Infância, diante de sua complexidade
Por Veridiana Pereira Duraczinski | 15/11/2011 | Educação
Atualmente, o que é infância? Onde estão as crianças? Percebe-se que as crianças de hoje, estão a cada dia mudando, a infância não é a mesma do que a alguns anos atrás, as crianças não brincam mais, ou melhor, não tem mais tempo para brincar, estão desde muito cedo assumindo responsabilidades que se igualam as dos adultos, elas tem horário par tudo, para balé, natação, judô, inglês, entre tantas outras atividades que enchem o dia-a-dia das crianças.
Em muitos casos isso acontece por que os pais não têm tempo para ficar com seus filhos e assim arrumam um jeito de elas terem compromissos e responsabilidades desde muito cedo, e para assim tirar a responsabilidade dos adultos de ficarem e cuidarem das crianças.
Conforme Dornelles (2005):
“A emergência da infância é, pois, a constituição
da criança como objeto de um saber que atende
a uma necessidade e a uma vontade de poder:
conhecer para governar, isto é, produção de
saberes específicos que definiram a infância e
as tecnologias adequadas para intervir sobre ela.” (p. 19)
A infância está desaparecendo[1], pois com muitas tarefas, e com a mídia influenciando o crescimento precoce das crianças, elas desde muito pequenas, tem inúmeras atividades, querem vestir como os adultos, são muito influenciadas pelas telenovelas, que fazem as mesmas, deixarem de sentir prazer em brincar com brinquedos e brincadeiras, verdadeiramente, infantis, como por exemplo, brincar de boneca, de casinha, de carrinho, de bolinha de gude, entre tantas outras brincadeiras que faziam parte de nossa infância.
Para as crianças de hoje, a verdadeira, infância é aquela para se jogar videogame, ficar o máximo possível na frente do computar, em chat, orkut, msn, usar roupas e sapatos da moda dos adultos...
Mas para se pensar em infância devemos pensar o que nos adultos estamos exigindo das nossas crianças tanto em casa como na escola, não basta criticarmos a mídia, precisamos pensar sobre o que queremos e como queremos que seja a infância?
Para muitas crianças a infância não pode ser melhor aproveitada por que existe a escola, para elas não existe nenhum fundamento ir a escola, elas não percebem a necessidade de se aprender para a sua formação e par tentar ter um futuro, mais seguro, em tantas influencias positivas que ela pode proporcionar. Assim como constatamos no livro “O desaparecimento da infância”, de Neil Postman, em que uma criança diz:
“ Acho que a infância é desperdiçada quando vamos à escola cinco dias na semana. Na minha opinião, isto é demais” (p. 8)
Como percebe-se as crianças estão sentindo necessidade de fazer coisas que os adultos fazem, influenciadas ou não pela mídia, querem ser “adultos em miniatura” sentem a necessidade de se vestir e de se comportar como os pais, ou pessoas que eles admiram. Outro fato que vem influenciando muito na infância é a falta de limites, por parte dos pais, que deixam as crianças desde muito cedo nas escolinhas ou creches, e por culpa de ficarem por muito tempo afastado dos filhos, deixam os mesmos fazerem o que querem, e como querem assim os mesmos acabam fazendo dos demais lugares continuação do que fazem em casa.
Se pararmos e pensarmos como era a infância há alguns anos atrás podemos perceber que as crianças tinham pensamento e ações bem infantis, inocentes, não tinham contato com o mundo adulto, existiam atividades, programas, conversas, tudo separado dos adultos, o contato era quase que só familiar, e mesmo se soubessem alguma coisa da vida adulta deveriam fazer de conta que não sabiam de nada. As brincadeiras eram de boneca e casinha para as meninas e para os meninos carrinhos e futebol, e na maioria das vezes eram separadas.
E hoje a infância não passa de uma fase, que para a grande maioria das crianças e dos adultos, deve passar o quanto antes, fase essa sem muita diferença da fase adulta, para muitos só a idade e o tamanho e que demonstram essa fase. Desde muito cedo já existe uma supervalorização do corpo, a sexualidade precocemente esta presente na das crianças, mas principalmente das meninas, que em alguns casos usam o corpo para sobreviver e para sustentar seus pais e irmãos.
E ainda pode-se constatar uma grande distancia entre dois tipos de infância as das crianças com um poder aquisitivo maior e os das que necessitam, desde muito pequenos, trabalhar e muitas vezes não conhecem nenhum brinquedo e que não podem nem mesmo freqüentar a escola.
Segundo Postman, a diferença entre adulto e criança, é que: “... o adulto conhece certas facetas da vida – seus mistérios, suas tragédias – cujo conhecimento não é considerado apropriado para as crianças e cuja revelação indiscriminada é considerada vergonhosa”. (p. 29)
Como podemos constatar, diariamente, nos dias de hoje, não existe mais essa diferenciação, pois a grande maioria das crianças, já conhece muito bem, e as vezes, melhor do que muitos adultos, como é que é ser adulto, quais as responsabilidades, entre tantas outras coisas que deveriam ser do mundo adulto.
As crianças não vivem mais a infância, estão deixando de viver, de brincar, de fazer bagunça, de usar a imaginação e a criatividade inventando brinquedos e brincadeiras, para se tornarem adultos, e quando realmente chegarem a vida adulta[2] irão se dar conta de que a infância passou muito rápido e de que eles não souberam aproveitar realmente o que é ser criança, o que é viver a infância. Isso para as que têm condições, porém as que necessitam trabalhar não têm outra escolha, pois precisam ajudar a família, a qual na maioria das vezes não receba, pois financeiro e nenhum órgão governamental ou não-governamental, para que pelo menos essas crianças tivessem acesso à escola, onde elas teriam contato com outras crianças e assim poderiam viver pelo menos, um pouco de sua infância.
Em primeiro lugar precisa-se que os adultos, pais, professores, definam o que é infância para que possam propiciar momentos em que nossas crianças vivam intensamente essas etapas de precioso valor para a formação em todos os sentidos de crianças que tenham prazer em criar, inovar, inventar e se sintam felizes quando adultas e que possam assim dizer e recordar que tiveram uma infância muito estimulada e com momentos de lazer e contato com o lúdico.
Referências:
POSTMAN, Neil. O desaparecimento da infância. Rio de Janeiro: Graphia, 1999.
DORNELLES, Leni Vieira. Infâncias que nos escapam. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.