INFLUÊNCIA DA EDUCAÇÃO NOS DIFERENTES CONTEXTOS HISTÓRICOS

Por Marcelo de Lima Cardoso | 31/07/2017 | Educação

 

Marcelo De Lima Cardoso

 RESUMO

O presente artigo, desenvolvido a partir de pesquisa bibliográfica, tem o objetivo de analisar a educação, ao longo de seu processo histórico no intuito de conhecer seus diferentes contextos e influências sobre eles. Um marco relevante desta história educacional na antiguidade foi o aparecimento da escrita. Verificamos alguns fatores determinantes da história da educação medieval, moderna e contemporânea. Com o mundo entrando na idade moderna, o Brasil acabava de ser descoberto pelos portugueses e com eles também chegava à educação no país, com destaque pela presença dos jesuítas. Analisamos os objetivos evidentes das instituições escolares, no qual eram claras as iniciativas criadas para beneficiar as classes dominantes de cada setor da economia. Em nosso país e no mundo notamos várias diferenças na educação devido às diversas regiões e ideologias. Por fim, são feitas algumas considerações, notamos que as escolas, universidades são instituições criadas devido às necessidades emergenciais de cada sociedade. Concluímos que há uma convicção eminente e proposta por vários educadores que vale a pena apostar na liberdade educacional. Os setores do meio educacional não devem almejar uma educação neutra, mas, o foco principal de pretensão deve ser o respeito, a ética, envolvendo todos os alunos e professores por parte da administração pública ou privada das instituições de ensino.

PALAVRAS-CHAVE: 1 Educação. 2 Professor. 3 Aluno. 4 Estado. 5 Parcialidade. 

 INTRODUÇÃO

                   Este artigo tem o objetivo de analisar a educação, ao longo de seu processo histórico no intuito de conhecer seus diferentes contextos e influências sobre eles. A educação, durante o seu processo histórico de formação dos conhecimentos empíricos, científicos, filosóficos e teológicos, preocupa-se não só com os efeitos, mas principalmente com as causas, objetivos e leis que os motivaram.

 

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1 -Trabalho conclusão de curso para obtenção do título de especialização no curso de pós-graduação em Docência do Ensino Superior pela Universidade Católica Dom Bosco em parceria com o Portal Educação

2- Professor de Filosofia, graduado pelo Centro universitário Claretiano

   Marcelofilosofia2011@hotmail.com

3-Prof. Me. Em Educação. Professor de Humanidades I e II na UCDB. Docente em Salesianidade. Graduado em Filosofia. Email – brasdorico@ucdb.br  

                  Mas sem dúvida, o aspecto mais importante, refletido neste artigo é justamente  este, destacado por (VEIGA, 2003) que evidencia nos polos educacionais o fato de a educação não ser neutra, pois tem uma intencionalidade e está a serviço da sociedade. Estas indagações e tendências da educação nos motivaram a estudar na construção deste trabalho, verificar e analisar o pensamento de muitos educadores de países e épocas diferentes para obtenção de um resultado cientifico que possa ajudar no entendimento das parcialidades do setor educacional. No mundo da informação, a escola deve servir uma orientação para navegar nesse mar do conhecimento, quebrando o paradigma utilitarista de só oferecer informações "úteis" para a competitividade, com o objetivo de obter resultados.

                  Ao longo do trabalho nos deparamos com sérias questões que proporcionaram reflexões pedagógicas. Por exemplo: a autonomia e a liberdade são próprias da essência do ato pedagógico?  O professor deve ter uma postura autentica revelando o que pensa, indicando diferentes caminhos sem conclusões acabadas e prontas, para que o estudante construa assim a sua autonomia? Qual o problema da educação neutra? A educação superior no Brasil e em vários países do mundo passa por uma fase de adaptações as novas tecnologias e de acolhida a novas classes sociais que chegam, para também fazerem parte com merecimento deste sistema de ensino.

                                                

1- EDUCAÇÃO NA IDADE ANTIGA

 

                  Para analisarmos a questão da educação é preciso percorrer alguns aspectos do seu longo caminho histórico. Um marco relevante desta história educacional na antiguidade foi o aparecimento da escrita. No período antigo, a educação por força do poder, começa a ter as suas primeiras divisões entre os governantes e os súditos. Os gregos fortalecidos com suas vitórias em diversas batalhas e o surgimento de grandes filósofos vão fazendo novas bases e princípios para a educação. Na Grécia antiga podemos citar como exemplos de princípios a educação de Atenas e Esparta. Em Atenas o seu cidadão era preparado para exercer cargos públicos, esse modelo fez nascer a concepção de estado, transparecer a importância do cidadão na vida da polis. Já em Esparta desde a infância os meninos já tinham seus direitos a liberdade confiscados, ficavam totalmente alienados, pertencentes ao estado, tinham como principal missão se desenvolver fisicamente para a defesa da polis. A essência da educação espartana era a carreira militar, que incluía em seu currículo o aprendizado do ofício das armas e muito treinamento militar.

A educação grega estava centrada na formação integral – corpo e espírito – a ênfase da educação se demandava mais, ora para o preparo militar ou esportivo, ora para o debate intelectual conforme a época e o lugar. Quando não existia a escrita, a educação era dada pelas famílias seguindo a tradição religiosa, os jovens da elite eram deixados a cargo dos preceptores. Com o surgimento das Polis nascem as primeiras escolas, mas mesmo com o aparecimento da oferta escolar, a educação permanecia elitizada atendia principalmente os filhos da antiga nobreza e os pertencentes a famílias de comerciantes ricos. Na sociedade escravagista grega existia o “Ócio digno”, que significava dispor de tempo livre, privilegio de quem não precisava cuidar do sustento, mas não se deve confundir o “Ócio digno” com o “fazer nada”, ele alude a ocupar-se com as funções de governar, pensar, guerrear. Não é por acaso que a palavra grega para escola (scholé) significava inicialmente o lugar do ócio. (ARANHA, 2006, p. 62)

                   Sócrates em sua filosofia educacional usava o método pedagógico do diálogo, que fez surgir o desenvolvimento dos princípios éticos nas bases da educação. Sócrates também foi um contraditor aos sofistas, que eram mestres itinerantes, sem critérios, que ensinavam em troca de recompensas financeiras. Os sofistas foram acusados de venderem falsos conhecimentos, mas foram eles que começaram todo o principio real do que hoje conhecemos como educação. A educação romana para Lorenzo Luzuriaga (1983, p.68) caracterizava por vários princípios, em concordância com nossos estudos, deferindo que a educação na idade antiga já não era neutra, portanto podemos destacar os seguintes: A necessidade do estudo individual, para formação psicológica do aluno; valorização da vida familiar, sobretudo, do pai no exercício da educação; nas atividades sociais, afirmação do individual e da vida familiar, ante ou junto ao Estado; na cultura, falta de filosofia, de investigação desinteressada, mas, em compensação, criação das normas jurídicas, do direito.

