INTERTEXTUALIDADE

Por Aldenizio Jose do Prado Filho | 29/08/2015 | Educação

UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ – UVA

ACADÊMICO: ALDENÍZIO JOSE DO PRADO FILHO

PROFª: MARIA SOARES

DISCIPLINA: LINGUÍSTICA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

INTERTEXTUALIDADE

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SOBRAL-CE

2015
RESUMO

 

O presente artigo busca situar o leitor quanto ao conceito de intertextualidade e como este mecanismo é relevante para a produção de textos. Faz-se presente uma explanação acerca da pluralidade do intertexto, ou seja, a intertextualidade não se limita apenas ao campo da linguística, se adequa, também, a meios sonoros e visuais. Tal pluralidade é fundamental para nos subsidiar na produção de textos. Com base nos estudos de Mikhail Bakhtin, precursor dos estudos voltados ao dialogismo, e, posteriormente, pela semioticista Júlia Kristeva, na qual, ao analisar os estudos de Bakhtin, modificou o termo dialogismo para intertextualidade. Busca-se contextualizar os estudos sobre o tema citado, estabelecendo a relação do intertexto com a literatura.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

INTRODUÇÃO

 A prática de leitura é uma importante ferramenta para a formação intelectual do ser humano. O indivíduo que tem certa bagagem de leitura, ganha experiência e cria automaticamente, facilidade par a compreender outros textos, bem como, ter uma análise crítica sobre um determinado assunto. A intertextualidade ocorre através dessas experiências, onde o autor, ou teórico, usa seus conhecimentos prévios para criar ou adaptar produções textuais.

Observando o conceito de estudo da Escola Francesa de Análise de Discurso, onde seu grande fundador, Michel Pêcheux afirma: “todo enunciado é intrinsecamente suscetível de tornar-se outro, diferente de si mesmo, se desloca discursivamente de seu sentido para derivar para um outro” (Pêcheux, 1983, p. 53 apud ORLANDI, 2005, p. 11), faz-se aqui uma alusão desse pensamento ao conceito de intertextualidade, onde, nessa linhagem podemos nos situar sobre a verdadeira identidade do intertexto, que é, na verdade, a presença de marcas de textos preexistentes, em outros textos.

Com base nos estudos de Mikhail Bakhtin, o precursor dos estudos voltados ao dialogismo, que considera que nenhum texto si fecha em si próprio, e sim estabelece uma relação dialógica com outros textos, e o conceito de intertextualidade da semioticista Júlia Kristeva. Faz-se presente uma discussão acerca da intertextualidade como uma importante ferramenta para a produção de textos.

A intertextualidade não se limita apenas ao campo da linguística, se adequa, também, a meios sonoros e visuais como: imagens, canções, poemas, vídeos. O intertexto pode estar localizado de maneira implícita, quando o autor não cita referências diretamente, mas, usa de conhecimentos prévios para elaborar outro texto, ou pode aparecer de forma explícita, quando são feitas as referências a outro autor.

Assim, torna-se necessário estudar como esse fenômeno se aplica na literatura, de que maneira ele pode ser notado e suas classificações: paráfrase, paródia, citação, hipertexto e alusão a partir da análise de alguns teóricos. O conhecimento empírico é peça fundamental para este conceito, e a arte de juntar diálogos entre textos, implícita ou explícita, é fator essencial para a produção de texto.

 

Conceito de intertextualidade

Como estamos trabalhando com as atenções direcionadas a intertextualidade é necessário entender bem o que se entende por esta palavra? Inicialmente, é preciso conceituar essa termologia e fazer uma abordagem tendo em vista demonstrar as pesquisas mais atuais desenvolvidas nesse âmbito de estudo.

O primeiro estudioso a trabalhar a intertextualidade foi o russo Mikhail Bakhtin, que a enxergou como conceito operacional de teoria e crítica literária, mas não usava essa terminologia e sim a chamava de “dialogismo”. Segundo as palavras do estudioso e filósofo, todo discurso constitui-se perante o outro e não sobre si mesmo. Na voz de qualquer um falante, sempre encontramos a voz do outro, pois é este que nos define, que nos completa.

