanto no ato de responder por escrito as indagações a eles imposta em questionário. Num universo de vinte alunos, foi selecionados apenas quatros alunos para responderem por escrito algumas indagações voluntárias, pois quando perguntei quem poderia responder algumas perguntas por escrito, prontificaram – se em participar. Além dos alunos também participou comprometidamente da investigação.

 

 

4. Análise dos resultados

 

A presente pesquisa buscou expor resultados obtidos a partir de trabalho de campo, apresentando dados coletados.

As observações feitas na escola foram essenciais à pesquisa, pois foi visto um ambiente físico e humano, que através de estruturas e funcionamento adequados propiciam experiências e situações planejadas intencionalmente, de modo a garantir o acesso a todos os bens educacionais e garantir uma qualidade na educação onde todos são beneficiados, este é o objetivo fundamental.

Neste cenário o professor é sem dúvidas o profissional que tem maior responsabilidade sobre a construção da cidadania nos educando. Por isso fez-se primordial direcionar a maior parte da observação ao trabalho deste. Durante estas observações foram notadas manifestações afetivas com os alunos. A professora costuma se comunicar com eles através de expressões carinhosa, como por exemplo : abraços, carinho na face e palavras doces.

Estas atitudes têm como efeito prático a reciprocidade por parte de alguns alunos que absorvem com maior facilidade estes gestos de afeto.

            Para explorar com maior profundidade o envolvimento da professora com a temática em questão, direcionei a esta, um questionário com indagações sobre o tema. Analisando a resposta da professora, percebi que nas falas da mesma em relação á afetividade, ela a define como sinônimo de sentimentos positivos, tais como: carinho, elogios e etc.

Através do diálogo, onde procuro conhecer a vida pessoal dos alunos e procuro de certa forma fazer com que os mesmos percebam que a professora se preocupa com o bem estar de seus alunos. Além de pequenos gestos de carinhos. (Professora)

A professora questionada entende o afeto como algo que se faz necessário na formação de seres autônomos percebeu assim que a mesma compreende que se faz necessário uma boa relação dentro do âmbito escolar, mas nem sempre isso é valorizado por alguns professores, uma vez que há uma grande dissonância entre o discurso e a prática, que muitas vezes não se encontra, pois conforme diz Almeida (1999, p7)

                                     Uma educação que não aborde a emoção na sala de aula traz prejuízos irremediáveis à ação pedagógica Para realizar uma ação educativa eficaz, a escola não deve se considerar alheia aos conhecimentos que favoreçam o total desabrochar da pessoa. Pelo contrário, deve-se considerar atenta a todos os aspectos relacionados com atividade de conhecimento mental e pessoal da criança.

Também foi perguntada qual a importância tem a afetividade na relação professor-aluno no processo de ensino aprendizagem, e a resposta foram:

Para que exista uma relação entre ambas a parte é de fundamental o laço afetividade, pois no publico alvo que as escolas publicas atende é necessário que o professor conquiste esse laço, pois quando conquistado, as consequências serão de respeito e amizade entre as partes. Com a afetividade os conteúdos curriculares serão repassados e recebidos com satisfação e não por obrigação (Professora)

Entendemos assim que ela ver a afetividade para um bom relacionamento, que ela ver a afetividade para um bom relacionamento, que a mesma atua como uma energia que define a maneira de se relacionar e satisfazer sua busca pelo conhecer, pois o educador que irá auxiliar o aluno na busca de conhecimento intelectual e até mesmo autoconhecimento isto é possível quando envolve uma cognição e afeto.

A afetividade na relação professor- aluno é imprescindível, e quando se trata de aprendizagem é necessário. É nas falas do educador entrevistado que percebemos que ela está preocupada em manter uma relação afetuosa entre todos em sua sala de aula.