                   A partir do século V a.C surge na Grécia um modelo de educação ideal pensado, chamado de Paideia, que tinha como objetivo edificar o homem como homem e cidadão. Segundo Platão a Paideia era a essência verdadeira da educação que transformava o homem dando-lhe desejo e ânsia de se tornar um cidadão perfeito e o ensina a mandar e a obedecer, tendo a justiça como fundamento e referencial para vida.

                 Na idade Antiga fica claro a falta de neutralidade na educação quando nos deparamos com as várias correntes filosóficas educacionais do período helenístico. Dentre essas correntes podemos citar as mais influentes: o Ceticismo, Epicurismo, Estoicismo, Hedonismo, Cinismo, Platonismo e o Ecletismo. Segundo o mestre Gerson Nestor Boettcher          o conhecimento produzido pela ciência do helenismo se desenvolveu em diferentes direções:

matemática, geometria, astronomia e geografia. Os filósofos helenistas estavam preocupados com a ética (regras da condução de vida), busca pela felicidade individual, imperturbabilidade.  As duas influências da educação na idade antiga, os gregos e romanos percorriam por caminhos distintos. Os gregos direcionavam suas buscas educacionais para uma compreensão do pensamento filosófico e os romanos consideravam a educação filosófica algo claramente grega, e concentravam seus esforços na construção de escolas de direito e retórica.   

2-EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA

 

                   Para muitos a Idade Média foi uma interrupção do progresso humano inaugurado pelos gregos, tempo de superstições e ignorância, de supremacia da Igreja Católica, tempo de total desagrado dos racionalistas. Mas podemos analisar a educação medieval observando pelo menos quatro dos seus ilustres contemporâneos: al-Farabi e Ramon Lhull, Thomas de Aquino e Agostinho de Tagaste. al-Farabi e Ramon Lhull em todos seus tratados viam a educação como ferramenta necessária para chegar ao conhecimento e tendo como conseqüência, poder alcançar o objetivo principal do homem, a felicidade. Esses dois pensadores marcantes do seu tempo valorizaram o conhecimento científico e trataram a educação com amor profundo à sabedoria. 

                   O pensamento de Santo Agostinho de acordo com o professor doutor Reuber (29/10/2009) na palestra "Filosofia para todos", ministrada na Faculdade de Educação da UFRJ girava em torno de dualismos, herança de Platão e dos maniqueístas orientais, bem e mal, corpo e espírito eram totalmente separados. O filósofo condenava os pecados da carne e alegava que a fé era o essencial para a vida. Segundo Scofano, seguia uma lógica “primeiro eu creio, depois explico”. Pela contramão de Agostinho pensava Tomás de Aquino, colocando a razão em primeiro lugar. Por meio da razão tentava explicar a fé, apresentava provas da existência de Deus. Argumentava que tudo está em movimento e todo movimento é causado por alguém; desse modo, é preciso que haja uma causa inicial, um “primeiro motor”, como chamava. Além disso, constatou que é preciso que haja um Deus para que o universo esteja em tão perfeita harmonia.

                   Na Idade Média havia o domínio da cultura e do pensamento por parte da Igreja Católica, a educação teve grande influência e alienação religiosa. Eram os membros da Igreja que estabeleciam os conteúdos e os objetivos da educação. Embora controlada pela Igreja, a educação não ficou apenas no campo religioso, abrindo também espaço para o estudo das ciências, técnicas e habilidades. Segundo o pensamento do colunista Ricardo Costa os povos medievais refletiam muito sobre o Bem, o Belo, a Verdade, a Felicidade e fundamentalmente sobre todas as aspirações humanas.

                  Os Principais objetivos da educação medieval foi a transmissão de técnicas adquiridas, a formação religiosa, o desenvolvimento da leitura e escrita do latim e o desenvolvimento de habilidades como falar, refletir, pensar, debater e concluir. As escolas tinham dois objetivos principais: as religiosas formar os religiosos e os padres da igreja e as universidades que surgiram na Europa no século XII e XIII, eram comunidades formadas por mestres e estudantes (universitas) voltadas para o ensino, pesquisa, produção de conhecimentos, reflexão e debate. Essas Universidades serviram de modelo para as que temos hoje. Segundo Jean Pépin, a causa da eclosão das universidades no Século XIII fora especialmente o desejo dos letrados de defender interesses e ideologias comuns, através de associações corporativas. O autor menciona a Universidade de Bolonha como a pioneira (onde predominavam os juristas), sendo logo depois criadas as Universidades de Paris e Oxford.

                    A maioria dos estudantes da Idade Média era da classe nobre, pois esta camada social possuía recursos financeiros para manter os filhos nas escolas. Os nobres decidiam quais filhos iriam para a área militar (formação de cavaleiros), para a formação técnica (escolas formais) ou formação religiosa (escolas monásticas). Podemos observar que todos os objetivos da educação medieval tinham fins específicos, os estudantes seguiam caminhos determinados pelos dois poderes. Os camponeses sem recursos financeiros não tinham acesso à educação escolar, portanto ficavam sem saber ler e escrever e realizavam os trabalhos mais rústicos. Com o surgimento da burguesia no final dos séculos XIV e XV, os filhos desta camada social começaram a ter acesso às Universidades. Os pais burgueses buscavam formar seus filhos em áreas como Medicina, Artes, Direito, Filosofia e Arquitetura, com o objetivo que estes continuassem o negócio da família nas áreas de comércio ou finanças.

                   A idade Média teve os padres da Igreja como os primeiros educadores, sendo Eles que constituíram um período de pensamento, uma grande escola chamada Patrística. Este longo período patrístico teve Santo Agostinho como protagonista e dois objetivos principais: no primeiro, sobressai o valor da formação humanística, no segundo, persegue o ideal do ascetismo. A “intenção principal era fazer reconhecer a lei divina eterna” (LUZURIAGA, 1983, p. 76). No final do primeiro milênio da era cristã surge a Escolástica, que tentou conciliar a razão filosófica grega com a fé cristã. São Tomás de Aquino foi o maior nome essa nova escola intelectual, para a qual a revelação divina era suprarracional. São Tomás de

Aquino busca elaborar uma síntese entre a educação cristã e a educação greco-romana, procurando, desse modo, estabelecer uma educação integral que favoreça surgir as potencialidades do indivíduo. A Escolástica influiu decisivamente sobre toda a pedagogia católica. Trata-se de um método de ensino que, até hoje, exerce influência na sala de aula tradicional. Através das duas principais correntes de pensamentos da Idade Média notamos a parcialidade da educação, totalmente voltada aos âmbitos religiosos.

