INFORMÁTICA EDUCATIVA COMO FERRAMENTA COLABORATIVA...

Por Jamile Cabreira | 09/05/2017 | Educação

INFORMÁTICA EDUCATIVA COMO FERRAMENTA COLABORATIVA NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO

INTRODUÇÃO

Nós seres humanos nos comunicamos através da linguagem, esses códigos linguísticos são combinados e estabelecidos pela sociedade no qual os sujeitos encontram-se inseridos como modo de comunicação universal. Sendo assim a aprendizagem da leitura e da escrita tornam-se imprescindíveis para a inserção desse sujeito no meio em que vive.

A alfabetização inicia-se muito antes da inserção do sujeito na escola, pois ao nascer já entramos em contato com o mundo carregado de códigos e linguagens (visuais e corporais) que nos transmitem significados. Entretanto é a instituição escolar que se torna responsável por formalizar o processo de alfabetização, é nela que irá ocorrer a apropriação desse código linguístico por meio de diversas atividades que possibilitarão ao sujeito a construção do seu conhecimento e aprendizagem acerca da linguagem formal. 

Pensando nisso, os projetos elaborados estão pautados pelos planos de estudos da escola que elegem temáticas anuais para serem trabalhadas. Uma delas refere-se ao meio ambiente considerando a relevância do assunto para a atualidade.

Considerando esta função e a forte presença da tecnologia no cotidiano dos sujeitos contemporâneos, torna-se necessário agregar no processo de alfabetização as tecnologias educacionais, ou seja, o uso do computador, como mais uma ferramenta para auxiliar no processo.  Isto por que não há como ficar alheio a estes artefatos tecnológicos que estão presentes no contexto da sociedade.

 Considerando isso a escola precisa utilizar diferentes estratégias e possibilidades no uso do laboratório de informática como meio para oportunizar a aprendizagem. Para isso é necessário uma proposta curricular que contemple essa ferramenta digital no cotidiano da sala de aula  de modo a trabalhar conceitos e conteúdo específicos do componente e demais áreas do conhecimento.

O presente artigo busca discutir a importância do uso do laboratório de informática como sendo um meio diversificado e importante para auxiliar os alunos na construção do processo de alfabetização da linguagem escrita potencializando o desenvolvimento de diferentes habilidades. 

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO

Os homens comunicam-se entre si e com os elementos naturais do mundo que habitam desde muito cedo, já na pré-história havia registros de desenhos e símbolos impressos em cavernas e pedras que objetivavam transmitir mensagens aos seus pares. Os povos antigos usavam marcas gráficas inicialmente como uma ferramenta para registro do comércio, logo depois passou a usar como registros de todos os acontecimentos que envolviam a sociedade tornando-se um grande aliado para a memória humana.

 Com relação à necessidade do surgimento da escrita para o dia a dia da humanidade, CAGLIARI (1998, p.. 14) confirma que: 

de acordo com os fatos comprovados historicamente, a escrita surgiu do sistema de contagem feito com marcas em cajados ou ossos, e usados provavelmente para contar o gado, numa época em que o homem já possuía rebanhos e domesticava os animais. Esses registros passaram a ser usados nas trocas e vendas, representando a quantidade de animais ou de produtos negociados. Para isso, além dos números, era preciso inventar os símbolos para os produtos e para os proprietários. 

Graças à invenção da escrita puderam ser preservados registros de acontecimentos sociais, políticos e culturais das civilizações mais diversas. Na realidade, a escrita foi um passo fundamental para a evolução da humanidade não apenas por ser uma forma de registro da história, mas também por representar uma possibilidade de ler e interpretar o mundo. O surgimento da escrita marca o fim da pré- história e o começo da história do homem.

Com o passar dos tempos em função da necessidade que a escrita e a leitura fossem transmitida de geração para geração e que realmente se entendessem o que estava escrito surgiram às regras da alfabetização. Em relação a essa necessidade, Cagliari (1998 p. 15) afirma que: “O longo  processo de invenção da escrita também incluiu a invenção de regras de alfabetização, ou seja, as regras que permitem ao leitor decifrar o que está escrito e saber como o sistema de escrita funciona para usá-lo apropriadamente”.

O processo de escrita foi evoluindo ao longo do tempo de forma lenta e gradativa até moldar-se da forma como hoje o conhecemos, ou seja, em um conjunto organizado de símbolos que possibilitam registrar letras, palavras e números tornando possível documentar e armazenar informações pertinentes do nosso dia a dia contribuindo assim para a comunicação entre os sujeitos.