 

 

 

4.1- A afetividade  como recurso educativo na visão do professor

 

 

Falar de afetividade é um fato que tem sido mencionado bastante nos dias atuais de tal maneira que as pessoas se defrontam com esta temática em todos os espaços da ação humana. A sociedade contemporânea traduz como pessoas dóceis e cordiais ao sistema vigente. Mas para falar de afetividade é preciso compreender o conceito de afeto.

Segundo o dicionário Aurélio (1994) mais uma vez trago aqui esses conceitos para fundamentar que, a palavra afeto vem do latim affectuar (afetar, tocar ) e constitui o elemento básico da afetividade. Significa um conjunto de fenômenos psíquicos que se manifesta em sentimentos e paixões, acompanhados sempre da impressão de cor, insatisfação, de agrado ou desagrado, de alegria ou tristeza.

Piaget (1968), diz que a afetividade constitui a energia das condutas, cujas estruturas correspondem as funções cognitivas, ou seja, as condutas humanas têm como mola propulsora o afeto, e a estrutura de como elas são e funcionam constitui o elemento intelectual.

A afetividade está presente no âmbito educacional como meio estruturante do crescimento cognitivo, assim, indispensável que as instituições educativas trabalhem em seus alunos o desenvolvimento emotivo, para alcançar o objetivo de formar cidadãos observadores, reflexivos e questionadores. É pela afetividade ( operando dialeticamente com as funções cognitivas) que a criança insere-se no meio social, constrói a sua história, a sua identidade e os seus conhecimentos. Cabe a escola compreender o aluno no âmbito de sua dimensão humana, tanto afetiva quanto intelectual, já que ele depende, para se desenvolver, do amadurecimento biológico e da inserção social. Este processo traduz em fato através da habilidade da pessoa do professor, que converte seus conhecimentos teóricos em um conjunto de meios que possibilitam desempenhar seu papel num processo onde a afetividade e o respeito sejam valores primordiais e mútuos.

A reciprocidade de afetos que circunda o ambiente escolar entre professor e aluno é de tal forma que ambos saem transformados, é que o professor é considerado como aquele que tem maiores condições de administrar esse vinculo fazendo-se o mestre presente não apenas na classe, mas também no coração do aluno, tornando – se um guia seguro que conduz para a beleza e para a pureza sem necessidade de palavras. (Marchand, 1985)

Ao perguntar à professora que importância tem a afetividade na relação professor – aluno a mesma respondeu :

Para que exista uma relação agradável entre ambos as partes é de fundamental importância o laço afetivo, pois no alvo que as escolas públicas atende é necessário que á professora conquiste esse laço, pois quando conquistado, as consequências serão de respeito e amizade entre as partes. Com afetividade presente, aos conteúdos curriculares serão repassados e recebidos com satisfação e não por obrigação. E a aprendizagem ou mais tarde será satisfatória.

Percebi nesta fala que a professora valoriza a temática afeto na sua prática pedagógica e por meio desta têm facilitado seu trabalho em sala de aula.

Afirma Marchand (1985, p. 19) “ É por isso que o mestre tem muito mais poder do que o livro. A qualidade do diálogo que se estabelece entre o educador e o educando na presença concreta de dois seres colocada em uma dada situação, que cria entre eles um liame peculiar ou os separa por obstáculos quase intransponíveis”.

O aprimoramento da relação no ambiente escolar constitui-se no cotidiano através de gestos e iniciativas do mestre. Na pesquisa realizada também pude perceber que as atividades de caráter sócio – educativas, a exemplos de jogos, cantos, entre outros, não é um dos principais recursos educativos, contudo, com certa frequência a professora recorre ás dinâmicas contextualizadas com o conteúdo didático a fim de amenizar a fadiga gerada pelo excesso de conteúdo estudado. Nestes momentos a educadora conduz a turma de forma inclusiva onde todos participam e interagem entre si, de forma descontraída fazendo deste momento uma oportunidade de aproximação e despertando a afinidade entre seus alunos.