                No período medieval a educação era para poucos, pois a maioria dos estudantes eram os filhos dos nobres, alunos brilhantes com muita inteligência, fora a nobreza poucos conseguia frequentar as universidades. Grande parte da população medieval era analfabeta e não tinha acesso aos livros. Geralmente, existia uma semelhança negativa muito clara entre o rigor do regime e o acesso à educação; ou seja quando mais ditatorial era o reino, mais escasso era a educação para algumas classes. Portanto a educação na idade Média era totalmente parcial, voltada sempre aos poderosos e administrada pelo rigor da Igreja Católica.

3- EDUCAÇÃO NA IDADE MODERNA 

 

                   A educação na Idade Moderna surge com uma ideia nova, no qual a educação é um direito de todos. Esse pensamento era defendido em pleno século 17 por Comênio (1592-1670), o pensador tcheco que é considerado o primeiro grande nome da moderna história da educação.  

No livro, o pensador realiza uma racionalização de todas as ações educativas, indo da teoria didática até as questões do cotidiano da sala de aula.  A prática escolar, para ele, deveria imitar os processos da natureza. Nas relações entre professor e aluno, seriam consideradas as possibilidades e os interesses da criança. O professor passaria a ser visto como um profissional, não um missionário, e seria bem remunerado por isso. E a organização do tempo e do currículo levaria em conta os limites do corpo e a necessidade, tanto dos alunos quanto dos professores, de ter outras atividades. (FERRARI, 2008, P.1)                                             

                          

                           Para Socrátes o importante era ensinar o que é bom, o que é certo e justo, ensinar um conhecimento em que o ser humano tivesse uma conduta correta.  Comênio vem séculos após o grande pensador Sócrates pregar uma educação a combater o pedantismo literário e o sadismo pedagógico, mas ousou ao seu tempo ser o principal teórico de um modelo de escola que deveria ensinar “tudo a todos”, aí incluído os portadores de deficiência mental e as mulheres. João Amos Comenius (1595 - 1670) em sua Didáctica Magna mesmo tendo seus interesses de atender a burguesia e a livre interpretação dos textos religiosos porque era protestante e a Igreja Católica proibia, teve a sua participação especial na história da educação

        trazendo com seu pensamento mais abertura e liberdade educacional no seu tempo. Neste âmbito que caracteriza a idade moderna, todos defendem que a Educação nesta era, dava oportunidade a todos aqueles que a pretendesse, com finalidade de proporcionar-lhes conhecimentos, capacidades e habilidades para a vida. 

                   Foi na idade moderna que surgiu os reformistas com o intuito de solver o vínculo entre educação e religião, é neste tempo também que a Pedagogia se torna ciência. O homem com o estudo da ciência passa a ter um foco novo, o que antes era voltado apenas para o corpo, passa visualizar novos objetivos e novos caminhos.  

Por complexidade da palavra Educação, ela é definida por varias maneiras e por vários pensadores. Nesta mesma linha de pensamento, e tendo em conta que cada sociedade concebe a educação que lhe convêm, esta pode ser entendida como “processo pelo qual a sociedade forma seus membros à sua imagem e função dos seus interesses” (PINTO, 2000, P. 29)

 

                   Outro grande pensador educacional da idade moderna foi John Lock (1632 - 1704) criou o método moderno que dava evidencia e importância ao professor, a ter em conta com a psicologia da educação. Pela compreensão de Lock, temos duas ideias fundamentais da Pedagogia: Na primeira Educação visava o desenvolvimento do pensamento livre, espírito crítico independente e preparação para a vida real”; na segunda as disciplinas tinham que incluir conteúdos que tinham relação com a vida pratica. Já Jean Jacques Rosseau (1712 - 1778)  afirmava que “ a criança não devia ser forçada a entender fenómenos que não entende”, via o mundo das crianças totalmente diferente dos adultos. Defendia claramente a simplificação do processo educativo, a educação devia ser simples dando previlegio a demonstração dos objectos.

                  Um pensador de admiravel atuação foi Johann Henrich Pestalozzi (1746 - 1827) que desenvolveu uma reforma na sociedade, levou a educação até as classes mais populares para atingir seu objetivo. Segundo Pestalozzi, “em qualquer ramo do conhecimento os conteúdos devem partir do mais simples para o mais complexo, e tem haver com o desenvolvimento do indivíduo”. Pestalozzi via o individuo livre para pensar, sem sofrer alienações da força do poder estatal. Segundo  o pensador Dewey, “o processo pedagógico tem dois aspectos: Psicológico e Social”. Sendo o aspecto Psicológico que consiste em desabrochar as potencialidades que traz ao nascer e o aspecto social aquele que consiste em preparar o indivíduo para se adaptar as obrigações que deve  cumprir quando for adulto na sociedade. Dewey via a escola como um seguimento da vida em comunidade; a função do Estado é manter meios para integrar e desenvolver integralmente as suas atividades; sendo as matérias escolares organizadas em termo da própria comunidade”. O pensamento de Dewey via a educação com partido voltada para o estado e a comunidade tendo como proposito de todo seu desenvolvimento um olhar em função das duas frentes.

                   Na idade moderna em seus vários pensamentos imparciais ou parcias um pensamento era unanime entre os pensadores, a educação era vista  como instrumento primordial usado para a preparação do Homem para a vida. Conceito de educação.

 

 Educação é um conceito amplo que se refere ao processo de desenvolvimento unilateral da personalidade, envolvendo a formação de qualidades humanas – físicas, morais, intelectuais, estéticas, tendo em vista a reorientação da actividade humana na sua relação com o meio social num determinado contexto de relações socais. (LIBÂNEO, 1999, P.  22).

 

                     Em sentido abrangente a educação significa o meio em que os hábitos, costumes e valores dos povos são transferidos de uma geração para a geração seguinte. A educação vai se formando através de situações presenciadas e experiências vividas por cada indivíduo ao longo da sua vida. A educação é para o homem a essência do seu direcionamento social e da qualidade de vida que quer ter e viver, vai demonstrar a sua capacidade de socialização. As ações educacionais dirigem o individuo a ter capacidade de desempenhar funções nos contextos sociais, econômicos, culturais e políticos de uma sociedade.

