INTERVENÇÃO EDUCATIVA SOBRE ALEITAMENTO MATERNO COM PUÉRPERAS: CONTRIBUIÇÃO DO INTERNATO EM ENFERMAGEM

Por Maria Helissamara Lira Rocha | 18/07/2019 | Saúde

INTERVENÇÃO EDUCATIVA SOBRE ALEITAMENTO MATERNO COM PUÉRPERAS: CONTRIBUIÇÃO DO INTERNATO EM ENFERMAGEM

Maria Helissamara Lira Rocha

Rafaela Farrapo Carneiro

Maria Lucilane Patricio Gomes

Luziana de Paiva Carneiro

Lara Lazara Vieira

Keila Maria de Azevedo Ponte Marques

INTRODUÇÃO      

Amamentar é muito mais do que nutrir a criança. É um processo que envolve interação profunda entre mãe e filho, com repercussões no estado nutricional da criança, em sua habilidade de se defender de infecções, em sua fisiologia e no seu desenvolvimento cognitivo e emocional (BRASIL, 2015).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o aleitamento materno seja exclusivo até os seis meses de idade, após esse período, preconiza-se a complementação da alimentação da criança com alimentos líquidos e sólidos (SARDINHA et al , 2019).

             Apesar de muitos compreenderem a importância do aleitamento materno (AM) e de seus benefícios para ambos, mãe e filho, existem ainda hoje muitos mitos sobre a temática. Acredita-se que a falta de conhecimento, cultura e crenças; são fatores que acabam interferindo no decorrer do processo de amamentação e desfavoravelmente resultam na suspensão precoce do Aleitamento Materno Exclusivo (AME).

             O puerpério é caracterizado por ser um período na qual ocorrem múltiplas mudanças de natureza hormonal, metabólica e psíquica, composto de modificações internas e externas. A assistência no puerpério como ação em favor da infância, deve propiciar à mulher ferramentas e suporte para cuidar de si e do filho de uma forma qualificada (OLIVEIRA et al, 2019).

Apesar da maioria dos profissionais de saúde estimularem e conceber-se favorável ao aleitamento materno, muitas mulheres se mostram insatisfeitas com o tipo de apoio recebido. Isso pode ser ocasionado devido às discrepâncias entre percepções da definição do que é o apoio na amamentação. As mães que estão amamentando querem suporte ativo (inclusive emocional), bem como informações precisas, para se sentirem confiantes, entretanto, o suporte oferecido pelos profissionais costuma ser mais passivo e reativo (BRASIL, 2015).

 Durante o processo de amamentação surgem dificuldades que prejudicam uma boa prática do AME por parte da mãe, o que pode estimular o desmame precoce ou levar a introdução de alimentos menos indicados aos neonatos e lactentes (BAUER, 2019).

 

            Acredita-se que a educação em saúde é indispensável para o delineamento da compreensão das puérperas a respeito de assuntos importantes e necessários para o aperfeiçoamento dos cuidados prestados aos filhos. A equipe multiprofissional em saúde emerge como a base para a prevenção de complicações, por meio de orientações sobre os principais cuidados, físicos, emocionais e informativos que proporcionam à mulher as condições necessárias para o seu autocuidado e o cuidado do recém nascido (RN) (SARDINHA et al, 2019).

             A atuação efetiva da equipe de enfermagem possibilita alcançar a dimensão educativa, auxiliando a independência e autonomia das puérperas, uma vez que a mulher informada, se empodera e potencializa sua capacidade de cuidar do meio familiar, social e individual (OLIVEIRA et al, 2019).

            A Maternidade San’tana localizada na cidade de Sobral-CE, na região norte do estado do Ceará é conhecida por ser referência em emergências obstétricas da região e cuidados neonatais. Conta com equipes multiprofissionais qualificadas e competentes para atuarem em prol das gestantes, puérperas e recém-nascidos; além de contar com uma estrutura integralizada para melhor atender os pacientes.

