INOCENTE X INGÊNUO

Por Reinaldo Müller (Reizinho) | 07/09/2011 | Crônicas

O termo INOCENTE designa aquele que não é CULPADO do que lhe acusam... Portanto, a sua paternidade etimológica tem uma essência... jurídica! O termo que as pessoas deveriam fazer uso, em substituição ao que fazem da palavra INOCENTE... seria o termo INGÊNUO. Explicando. A atribuição de um espírito ingênuo é o meio mais simples de realçarmo-nos a nós mesmos, e é tanto mais fácil e sedutor quanto se baseia em parte em comprovações exatas, ainda que fragmentárias, e exploradas a fundo com a ajuda de generalizações abusivas e interpretações arbitrárias em função do evolucionismo progressista. Em primeiro lugar, seria necessário entendermo-nos acerca da própria noção de ingenuidade: ser ingênuo é ser direto e espontâneo e ignorar a dissimulação e os subterfúgios, as malícias, as más intenções de terceiros, e também, sem dúvida, certas experiências... Os povos não modernos efetivamente possuíam certa ingenuidade -- se ser ingênuo é simplesmente estar desprovido de inteligência e senso crítico e estar aberto a todos os enganos, certamente não há nenhuma razão concreta e incontestável para admitir que, nós, contemporâneos, sejamos menos ingênuos do que foram nossos antepassados. De qualquer modo, há poucas coisas afirmativas de que o "homem de nosso tempo" suporte menos risco de parecer ingênuo; que pereça todo o resto, contando que o sentimento de não se deixar enganar por nada fique a salvo. Na realidade, a maior das ingenuidades é crer que o homem possa escapar a toda ingenuidade em todos os planos e que lhe seja possível ser integralmente inteligente por seus próprios meios; querendo ganhar tudo por meio da astúcia e sagacidade. Os que censuram os nossos antepassados terem sido muito crédulos esquecem, em primeiro lugar, que pode-se também ser muito incrédulo... E que em matéria de credulidade não há nada como as ilusões de que vivem os pretensos destruidores de ilusões; pois pode-se substituir uma credulidade simples por uma credulidade mais sofisticada e adornada de meandros com uma dúvida indispensável que faz parte do estilo, mas, que é sempre credulidade -- a complicação não torna o erro menos fácil, nem a tolice menos tola. De uma Idade Média desesperadamente ingênua e um século XXI perdidamente inteligente, diremos que a história não abole a simplicidade de espírito, mas, vai deslocando-a, e que a ingenuidade mais flagrante é não dar-se conta disso: não há nada mais simplista do que essa pretensão de "recomeçar do zero" em todos os planos, este pretenso auto-desenraizamento sistemático que julgamos, utopicamente, que possa existir...

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