Segundo Marchand (1985, p.79) “ as formas conscientes e voluntárias da troca de experiência entre o mestre e o aluno, levarão a um enriquecimento mútuo. Buscando conhecer melhor a criança para melhor guia-la em seu desenvolvimento, transmiti-lhe os meios mais adequados para atingir este fim e senti-se recompensado pela alegria de  ter feito um trabalho educativo criador de vida verdadeira, que lhe dá a impressão de ter prolongado sua própria existência.

Observei ainda num momento em que um educando estava desetimulado que a professora relatou fatos reais, onde citou de forma carinhosa, exemplos de pessoas de origem humilde que através dos estudos conseguiram profissões que lhe deram status e qualidade de vida. Este exemplo tocou não só o aluno mencionado, mas toda a sala ficou atenta ao relato da professora e a partir daí todos se comportaram eela conseguiu ministrar uma boa aula. Por tanto, esta professora reconhecer a importância da temática afeto e manifesta seu compromisso em situações de rotina fazendo da afetividade uma ferramenta motivacional e educativa.

É inegável a relevância de fator motivação no senrolar da prática pedagógica e, neste sentido, não importa as estratégias motivacionais que o educador disponta e, sim, o seu compromisso em envolver o educando levando-o a perceber a aprendizagem adquirida também como conquista pessoal.(Vygotsky, 1989).

4.2 – O afeto no ambiente escolar. 

 

 

A tranformação da realidade, na qual vivemos hoje, pressupõe a formação de personalidade autônomas e críticas, capazes de respeitar a opinião dos demais e defender os próprios direitos. Ao mesmo tempo, de participação das decisões quanto ao tipo de desenvolvimento socioeconômico que deseja para si e para a humanidade. Diante deste desafio faz-se necessário que a escola promova em seus alunos um crescimento emocional que lhe permita ter esta autonomia.

            Considerando que o processo de aprendizagem ocorre em decorrência de interação sucessivas entre as pessoas, a partir de uma relação vincular, é, portanto, através do outro que o individuo adquire novas formas de pensar e agir e, dessa forma apropia – se ou constrói novos conhecimentos.

            Quando perguntei aos alunos se eles ajudam os colegas de sala nas atividades, tive as seguintes respostas:

Sim, porque eu ensino o que ele não entendeu.

Sim, porque eles também me ajudam nas tarefas.

Sim, pois quando estou com duvidas ele me ajudam também,

A interação entre os alunos observados proporciona a troca de conhecimento e a construção de sua identidade no seu meio. Para Wallon (1975), o processo de socialização da pessoa não se dá apenas no seu contato com o outro nas diversas etapas do desenvolvimento e da vida adulta, mas também no contato com a produção do outro. O encontro com o texto, com a pintura ou com a música produzida pelo outro, propicia a identificação como homem genérico e, ao mesmo tempo, a diferenciação como homem concreto, o que contribui ao processo de individuação e constituição do eu.

Piaget diz que, que reciprocidade, ocorre a descentralização afetiva que leva aos sentimentos e à vida moral. O amor só é mútuo e duradouro e há reciprocidade com outra pessoa, quando se tem os mesmos interesses ou valores. Trazendo para a escola, percebemos que se não houver, entre professor e aluno, interesses comuns, dificilmente haverá um bom desenvolvimento na aprendizagem. Se não houver, por parte do professor. Respeito aos valores sociais que vão diferenciar de aluno para aluno, dificilmente haverá respeito, compreensão, amizade ou qualquer outra forma de relação que possa colaborar com o desenvolvimento da aprendizagem do aluno, objetivo fim de uma escola.

