Insônia
Por Júlio César Gonsalves | 04/06/2012 | ContosInsônia
A madrugada chega. Na escuridão do quarto, o silêncio e as lágrimas são os meus companheiros. Sinto-me triste, angustiado, com um vazio enorme no peito. Tudo me entristece, o trabalho, a escola, a vida. Mas eu não quero sofrer mais nessa noite de insônia. Fecho os olhos, lembro-me de três pessoas especiais, fico imaginando o que elas estarão fazendo neste momento. Viajo.
Vejo-me diante de uma casa simples no interior, mesmo durante a noite encontro a porta aberta. Entro. Um lençol marca a entrada de um quarto, afasto-o e vejo sobre a cama Aline, minha prima, adormecida, quieta. Ela me traz lembranças tão boas, coisas que talvez não estejam mais em sua memória, mas que estarão para sempre em meu coração. Lembro-me de como ela foi importante em um dia em que eu estava tão triste, encontrei-a e todos os meus problemas se desvaneceram como se nunca tivessem existido. A voz animada, um sorriso e um abraço, foi tudo o que ela precisou para fazer a minha tristeza desaparecer. E os dias em que tive a sua companhia foram maravilhosos, conversamos, jogamos cartas, rimos, nos divertimos. Tudo tão singelo, mas pra mim muito especial porque quando já sofremos muito apreendemos a dar valor a pequenos momentos.
Não entrei no quarto de Aline, tive medo de acordá-la, e depois de alguns minutos eu me despedi e andei por uma rua silenciosa.
Chego à casa de Elenís, outra prima muito querida, a porta está trancada, mas vejo-a pela janela do quarto, ela está adormecida e parece sorrir, com certeza está tendo um sonho bom. Tenho muito que agradecer a ela, sempre me apoiou, sempre me fez acreditar que eu não estava sozinho, e mesmo quando eu não fui um bom amigo, quando eu não queria conversar, quando eu não percebi que ela estava triste, ela nunca me abandonou.
Deixo para trás a casa de Elenís e continuo a minha caminhada. Corro, encurto distâncias. Chego diante de uma grande casa, as portas estão fechadas, as janelas também, não abro nada porque não quero assustar ninguém. Na varanda um cachorro medroso chora querendo entrar. Ali mora alguém que eu queria ver, outra prima que encheu minha vida de pequenos momentos que me marcaram profundamente, ela apareceu trazendo sorrisos e diversão em dias que eu achava que nada de bom poderia acontecer.
Viro-me para ir embora, mas de repente ouço um barulho na porta, olho para trás e avisto por alguns segundos a menina que veio apanhar o cachorro. Era a Duda, a minha prima. Ela não chegou a ver-me e voltou para dormir, é o que eu pretendo fazer agora.
Depois desse pensamento louco sinto-me melhor, sinto-me feliz. Lembrar-se de pessoas que amamos ajuda a afastar a tristeza. Agora sinto sono. Respiro profundamente e consigo dormir.
J.C. Gonsalves da Rocha