 Este mundo letrado comunica, informa e ensina através de diferentes maneiras. As crianças estão imersas nesse contexto desde muito cedo, pois convivem com pessoas que fazem uso da linguagem diariamente – leem, escrevem, falam e ouvem. Mas é na escola que o uso dessa linguagem torna-se mais formal proporcionando as crianças inseridas nesse espaço situações de aprendizagem voltadas para a aquisição de habilidades de leitura e escrita imprescindíveis para o início do processo de alfabetização.

De acordo com Batista (2006, p. 19),

o objetivo da alfabetização vai além da decodificação, pois ler e escrever tem como fim último promover a compreensão: compreender o que se lê; o que se fala; como funciona o mundo. É correto dizer, como sugere a professora Marisa Lajolo, que se deve “partir do mundo da leitura do mundo”, e que não basta decodificar, é preciso compreender o sentido da palavra e do texto no contexto.  

Nesse sentido a alfabetização e o letramento tornam-se complexo e desafiador, pois não se limita ao domínio de correspondência entre grafemas (letra e som), mas se caracteriza como um processo ativo por meio do qual, a criança, já em seus primeiros contatos com a leitura e a escrita, constrói as suas hipóteses sobre a aquisição destas e também exige do professor a preocupação de como orientar a criança na utilização dessas práticas em seu cotidiano com proficiência.

Desta forma, há um grande desafio para o professor que precisa ajustar sua pratica pedagógica em prol da alfabetização e do letramento nos anos inicias da educação básica. Para isso é importante que utilize aparatos tecnológicos presentes no cotidiano das crianças como recurso para os conteúdos a serem trabalhados na sala de aula, pois estes fazem parte de uma cultura digital que não pode ser negada, mas mediada para que possa ser utilizada de modo a ampliar as aprendizagens.

Sendo assim é necessário oportunizar a criança o contato com o universo tecnológico em prol do conhecimento visando aprimorar o trabalho docente e incentivar as crianças a aprender com maior interesse, curiosidade e ludicidade, despertando neles o senso-crítico, o trabalho coletivo e cooperativo. 

INFORMÁTICA EDUCATIVA NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO 

O processo de ensino e aprendizagem é complexo e desafiador, essencialmente na atual contemporaneidade onde a tecnologia predomina quase que única e exclusivamente como necessária no cotidiano dos sujeitos.  Negar esse acontecimento é desconsiderar a cultura digital e os impactos que ela traz para a veiculação rápida da informação e da comunicação no mundo como um todo.

 Desta forma as novas tecnologias, vêm adquirindo cada vez mais relevância no contexto educacional, pois elas estão presentes, nas casas, nas ruas, nas salas de aula, nos diversos espaços da sociedade. A presença destes aparatos tecnológicos na vida de crianças, adolescentes e adultos tornou-se necessária, uma vez que todos querem estar conectados de uma forma ou de outra nessa enorme rede digital.

 Dada tamanha importância as ferramentas tecnológicas em nosso meio, torna-se imprescindível utilizarmos este recurso no contexto escolar para prover a aprendizagem. Esta intencionalidade pode ser vista de forma positiva e eficiente, de modo que as crianças passem a ter acesso ao conhecimento de forma lúdica, criativa, interativa e principalmente planejada pelo professor.

O uso do laboratório de informática integrado com o trabalho de sala de aula precisa ser planejado pelo professor, pois o acesso a tais tecnologias somente podem tornar-se um recurso positivo na vida dos educandos na medida em que vem favorecer os processos de aprendizagem, já que o simples fato de acessar sites ou programas não garante uma aprendizagem significativa.

Em algumas escolas temos presente no currículo formal, em sua parte diversificada, aulas de informática educativa. Para Valente (1998, p. 02), o termo “[...] informática na educação refere-se à inserção do computador no processo de aprendizagem dos conteúdos curriculares de todos os níveis e modalidades de educação”. A inserção das tecnologias no interior das salas de aula ainda é desafiador para muitos professores, pois muitos não tem o conhecimento técnico da área especifica. Entretanto as tecnologias podem tornar-se um meio colaborativo para a produção do conhecimento poderoso. Ou seja, no entendimento de Young (2007) conhecimento poderoso é o conhecimento especializado que difere do conhecimento que as pessoas adquirem no cotidiano.

Segundo Valente (1999, p. 1), a utilização de computadores na educação é muito mais “[...] diversificada, interessante e desafiadora do que simplesmente a de transmitir informação ao aprendiz”. Ela pode auxiliar o professor a promover a aprendizagem, a criticidade, a autonomia e a criatividade do aluno enriquecendo o ambiente de aprendizagem.