A escola possibilita interações entre parceiros, ao mesmo tempo em que proporciona situações e experiências essenciais para a construção do individuo como pessoa. É através das experiências  com o mundo social, especificamente eu- outro, que o organismo, em toda sua plasticidade, vai elaborando e reestruturando um dos aspectos que nos caracterizam como seres humanos : o aspecto afetivo. Não é apenas no nível interpessoal qie isso se dá, mas também na relação indireta com o outro, que é a relação com a cultura. (Almeida, 1999, p.101)  

Nesta perspectiva, afeto e emoção atuam paralelamente no desenvolvimento cognitivo. Dantas afirma que, é a atividade emocional quer

Realiza a transição entre o estado orgânico do ser e a sua etapa cognitiva racional, que só pode ser atingida através da mediação cultural, isto é, social. A consciência afetiva é a forma pela qual o psiquismo emerge da vida orgânica : corresponde à sua primeira manifestação. Pelo vinculo imediato que se instaura com o ambiente social, ela garante o acesso ao universo simbólico da cultura, elaborado e acumulado pelos homens ao longo de sua história. Dessa forma é ela que permitirá a tomada de posse dos instrumentos com os quais trabalha a afetividade cognitiva. Neste sentido, ela lhe dá origem. (Dantas, 1992,p.85)

Antigamente o desenvolvimento do afeto e da inteligência eram temas abordados apenas no campo da psicologia, com evolução dos conceitos sobre educação, esses conceitos subiram no topo das prioridades para um ensino e aprendizagem digna.

Segundo Vygotsky (1998, p.61) “A emoção, não é vista como algo natural da criança, que nasce com ela ou que faz parte da sua natureza enquanto espécie”. Ele admite que a manifestações inicial da emoção seja parte da herança biológica. Entretanto, a emoção nas interações sociais perde seu caráter institivo para dar lugar a um nível mais complexo de atuação do ser humano.

Wallon (apud Taille et AL, 1992), atribui à emoção um papel fundamental no processo de desenvolvimento humano. “Quando nasce uma criança, todo contato estabelecido com as pessoas que cuidam dela, são feitos via emoção”.

O autor, portanto, propõe a psicogênese da pessoa completa, ou seja, o estudo integrado do desenvolvimento. Segundo ele as etapas do desenvolvimento são descontinuas, marcadas por rupturas, retrocessos e reviravoltas, ou seja, durante o processo de constituição do psiquismo, cognição e afeto vão construindo-se reciprocamente, num permanente processo de integração e diferenciação. Wallon (idem), em sua teoria da emoção, considera afetivamente e inteligência fatores sincreticamente misturados, e defende que a educação da emoção deve ser incluída entre os própósitos da ação pedagógica.

Para Wallon (1992) a emoção é uma forma de exteriorização da afetividade que evolui como as demais manifestações, sob o impacto das condições sociais. É interessante perceber a relação completa entre a emoção e o meio social, particularmente, o papel da cultura na transformação das suas expressões.

A emoção pode ser motivadora ou não dos processos educacionais, terem caráter positivo ou negativo. Certamente, mesmo sem estar motivado por emoções positivas, geradas por elogios, atenção, amor, o aluno pode aprender. A questão é, qual das duas garante um melhor aprendizado? Ou não há relação entre aprendizado e uso de recursos emocionais? O fato é que, independente do que somos ou das nossas intenções , a emoção está presente no ambiente escolar, e deve ser considerada, principalmente no relacionamento com criança (não diminuindo a importância desta nas outras fases de desenvolvimento), por serem estas muito mais “ imaculadas” em suas emoções.

Conforme Sawaia (2003) “assiste-se uma valorização das emoções, da finalidade disciplinadora. O poder público, as empresas e a mídia em suma , o poder dominante – descobriu a força das emoções, aprendeu a administrá-las e faz isso com uma habilidade incrível. As pessoas podem ser automatizadas e adestradas para reproduzir a inclusão perversa, mediante, por exemplo, a ditadura da felicidade: “ seja feliz todo o tempo”, “ tenha bom humor”. Isto é bem diferente de potencializar o afeto para o crescimento individual e coletivo mediante ações transformadoras. No caso da inclusão perversa, há uma ação transformadora, o afeto é indissociável da reflexão crítica, pois as ideias da alma são afecções do corpo e não ideias inadequadas, impostas socialmente.