                   A educação na Idade Moderna com três séculos da história do ocidente, XVI, XVII e XVIII tem relacionamento com as idéias humanistas, promotoras de uma nova mentalidade, um novo conceito, o moderno, esta ideia de moda e de uma nova atualidade tinha como objetivo o enfrentamento com a mentalidade medieval, que julgava anular e desejavam substituir. O surgimento do pensamento Renascentista trouxe características novas para a educação moderna. Como o florescimento das artes, e um vigoroso despertar de todas as formas de pensamento, tornou redescobrir a antiga filosofia, literatura e a ciências. Em contestação ao espírito escolástico e ao conceito metafísico da vida, investiga-se um novo modo de olhar e estudar o mundo natural. Em um contexto filosófico, surge uma nova concepção do mundo e do destino do homem, uma visão realista e humana das proposições morais.

                  A idade moderna é caracterizada por fatores relevantes da história, a descoberta da América, o desenvolvimento do comércio pelas terras novas, o comércio colonial, a Renascença, a ciência, a cultura e a arte. Um fator de suma importância foi a divisão do cristianismo, rompe-se, a unidade dos cristãos que agora se divide em católicos e protestantes. Nas monarquias absolutistas os reis recuperam o poder que entregava à nobreza durante o feudalismo. O crescimento da burguesia como consequência do desenvolvimento do comércio. A educação converte-se por isso, a cada vez mais em uma via e instrumento de ascensão social. Em um contexto histórico a educação renascentista visava o homem burguês, o clero e a nobreza. A evidência educacional tornara elitista, aristocrata e nutria o individualismo liberal, não chegando às camadas mais populares, consequentemente sendo parcial.

4- EDUCAÇÃO NA IDADE CONTEMPORÂNEA: Educação no Brasil

                       

                  Com o mundo entrando na idade moderna, o Brasil acabava de ser descoberto pelos portugueses e com eles também chegava a educação no país. Os três primeiros séculos deste novo país é chamado de forma bem peculiar de período colonial. As terras brasileiras habitadas por populações indígenas não tinham um padrão educacional, mesmo a educação sendo uma atividade tipicamente humana, os índios ocupavam seu tempo com uma educação em prol da própria sobrevivência. Os portugueses logo após se instalarem no Brasil trouxeram com eles a Companhia de Jesus “os Jesuítas” ordem religiosa que acabara de ser criada por Inácio de Loyola. Os primeiros jesuítas chegaram à Colônia brasileira em 1549, nesta mesma época desembarcou o Governador-Geral Tomé de Sousa, eram comandados pelo padre Manuel da Nóbrega, que se tornou o primeiro Provincial com a fundação da província jesuítica brasileira em 1553, permaneceu no cargo entre 1549-1559, em 1559 foi substituído por Luís de Grã. Os Jesuítas se tornaram os primeiros educadores do Brasil, iniciando uma fase nova na cultura e civilização do país. Movidos por intenso sentimento religioso de propagação da fé cristã, durante mais de 200 anos. Sobre esse aspecto histórico José Luiz de Paiva Bello tem o seguinte ponto de vista:

 

 Não podemos deixar de reconhecer que os portugueses trouxeram um padrão de educação próprio da Europa, o que não quer dizer que as populações que por aqui viviam já não possuíam características próprias de se fazer educação. E convém ressaltar que a educação que se praticava entre as populações indígenas não tinha as marcas repressivas do modelo educacional europeu. (RAUBER, 2008. op. cit. p.52‐53)  

 

 

                   Os Jesuítas tornaram-se uma poderosa e eficaz congregação religiosa, determinada em seus princípios fundamentais de educar os homens nos valores e virtudes a serem favorecidos, os vícios a serem evitados, os saberes considerados fundamentais para o exercício da vida comum ou da vida letrada, na busca da perfeição humana por intermédio da palavra de Deus. As regras eram: A obediência absoluta e sem limites aos superiores; a disciplina severa e rígida; a hierarquia baseada na estrutura militar. Desde a descoberta da Nova Terra a educação estava vinculada a interesses do Estado e religiosos, como destaca    Gislene Miotto Catolino Raymundo:

 

A Ordem dos Jesuítas é produto de um interesse mútuo entre a Coroa de Portugal e o Papado. Ela é útil à Igreja e ao Estado emergente. Os dois pretendem expandir o mundo, defender as novas fronteiras, somar forças, integrar interesses leigos e cristãos, organizar o trabalho no Novo Mundo pela força da unidade lei-rei-fé. (RAYMUNDO, 1998, p. 43)

 

                    Os Jesuítas no inicio destinavam o ensino para uma pequena parte da população, pois se destinava exclusivamente a ensinar os “ignorantes” a ler e escrever. Em uma análise de Serrão (1980) e Vasconcelos (1977) consideram que a história da Companhia de Jesus está circunstanciada de ambiguidades, podendo apresentar uma dualidade profunda; pois

 

Nenhuma instituição humana há sido julgada com mais parcialidade do que a dos jesuítas: para uns foram eles a idealização do poder católico, o tipo mais perfeito do ministro do Evangelho, numa palavra verdadeiros apóstolos, como em sua aparição, os denominou o povo; para outros simboliza o instituto de Loyola a falsificação da fé, o relaxamento das máximas da moral cristã, a corrupção da disciplina eclesiástica, quando exigiam-no os interesses de sua egoísta política. (VASCONCELOS, 1977, p. 40)

 

                   Das estratégias adotadas pelos Jesuítas na conversão dos gentios, uma de destaque foi a construção de aldeias de catequização, que ficavam situadas próximas das vilas e cidades. As aldeias eram habitadas pelos padres jesuítas e pelos índios a serem convertidos e os objetivos da congregação eram óbvios, entre os quais podemos destacar: O objetivo doutrinário que visava ensinar a religião e a prática cristã; o objetivo econômico que visava a instituir o hábito do trabalho como princípio fundamental na formação da sociedade brasileira e o objetivo político que visava a utilizar os índios convertidos contra os ataques dos índios selvagens e, também, dos inimigos externos. Para Libâneo a liberdade dos indígenas sempre foi defendida pelos padres da Companhia de Jesus, apesar de não se oporem formalmente à escravatura, em virtude sua situação frente à Coroa Portuguesa.

                   No ano de 1556 foi promulgada no Brasil a nova constituição da Companhia de Jesus, que ficou conhecida pela denominação de Ratio Studiorum, foi o método de ensino, que estabelecia o currículo, a orientação e a administração do sistema educacional a ser seguido.          Esta constituição promulgada por Inácio de Loyola teve o objetivo de direcionar todas as ações educacionais dos padres jesuítas em suas atividades educacionais no Brasil e em qualquer localidade onde os jesuítas desempenhassem suas atividades. O Ratio Studiorum não era um tratado sistematizado de pedagogia, mas sim um conjunto de regras e prescrições práticas e minuciosas a serem seguidas pelos padres jesuítas em suas aulas. Portanto, era um manual prático e sistematizado que apresentava ao professor a metodologia de ensino a ser utilizada em suas aulas. Os professores Jesuítas tinham o dever de seguir fielmente todas as regras da constituição Ratio Studiorum.

                   Nós meados do século XVIII, a França fez deslocar para várias regiões da Europa um conjunto de ideias que combatiam o Antigo Regime, chamado a Sociedade de Ordens. Os iluministas tinham como princípios básicos a igualdade jurídica, o racionalismo e a crença no progresso. Com sustentação nesses princípios, acreditavam na transformação da sociedade, tinham convicção que um poderoso instrumento para essa transformação dos homens seria a educação. Os Jesuítas foram efetivos no Brasil por 210 anos, até que foram expulsos por  Sebastião José de Carvalho e Melo o Marquês de Pombal. Este fato causou um caos na educação brasileira. A expulsão dos religiosos significou o termino do único sistema de ensino existente no Brasil naquela época. Para Fernando de Azevedo (1964), as reformas do Marquês Pombal foram “a primeira grande e desastrosa reforma de ensino no Brasil”.

 

             Os objetivos que conduziram a administração pombalina a tal reforma

foram, [...], um imperativo da própria circunstância histórica. Extintos os colégios jesuítas, o governo não poderia deixar de suprir a enorme lacuna que se abria na vida educacional tanto portuguesa como de suas colônias (SECO e AMARAL, 2012, p. 5).

 

                  A expulsão dos Jesuítas e a destruição de sua organização educacional decorreram devido a pelo menos dois fatores: Na política os jesuítas representavam um estorvo aos interesses do Estado Moderno, além de serem detentores de grande poder econômico, cobiçado pelo Estado; na ordem educacional a necessidade da educação era formar um novo homem, o homem burguês, e não mais o homem cristão de acordo com os princípios liberais e o movimento Iluminista.

                  Em 1808 devido à mudança da sede do Reino de Portugal e a vinda da Família Real para o Brasil-Colônia, a educação e a cultura em terras brasileiras tomariam um novo ímpeto, com o surgimento de novas instituições culturais e científicas, de ensino técnico e dos primeiros cursos superiores. De acordo com Lima (1945, p. 250) a chegada da corte trouxe novos horizontes ao ensino no Brasil. Fundou-se o Hospital Militar da Bahia, o Hospital Militar do Rio, a Escola de Educação, que ensinava Língua Portuguesa e Francesa, além de Retórica, Desenho e Pintura e Aritmética. No contexto do ensino superior, o Príncipe-Regente, que primeiramente desembarcou na Bahia, em 1808, autorizou a fundação de uma Escola Médica-Cirúrgica em Salvador. Já no Rio de Janeiro, fundou a Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica, a cadeira de Higiene, Patologia e Terapêutica, na Escola Cirúrgica do Rio de Janeiro, e autorizou um curso completo de Cirurgia na cidade de Salvador. Ainda na área da educação superior, aprovou um curso de seis anos de Matemática, Engenharia, Ciências Naturais e Ciências Físicas, na Real Academia Militar e instituiu, ainda, um curso de Agronomia na Bahia. Criou as universidades de Medicina nos Estados do Rio de Janeiro e da Bahia. Contudo essa grande obra educacional de D. João VI tinha objetivos claros e parcialmente voltados em todos aspectos para as necessidades ligadas à Corte Portuguesa no Brasil.

                  Vemos de forma clara que a educação introduzida pela Corte Portuguesa não alcançou sua importância pelo seu valor na formação humana e com objetivos de oferecer melhores condições de vida ao povo em geral, mas por uma questão política, econômica com objetivos de defesa, dentre outros, por isso houve a criação de cursos de nível superior e uma sensível preocupação com a educação voltada às crianças e jovens. Portanto é fácil identificar que a educação de um povo foi colocada em segundo plano, sendo o Estado e suas necessidades ficando em um plano superior. Um contexto importante a ser valorizado é que toda forma de educação pode beneficiar a quem a ela tem acesso, esse acontecimento foi uma praxe real desta parte da história da educação no Brasil.

O resultado foi que o ensino, sobretudo o secundário, acabou ficando nas mãos da iniciativa privada e o ensino primário foi relegado ao abandono, com pouquíssimas escolas, sobrevivendo à custa do sacrifício de alguns mestres-escolas, que, destituídos de habilitação para o exercício de qualquer profissão rendosa, se viam na contingência de ensinar. O fato de a maioria dos colégios secundários estarem em mãos de particulares acentuou ainda mais o caráter classista e acadêmico do ensino, visto que apenas as famílias de altas posses podiam pagar a educação de seus filhos. (ROMANELLI, 2002, p. 40).

      

                    Segundo (LUZURIAGA, 1983, p. 149) as preocupações do estado, pensadores e políticos se voltam para questões educacionais. O ideal educacional dos iluministas está no reconhecimento em grau máximo da razão humana. O século XIX vê surgir do seguimento iluminista duas concepções antagônicas de organização social e de educação. De um lado, está o positivismo que busca solidificar o modelo burguês de educação e, de outro, o movimento popular e socialista. As duas correntes representavam o pensamento que, ao lado do ideário católico e do liberalismo, influenciarão a educação no Brasil. Estas concepções colaboraram para que a educação da idade moderna não ser neutra, totalmente parcial.

                   A Idade Contemporânea tem início em 1789 tendo como referência histórica o começo da Revolução Francesa e que se prolonga até os dias atuais. As principais características desta idade vêm do seu inicio, do mundo ocidental, no qual o historiador Pazzinato, Alceu L. destaca: A Consolidação do capitalismo como sistema econômico, o desenvolvimento industrial, ascensão política e econômica da burguesia industrial, principalmente nos países europeus e um amplo despontamento dos Estados Unidos como grande potência. Outro fator relevante a ser valorizado é a globalização da economia a partir de meados do século XX.

