INIMIGO PÚBLICO Nº 1

Por Jorge André Irion jobim | 25/05/2009 | Ambiental

Através dos tempos o ser humano, principalmente em épocas de crise, tem convivido com aquilo que já foi ou pode ser denominado de Síndrome do Inimigo Público n° 1. Em determinados momentos históricos, filósofos, cientistas, religiões, etnias ou ideologias políticas, já foram assim consideradas e, em virtude disso, pessoas foram aprisionadas, torturadas, crucificadas, queimadas em fogueiras em praça pública ou simplesmente eliminadas aos milhares em campos especializados e longe dos olhos do resto do mundo. Diante de uma crise qualquer ou de outros interesses obscuros, elegia-se o culpado, carimbava-o de inimigo público nº 1 e iniciava-se a caça às bruxas, tudo com consequências imprevisíveis.

 

Pois é. Hoje, o homem, talvez até motivado por uma crise de consciência diante do fato de estar praticamente destruindo sua própria casa, o planeta terra, já que não pode se conter diante do consumismo doentio de foi acometido, resolveu eleger os cães como nossos grandes inimigos públicos. Passaram a dizer que eles poluem a cidade com seus dejetos, transmitem doenças e começam a elocubrar soluções das mais radicais, dentre elas, a de eliminar sumariamente os cães encontrados soltos pelas ruas.

 

Eu fico me perguntando: que estranho mecanismo psicológico é esse que faz com que o homem queira se redimir de suas grandes culpas jogando a responsabilidade em cima de seres mais fracos, totalmente sem possibilidade de se defenderem? Como é que pode o ser humano, aquele que mais poluição causa ao planeta terra, lançando nele dejetos altamente poluentes que levarão cem, duzentos ou quatrocentos anos para se desintegrarem, querer falar mal do dejeto de um cão, substância biodegradável, ou seja, daquelas que em pouco tempo se decompõem em substâncias naturais pela ação de microrganismos, perdendo suas propriedades originais em contato com o ambiente?

 

E em relação à alegação de que os animais são transmissores de doenças, não procede. Afinal, o homem é talvez o maior portador e transmissor de doenças. E daí? Vamos resgatar algumas das soluções que eram dadas na Idade Média, naquelas épocas em que se proliferavam pelo mundo pestes que dizimavam boa parte da população?

 

E por favor, se vierem com aquela argumentação de que se cada um fizer a sua parte o mundo será bem melhor, eu retruco que, se realmente cada um quiser cooperar, deve  ter iniciativas mais amplas e efetivas tal como parar imediatamente de utilizar sacolas de plástico, recipientes pet, venenos que são jogados diariamente na natureza, etc., e deixarem de se preocupar com um simples e inofensivo dejeto de cachorro.

 

Jorge André Irion Jobim. Advogado de Santa Maria, RS
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