O professor deve ter verdadeira consciência de sua responsabilidade, precisa tomar decisões de acordo com seu tempo, tomando decisões pensadas, com fundamento na sua instrução recebida, e de acordo com os valores morais e as relações sociais pertinentes à sua época. Suas decisões devem ser tomadas solidariamente com seus alunos, conhecendo suas condições de vida social e familiar. O professor, em usa colaboração som com seus alunos e de acordo com sua individualidade, modifica suas próprias ideias em conformação com a realidade, que é móvel e dependente da existência de todos, e que também deve visar ao interesse de cada um. O educador, por sua vez, deve ter a clareza de alimentar apenas os interesses que sirvam de fato para seu desenvolvimento intelectual. Por isso : “ do ponto de vista moral e racional, o professor deve ser um colaborador e não um mestre autoritário ( Piaget, 1995,p104).

Com base na perspectiva piagetiana, o professor deve ser um profissional comprometido não só com a construção de conhecimentos do aluno, mas um professor que saiba viabilizar, entre seus alunos, as trocas necessárias ao exercício de cooperação que irão sustentar o desenvolvimento de personalidades autônomas no domínio cognitivo, moral, social e afetivo. Estas diretrizes  devem partir do grupo gestor escolar a fim de incutir em todos que fazem a instituição escola, a ideia de que para se desenvolver este método de ensino dependerá do trato que estes profissionais tenham com os alunos.

É na fala do educador, no ensinar (intervir, desenvolver, encaminhar), expressão do seu desejo, casado com o desejo que foi lido, compreendido pelo educando, que tece seu ensinar. Ensinar e paixão”. ( Freire: 1992,p.11)

Neste sentido, periodicamente a escola pesquisada realiza encontros com o corpo docente onde discute estratégias e metas a serem alcançadas. Neste momento a diretora questiona como anda a relação professor – aluno, procurar saber alguns casos específicos e de forma geral orienta a estes profissionais a ter um manejo todo especial com os alunos adequando ás tarefas ás possibilidades do aluno fornecendo meios para que realize as atividades confiando em sua capacidade, demonstrando atenção as suas dificuldades e problemas. Dessa forma a escola estudada está preocupada em desenvolver no ambiente escolar uma relação carinhosa com seu corpo docente minimizado as constantes dissensões. Para Wallon,

No cotidiano escolar são comuns as situações de conflito envolvendo professores e alunos: turbulência e agitação motora. Dispersão, crises emocionais, desentendimentos entre alunos e destes com o professor, ,irritação, raiva, desespero e medo. (1996, p.104).

Assim a escola estudada traz consigo uma visão macro a responsabilidade de educar afetivamente, pois estas são maneiras refinadas de comunicação afetiva. Conforme Libaneo:

[...] é preciso educar olhar para a a observação do aluno com a finalidade de conhecer um pouco mais dele além do que se permite intuir em sala de aula. Por exemplo, obervar o comportamento no recreio, se brinca, se socializa com outras crianças, se é introspectiva, tímida ou agitada a maior parte do tempo. Esses traços de comportamento podem revelar aspectos importantes a serem considerados pelo professor. (Libaneo, 1991.p.161)

4.3 Praticas docentes que trabalhem a afetividade

Toda prática educativa em si marcas das várias influencias sofridas pelo contexto histórico das diferentes épocas. O processo educativo e a forma como se encara a educação não é neutra diante das relações sociais, da expectativa de homem vivida pela sociedade nem tão pouco das experiências pessoais daqueles que conduzem, de certo modo, este processo.

A escola, sob uma visão sociológica, constitui-se mais um grupo social em que os sujeitos se inserem para, assim, ampliarem suas relações, aprenderem a conviver...No entanto, este grupo social (a escola) está imerso num ambiente sócio- cultural que reflete diretamente em sua ação. Todo grupo é assinalado pela intenção, por características comuns.

Segundo Ballone ( 2000): A afetividade é quem dá valor e representa nossa realidade. Afetividade é meramente um processo dinâmico das relações harmoniosa e a cordial, trazendo paz para as pessoas e tornando-as dóceis, e obedientes ao todo sistema das emoções.