             Este estudo emergiu a partir da vivência no internato do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual Vale do Acaraú na Maternidade Sant’ana e na UTI Neonatal II da Santa Casa de Misericórdia de Sobral. Na ocasião evidenciou-se a tangível necessidade de contribuir através de metodologias leves e leve-duras na promoção, incentivo e apoio ao aleitamento materno com puérperas, salientando que o enfermeiro é o profissional que mais estreitamente se relaciona com a mulher durante o ciclo gravídico- puerperal e tem importante papel no desenvolvimento de educação em saúde.

               Assim, objetivou-se descrever a contribuição do internato em enfermagem a partir de uma intervenção educativa sobre aleitamento materno com puérperas.

METODOLOGIA

              Trata-se de um relato de experiência vivenciado em junho de 2019 por internas do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) na Maternidade Sant’Ana da Santa Casa de Misericórdia de Sobral (SCMS).

 Para abrigar as mães de outras cidades, que tem seus filhos nascidos nesse hospital e que permanecem internados em uma Unidade de Terapia Neonatal para acompanhamentos até a alta hospitalar foi criada a “Casa da Mamãe”, a mesma está localizada próximo a SCMS.

 A Casa foi inaugurada em 20 de julho de 2001 e tem como objetivo equacionar barreiras geográficas e socio-econômicas comuns na região, abrigando as puérperas cujos filhos recém-nascidos no hospital necessitam de hospitalização. Trata-se de um ambiente familiar e acolhedor localizado vizinho ao hospital. Sua estrutura física compreende duas salas, uma cozinha, três banheiros e três quartos, onde estão distribuídos 15 leitos.

Para que a puérpera seja admitida na Casa, é necessário que ela tenha recebido alta hospitalar e seu recém-nascido (RN) esteja necessitando de cuidados especiais, o que implica permanecer na Unidade de Cuidados Intermediários (UCI) ou na Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal (UTIN); é preciso, ainda, que a puérpera se dirija ao hospital diariamente para realizar ordenha e/ou amamentar seu bebê (CARNEIRO et al, 2017)

Enquanto estão abrigadas nesse local, as mães se deslocam a Maternidade no turno da manhã e tarde. Durante cada período, é indicada a efetivação da ordenha manual de leite materno para a alimentação dos recém nascidos, é recomendado ainda o acesso à unidade neonatal, onde as mesmas podem permanecer com seus filhos que ainda estão em incubadora (CARNEIRO et al, 2017).

Através da convivência com as puérperas no decorrer do Internato, pode-se perceber o quanto as mesmas possuíam dúvidas e incertezas a cerca da amamentação. Surgiu-se o interesse em buscar promover ações e momentos para conscientização da importância do aleitamento materno. A falta de conhecimentos predominava entre as necessidades das mães as quais circulavam nos setores já citados.

A partir do diálogo com enfermeiras do serviço, determinou-se que seria promovido um momento de orientações e esclarecimentos de dúvidas a cerca do AM em uma sala conhecida como Ilha do peito, situada no referido hospital. Esta sala é exclusiva para acomodar as mães que realizam desmame para os filhos internados na UTI e berçários.

Realizou-se então uma intervenção educativa sobre aleitamento materno de forma dinâmica e elucidativa, sendo um momento de conscientização, esclarecimentos de dúvidas e promoção da importância da amamentação para as mães que se encontravam na Ilha do Peito na maternidade. Estiveram presentes no momento sete puérperas, sendo três primíparas e quatro multíparas.

           Iniciou-se com um momento quebra gelo, onde todas as puérperas deveriam apresentar-se umas as outras. Oportunidade para criação de vínculos entre as mesmas. Logo após, foi iniciado a explanação sobre o assunto em questão, utilizando cartilhas da própria instituição sobre o AM, além de um grupo de conversa para abordar o tema de forma clara e objetiva para o melhor entendimento das puérperas que se encontravam no local. Foi discorrido sobre assuntos relacionados ao puerpério, aleitamento materno, cuidados com o RN e cuidados pessoais.

 

RESULTADOS

A ocasião foi bastante significativa. As mesmas encontravam-se altamente participativas nas discussões. As temáticas abordadas giraram em torno da importância do aleitamento materno, dos cuidados com o recém-nascido e dos cuidados pessoais.      

