Inserção do lúdico no processo de alfabetização

Por LEDRA SANTOS DO NASCIMENTO DUARTE | 25/01/2017 | Educação

RESUMO:

O presente artigo pretende discutir a importância do lúdico para obtenção de uma aprendizagem significativa durante o processo de apropriação de grafemas e fonemas. Como o lúdico pode auxiliar a prática do professor no processo de alfabetização? O lúdico pode facilitar e tornar significante para as crianças o processo de transmissão de conhecimento? Qual o papel da ludicidade no campo da alfabetização? Trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo e de caráter bibliográfico.

Neste processo de investigação os autores utilizados foram: Soares(2008 ), Ferreiro e Teberosky (1985) e Paulo Freire (1989).

PALAVRAS- CHAVES: Ludicidade; Alfabetização; Aprendizagem.

INTRODUÇÃO Compreender a ludicidade no campo da alfabetização nos move a enxergar inúmeras possibilidades que tornam a ação docente eficiente e eficaz, tornando os espaços escolares ambientes mais férteis através da obtenção de resultados significativos.

A questão que propomos compreender é a relação entre ludicidade e alfabetização, como a ação docente pode unir ambos os processos tendo em vista o desenvolvimento do educando através da apropriação da linguagem oral e escrita, frente às demandas sociais que vão surgindo no meio social em que os educando esta inserido.

Para obtermos clareza, diante de tais questões recorreu-se a Psicogênese da escrita, a partir dos estudos de Ferreiro e Teberosky (1985), aos estudos de Piaget (1998), e as contribuições de Paulo Freire (2005). A partir de um estudo de cunho qualitativo, pretendemos desenvolver tais questões apontadas, trazendo contribuições que venham somar com a ação docente.

ALFABETIZAÇÃO NA PERSPECTIVA DE PAULO FREIRE Na abordagem freireana a alfabetização esta para além da apropriação de grafemas e fonemas, configura-se como primeiro degrau para etapa civilizatória, através da palavra o homem torna-se homem, linguagem é vista como cultura e o individuo torna-se sujeito que tem uma postura ativa sobre o mundo, construindo e reconstruindo todo o processo histórico. Alfabetizar em Freire (2005) é ensinar o uso da palavra.

Paulo Freire, patrono da educação brasileira nos deixou um legado no campo da alfabetização, era comprometido com uma pedagogia que possibilitasse a libertação, a liberdade que foge da dominação. Para Fiori (1967) Freire foi um pensador comprometido com a vida, que pensava a existência, em uma sociedade cuja dinâmica era à dominação de consciências.

Soares (2008) discute a educação das camadas populares no Brasil, camadas que constituem grande parte da nossa população brasileira. A questão central é que a escola para o povo ainda é bastante insatisfatória do ponto de vista qualitativo e quantitativo. Pretendemos discutir como o lúdico pode potencializar a ação docente no processo de alfabetização. A ludicidade é uma proposta pedagógica que muito tem a contribuir para o desenvolvimento da aprendizagem. O desenvolvimento de atividades lúdicas no cotidiano escolar propícia a percepção, a atenção e a produção textual.

As atividades lúdicas no contexto cotidiano das crianças que estão sendo alfabetizadas pode potencializar o processo e conduzir as crianças a se apropriarem tomando tais conhecimentos no contexto social, uma vez que, significados são criados. A inserção do lúdico na prática docente é de extrema importância para produção de uma educação para a liberdade, uma educação capaz de gerar indivíduos ativos sobre o mundo, capazes de exercer sua cidadania de maneira consciente através de um posicionamento crítico.

É através da ação docente que a ludicidade vai ganhando espaço nas esferas descolares, auxiliando e facilitando o processo de alfabetização e letramento. O aspecto lúdico como discutiremos é de grande relevância no processo de aquisição da linguagem oral e escrita nos anos iniciais do ensino fundamental.

INSERÇÃO DO LÚDICO NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO O Referencial Curricular Nacional da Educação Básica (2002) propõe a sensibilidade docente quanto às experiências que são importantes para as crianças vivenciarem, assim não é suficiente apenas que o professor alfabetizador tenha uma formação sólida, quanto aos domínios linguísticos básicos. Sem a inserção de atividades lúdicas na rotina o ambiente escolar se torna uma fonte de tortura.

Os jogos e brincadeiras além de tornar as atividades pedagógicas prazerosas, propicia o desenvolvimento intelectual. Segundo Piaget (1998) os jogos não podem ser vistos como simples divertimento ou brincadeira para desgastar energia, mas meios que enriquecem o desenvolvimento intelectual, moral, social e cognitivo.

Em seus estudos Esteves (2013) afirma que embora o lúdico tenha sua origem na palavra latina "ludus" que quer dizer "jogo". A evolução semântica da palavra "lúdico", entretanto, não parou nas suas origens, acompanhou as pesquisas de psicomotricidade. Ficou sendo reconhecido ser como traço essencial de psicofisiologia do comportamento humano. Assim, deixou de ser um simples sinônimo de jogo, extrapolando também as demarcações do brincar espontâneo, até as necessidades básicas da personalidade, do corpo e da mente.

É perceptível que atualmente o contato das crianças com a linguagem oral e escrita é cada vez mais precoce, talvez esse seja um dos fatores que conduzem muitas escolas a promoverem a alfabetização cada vez mais cedo, utilizando as maneiras antigas para conduzir a criança a codificação desta linguagem.