O Bakhtin enfatiza, porém, que, ao citar o termo “diálogo”, não está se referindo apenas a uma “forma composicional do discurso”, mas sim aos vários modos de enunciados aos quais estabelecem ligações semânticas numa comunicação discursiva. Por isso, dois enunciados podem estabelecer relações dialógicas se forem confrontados num mesmo plano de sentido.

É necessário acrescentar que o discurso jamais está completo, uma vez que sempre existe “brechas” que terão que ser preenchidas pelo outro, assim as palavras, as ideias deste tecem o discurso individual e dessa forma fazem com que se escutem as vozes ou que essas permaneçam “mascaradas” num discurso monologizado.

Olhando por dentro dessa ótica, é possível afirmar que muitos textos são polifônicos e outros são monofônicos. Entende-se o texto polifônico como aqueles os quais se deixam entrever as vozes presentes, no entanto se tais vozes aparecem “mascaradas” como se fossem uma única voz, teremos aí um texto monofônico. É notório que o diálogo é a condição de toda linguagem e de todo discurso, por isso podemos afirmar que todo texto é dialógico. Assim afirma Bakhtin (2003: 318) ao se referir ao romance: “todo romance geralmente é pleno de tonalidades dialógicas (nem sempre com as suas personagens, é claro)” (Bakhtin, op. cit.: idem).

Posteriormente, a semioticista Julia Kristeva (FIORIN, 2006: 51) passa a nomear como “intertextualidade” o que Bakhtin chamou de “dialogismo”. Em seus escritos, em 1967, na revista Critique, Júlia afirma que o discurso literário dialoga com muitas escrituras. Segundo a pesquisadora, para que aconteça intertextualidade, é preciso que o leitor possa perceber a presença de outro texto ou de fragmentos produzidos anteriormente, que mostre relação com o texto lido. Em outras palavras, é necessário que haja a presença de um “intertexto”.

. Em 2008, Kock, Bentes & Cavalcante propõem uma diferenciação entre os conceitos de intertextualidade. Elas os dividam em dois grandes blocos: intertextualidade stricto sensu e intertextualidade lato sensu. Do ponto de vista stricto sensu, podemos fazer ainda algumas delimitações: intertextualidade temática, intertextualidade estilística; intertextualidade explícita, intertextualidade implícita; autotextualidade ou intratextualidade, intertextualidade intergenérica, intertextualidade tipológica

Kristeva, ao criar o conceito de intertextualidade, chama de “texto” o que Bakhtin chamou de enunciado. Por conta disso, a expressão “dialogismo” foi substituído por “intertextualidade”. Com isso, toda relação dialógica passou a ser interpretada como relação intertextual. Isso, de certa forma, foi um equívoco, pois Bakhtin separa “texto” de “enunciado”. Para ele, o enunciado procura indicar a posição de uma voz dentro da sociedade, é um todo de sentido, uma orientação. No entanto o texto é a manifestação do enunciado, a materialização deste, “é a manifestação do enunciado, é uma realidade imediata dotada de materialidade, que advém do fato de ser um conjunto de signos.” (FIORIN, 2006: 53). Sendo assim, o enunciado são os sentidos criados pelos interlocutores numa troca comunicativa da qual eles venham a participar e o texto é a forma materializada deste.

Diante do que foi estudado, podemos afirmar que o conceito de intertextualidade é bastante usado atualmente para fazer referência aos textos que estabelecem uma forma de diálogo entre si intencionalmente ou não intencional.

Sendo assim, este trabalho pretende mostrar a “intertextualidade” como recurso para produção de textos.

Algumas considerações

Verificamos que segundo as palavras de Kristeva (apud KOCH, BENTES e CAVALCANTE, 2008), “seja qual for texto, ele é construído como um mosaico de citações e é a absorção e modificação de um outro texto.” Vendo por uma outra óptica, não existe texto neutro, puro, original. Todo texto sempre vai se remeter a outros textos. O escritor tem que apelar para a sua memória discursiva e trazer à tona enunciados que já tenha ouvido ou lido antes e, por esse ponto de partida, ele constrói o seu próprio texto. Porém, seu “acabamento” será diferente, visto que, escreverá empregando o seu próprio estilo, utilizando sua bagagem cultural adquirida. É dessa forma que o escritor constrói a sua originalidade, transpondo uma nova “moldura” ao que foi dito anteriormente.

