Infância… um resgate pessoal
Por Adriana Maluendas | 15/05/2017 | CrônicasQuando penso em infância, na minha própria infância, a primeira coisa que me vem à mente é a minha família, meus irmãos, meus pais e a sorte que tive de ter minha avó materna presente. Meus animais também despontam como um amor puro, lindo, inocente e que tive a alegria de conviver e reconhecer este amor desde pequena. Recordo-me ainda das primeiras observações e ensinamentos que me transmitiam sobre o mundo, e sobre como nos comportar entre adultos. A consciência do certo ou errado. Em suma, os princípios e valores que nossos pais nos ensinam desde pequenos, nos primeiros anos de vida, e que nos moldam para a convivência em sociedade e para o nosso futuro. Hoje são lembranças e memórias sobreviventes de um tempo que parece ter passado muito, mas muito rápido mesmo.
Infelizmente, muitos não tiveram uma infância feliz ou carecem de boas lembranças. No entanto, eu acredito que independente do que tenha sido sua experiência, lá no começo de nossas vidas uma coisa é certa: você sim e com certeza teve em algum momento a oportunidade de conhecer e ser tocado pelo AMOR.
Na realidade, o que gostarias de dizer e lembrar aqui é não devemos permitir que as más experiências que vivemos hoje destruam quem somos e de onde viemos. Sem sombra de dúvidas, sentimos profundamente que algumas das experiências nos tornam mais fortes ou fracos em determinadas áreas e em determinados períodos de nossas vidas. Mas, temos que nos manter firmes e evitar ao máximo que nossos valores e princípios sejam extraviados do seu curso, não permitindo que isso aconteça com você. Educação, gentileza e uma boa atitude ao próximo são atos que muitos de nós fomos preparados a oferecer e receber. E os que não tiveram esse molde de aprendizagem, muitas vezes não perceberão talvez por falta de opção, ou um infortúnio qualquer. Talvez seja a nossa missão também mostrar o caminho das pedras com nossas atitudes para que os outros se recordem ou aprendam conceitos positivos que tenham se perdido com o tempo. Foi justamente lá na infância que eu particularmente fui apresentada a conceitos lindos, nobres, daqueles do tipo que nos marca para sempre e que nos auxilia a manter um convívio melhor uns com os outros – e até no âmbito mundial entre nações. Falo especialmente sobre fraternidade, irmandade e solidariedade. E como podemos, digo nós mesmos, tentar resgatar esses sentimentos e conceitos no nosso dia-a-dia, em momentos que menos esperamos ou em que mais nos parecer ser o momento ideal? Com a mesma dedicação que uma criança monta seu legos.
A vida é um aprendizado constante e dinâmico. As lições são diárias e o que nos resta é tentar desacelerar e prestar atenção a nossa volta. Às vezes, não precisamos nem desacelerar, pois quando esses valores estão tão bem enraizados que se manifestam sem muito esforço saindo do seu coração, é que conseguimos imediatamente perceber e atuar de acordo com a ação necessária em dado momento. Durante e após minha experiência de ter sobrevivido ao atentado terrorista em Nova York no 11 de setembro de 2001, muitas vezes tentava entender e analisar muitas das coisas que havia vivenciado. Por anos, não entendia ou ainda estava congelada na experiência tão brutal e maléfica que havia passado. Não conseguia ver nada naquele quebra-cabeças misturado que pudesse me fazer entender e compreender tanta maldade no mundo que se formava naquele quadro. Até hoje ainda me custa muito colocar todas aquelas peças juntas e ver o quadro todo...