                  O mundo já era Contemporâneo e no Brasil o exercício de direito do cidadão na área educacional começou a se erguer a partir da Constituição de 1824. Pois na carta brasileira encontrava-se o direito à gratuidade da instrução primária para todos os cidadãos do Império entre as Disposições Gerais e Garantias dos Direitos Civis e Políticos, no artigo 179. Mas a parcialidade era clara, os cidadãos a serem assistidos por esses direitos era bastante limitado, se concebermos que dele estavam excluídos os índios e os escravos.

 

As características de continuidade econômica, social e política entre o antigo e o novo regime, da Colônia ao Brasil independente, fizeram com que os direitos civis proclamados, na maior parte e das vezes, se firmassem apenas como direitos de papel, ou seja, somente existentes nas páginas que lhes davam suporte. (CARVALHO, 2001, p. 45).

 

                  Teve inicio em 1889 um novo período da educação e da história brasileira: a República, este sistema político adotou o modelo americano baseado no sistema presidencialista. As mudanças na educação seguiram os princípios gerais do novo regime, que fez ocorrer, centralização, autoritarismo e formalização. Portanto, as reformas nacionais de educação seguiram as idéias e diversificações ideológicas que prevaleciam no poder central. A reforma educacional coube “às confrarias de elites ilustradas, formadas na tradição iluminista, reproduzindo o modelo europeu” (NEVES, 2002. p. 8).

                   As classes emergentes do Brasil através de várias pressões e em meio aos tumultos provocados pela transformação no regime de trabalho e com o povo à margem de todo esse processo fez que a república fosse proclamada. Mesmo esta sociedade tendo desejos consistentes para formação de um cidadão engajado no projeto de modernização, esses desejos não efetivaram um sistema nacional de ensino. De acordo com Analete Regina Schelbauer “uma vez que a extensão da participação democrática, exigência da intelectualidade da época, ainda não era uma realidade”.

                  Um fato importante na educação do Brasil surgiu em 1932, quando foi divulgado o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Este movimento marcou a educação nacional, sua proposta era ter no país uma educação pública, gratuita e laica para todos os cidadãos. Essas novas ideias fazem surgir concepções de formação integral e de escolas de tempo integral. Para (CAVALIERE, 2002. p. 251); “refletia a necessidade de se reencontrar a vocação da escola na sociedade urbana de massas, industrializada e democrática”

 

O crescimento industrial e comercial incentivou em 1943 a homologação da Lei Orgânica do Ensino Comercial, já em 1946, a Lei Orgânica do Ensino Primário e Normal e a Lei Orgânica do Ensino Agrícola. Essas transformações na educação brasileira promoveram um acordo financeiro com o Banco Mundial para a Escola Técnica de Curitiba. Com a nova lei orgânica, o Ensino Secundário foi dividido em três modalidades: Clássico, Científico e Normal, que fez surgir três modalidades de cursos, técnico industrial; técnico agrícola e técnico comercial. Os objetivos evidentes de cada modalidade era beneficiar as classes dominantes de cada setor da economia. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Historia_da_educacao_no_Brasil)

 

                   Em 20 de dezembro de 1961, durante o governo João Goulart foi sancionada a Lei nº 4.024. Esta aprovação da LDB de 1961 significou um avanço para a educação do Brasil, devido à legislação anterior ser totalmente centralizadora e não deixava margem e competência para os estados e municípios. Com a destituição em 31 de março de 1964 do presidente João Goulart pelas Forças Armadas, marca o início do movimento que originou o Regime Militar. Assim, a educação vai passar também por várias transformações em decorrência do aumento do autoritarismo, imposto pela ditadura militar. Novamente a educação será colocada em prol dos objetivos do estado. No ano de 1966 o Decreto-Lei 53 indicaria medidas de mudanças na organização universitária visando à economia de recursos e maior produtividade. Com esses fatores coube a cada universidade, a criação de uma coordenação central de ensino e de pesquisa, com a pretensão de estabelecer as normas para as atividades didáticas e de pesquisa de todas as escolas. Essa realidade descaracterizaria a aglutinação de escolas independentes e autônomas.

                    No contexto de Figueiredo, 2005, neste período ditatorial foram censuradas diversas atividades artísticas, culturais entre outras manifestações e proibido todo e qualquer tipo de manifestação que se posicionasse contra o Regime Militar. Durante o Período Militar a educação sofreu várias parcialidades, tendo seus objetivos principais: desenvolvimento do raciocínio, livre expressão e consequentemente a defesa das ideias, sendo regulados e neutralizados. Em uma análise do período Militar podemos defini-lo como; de desenvolvimento econômico, eficiência e produtividade, paralelamente ao controle e à repressão. Nesta parte da história mais uma vez notamos a educação atuando como aparelho ideológico do Estado, marcado pelas relações capitalistas e a necessidade da manutenção do poder.  Nos esclarecimentos de Bello (2001) no final do Regime Militar ocorreu uma maior participação dos pensadores do Brasil em suas múltiplas áreas do conhecimento, isso fez a educação perder o centro pedagógico e adquirir dimensão política.  Após o fim do Regime Militar o país passa pelo processo de recuperação democrática, no qual a educação mereceu um destaque especial na constituição brasileira de 1988. Vale ressaltar os dispositivos que trataram a educação em um contexto de universalização do Ensino Fundamental e erradicação do analfabetismo. No que se refere à educação superior a constituição federal no seu Artigo 207, faz a seguinte exposição; “as universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”. Segundo Severino (2008) esta lei trouxe garantias para a organização das universidades do Brasil e mais perspectivas para o ensino de pesquisa e extensão. Os movimentos sociais visavam com a maior oferta de o Ensino Superior formar o cidadão crítico, sendo ele capaz de assegurar com sua ação, os princípios democráticos garantidos na forma da lei. O fim do Período Militar e a Carta Magna de 1988 trouxeram uma maior liberdade de ação educacional ao professor, proporcionou ao aluno ter também participação crítica, mas, tudo isso com regência do Estado através dos seus órgãos competentes dos setores educacionais.   

Em consonância com a carta magna de 1988, a Lei de Diretrizes e Bases (n. 9.934/96), que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, entende que a educação deve vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social, tendo “por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1996, art. 2º - grifo nosso), além de ser um processo de formação e desenvolvimento dos indivíduos que abrange: a “vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.” (BRASIL, 1996, art. 1º- grifo nosso).(www.portalconscienciapolitica.com.br).
 

                 

5- É POSSÍVEL HAVER EDUCAÇÃO NEUTRA?
 