O papel do professor passa a ser, então, de um eterno pesquisador, buscando incansavelmente novas formas de ensinar, estudando como seu aluno constrói seus conhecimentos e como a afetividade pode funcionar de forma positiva na formação de indivíduos criativos e transformadores. A questão do tipo de relações afetivas existentes na classe, o vetor que remete para a qualidade de interação.

No seu percurso, Rouanet se detém em certos momentos da complexa relação construída pelo par razão-afetividade. Assim sendo, procurarei seguir os passos famoso pensador brasileiro, sem, entretanto por seu trabalho pioneiro, esforçar-me-ei por discutir, ainda que rapidamente, certos aspectos que me parecem relevantes em torno da teoria da afetividade na démarche através da história.

Então entrando dentro das observações em sala percebemos, em algumas aulas, um interesse e um participação maior por parte dos alunos. A professora que em sua prática pedagógica procura criar um clima de respeito e amizade entre eles e os alunos, na medida em que os tratava de forma educada e respeitosa, mesmo quando os repreendia, não utilizava expressões que os rotulassem como incapazes, tinha interesse em ouvi-los, procurando dar um sentido conceitual e significativo a essas falas, relacionando-as ao conteúdo da área e muitas vezes à formação do aluno como pessoa, assim valorizava os conhecimentos e vivências trazidas por eles, como sujeitos importantes e ativos nas relações estabelecidas, tentando delinear novos percursos que rompessem com a noção de fracasso e de exclusão vivida por muitos alunos. Essas aulas significavam mais que um simples conteúdo, havia uma relação direta com situações pertinentes eles.

O que eu percebi permitiu-me analisar fato embasado no pressuposto de que a construção e reconstrução do saber acontecem  quando se percebe o significado do que está sendo vivenciado, quando há a mobilização e a interação dos sujeitos nesse processo. Quando as relaçoes professor/aluno/conhecimento permitem a participação, a argumentação, o respeito pela palavra do outro, mesmo em meios aos tropeços no caminho, há a possibilidade de avanço no processo de aprendizagem.

Nas entrevistas com os alunos foi possível perceber a importância do diálogo na sala de aula, a necessidade que o aluno tem de sentir que o professor se interessa por ele e também a importância que dão ao que chamaremos aqui “bom humor” por parte do professor , definido de forma variada pelos alunos, mas como referência comum entre eles.

Destaco uma fala comum dos alunos do 5º ano entrevistado, em relação a professora, indicando a forma como ela desenvolve a sua prática, mesmo por aqueles que consideram a matéria complicada:

A professora explica direitinho, se não entendemos ela vai e explica de novo a questão, (aluno)

A professora é muito boa, agente pergunta e ela responde (aluno)

Essa fala nos permite conhecer a valorização dos alunos ao professor que os escuta, que se preocupa com suas dificuldades e que entende que a aprendizagem não ocorre ao mesmo tempo e do mesmo jeito para todos.

Reconhece que ele é um elemento importante de mediação entre o aluno e o conhecimento. Nesse sentido podemos fazer alusão à teoria vygotskyana sobre a importância pedagógica, o papel do professor de interferir na zona de desenvolvimento proximal dos alunos, fazendo juntos, demonstrando, fornecendo pistas e provocando avanços que não ocorreriam naturalmente.

            Sabemos que a atitude do professor, a forma como ele interage com a classe, como direciona seu fazer pedagógico esta relacionada à suas concepções de homem e de mundo, sejam elas consciente ou inconsciente.

Assim apresento o depoimento da professora Y, quando perguntei de que forma ela expressa sua afetividade para com os alunos e ela respondeu-me:

Através dos diálogos, onde procuro conhecer a vida pessoal dos alunos e procuro de certa forma fazer com que os mesmos percebam que a professora se preocupe com o bem estar de seus alunos. Além de pequenos gestos e brincadeiras.

