Inovações – ensaio e erro

Por Julia Nascimento | 02/09/2016 | Educação

Muitos experimentos em todas as áreas do conhecimento fracassam, apresentam resultados aquém do esperado, implicam em retrocesso não em avanço. Isso, evidentemente, não quer dizer que não devam ser feitos, praticamente toda a realização humana passou pelo processo “sonho – teoria – tecnologia – materialização”. Durante séculos aventureiros se lançaram de lugares altos, presos a geringonças que invariavelmente se espatifaram no chão; o sonho de voar é antiquíssimo, lembremos o mito de Ícaro e suas asas; a teoria aeronáutica básica remonta ao Renascimento, da Vinci chegou a projetar um helicóptero; o grande obstáculo à realização era a tecnologia, com materiais leves e de grande resistência como alumínio e nylon foi enfim criada uma Asa Delta viável e materializou-se o voo humano.

O tempo da geração Internet, e logo mais da geração pós-Internet, mede-se nos segundos necessários para acessar toda a informação, lazer, companhia, sonhos, amizades, inimizades, pesadelos, que existem no mundo virtual. A Escola cumpriu com louvor o papel de formar, ensinar, trazer conhecimento, mas agora sua missão ampliou-se, talvez como nunca na História professores são necessários, e é fundamental sua atuação para que os jovens não se percam na virtualidade, que saibam discernir boa de má informação, que saibam transformar avalanches de dados em conhecimento real. 

Nos tempos modernos, as propostas de escolas experimentais incluíram a quase centenária Summerhill, a Escola da Ponte em Portugal e outras. Nelas os currículos são flexíveis, a frequência às aulas costuma ser opcional, a avaliação é feita segundo critérios individuais.

Hoje uma nova proposta, bastante revolucionária, está sendo iniciada nos Estados Unidos, com uma comunidade colaborativa de micro escolas que escolhem os melhores professores, aptos à pesquisa aprofundada e utilização de ferramentas inovadoras, no intuito de oferecer uma experiência de aprendizagem personalizada para a próxima geração. Cada estudante tem um plano de aprendizagem personalizado, com base em seu conhecimento daquele momento em todas as áreas, metas pessoais e interesses. Os educadores realizam curadoria de atividades individuais e em grupo, que sejam relevantes e suportem objetivos e necessidades de cada aluno, avaliando o seu progresso em uma base contínua, para mantê-los desafiados e preparados para crescer.

Buscando essencialmente educar para o sucesso no mercado extremamente competitivo que se adivinha pela frente, formando pessoas com domínio das novas tecnologias e aptas para atualizar-se na medida em que estas evoluam, mas que, teoricamente ao menos, não deixem de ampliar suas capacidades de empatia e solidariedade e um pensar mais sustentável, já que estas qualidades possivelmente também serão muito valorizadas pelo mundo do trabalho nos próximos anos.

Aplicada em pequenas turmas, com reduzido número de alunos em cada uma delas, é uma educação dispendiosa, e que aparentemente dará bons resultados – para poucos.

Escolas experimentais costumam custar caro e, de um ponto de vista estritamente contábil não se pagam. São inovadoras, praticando o que a educação mais precisa: achar caminhos novos em um mundo que se renova. No entanto, servem a alunos de alto poder aquisitivo, ou são fortemente subsidiadas – o que dificilmente poderia acontecer com verba estatal, pois deixariam de ser inovadoras, o investimento com dinheiro público deve ser conservador. E há um aspecto importante a ser considerado: inovação e experimentalismo são essenciais, mas não são apenas por si garantia de sucesso e qualidade.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.