                   No âmbito histórico elaborado para dar embasamento nos estudos sobre a parcialidade da educação em toda sua trajetória na vida da humanidade, é fácil perceber vários fatores que indicam este parecer, desta forma podemos destacar: os políticos, os religiosos, trabalhistas e os mais diversos ideológicos.  Outro aspecto importante que podemos destacar no parecer de (VEIGA, 2003, p 33) é que nos pólos educacionais e em suas tendências a educação não é neutra, pois tem uma intencionalidade e está a serviço da sociedade.

                   Temos ainda de forma evidente duas formas de educação, a tradicional e a nova, em comum notamos a concepção da educação como processo de desenvolvimento individual. Mas de acordo com o pensamento do professor (MOACIR GADOTTI) da Universidade de São Paulo e Diretor do Instituto Paulo Freire, o traço mais original da educação desse século é o deslocamento de enfoque do individual para o social, para o político e para o ideológico.  A educação permanente e social é uma realidade no século XX. Em nosso país e no mundo notamos várias diferenças na educação devido às diversas regiões e ideologias. Todavia notamos que há idéias universalmente difundidas, entre elas a de que não há idade para se educar, de que a educação se estende pela vida e que ela não é neutra.

                   O grande pensador contemporâneo Edgar Morim relata que; “Afinal, de que serviriam todos os saberes parciais senão para formar uma configuração que responda a nossas expectativas, nossos desejos, nossas interrogações cognitivas?”. No seu livro Os sete saberes necessários à educação do futuro, Morin apresenta o que ele mesmo chama de inspirações para o educador ou os saberes necessários a uma boa prática educacional. Destacamos aqui o primeiro saber que nos indica pela ideia de Morim que, para desenvolver uma autêntica educação, esta deve se apoiar na justiça, na democracia verdadeira, na igualdade e na harmonia com o entorno das parcialidades.

 

Um conhecimento capaz de criticar o próprio conhecimento: As cegueiras do conhecimento são o erro e a ilusão. Cada pessoa está condicionada pelo seu próprio mundo emotivo, pelas suas percepções da realidade, pelo seu mundo cultural e por influências sociológicas. As teorias científicas não estão para sempre imunizadas contra o erro. Resulta difícil entender que tenhamos uma educação que visa transmitir conhecimentos e seja cega quanto ao que é o próprio conhecimento humano. Sem aprofundar sobre os seus dispositivos, enfermidades, dificuldades, tendências ao erro e à ilusão, e não se preocupe em fazer conhecer o que “é conhecer”. Temos, por tanto, que introduzir e desenvolver na educação o estudo das características cerebrais, mentais, culturais dos conhecimentos humanos, de seus processos e modalidades, das disposições tanto psíquicas quanto culturais que o conduzem ao erro ou à ilusão. (MORIN, 2003, p. 19)

                 

                  No mundo da informação, a escola deve servir uma orientação para navegar nesse mar do conhecimento, quebrando o paradigma utilitarista de só oferecer informações "úteis" para a competitividade, com o objetivo de obter resultados. No oferecimento de uma formação geral na direção de uma educação integral, seria bom um seguimento neutro? Este fator significaria; orientar criticamente, sobretudo os jovens, na busca de uma informação que os faça crescer em todos os seguimentos do conhecimento.

                    Para o professor da Essejota (LOPES, 2011, p. 01) dizer que é possível uma educação neutra significa, uma tentativa de se desvirtuar a educação da sua essência. Partimos do pensamento que educar requer um projeto que se consista em uma ideia de homem. Lopes diz que educar, é sempre educar para e, simultaneamente, educar a partir de. Lopes ainda relata que a educação dita neutra é uma educação de pensamento único, a história é clara quanto aos riscos que dela emana, ou é uma educação para ausência de pensamento ou para o pensamento moderado. Dentro destas perspectivas a escola deve mostrar claramente que tipo de homem pretende educar, qual o tipo de sociedade tem a intenção de formar e construir. 

                   Outro fator a ser lembrado e analisado é a questão da metodologia de ensino a ser abordado nas escolas. Essa metodologia de acordo com Masetto (1990) também não é neutra e, por isso, pode ser feita com sustentação na tendência tradicional, fechada, aceitando o conhecimento como imutável, inevitável e eterno, sem defrontar com uma crítica, mas também pode e deve ser feita defrontando com as tendências críticas que fazem uma releitura desse conhecimento.  

 

A pedagogia, como teoria da educação, traduz essa riqueza de práticas educacionais. As pedagogias que se dizem puramente científicas, sob sua pseudoneutralidade, escondem a defesa de interesses hegemônicos da sociedade e concepções de educação, muitas vezes, autoritárias e domesticadoras. Ao contrário, as pedagogias críticas têm todo interesse em declarar seus princípios e valores, não escondendo a politicidade da educação. É o que acontece com a educação popular, a educação social e a educação comunitária. Elas se situam no mesmo campo de significação pedagógica, o campo democrático e popular. (GADOTTI, Artigo, Educação Popular, Educação Social, Educação Comunitária. P.1)

 

 

                  No encetativo, toda a educação é, ou deve ser social, já que quando falamos de educação não podemos desonerar da sociedade, da comunidade e do contexto familiar, social e político onde vivemos.

                   Sobre essa questão da neutralidade educacional, é possível pensar, definir uma concepção de educação com fins neutros. O pensador Rousseau é determinante em seu pensar “O Homem Nasce Livre” o filosofo acreditava na candura da natureza humana, ele é por si naturalmente bom. Para Rousseau as instituições criadas pelo homem, sendo determinantes a educacional e a cultural, são as responsáveis na corrupção da natureza humana. Na visão rousseauniana a educação não deve permitir imposições autoritárias, por ter o homem uma natureza boa, essas imposições autoritárias são características de uma educação negativa de acordo com Rousseau. Esta educação negativa poderíamos admitir em nosso mundo contemporâneo como a educação neutra. 

                   Para Jean-Paul Sartre (1905-1980), a liberdade é a condição 

ontológica do ser humano. O homem é, antes de tudo, livre, sua tese é: a liberdade é absoluta ou não existe. A autonomia e a liberdade são próprias da essência do ato pedagógico. O significado de autonomia envia-nos para regras e orientações desenvolvidas pelos verdadeiros sujeitos da ação educativa, sem coações externas. Para Rios (1982, p. 77), a escola tem uma autonomia relativa e a liberdade é algo que se experimenta em situação e esta é uma articulação de limites e possibilidades. Em Bauman, 1999, p.54 nos diz; “A riqueza é o ingresso para a liberdade de escolha. Sem ela, não há liberdade de escolha, logo, também, a perspectiva de vida e sua posição social estão condicionadas a isto. Analisando Bauman vemos que: Aquele que não é rico ou não tem super conhecimentos, não tem poder a liberdade de escolha, suas opções são oprimidas, isso faz o individuo muitas das vezes ceder às parcialidades do sistema.     

