INTELIGENCIA ARTIFICIAL?

Por Julia Nascimento | 15/12/2014 | Educação

Professora  Wanda Camargo -  assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil.

O termo ciborgue remete à ficção científica, aplicado a personagens que, tendo perdido partes do corpo, as tiveram substituídas por peças mecânicas que potencializam enormemente sua força, velocidade, acuidade visual e auditiva, habilidades capazes de torná-los heróis, com poderes acima do comum. A expressão foi criada no início dos anos 1960, unindo as palavras cybernetics e organism, cyborg, organismo cibernético. Naquela época, começo da corrida espacial, aventou-se a necessidade de “melhorar” a capacidade de seres humanos com a junção a máquinas, o que lhes daria possibilidade de sobreviver no espaço.

Na realidade, já se tornou comum a utilização de tecnologia em vários níveis de sofisticação para ajudar as pessoas a superar deficiências físicas. Na recente cerimônia de abertura da Copa do Mundo de Futebol foi apresentado um exoesqueleto, que possibilitaria que uma criança tetraplégica desse o pontapé inicial da competição; a exposição foi quase simbólica, mas o aparelho existe, está em evolução e em breve poderá ajudar milhares de pessoas.

Grupos de cientistas, inclusive no Brasil, dedicam-se ao estudo da fisiologia de órgãos e sistemas, e buscam o desenvolvimento das chamadas neuropróteses ou interfaces cérebro-máquina, que integrarão o cérebro humano a máquinas para proporcionar mobilidade a pacientes paraplégicos ou tetraplégicos. Já se desenvolveram sistemas que permitem a criação de braços mecânicos controlados por meio de sinais cerebrais, e os vários tipos de computadores pessoais, tablets, smartphones, e outros equipamentos, existentes e a existir, já exercem de algum modo a função de complementar e expandir a capacidade mental.

No entanto, ainda não vencemos o analfabetismo e os avanços da ciência não são acessíveis à maior parte da população brasileira: convivemos simultaneamente com o melhor da tecnologia e um processo educativo classificado como deficiente e incapaz de gerar qualidade de vida.

Mesmo que uma rápida, rapidíssima, pesquisa em um site de busca permita a obtenção de dados que se conseguiria na era pré-internet apenas após exaustivas consultas a enciclopédias, livros-texto, especialistas, há que considerar a pouca confiabilidade e/ou profundidade de grande parte das informações adquiridas dessa forma, e que para obter respostas de boa qualidade é indispensável fazer perguntas de boa qualidade, ter alguma noção acerca do tema pesquisado.

A quantidade de informação hoje disponível a qualquer curioso é enorme, mas não significa real conhecimento ou acréscimo cultural, para que isso aconteça é indispensável reflexão e aprofundamento das pesquisas sobre o tema escolhido.

É uma tendência comum a procura pelo caminho de menor resistência, herança decerto de tempos de escassez de alimentos, quando toda energia devia ser poupada. No entanto não existe substituto para a mente humana, o processamento de dados é ferramenta útil, poderosa e cada vez mais indispensável, mas como todo instrumento tem sua eficácia decorrente da eficácia de quem a utiliza.

O acesso instantâneo a milhares de dados, possível a praticamente qualquer pessoa, não significa sabedoria; acréscimo de cultura demanda refletir sobre todas as informações, confrontar opiniões contrárias, aprofundar os diferentes pontos de vista.

É preciso que o sistema educacional propicie conhecimento científico e prepare o estudante adequadamente para o convívio social, para o controle dos excessos, para a reflexão. O estudo, a educação, a dedicação, continuam sendo a porta de entrada para o mundo do conhecimento, ainda que essa porta pareça se abrir eletronicamente.