Na análise de Bakhtin (2003), o texto é constituído de tonalidades dialógicas, é ele que mostra às vivências humanas, torna-se o representante da visualização de mundo de um sujeito. Observamos também que no texto, estão contidos ao menos duas vozes: o sujeito que escreve e o outro que o autor parodia. Não é possível existirem palavras nas quais o autor não escuta a voz do outro. Mesmo na lírica, ao exprimir-se a si mesmo, consegue um dialogismo com ele mesmo, visto que o seu eu seria objeto de estudo para ele próprio e para os demais que o leem. Em outras palavras, ao transpor para o papel todos os seus sentimentos, anseios o “eu” na realidade se torna “outro” e assim se estabelece a relação dialógica. Unicamente na interação dos sujeitos é que existe a criação de sentidos para Bakhtin.

Tipos de intertxtualidade

  • PARÁFRASE

O vocábulo “paráfrase” vem do grego “para-phrasis”, que significa a repetição de uma sentença. Esse tipo de relação intertextual consiste em reproduzir um texto ou parte dele explicitamente, com outras palavras, sem que a ideia original seja alterada.

Para facilitar nossos trabalhos, vamos ter por base um dos textos mais famosos e revisitados da Literatura Brasileira: a “CANÇÃO DO EXÍLIO”, do poeta romântico Gonçalves Dias. Nela, nota-se claramente uma visão ufanista e saudosista da terra natal. Observem:

Canção do exílio

Gonçalves Dias

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá;

As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.

 

Em cismar, sozinho, à noite,

Mais prazer eu encontro lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

 

Minha terra tem primores,

Que tais não encontro eu cá;

Em cismar – sozinho, à noite–

Mais prazer eu encontro lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

 

Não permita Deus que eu morra,

Sem que eu volte para lá;

Sem que desfrute os primores

Que não encontro por cá;

Sem qu'inda aviste as palmeiras,

Onde canta o Sabiá. 

Agora vejamos o exemplo a seguir, do poeta Carlos Drummond de Andrade:

Nova Canção do Exílio

Carlos Drummond de Andrade

Um sabiá

na palmeira, longe.

Estas aves cantam

um outro canto.

 

O céu cintila

sobre flores úmidas.

Vozes na mata,

e o maior amor.

 

Só, na noite,

seria feliz:

um sabiá,

na palmeira, longe.

 

Onde é tudo belo

e fantástico,

só, na noite,

seria feliz.

(Um sabiá,

na palmeira, longe.)

 

Ainda um grito de vida e

voltar

para onde é tudo belo

e fantástico:

a palmeira, o sabiá,

o longe.

 

Notem como há uma semelhança com o texto inicial “Canção do exílio”. O texto de Carlos Drummond de Andrade, intitulado como a “Nova canção do exílio”, retoma a ideia presente no texto de Gonçalves Dias, arrumando-a com outras palavras, porém, sem alterar o sentido original. Dessa forma, podemos afirmar que “Nova canção do exílio” é uma paráfrase do texto “Canção do exílio”.

  • PARÓDIA

No caso da paródia, o texto original é retomado, de forma que seu sentido passa a ser alterado. Normalmente, a paródia apresenta um tom crítico, muitas vezes, marcado por ironia. Tendo como texto-base – a “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias, analisemos o texto a seguir, do poeta modernista Murilo Mendes:

Canção do exílio

Murilo Mendes

Minha terra tem macieiras da Califórnia

onde cantam  gaturamos de Veneza.

Os poetas da minha terra

são pretos que vivem em torres de ametista,

os sargentos do exército são monistas, cubistas,

os filósofos são polacos vendendo a prestações.

A gente não pode dormir

com os oradores e os pernilongos.

Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.

Eu morro sufocado

em terra estrangeira.

Nossas flores são mais bonitas

nossas frutas mais gostosas

mas custam cem mil réis a dúzia.

 

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade

e ouvir um sabiá com certidão de idade!