Os estudos de Silva e Gonçalves (2005) demonstra que as mudanças pelas quais passou a sociedade brasileira nas últimas décadas exigiram mudanças relacionadas aos programas de democratização da leitura. Houve a parti de então, a necessário intensificar a atuação, tornando-as mais efetivas, para fazer frente aos apelos imediatos de um mundo cada vez mais seduzido pela imagem, pela comunicação rápida, pela velocidade, e ao mesmo tempo ampliar quantitativamente os esforços para incluir parcelas cada vez maiores da população.

Não podemos almejar novos resultados se usarmos os mesmos recursos de outrora, se quisermos soluções precisamos desbravar novos caminhos para conquistar outros horizontes. A inserção do lúdico neste momento de aprendizagem  e desenvolvimento da linguagem oral e escrita proporciona exatamente isto, obter novos resultados.

DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM ORAL E ESCRITA A psicogênese da escrita trouxe contribuições preciosas para que possamos compreender o processo de aquisição da linguagem. Essa concepção construtivista que chegou ao Brasil na década de 80, a partir dos estudos de Ferreiro e Teberosky (1985) redimensionou o pensamento quanto às formas de aprendizagem no campo da alfabetização. Nesta perspectiva todas as crianças vão passando por níveis estruturais da linguagem escrita até que se apropriarem de toda do sistema alfabético. Os níveis pelos quais as crianças passam são: o pré-silábico, o silábico, que se divide em silábico-alfabético e o alfabético.

Silva e Gonçalves (2005) destacam que para Claparéde e Dewey, Wallon, Leif e Piaget, a atividade lúdica é berço obrigatório das atividades intelectuais, sociais e motoras, assim são indispensáveis à prática educativa. Segundo as autoras citadas em nosso sistema educacional, podemos compreender os jogos e brincadeiras a partir de três perspectivas complementares: Como objeto de estudo:

bloco de conteúdos com diferentes modalidades varia de acordo com a complexidade das normas que o regulam e o grau de envolvimento que exige dos participantes e as capacidades que pretende desenvolver. O segundo é quanto a estratégia metodológica: que é uma atividade intrinsecamente motivadora que facilita a aproximação natural à prática normalizada do exercício físico. Favorecem a exploração corporal, as relações com os demais e o aproveitamento coletivo do ócio.

A terceira é como meio globalizador: inter-relaciona conteúdos de educação física com outras áreas e eixos transversais. Contribui para potencializar atitudes e hábitos de tipo cooperativo e social baseados na solidariedade, tolerância, no respeito e na aceitação das normas de convivência. Em seus estudos demonstram que embora o jogo constituiu-se com o passar do tempo, em instrumentos de desenvolvimento de crianças e jovens, longe de serviram apenas como fonte de diversão, o que já seria importante, é um dos conteúdos mais universais do currículo da educação básica, estando presente na maioria dos currículos de diferentes países.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Tomando como referência as contribuições dos autores discutidos no campo da alfabetização em uma perspectiva lúdica podemos compreender que experiência de apropriação da linguagem, e da leitura, ocorre um uma ação conjunta. Os sujeitos não são passivos nesse processo de ensino e aprendizagem que se inicia no contato com o meio social e os indivíduos que o constitui. A internalização ocorre no interior do indivíduo. As contribuições da Psicogênese da Escrita demonstram que nesse processo do social para o individual, a partir da mediação do outro, que surge o pensamento abstrato, a memorização, a atenção voluntária, o comportamento intencional, as ações conscientemente controladas, a generalização, as associações, o planejamento, as comparações, ou seja, as funções superiores da mente, as quais nos fazem humanos, de que fala Vygotsky.

As atividades lúdicas propostas na escola devem prezar por conduzir a criança interpretar e produzir escritas, mesmo antes de chegar a ser um escritor ou leitor, no sentido convencional.

A ação docente enraizada em bases teóricas deve a partir de uma prática intencional que possibilite o desenvolvimento pleno dos educandos quanto a apropriação da linguagem oral e escrita, para que tais sujeitos através do uso da palavra falada ou escrita não apenas escrevam palavras ou expressem juízos mas que propiciem transformações quanto a realidade sócio- cultural dentro da perspectiva Freiriana.

REFERÊNCIAS BRASIL, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria de Educação Fundamental.

Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física, volume 7, 1997.

FERREIRO, Emília e Teberosky, Ana. A evolução da escrita. 4°. Ed. São Paulo:

Editora Moderna, 1985.

FERREIRO, Emília. Apresentando a psicogênese da língua escrita. 4°. Ed. São Paulo: Editora Moderna, 1996.

FERREIRO, Emília e TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: ArtMed, 2008 FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005, 42.ª edição.

PIAGET, J. A Psicologia da Criança. Editora Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, 1998.

SILVA, C. M; Gonçalves, L. D. Tese: O lúdico no processo de Alfabetização.

Centro Universitário de Brasília, Faculdade de Ciência da Educação. Brasília, 2005.

Disponivel em :

<http://www.repositorio.uniceub.br/bitstream/235/6626/1/40261937.pdf > Acesso em:

12 de Janeiro de 2017.

SOARES, Magda. Linguagem e Escola Uma Perspectiva Social. Ed. Ática: São Paulo, 2008.

ESTEVES, M. F. O Lúdico no Processo de Alfabetização. Instituto Estadual Paulista " Júlio de Mesquita Filho". Instituto de Biociências. Rio Claro, 2013.

Disponível em:

<http://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/118950/000797193.pdf?sequenc e=1&isAllowed=y > Acesso em: 12 de Janeiro de 2017.

Artigo completo: