Interdisciplinaridade: Um Diálogo Entre Conhecimentos

Por Ivany Ehrhardt | 14/11/2008 | Educação

Ivany Ehrhardt
Especialista em Educação a Distância e
Metodologia do Ensino Superior
Mediateca
Inclusão digital
Brasília, julho de 2007.
ivany_e@terra.com.br

A construção do conhecimento humano não ocorre de forma compartimentada, mas integrada e com referenciais de experiências já vividas. Elaborar conceitos significa referendar conhecimentos adquiridos a partir de estruturas mentais que, numa relação dialógica e interativa, resulta num saber significativo. A interdisciplinaridade é o resultado do cruzamento de saberes de ciências diferentes que, quando aplicados em situações de aprendizagem, originam condição fundamental para a sistematização desses conhecimentos de forma integrada.

Cada área do conhecimento traz em si premissas, pressupostos e paradigmas que o caracterizam como tal, daí ser possível a sua identificação por meio das estruturas e expressões que são peculiares a cada ciência. A língua pátria, a matemática, a biologia, a geografia, a física, a história, a filosofia e todas as demais ciências se expressam por conhecimentos, resultado de estudos e pesquisas, enriquecidos pelas descobertas, produto de investigações em novos campos do saber.

O pensamento humano é o resultado da interação e integração de idéias e pensamentos que, arquitetonicamente organizados, resultam num mapa conceitual que expressa às relações dos muitos saberes que cada um tem em relação ao mundo que o cerca.

Apresentamos um modelo de mapa conceitual elaborado por Marco Antonio Moreira (2002), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde demonstra as relações existentes entre conceitos formando uma rede, uma teia de pensamentos produtivos que resultam num saber integrado que foi desenvolvido num "workshop", na Argentina, em 1994, como exemplo de integração de conhecimentos.

Mapa conceitual para o núcleo interdisciplinar do 1° ano, elaborado pelos
professores Hugo Fernandez, Marta Ramirez e Ana Schnersch em um "workshop" sobre
mapas conceituais realizado em Bariloche, Argentina, 1994.


A interdisciplinaridade é o resultado dessa organização, antes segmentadas, que agora são organizadas de forma harmônica, onde conceitos são sistematizados resultando na produção de novos conhecimentos que possuem uma relação entre si, gerando a transferência de aprendizagem em novas situações problemas apresentadas.

Paulo Freire (1989) afirma que nossas estruturas mentais não são compartimentadas como se fossem pequenas gavetas onde armazenamos nossos conhecimentos, mas uma teia, uma rede, que interage e resulta em novos saberes. Esta é uma nova forma de trabalhar o pensamento, propondo metodologias alternativas permitindo à criatividade, a descoberta, a produção de idéias colaterais que enriquecem o ser humano de forma epistemológica.

O saber significativo é anterior a nossa era, o que explica nossa proposta de trabalho dentro de uma nova ótica: construir conhecimentos que tenham sentido para a nossa vida diária e que sejam passíveis de aplicação na ciência, deve ser o resultado de uma elaboração pessoal e ter como base sua cultura, seus saberes estruturados e sua experiência de vida.

O empirimo (senso comum) e a construção científica do saber devem fazer parte do cotidiano da escola e em particular do aluno. Aprender é um processo interno do indivíduo que é expresso pela competência em agir e participar.

As ciências possuem fundamentos, conceitos , premissas, teorias, metodologias, processos, práticas, historicidade, preceitos, entre outros, que, por meio de metodologias, organizam o conhecimento científico. Assim, o saber sistematizado é fundamental para o sucesso da aprendizagem significativa e é o que devemos buscar ao trabalharmos com o ideário das diversas ciências que formam o repertório de conhecimentos do estudante.

A construção de uma relação interativa entre as ciências resulta num processo importante para a formação integral do indivíduo. A organização sistêmica do novo saber, é peculiar e individual evidenciando que o resultado dos novos conhecimentos seguiram caminhos próprios e personalizados.

Com o advento do Construtivismo, resultado das pesquisas de Jean Piaget (1998) e consolidada por seus discípulos e sucessores, surgem novas teorias que mudam o eixo do saber, que era centrada no professor e passa para a descoberta do conhecimento, agora realizada pelo aluno.

Conforme Frant (2005), dentro dessa nova proposta, surge o tríduo:

A troca de saberes entre os entes, professor e aluno, ocorre de forma construtiva, colaborativa e emancipadora.