Reparem como a paródia de Murilo Mendes satiriza o texto original de Gonçalves Dias. A intenção não é mais a de exaltação da pátria; o sentido original foi alterado. Dessa forma, podemos dizer que a paródia é a intertextualidade das diferenças.

  • CITAÇÃO

A citação acontece quando há uma transcrição de um texto ao longo de outro, marcada normalmente pelo uso de aspas. Vejam, na tirinha a seguir, um exemplo de citação:

  • HIPERTEXTO

É uma espécie de um texto maior formado por vários outros elementos textuais, que permitem a leitura em múltiplas direções. Esse termo está associado, também, à informática, uma vez que também se designa como um sistema de textos eletrônicos conectados através dos chamados “links”. O hipertexto trabalha exatamente com a ideia de leitura e escrita não linear. São vários os exemplos, dentre eles, temos: as notas de rodapé, o próprio dicionário, os verbetes de enciclopédia, as páginas de internet com seus diversos links.

A imagem a seguir reproduz bem essa ideia:

  • ALUSÃO

É um tipo de intertexto que faz referência, de modo explícito ou implícito, a uma obra de arte, a um fato histórico ou a uma celebridade, para servir de termo de comparação e que apela à capacidade de associação de ideias do leitor que ativa seu conhecimento prévio, sem o qual o sentido não pode ser alcançado.

Vejamos:

Esse computador, sem dúvida, é um “presente de grego”.

A expressão presente de grego só faz sentido para quem conhece a história da Guerra de Troia. Presente de grego significa presente ou oferta que traz prejuízo.

 

 

Se observarmos o conjunto de elementos que formam a figura central do anúncio (a roupa, o meio sorriso da pessoa e o cenário de fundo), perceberemos que o anunciante apela para o conhecimento prévio do leitor. Assim, espera-se que o leitor ou o público-alvo saiba que ali há a presença de outro texto, isto é, precisa reconhecer o “intertexto”. No caso, a figura representada é a Mona Lisa, considerada a obra-prima de Leonardo da Vinci.

Na parte inferior do anúncio, lê-se: “Mon Bijou” deixa sua roupa uma perfeita obra-prima”. Como se vê, o anunciante “mascara” a sua real intenção que é a de vender o produto e assume o papel social de “benfeitor”, ou seja, o produto oferecido trará benefícios para o seu destinatário. Entende-se que, “deixar sua roupa uma perfeita obra-prima”, significa dizer que deixará a sua roupa macia e perfumada e indo um pouco além, a propaganda implicitamente pretende dizer que, assim como a obra prima de Da Vinci, a roupa ocupará uma posição de destaque, tornando-se ímpar em relação às demais e isso só a Bombril faz.

  • PASTICHE

Intertextualidade que consiste no bom e velho plágio. O pastiche é uma imitação, com intenção pejorativa.

CONCLUSÃO

Levando-se em conta o que foi observado entendemos que a intertextualidade ou dialogismo é um recurso bastante usado entre os autores com o intuito da produção de textos que a demais não se restringe apenas ao texto literário, é uma ferramenta essencial para discernir, inferir certos conhecimentos de algo por meio de experiências prévias. O autor deixa claro que em todo o texto ou enunciado existe brechas para serem fechadas, ou seja, a intertextualidade ou analogia (linguísticamente falando) não é nada mais do que plágio,paródia, versão, alusão ou tradução de textos anteriores ao qual será publicado, então o autor utiliza-se, baseia-se de outros para desde então desta circunstância criar um novo material, mas não de maneira desorganizada ou aleatória, e sim de brechas, falhas, informações, enunciados  que outros autores não citaram em um determinado material. Em suma, busca-se criar um texto, poema, música, peça de teatro, livro, filme com relação há outras obras existentes. Então, o objetivo do artigo é demonstrar que a analogia ou intertextualidade é uma comparação de algo novo com outras obras que já existem.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.          

KOCH, Ingedore G. Villaça; BENTES, Anna Christina; CAVALCANTE, Mônica Magalhães. Intertextualidade diálogos possíveis. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2008.

 

FIORIN, José Luiz. Introdução ao pensamento de Bakhtin. São Paulo: Ática, 2006.

 

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