INTERVENÇÃO ESTATAL NO SÉCULO XXI: AS CRISES DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

Por Tassia Tabille Steglich | 23/02/2018 | Política

Uma das crises mais evidentes do século XXI foi a crise de 2008. De acordo com Costa, Horta e Roldán (2010) esta crise trouxe à tona as dificuldades no setor bancário advinda da especulação financeira, denominada por Corsi e Alves (2009) como uma "bolha financeira". Em determinado momento esta "bolha" estourou, ocasionando a mais aguda manifestação das crises bancárias na história mundial (CHINGO, 2009). Do mesmo modo, Rebêlo (2010, p.70) afirmou que "a crise financeira de 2008 pode ser considerada a maior crise financeira desde o crack da Bolsa de Valores de Nova York em outubro de 1929".

A figura das “bolhas especulativas” se fazia presente há várias décadas na histórica econômica mundial. No início do século XXI, especificamente no final do ano 2000, a bolha financeira dos EUA estourou, iniciando no setor tecnológico, espalhando-se rapidamente e ocasionando perdas generalizadas. A recuperação dos EUA se deu a partir da intervenção do Governo americano e do FED (Federal Reserve): baixou-se um pacote fiscal, baseado na redução de impostos; os juros foram reduzidos; ampliou-se a oferta de crédito e valorizaramse os imóveis.

Apesar de o governo Bush ter adotado uma postura anticíclica, esta supervalorização dos imóveis acarretaria uma nova bolha especulativa: a bolha imobiliária (CORSI E ALVES, 2009), que corroborou prontamente para a crise mundial iniciada em 2008. Esta crise possui relações com a crise da década de 70:

É importante salientar que a crise do capitalismo global que emerge em 2008 é um dos momentos cruciais da crise estrutural do capital. Como a grande crise capitalista de meados de 1970, abre uma nova temporalidade histórico-social do capitalismo mundial. Aliás, a crise financeira global de 2008 é mais um dos elos da corrente critica da dinâmica capitalista sob a crise estrutural do capital. Desde meados da década de 1970 o sistema mundial do capital submergiu numa aguda instabilidade sistêmica vinculada à natureza da financeirização da riqueza capitalista como resposta estrutural à crise de superprodução (CORSI E ALVES, 2009, p.17).

A intensidade e dimensão desta crise ocorreram em nível mundial, com repercussões no plano da economia, geopolítica e da luta de classes, ocasionando desemprego, pobreza e significativas privatizações e cujas consequências se estenderiam pelos anos seguintes (COSTA, HORTA E ROLDÁN, 2010; CORSI E ALVES, 2009). Conforme Corsi e Alves (2009, p.20), que esta crise não seria apenas econômica e sim "a crise da Humanidade dilacerada pela lógica sistêmica do capital" (p.20).

A crise financeira global de 2008, em parte, decorre de quase 30 anos de aplicação de políticas neoliberais, em especial da desregulamentação dos mercados financeiros e das economias nacionais. A ideologia neoliberal, que expressa sobretudo os interesses do grande capital oligopolizado, parece que entrou em fase terminal. Contudo, a crise não pode ser creditada apenas ao neoliberalismo. Ela resulta também de contradições mais profundas do capitalismo. Resulta sobretudo do predomínio do capital financeiro e de suas formas de valorização, em particular das bolhas especulativas (CORSI E ALVES, 2009, p.21)

Como saída para esta crise, a intervenção estatal passou a operar em atividades de salvamento dos bancos, recuperando suas imagens perante o mercado. Neste sentido: "O amplo socorro dos governos dos países desenvolvidos, que estatizaram parcialmente seus sistemas bancários e garantiram os depósitos, deteve, pelo menos temporariamente, o colapso financeiro" (CORSI E ALVES, 2009, p.20).

No Brasil, Rebêlo (2010) elenca que a intervenção estatal se deu através da disponibilização de mais de 2 bilhões de dólares no mercado através do Banco Central, buscando manter o crédito para consumo. Além disso, baixaram-se os juros da taxa Selic; reforçou-se a liquidez do BNDES; e liberaram-se incentivos para o mercado de automóveis e para a linha branca de eletrodomésticos.

Foram liberados, também, auxílios federais para a instalação de grandes empresas (e consequentemente, incremento no número de empregos formais); houveram incrementos nos auxílios oferecidos às construtoras; cortou-se o IPI referente a materiais de construção; entre outras ações de intervenção estatal. Tais ações culminaram em resultados positivos: em meados de 2009, o Brasil já saía da recessão, evidenciando um crescimento importante do PIB.

Importante ressaltar que, na atualidade, a extensão do capital a novas áreas geográficas provoca um processo de internacionalização significativo, alargando as fronteiras das consequências das crises (CHINGO, 2009). Desta forma, a economia mundial deve ser entendida como um conjunto de economias em um sistema de trocas constante: crises pontuais em determinados países podem, de fato, ter suas consequências estendidas aos demais países, em virtude do contexto globalizado.

REFERÊNCIAS

CHINGO, Juan. Crise e contradições do "capitalismo do século XXI". Revista Estratégia Internacional, El Brasil, nº 3, 2009.

CORSI, Francisco Luiz; ALVES, Giovanni. Crise financeira global e capitalismo do século XXI - Uma perspectiva crítica. Revista HISTEDBR Online, n. especial, Campinas, 2009. p.16-265.

COSTA, Candida da; HORTA, Carlos Roberto; ROLDÁN, Íris Martha. A crise capitalista no século XXI e as repercussões para os trabalhadores. Revista de Políticas Públicas, número especial, São Luís (MA), 2010, p.95-108.

REBÊLO, Felipe Cesar José Matos. Crise financeira de 2008: A intervenção do Estado no domínio econômico. Revista SJRJ, v.17, n.28, Rio de Janeiro, 2010. p.69-79.