Inibição

Por ana monteiro | 23/11/2010 | Família


Trimm... o relógio tocou, Adelino pulou da cama, era o dia! ? hoje eu vou falar pra ela, pensou, estava decidido, esperava por esse momento há dias, o último dia de aula seria perfeito, todos iriam se confraternizar, e a Glória, Glorinha, pensou, deveria estar lá, linda com seus cabelos cacheados cor de ouro, maças do rosto tão rosada que dava inveja a qualquer garota, e seu sorriso, ah seu sorriso era um raio de luz, que só de pensar, o fazia tremer da cabeça aos pés.
Tomou um banho frio, era preciso ficar esperto, cantarolava um sucesso de Jon Bon Jovi, tudo estava pronto, calça passada, blusa limpinha e o tênis recém tirado da caixa. Saíra do quarto enlevado com o cheirinho de pão quentinho que vinha da cozinha.
O pai e a mãe a espera dele na mesa imaginaram que toda aquela faceirice era por causa do ultimo dia de aula, afinal quem não gosta de férias escolares?
Ao reparar na hora, percebera que estava atrasado, saiu apressadamente que até esqueceu-se de se despedir dos pais, no caminho da festinha de encerramento, lembrou-se da primeira vez que viu Glorinha, naquele ônibus lotado, ficou hipnotizado pelo sorriso da garota. Ao atravessar a rua leu em um outdoor de um Paulo qualquer para uma Ana qualquer a seguinte frase "Como é pesado quando um coração sozinho tem que sofrer por dois" _ é incrível como alguém que ele nem ao menos conhece, sabe exatamente o que ele sente naquele momento, mas seu sofrimento era só por mais um pouquinho de tempo.
Chegando na festa, as meninas vinham cumprimentá-lo, muitos copos descartáveis e refrigerantes a vontade, salgados, CDs e Glória? Cadê Glória?
Lembrou-se uma vez em que estava com febre, estava delirando, jurava ter visto o anjo Glória espreitando sua janela, quando se levantou percebeu que era só um galho de uma arvore, quase caiu desmaiado.
Não importava ninguém na festa, nem as sardentinhas, nem as mulatinhas ou o grupo esnobe das patricinhas, precisava pegar alguma coisa na mesa ou passaria mal, mas no caminho ele a avista, era ela.
Ele lhe contaria todos os poemas que fez pensando nela, garotas adoram poemas, que conhecia quase todas as cidades vizinhas, garotas adoram meninos interessantes, e num passe de mágica já os imaginou naquela sorveteria da esquina, ele a levaria todas as tardes lá e lhe compraria todos os sorvetes que ela quisesse, iria com ela aos shoppings, nunca entendera por que garotas adoravam shoppings, o que não se faz por amor?
O traseiro já estava dormente e nada de Glorinha parar, ia de uma lado para outro sempre conversando com alguém, em um rápido instante ela lhe lançou um olhar, ele se desmanchou, ela havia notado a sua presença, ela o havia percebido.
Ela se deliciava com um docinho, e ela imaginou o sabor daqueles lábios em formato de coração.
A última dança iniciou, ele se aproximou e quando ele abre a boca, alguém o chama:
- e essa...
Tem gente que não deveria nem ter nascido só por causa de intromissões como essas, mas fazer o quê, foi ajudar o tal Marcos a abrir a porta do banheiro que emperrou, de longe viu a bela Glorinha dançando, ah! Como devia ser leve aquele corpinho, todos bateram palmas, ele nem percebera que a musica havia parado de tocar.
Já quase a beira de um ataque, decidiu que era hora de quebrar o jejum, Glorinha, Glorinha, onde está Glorinha?
Correu para frente da escola e de longe avistou Glorinha, o anjo que não o guardara e sim o tentara, correu, respiração funda, segurou-lhe o braço de leve e disso oi, mas o ônibus dela já estava à espera, ela se virou e perguntou se ela queria alguma coisa, com um sorriso delicado, mas ele só balançou a cabeça negativamente, ela subiu e lhe mandou um aceno um tanto decepcionada, ela sentou, ele emudeceu, o ônibus partiu.
Pensou: - um dia eu falo, pra que pressa? Caminhou de volta pra casa com as mãos no bolso, - qualquer dia ela realmente irá à porta da minha casa e virá me convidar para tomar um sorvete, ou para dançar, ou para viajar, ou para ler os poemas...