Interesses Políticos

Por NERI P. CARNEIRO | 22/01/2011 | Filosofia

O ser humano faz tudo por interesse. Não existe gratuidade em seus gestos, ações ou posturas. Sempre faz, diz e se relaciona a partir de interesses pessoais.
É verdade que alguém poderia objetar, dizendo que: "Eu não sou assim. Eu faço coisas em meu interesse, mas também defendo os interesses de outros. Quando faço boas ações ou ajudo alguém, não o faço pensando em mim, mas naquele que recebe o bem que faço"
A resposta a essas objeções nasce da indagação: Quando essa pessoa faz o bem, faz isso realmente pensando no outro ou pensando que o outro lhe devotará gratidão? Faz o bem, é solidário, ajuda os necessitados, porque eles necessitam ou porque se sentirá bem com sua consciência?
Voltamos à nossa afirmação: sempre, em tudo que fazemos o que nos move são os nossos interesses. Nem sempre são interesses econômicos. Nem sempre serão interesses mesquinhos. Nem sempre serão interesses imorais, antiéticos, egocêntricos. Mas sempre agimos em favor dos nossos interesses.
É o caso da solidariedade. O que nos move a ser solidários não é a necessidade do outro, mas a nossa necessidade de não ficarmos mal com nossa consciência. Para não ficarmos com a consciência nos acusando de não ter feito o que poderíamos ter feito é que fazemos o que fazemos, nos atos de solidariedade. Outras vezes fazemos o bem porque isso nos torna mais bem aceitos na sociedade. E, embora não seja um ato de mesquinharia, pensamos assim: "Vou fazer o que todos esperam que eu faça pois se não fizer ficarei mal visto pelos que me conhecem ou pela sociedade. O que vão pensar de mim?"
Em ambos os casos, fazemos o bem não por ser um bem, mas porque esse bem nos dá satisfação. E, portanto, isso é um interesse que nos move.
Pode ocorrer que nos associemos a outros para satisfazer nossas necessidades e atingir nossos objetivos que satisfazem nossos interesses. Assim nascem as associações, as vilas, as cidades. Assim nasce a política e a ética. Veja o que afirmou Aristóteles, no século IV aC: "É evidente que uma cidade é mais do que uma mera associação em um lugar comum, estabelecida com o objetivo de prevenir crimes mútuos e de comércio. Essas são condições sem as quais uma cidade não pode existir, mas todas essas condições juntas ainda não constituem uma cidade. A qual é uma comunidade de famílias e agregados que se unem para viver melhor".
Com isso podemos entender as ações dos políticos. Eles também são movidos pelos seus interesses. Isso explica porque nem sempre aqueles que elegemos fazem um bom mandato. Eles não fazem o que nós consideramos que deveria ser feito, mas o que eles consideram importante; fazem um mau mandato de acordo com os nossos critérios, pois pelos seus critérios estão fazendo o que acham ser o mais conveniente: cumprem com seus interesses.
Grandes pensadores já disseram isso, em relação à política e aos políticos.
No livro "República", Platão (no século IV aC) coloca na boca de Sócrates a seguinte afirmação: "Você não vê que ninguém quer exercitar espontaneamente cargos públicos, ao contrário, todos exigem uma compensação porque acreditam que não tiram nenhuma vantagem do exercício do poder". O que os move: seus interesses pessoais. Interesses, por vezes inconfessáveis.
Vários séculos depois, já no renascimento Tomas Morus (Sec XV), escreve na sua principal obra "Utopia": Os príncipes "interessam-se muito mais pelos meios, louváveis ou não, de conseguir novos reinados do que por aqueles que os levariam a bem administrar seus domínios"
Contemporâneo de Morus, Nicolau Maquiavel (sec XV), escreveu "O Príncipe", um dos principais tratados sobre política. Nessa obra caracteriza duas bases do poder: "vendo os grandes não lhes ser possível resistir ao povo, começam a emprestar prestígio a um dentre eles e o fazem príncipe para poderem, sob sua sombra, dar expansão ao seu apetite; o povo, também, vendo não poder resistir aos poderosos, volta a estima a um cidadão e o faz príncipe para estar defendido com a autoridade do mesmo.". O que os move? Seus interesses!
Então isso significa que os nossos interesses pessoais são o ponto de estrangulamento da vida social? A sociedade será sempre e cada vez pior porque somos guiados pelos nossos interesses que, nem sempre coincidem com os interesses de outros? Sim e não.
Sim, pois somos interesseiros, e entre o bem do outro e o nosso bem, preferimos o nosso. Não, pois já sabemos que se não criarmos objetivos comuns, construiremos, cada vez mais nossa própria desgraça. Para evitarmos isso foi que criamos as morais e as religiões e todos os deuses. E em relação à ação dos políticos, também vale o mesmo principio, que, aliás, já foi analisado pelos antigos. Diz Aristóteles: "Os governos que têm em vista o interesse comum está constituído em conformidade com a justiça e, portanto, estruturados corretamente, mas aqueles que têm em vista apenas o interesse dos governantes são todos falhos e formas desviadas das constituições corretas".
No período eleitoral votamos de acordo com nossos interesses. Resta saber que interesses norteiam as ações daqueles que elegemos.

Neri de Paula Carneiro ? Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador.
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