A introdução das abordagens de construção do conhecimento, por Piaget (1896-1980), vislumbra uma nova ótica no processo de ensinar e aprender, e conseqüentemente na relação ensino-aprendizagem. Este novo cenário nos apresenta como proposta pedagógica a participação reflexiva do educando onde situações-problemas e propostas de trabalhos cognitivos são os desafios para aprendizagens significativas.

Os fundamentos dos construtivistas prevêem que a assimilação se configure como elaboração individual e pessoal, onde o aluno é o agende ativo de seu saber. O novo conhecimento deve ser o resultado de participação ativa do estudante, que resulte em novas configurações pessoais do aprendido, onde ele é o agente de transformação de seu conhecimento, resultado de uma construção social.

Há uma mutação pessoal que reflete a internalização dos estímulos e motivações, agentes externos, que provocam as mudanças, ensejando a troca de experiências entre indivíduos numa elaboração colaborativa de conhecimento acumulado. As trocas interpessoais, as descobertas são partilhadas e ao mesmo tempo interdependentes, num processo de formação, onde os novos saberes afloram como resultado da construção cognitiva da compreensão do assimilado.

Trabalhar os conteúdos de forma interdisciplinar é expressar a realidade existente no universo dos alunos, é identificar as relações existentes entre as informações, é contextualizar os conhecimentos.

A evolução dos conceitos de ensino-aprendizagem, desde os primeiros pensadores, tem a formação como um processo interno e particular de cada indivíduo e sempre foi o desafio para novas descobertas na busca de melhor entender o pensamento humano e suas estruturas e conexões, buscando desvendar as complexidades que esses elementos envolvem. Os processos de elaboração dos conceitos são o resultado de experiências já vividas ou experimentadas e expressas em comportamentos.

Ao trabalharmos com interdisciplinaridade significa dizer que devemos ter competência, que para Perrenoud (2002) "[...] é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações etc) para solucionar com pertinência e eficácia uma série de situações o que significa transferir conhecimento". O autor afirma, ainda, que: "não há competência sem saberes".

O educador deve ter presente que o domínio dos conteúdos das disciplinas é importante, mas, mais importante, é a relação que existe entre elas, numa rede de saberes que, numa inter-relação, expressem um novo conhecimento resultado de elaboração pessoal ou de pesquisa, que possa ser aplicado em novas situações equivalentes.

A proposta está em utilizar conhecimentos de uma área de ciência em outra, descobrindo novas formar de estruturar as idéias, fazendo conexões significativas, explicando de forma diferente o conhecimento adquirido. O importante é ser competente, é resolver questionamentos por meio de ações, é realizar com propriedade e segurança um processo que prevê: novas aquisições de informações; fazer relação entre os programas escolares; trazer os saberes de fora da escola para dentro do espaço escolar; tomar decisões cujos fundamentos são a resolução de situações problema.

Na escola de hoje é essencial oferecer ferramentas para dominar a vida e compreender o mundo, segundo Perrenoud (1999). Realizar essa tarefa é o nosso compromisso.


Bibliografia
EHRHARDT, Ivany. Ambientes virtuais de aprendizagem: desafio para alunos iniciantes em Educação a Distância. Brasília, SENAC, 2007 (TCC inédito)
Epistemologia. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Epistemologia. Acesso em 15 jul. 2007.

FREIRE, Paulo. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A9todo_Paulo_Freire. Acesso em: 15 jul. 2007.

JAPIASSU, Hilton F. EPISTEMOLOGIA O mito da neutralidade científica. Rio, Imago, 1975 (Série Logoteca), 188 p.
LEIS, Héctor Ricardo. Sobre o conceito de interdisciplinaridade. Disponível em: http://www.cfh.ufsc.br/~dich/TextoCaderno73.pdf. Acesso em: 15 jul. 2007.


MOREIRA, Marco Antonio. Mapas conceituais e aprendizagem significativa.
Instituto de Física – UFRGS. Porto Alegre – RS, 2002 (Adaptado e atualizado, em 1997, de um trabalho com o mesmo título publicado em O ENSINO, Revista Galáico Portuguesa de Sócio-Pedagogia e Sócio-Linguística, Pontevedra/Galícia/Espanha e Braga/Portugal, N°
23 a 28: 87-95, 1988.) Disponível em: http://www.if.ufrgs.br/~moreira/mapasport.pdf. Acesso em 20 jul.2006

PERRENOUD, Philipp. Construir competências é virar as costas aos saberes? Disponível em: http://www.centrorefeducacional.com.br/perrenoud2.htm. Acesso em: 20 out. 2006.