Durante a conversa, surgiram várias dúvidas em relação à prematuridade do bebê, alimentação e necessidade de cuidados especiais, às quais foram explanadas. Relataram ainda que os principais fatores que acabam dificultando o AM são o ingurgitamento das mamas, mastites e interferências do retorno ao trabalho.        

Buscou-se esclarecer que as consultas de puericultura são realizadas com o intuito de avaliar o crescimento e desenvolvimento infantil e que são de suma importância para o bom desenvolvimento da criança. Incentivou-se que as mães após a alta hospitalar dos filhos, procurassem a Unidade Básica de Saúde para acompanhamento.

            Pode-se perceber que as ações educativas sobre a amamentação demostraram eficácia no estímulo a prática, esclareceu-se dúvidas existentes a cerca da presença de dificuldades na pega ao mamilo e na sucção do RN ao seio, agitação do bebê e a percepção de oferta insuficiente de leite pela mãe.

O suporte profissional é capaz de influenciar a mulher na decisão para amamentar. O aleitamento materno, embora seja um ato natural, tem sua prática permeada por desafios e dificuldades, justificando a necessidade de explorar o apoio técnico e emocional oferecido para o sucesso da amamentação (BAUER, 2019).

 

CONCLUSÃO

Mesmo com muita informação em nossas mídia sociais, notou-se que o AME ainda tem sido uma barreira para muitas mães, necessitando assim do apoio teórico, prático e efetivo da equipe de Enfermagem, na orientação da boa pega do recém nascido a mama, na produção efetiva de leite pela mãe,  saciedade do RN e cuidados relacionados a higienização de ambos, mãe e filho.   

Segundo as participantes o método utilizado para a realização da intervenção sobre o aleitamento materno, foi bastante satisfatório e de suma importância para as mesmas, o momento foi dinâmico e educativo onde todas tiveram a oportunidade de tirar suas dúvidas e contribuir na realização ocasião.

Ressalta-se a importância da qualificação da equipe multiprofissional para a orientação e treinamento das puérperas, de acordo com a rotatividade das mesmas durante a estadia na Casa da Mamãe. É necessário que haja uma conscientização e um trabalho mútuo com mães quanto à importância do Aleitamento Materno Exclusivo.

 

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, LDS. Aspectos socioculturais da amamentação. In: aleitamento materno: manual prático. Ed. 2. Londrina: PML 2009; 41-49.

BARROS,VO, Cardoso MAA, Carvalho DF, Gomes MMR, Ferraz NVA; Medeiros SCM Aleitamento materno e fatores associados ao desmame precoce em crianças atendidas no programa de saúde da família. Nutrire: Rev Soc Bras Alim Nutr J Braz Soc Food Nutr São Paulo, 2009, 34(2): 101-114.

BAUER, Debora Fernanda Vicentini et al. ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL E ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO: UM ESTUDO DE COORTE. Cogitare Enfermagem, [S.l.], v. 24, maio 2019. ISSN 2176-9133. Disponível em: < https://revistas.ufpr.br/cogitare/article/view/56532 >. Acesso em: 16 jun. 2019.doi: http://dx.doi.org/10.5380/ce.v24i0.56532

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança : aleitamento materno e alimentação complementar / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 2. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2015. 184 p. : il. – (Cadernos de Atenção Básica ; n. 23)

CARNEIRO, R.F, AGUIAR, R.B, SOUSA, R.L.S, LIMA, R.S, SILVA, M.A.M. Educação em Saúde para puérperas com filhos hospitalizados. Sobral-Ce, 2017.

OLIVEIRA td, Rocha KS, Escobal AP, et al. Orientações Sobre Período Puerperal Recebidas por Mulheres no Puerpério Imediato. Rev Fund Care Online.2019. abr./jun.; 11(3):620-626. DOI: http://dx.doi.org/10.9789/2175- 5361.2019.v11i3.620-626

SARDINHA, DM, Maciel DO, Gouveia SC, Pamplona FC, Sardinha LM, Carvalho MSB, Silva AGI. PROMOÇÃO DO ALEITAMENTO MATERNO NA ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL PELO ENFERMEIRO. Rev enferm UFPE on line., Recife, 13(3):852-7, mar., 2019

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