O trabalho do professor em sala de aula e seu relacionamento com os alunos são influenciados e expressos pela relação que os tem com a sociedade. Para Piaget (1992), se houver afetividade há possibilidade de por em prática o respeito mútuo, tão necessário para o desenvolvimento das relações pessoais em qualquer que seja o meio humano e, através dele, a aprendizagem flui com mais facilidade.

4.4 As perspectivas do educando sobre a égide da afetividade

O papel da instituição escolar é desempenhar hoje um trabalho que venha a refletir no futuro, assim cabe aos profissionais conduzirem sua prática numa perspectiva de formar cidadãos dignos. A família e a escola tem uma participação intima, pois são um meio favorável a aprendizagem de sentimentos que marcam a vida da criança. Por isso, no jardim de infância, o professor deve ser competente em preparar a criança para viver em coletividade, incentivando o trabalho em grupo.

De acordo com Tran-Thong (1969), Wallon defende que a escola deve ser oficialmente responsável pela personalidade infantil, devendo se interessar por tudo o que concerne à criança, seja do ponto biopsicológico, seja das condições materiais e sociais de sua existência, para promover um ambiente apropriado ao desabrochar de suas habilidades.

Não devemos esquecer que o respeito que a criança tem pelo adulto é unilateral, dando origem a dois sentimentos distintos: afeto e o medo; mas simultaneamente percebidos pela criança quando envolvida em situações resultantes das suas “desobediências”. Na compreensão de Piaget (1995), é da existência desses dois sentimentos que surge o respeito unilateral.

Como exemplo, Piaget diz que uma criança não irá desobedecer ás ordens do irmão a quem tem afeto, se por ele não sentir também um pouco de medo; assim como não respeitará um adulto que tenha medo, se por ele não houver algum sentimento de estima, por isso é que, conforme Piaget, se houver afetividade há possibilidade de por em prática o respeito mútuo, tão necessário para o desenvolvimento das relações pessoais em qualquer que seja o meio humano e através dele, aprendizagem flui com mais facilidade.

5. Consideraçoes Finais

 

 

A educação precisa está ligada a fortes laços, pois cumprir seu papel como facilitadora do processo ensino – aprendizagem através da interação entre sujeitos (professor e aluno), ultrapassando, desse modo, a mera condição de ensinar.

A análise do presente estudo sobre afetividade é muito complexa, pois esta não tem um conceito formado, possui suas manifestações que engloba inúmeros significados e um deles é o afeto que serve como ponte para uma aprendizagem significativa.

Pude perceber que na escola pesquisada o corpo docente conhece a relevância da afetividade no processo de construção de cidadania. Este recurso têm um significado todo especial para aquela instituição, visto que, o público atendido são alunos da periferia desta cidade que moram em um bairro que apresenta alto índice de violência, e por conviverem com esta realidade acabam sofrendo influências que se traduzem em rebeldia, baixa expectativa de vida e falta de respeito consigo e com o próximo.

Diante desta peculiaridade os funcionários da escola são orientados a conviver de forma harmoniosa, respeitando até mesmo aqueles manifestam rebeldia. Pois a afetividade pode sim contribuir no desenvolvimento da aprendizagem e mais na constituição do sujeito através das relações que o mesmo constrói com o mundo e com as pessoas que o cercam

A maneira de explicar, de dialogar e enfim de ensinar deve estar ligada a afetividade. É importante que o professor perceba que as reações  de cada aluno diante das tarefas realizadas pelas as mesmas sejam reações de sentimentos que regem motivação ou não diante da atividade. Deve assim o professor construir metodologia apropriada para a realidade do grupo

Como o afeto permeia o relacionamento, é necessário que os professores se questionem, a fim de tomarem consciência necessária da importância deste, para buscar recursos de melhoria nesse sentido.