Desta forma, os professores alfabetizadores ao utilizarem-se das tecnologias digitais,  para o desenvolvimento de suas práticas educativas, podem oportunizar as crianças saberes e habilidades como melhora na leitura e na oralidade, reconhecimento de letras, registros de palavras e frases, coordenação motora, atenção e raciocínio lógico nas suas produções com ampliação de ideias, por exemplo.

Torna-se relevante no processo de alfabetização levar em consideração a forma como se utiliza o computador a fim de ser uma ferramenta de aprendizagem, pois segundo Kenski, “[...] provocam novas mediações entre a abordagem do professor, a compreensão do aluno e o conteúdo a ser veiculado” (2012, p. 45), levando a criança ao processo de conhecimento.

 A utilização de softwares educativos pode possibilitar a apropriação e desenvolvimento do processo de construção da língua escrita. Segundo Lisboa (2013, p13) “a forma como os softwares educativos podem contribuir com a aquisição de habilidades cognitivas é a base para que a criança se desenvolva na fase da alfabetização inicial”. De acordo com Gatti (1997 apud LISBOA, 2013, p. 14), “habilidades cognitivas tornam o indivíduo competente e permitem, ao mesmo, interagir simbolicamente com o meio ambiente em que vive”. 

Conforme Lisboa (2013, p. 15), 

para que a criança progrida na aprendizagem dos códigos simbólicos da escrita, é necessário que algumas habilidades sejam bem assimiladas. Organizando esses conceitos em uma base hierárquica, observa-se que atenção, concentração, ritmo, sequência, percepção visual e auditiva são apenas algumas das habilidades que podem ser estimuladas com o uso do computador e softwares.  

Por meio dos softwares educativos conforme Valente (2008) “o contato com imagens, sons, animação contribui para ampliar o conceito de letramento alfabético, que era trabalhado principalmente com o uso de lápis e papel”. Também a pesquisa, realizada através de sites de busca apropriados à idade pode ser utilizado para complementar as aulas, como elemento articulador de conteúdos curriculares. Assim a criança passa a demonstrar autonomia e iniciativa para desenvolver as atividades frente ao computador.

Conforme Binotto e de Sá (2014, p.320)

A educação escolar, ou seja, o processo de escolarização que decorre e é influenciado pelo conjunto da sociedade e suas tecnologias, pode incorporar o uso do computador enquanto tecnologia digital, no sentido de possibilitar aos alfabetizandos um processo de apropriação dos códigos iniciais da língua mediada pelos recursos tecnológicos, potencializar a leitura e a escrita, assim como desenvolver a (re)construção de outros conhecimentos importantes para a vida em sociedade e para os futuros anos de escolarização. 

Conhecer as experiências culturais dos alunos e as notícias que circundam o meio, seja pelo mundo letrado ou tecnológico, possibilita planejar situações de aprendizagem que signifique aquilo que já se conhece oportunizando a integração social e o exercício da cidadania. Trata-se de possibilitar diversas vivencias de modo que as crianças percebam sua realidade como ponto de partida para interagir com a linguagem - escrita e falada - de modo mais formal e social. 

METODOLOGIA  

A investigação-ação esteve pautada em uma abordagem qualitativa que apresenta como proposta de trabalho a investigação da prática docente, baseada no princípio de ação-reflexão-ação. Nessa perspectiva, ao desenvolver a prática docente, o professor estará ao mesmo tempo, refletindo sobre as próprias ações e buscando soluções mais apropriadas no replanejamento das situações de aprendizagem, e assim, sucessivamente.

A escola pública investigada está situada na região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. O trabalho foi desenvolvido ao longo do trimestre no ano de 2015, com 20 crianças de 1º ano, com faixa etária de 6 e 7 anos em processo de alfabetização e letramento. 

Para o desenvolvimento do trabalho, os alunos foram levados semanalmente para o laboratório de informática, onde as atividades propostas foram escolhidas pela professora regente, considerando os níveis de alfabetização, as quais as crianças se encontravam (pré-silábico, silábico e alfabético).

A proposta de trabalho se deu levando em consideração o grau de dificuldades necessárias para que cada criança pudesse avançar de nível e desenvolver as habilidades de leitura, escrita e oralidade.

Diferentes temas pautaram o trabalho desenvolvido, previstos para o 1º ano do ensino fundamental. Entre eles, destacamos a temática do meio ambiente que é de grande relevância na contemporaneidade, pois preservar o lugar em que vivemos é uma responsabilidade de todos nós seres humanos. Algumas experiências embasaram o trabalho de sala de aula: observação do espaço em que vivemos; textos informativos; momentos de debate e levantamento de soluções; construção de painéis; exposição dos mesmos para toda escola e comunidade

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