Porém, quando comecei a escrever o meu livro Além das Explosões, retornando anos e revivendo experiências passadas, consegui captar novamente e ver sentimentos nobres de verdadeiros heróis anônimos que sim me fazem acreditar e entender que o bem sempre vencerá o mal. Do mesmo modo como nos lembramos dos heróis da nossa infância. Percebi a solidariedade de uma cidade inteira, de um estado, de um país que unidos pelo amor ao próximo e pelos princípios de liberdade se ergueram para ajudar vítimas, famílias, amigos, vizinhos e até visitantes. Uma nação inteira abraçando a causa do amor e da solidariedade que se percebia em cada esquina, em cada pessoa tentando ajudar alguém, sem mesmo nem se conhecerem. O amor ao próximo era evidente, mesmo em um clima tão lastimável e doloroso. Uma experiência marcante ter vivenciado a solidariedade humana ainda tão presente em nossas vidas. Não só quando vemos uma história na televisão, mas quando sentimos na pele que algo extraordinário estava acontecendo: a garra do bem enfrentando o mal. Também não posso deixar de mencionar que estar em meio a isso exercendo um ato solidário é incrivelmente marcante e tão puro que nem sequer me dei conta, tamanha é a força interna que nos impulsiona!
Que o altruísmo esteja mais presente em nossas vidas. Lembre-se que muitos não sabem o que você está passando, então não transfira ao próximo seus sentimentos negativos e nem assuma que os outros devem ou têm que saber sobre os seus problemas. Seja você e comece a impedir que a negatividade se espalhe. Recebemos uma carga como reflexo daquilo que transmitimos ao nosso entorno. Então vamos nos unir mais e exercitar a cordialidade, a solidariedade, a educação e mais bondade por onde passarmos. Claro, que momentos negativos aparecem. O estresse sempre vem acompanhado de muitos outros sentimentos negativos, tristes e melancólicos, sem contar com elevado teor de ira e frustração que nos tiram literalmente da nossa paz interna. Falo de como tentar lutar para que isso não tome as rédeas do nosso comportamento e do nosso dia-a-dia. Então, o momento para desacelerar é buscar lá na nossa infância algo que nos alivie, que nos suavize por um tempo. Busque em você algo que lhe faça sorrir, que lhe faça ver o melhor que há dentro de você, que lhe faça feliz e que lhe coloque outra vez na trilha benéfica e positiva que conduz a sua vida. E sua vida, suas experiências e o tempo não retornam. Mas ainda assim, o que acontece na infância não fica na infância... Os bons conceitos e valores devem ser sempre lembrados, lapidados e multiplicados para um futuro melhor. E os não tão bons, ou seja, os ruins devem ser vistos como lições que devemos aprender para saber evita-los sempre que possível.
Há sentimentos, valores, princípios e principalmente nossa fé, que nada, ninguém e nem mesmo uma ideologia tão perversa, criminosa e tóxica terá condições de destruir. Nossa força interior, nosso amor, nossa solidariedade, irmandade entre outros valores tão preciosos e positivos são fortes e podem se tornar muito sólidos dentro de nós, valores contrutivos e positivos que sim contribuiem para um mundo melhor. Como a criança pura que habita cada um de nós em busca da liberdade de escolher o bem e um futuro mais justo.
Do mesmo modo que vemos uma criança feliz com seus brinquedos, a escolha de um futuro mais positivo e justo se encontra no agora e como agimos com o que temos em mãos. Então, que suas ações sejam resgatadas em breve ou, quem sabe ainda, conceitos novos, positivos e construtivos sejam bem-recebidos em sua vida. Simplesmente porque você também é um veículo responsável na transmissão de uma ética adquira da sociedade em que cresceu, com a mesma força e alegria que um menino empurra seu carrinho e uma menina cuida da sua boneca com tamanha dedicação, transformando essa energia em uma meta positiva e construtiva para um mundo melhor. Quando nossas bases são sólidas e fortes, não há razão para temer os ventos fortes, já dizia o ditado...
Que possamos nos resgatar e fazer a diferença. Uma diferença positiva no grande playground da vida em que todos nós possamos compartilhar nossos brinquedos e nos ajudar uns aos outros. Temos que enxergar esse privilégio de brincar de viver cada dia, aprendendo algo novo, sentindo a alegria de novas descobertas, apreciando o lado doce da vida e compreendendo que os remédios amargos que somos obrigados a engolir, servem para nos fortalecer.
Sorria para o mundo sempre... não deixe o mundo mudar o seu sorriso by Adriana Maluendas.