 Um dos grandes problemas nesse Binômio professor/aluno é a resistência que o professor encontra em assumir sua parcela de contribuição, no desgaste da relação com o educando. No caso da professora observada percebi que ela desempenha com ética seu papel de educadora e faz da temática afeto um recurso continuo na sua prática.

Com isso seu trabalho flui de forma natural e consegue conter, a euforia da turma. Esta professora sabe que os desafios da profissão de educador é manter-se atualizado sobre as novas metodologias de ensino e desenvolver práticas pedagógicas mais eficientes, que não se limite apenas a transmissão de conteúdos didáticos, pois é necessário preocupar-se em construir uma personalidade autônoma educando.

6.  Referências

 

 

ALMEIDA, A.R (1999) A emoção na sala de aula. Campinas: Papirus.

ALMEIDA, Lenita M. C. A afetividade do educador Revista Psicopedagógica.

Vol.16n.41pp.14 - 15, 1997

BOFF, L Sabe cuidar: ética do humano – compaixão pela Terra. Petropolis: Vozes, 1999.

BRANDÃO, Israel R. Afetividade e participação na metrópole: uma reflexão com dirigentes de ONGs na cidade de Fortaleza. Tese de doutorado em psicologia social. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 2008.

FARIA, Amália R. O desenvolvimento da criança e do adolescente segundo Piaget. São Paulo: Ática, 1989.

FREIRE, Paulo. Cuidado, escola ! 35 ed. São Paulo: Brasiliense, 2003.

FREIRE, Paulo.Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

GLEIZER, Marcos A. Espinosa e Afetividade Humana. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

MARCHAND, Max Afetividade do Educador. São Paulo: Summus, 1985, São Paulo: Paz e Terra, 1996.

SAWAIA, Bader B. Fome de felicidade e Liberdade. In CENPEC. Muitos lugares para aprender. São Paulo: CENPEC/UNICEF.Fundação Itaú, 2003.

SEBER, Maria da glória. Piaget: o dialogo com a criança e o desenvolvimento do raciocínio. Col pensamento e ação no magistério. Scipione, 1997.

 

ANEXO

 

MODELO DE ENTREVISTA COM O PROFESSOR

TITULO DA PESQUISA: A percepção da afetividade como ferramenta educativa por professores de uma escola pública de Sobral (CE).

LOCAL DA PESQUISA: Escola “X”

Prezado (a) Professor (a)

O presente instrumento tem como objetivo a obtenção de dados para a pesquisa. Assim sendo, solicitada sua colaboração, respondendo ás questões  sugeridas com clareza e confiabilidade. Todos os seus dados serão mantidos em sigilo absoluto.

Grata pela colaboração.

1-    De que forma você expressa sua afetividade com os alunos ?

2-    Em que momento no cotidiano escolar você, percebe ausência da afetividade em sala de aula ?

3-    Para você que importância tem afetividade na relação professor – aluno ?

4-    Você tem com referência algum autor, que aborda a afetividade no contexto educacional ? Qual ?

MODELO DE ENTREVISTA COM O ALUNO

 

TITULO DA PESQUISA: A percepção da afetividade como ferramenta educativa por professores de uma escola pública de Sobral (CE).

LOCAL DA PESQUISA: Escola “X”

Prezado (a) Professor (a)

O presente instrumento tem como objetivo a obtenção de dados para a pesquisa. Assim sendo, solicitada sua colaboração, respondendo ás questões  sugeridas com clareza e confiabilidade. Todos os seus dados serão mantidos em sigilo absoluto.

Grata pela colaboração.

  1. Qual a importância de seus colegas de classe na sua vida ?
  2. Você gosta de ajudar seus colegas nas atividades ?
  3. Como é sua relação com seu professor ?
  4. No intervalo você brinca com seus colegas? o que você faz ?
  5. Na sala, quando você não consegue fazer a atividade fica com dúvidas ou pergunta ao professor
  6. Seu professor incentiva, ou seja, lhe motiva a estudar? Como?

  Trabalho realizado de acordo com as normas da ABTN.

  Padrão: