INTERFERÊNCIA DA “SMEAR LAYER” NO SUCESSO DE OBTURAÇÕES ENDODÔNTICAS

Por Luís Antônio Xavier Vieira | 31/12/2012 | Arte

INTRODUÇÃO 

      Durante muitos anos, sucessivos estudos foram feitos, com o objetivo de se verificar a estrutura dentinária após esta ser submetida ao corte. As primeiras observações foram feitas por Garberoglio e Brännströn (1982), os quais perceberam que a superfície da área total de canalículos dentinários na junção amelo-dentinária corresponde a 1%, o meio da espessura da dentina, em 10%, e próximo à polpa, em 45%. As implicações clínicas desse fato são que, como a dentina é removida, tanto mecanicamente pelo profissional, como por alterações patológicas, a dentina remanescente torna-se mais permeável, porque apresentam canalículos com maior diâmetro, podendo aumentar o potencial de irritação da polpa, por agentes químicos e/ou bacterianos.

      O termo “smear layer” foi proposto por Boyde et al (1963), que observou que quando a estrutura dentinária é submetida por ação de corte, forma-se uma camada de esfregaço, em resposta a tal ação, no intuito de promover uma barreira contra agentes que porventura seriam agrassores à polpa. Essa camada está presente em maior ou menor quantidade, dependendo do tipo de instrumental utilizado e da intensidade do corte eu que a dentina foi submetida.

      A expressão inglesa, que foi referida em português como camada agregada, barro ou lama dentinária, é um substrato dinâmico, produzido clinicamente e consiste de duas camadas: a camada externa superficial e amorfa (“smear on”), agregada  sobre superfície dentinária, e a interna (“smear  in” ou “plug”) , formada por micropartículas que forçadamente penetram por alguns  micrômetros no interior do complexo tubular da dentina.

      Essa camada de esfregaço só foi verificada graças à utilização do Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV), pois o preparo do dente para observação em microscopia de luz normalmente descalcifica as estruturas mineralizadas e, conseqüentemente, também a lama dentinária. Em 1970, EICK et al.6, utilizando o MEV, caracterizaram a aparência topográfica e a natureza química da “smear layer” Constataram que o tamanho das partículas variava de0,5 a 15 µm e observaram a presença de um filme orgânico com espessura menor que 0,5 µm, contendo nitrogênio (N), enxofre (S) e carbono (C).

      Em 1975, McComb e Smith descreveram pela primeira vez a camada de esfregaço, depois de observar uma camada amorfa de detritos com uma superfície irregular e granular em paredes instrumentadas dentinários utilizando MEV. Esta camada de esfregaço era composta de dentina, polpa e restos bacterianos. Os autores afirmam que "a maioria das técnicas de instrumentação padrão produziu uma parede do canal que foi manchado e cheio de detritos."

      Em 1984 Pashely descreveu a camada de esfregaço como sendo composto de duas fases, uma fase orgânica, composto de resíduos de colágeno e glicosaminoglicanos da matriz extracelular de células da polpa, que atua como uma matriz para uma fase inorgânica. Este conteúdo organomineral é composto de duas camadas distintas e  superpostas. A primeira camada, que cobre a parede do canal é vagamente um aderente e fácil de remover. A segunda camada no entanto oclui os túbulos dentinários e fortemente adere às paredes do canal. Ainda, segundo o mesmo autor, há dois pontos de vista extremos a respeito da camada de lama dentinária:

      1. seria um protetor cavitário natural, que obliteraria os túbulos dentinários e reduziria a permeabilidade dentinária com mais eficiência do que qualquer verniz comercializado;

      2. no outro extremo, interferiria na adaptação ou adesão dos materiais dentários na dentina e também serviria como depósito de microorganismos e seus produtos, causando injúria pulpar.

      Atualmente, existem várias hipótes no que tange à presença da “smear layer”em canais radiculares obturados de dentes tratados endodonticamente. A remoção da "“smear layer”", tem sido sugerida como um fator que favorece a redução da infiltrção marginal, por tornar a parede dentinária mais limpa, aumentando a superfície de contato com o cimento obturador. (KENNEDY et al., 1986; LIMKANGWALMONGKOL et al., 1991; LIMKANGWALMONGKOL et al., 1992; PILATTI, 1993; SEN et al., 1995; ECONOMIDES et al., 1999; KUGA et al., 1999; SOUZA & SILVA, 2001). Além disso, apesar da “smear layer”atuar como uma barreira impermeabilizadora, pode permitir a passagem de pequenas moléculas e certos microrganismos podem produzir substâncias ácidas que permitem a difusão dos mesmos e das bactérias já existentes na camada (PASHLEY, 1984).     

      Para BOWEN et al.2 (1984), a camada de lama dentinária deve ser alterada ou removida para se obter elevada resistência adesiva e um bom selamento hermético entre os materiais obturadores e a estrutura dentária.     

      Há uma falta de acordo sobre o efeito da camada de smear na qualidade de instrumentação e obturação, mas esta camada, em si, pode ser infectada e pode proteger as bactérias dentro dos túbulos dentinários. Vários métodos têm sido utilizados para remover a ““smear layer””. Resultados conflitantes têm sido obtidos a partir de numerosos estudos in vitro sobre o significado da sua presença ou remoção. O presente estudo tem como objetivo abordar os conceitos de diferentes autores e abordagens de diferentes estudos a respeito da interferência da “smear layer”no sucesso da obturação de canais radiculares...

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