                 Em sua última obra publicada em vida, Pedagogia da Autonomia, Paulo Freire expõe suas propostas de práticas pedagógicas, que no seu pensamento são essenciais à educação. Essas práticas seriam a máxima na criação dos meios de construir a autonomia dos estudantes, valorizando e respeitando sua cultura e seu acumulado de conhecimentos empíricos junto à sua individualidade. Freire evidencia a importância de permitir condições aos estudantes de socializar com os outros e com o professor, valorizar sua experiência como um ser histórico e social que pensa, critica, opina, tem sonhos, se comunica e dá sugestões. Freire em seus estudos demonstra convicção que a educação é uma forma de transformação da realidade, que não é neutra e nem indiferente, mas que tanto pode destruir a ideologia que prevalece como pode também proteger. O pedagogo como um ser histórico, político, pensante, crítico e também emotivo não pode apresentar atitude neutra. Deve ter uma postura autentica revelando o que pensa, indicando diferentes caminhos sem conclusões acabadas e prontas, para que o estudante construa assim a sua autonomia. Uma característica fundamental no trabalho profissional do professor é saber escutar, “aquele que escuta é capaz de falar”. Em Paulo Freire no livro Pedagogia da Autonomia, este grande pensador nos mostra claramente conclusões sobre o tema investigado:

Para que a educação fosse neutra era preciso que não houvesse discordância nenhuma entre as pessoas com relação aos modos de vida individual e social, com relação ao estilo político a ser posto em prática, aos valores a serem encarnados, era preciso que não houvesse, em nosso caso, por exemplo, nenhuma divergência em face da fome e da miséria no Brasil e no mundo; era necessário que toda população nacional aceitasse mesmo que elas, miséria e fome, aqui e fora daqui, são uma fatalidade do fim do século. Era preciso também que houvesse unanimidade na forma de enfrentá-las para superá-las. Para que a educação não fosse uma forma política de intervenção no mundo era indispensável que o mundo em que ela se desse não fosse humano. Há uma incompatibilidade, total entre o mundo da fala, da percepção, da inteligibilidade, da ação, da observação, da comparação, da verificação, da busca, da escolha, da decisão, da ruptura, da ética e da possibilidade de sua transgressão e a neutralidade não importa de quê. (FREIRE, Paulo,1996, P.42)

 

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

                   Em uma concepção por análise simples notamos que as escolas, universidades são instituições criadas devido às necessidades emergenciais de cada sociedade. Todas as formulas de estudos adotados pelas escolas ao longo do tempo vem prestigiar as classes dominadoras e se colocarem a serviço das mesmas, em decorrência das próprias urgências. A realidade escolar atual pelo menos em uma visão aparente visa oferecer condições fundamentais para o cidadão gozar da plena cidadania colaborando com a democratização do estado, e por consequência da comunidade escolar. Esse fator delega liberdade aos estudantes, instrumento necessário para a construção de uma sociedade justa e com mais igualdade. O centro de objetividade dos educadores e suas escolas devem ser; ampliar a globalização dos conhecimentos, favorecendo o acesso a todos os bens culturais desenvolvidos pelo homem ao longo da sua história.      

                   Quando uma escola que manifesta sua intenção de ser neutra e ao mesmo tempo quer estabelecer regras de neutralidade, se torna uma instituição contraditória. A intenção de busca de neutralidade torna-se uma imposição. A partir deste pressuposto fica claro que o mais importante não é ter uma escola neutra, mas, uma instituição que tenha objetivos transparentes, embasados em bons projetos educativos. Uma prática pedagógica exige tomada de posição, definição, ruptura contra todos os fatores que causam desconforto aos estudantes e professores. Esses fatores abomináveis são o despudor, a falta de liberdade contra o autoritarismo, o desfavorecer da democracia contra as possíveis ditaduras de esquerda ou direita, toda e qualquer discriminação, toda dominação econômica individual ou das classes sociais. As definições dos fatores de risco da área pedagógica necessitam de coerência e liberdade, essa às vezes necessita de autoridade para conclusão dos fatos. Esse fator nos mostra que não existe neutralidade na educação.     

                   No mundo pós-moderno a educação também é inserida por instituições mercadológicas, o estudante destas instituições é tratado como cliente, este termo causa desconforto ao meio educacional, uma máxima do mercado mercantilista “o cliente não pode ser maltratado” no meio educacional não pode ser reprovado (Revista Filosofia Janeiro 2013, pag,16). Esta situação, também outras, faz a família ser motivo de falta de neutralidade nas instituições, estas são deliberadamente culpadas, sendo os professores o alvo principal de acusação pelo fracasso acadêmico dos filhos e da própria negligencia familiar. Quando isto acontece, uma tomada de partido ao julgar, tendo em conta sua preferência, sem se importar com a justiça ou com a verdade, acontece à parcialidade educacional onde a classe desfavorecida é sempre o corpo docente da instituição.

                    Hoje somos capazes de interferir em nossa própria realidade, tarefa difícil, complicada, mas geradora de novos conhecimentos. Aquele que estuda nos mais variados setores do conhecimento não pode permanecer desatento, distante, ingênuo e neutro. O estar no mundo hoje exige postura, tomada de posição, isto implica em decisão, escolha, intervenção na realidade. Um conhecimento que surge com intencionalidade para um direcionamento neutro, a sua defesa já deixa de ser neutra. Segundo Paulo Fernando da Silva autor do livro Conceito de Ética na contemporaneidade; a pretensa neutralidade positivista no que tange aos valores mostra-se ilusória, pois a própria condição de objetividade da sociedade alienada caracteriza o preestabelecimento de valores a serem reproduzidos pelos membros da sociedade.

                  Chegamos à conclusão que todos os setores do meio educacional não devem almejar uma educação neutra, mas o foco principal de pretensão deve ser o respeito, a ética, envolvendo todos os alunos e professores por parte da administração pública ou privada das instituições de ensino. Podemos afirmar diante de tentos relatos investigados que uma educação neutra seria uma educação hipócrita, opressora e com grande probabilidade de ser autoritária. Há uma convicção eminente e proposta por vários educadores que vale a pena apostar na liberdade educacional, essa nos poderá levar sempre a novos conhecimentos e a bons diálogos acadêmicos e a novas descobertas cientificas, para o crescimento da humanidade ampliando constantemente o seu mundo dos saberes. Assim poderemos sempre estar melhores e mais bem localizados no mudo que vivemos e habitamos.            

 

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