Indústria Cultural

Por Ivan Henrique | 07/02/2011 | Poesias

Indústria Cultural


Há no mercado um novo lançamento: "O caminho do Paraíso"
Mas só até o próximo mês, em liquidação e a preços irrisórios.
As novas verdades feitas em série,
Para serem abusadas entre um drink e outro,
Verdades para serem combinadas com o charme de ambientes refinados e de bom gosto.
Ambientes pós-modernos, nada que choque, nada que dure, pó e tédio.
Abundância de estilos decorados nas revistas antigas, misturas pós-utopias,
Contradições penduradas em cabides no armário.
A moda mata o estilo e o estilo vira moda,
Riem hoje, debocham hoje e usam amanhã, sem pudores.
Abaixo a culpa, pois ela emperrou o mundo por séculos.
O cinismo assassinou o romantismo e se casou com a ironia,
Geraram várias indústrias e milhares de empregos.
Mais uma camada de história ficou no chão,
para servir de diversão aos arqueólogos do futuro.
Se querem diversão rápida a indústria está pronta para fornecer,
fornece ilusões a cada segundo, tudo sob medida.
Serve nas mesas e nos ambientes refinados a dignidade de algum infeliz que crê no seu valor
Vejo quadros nas paredes e vou embora, eles ficaram encerrados em algum cofre,
Esperando seu criador ser guindado à categoria dos eleitos, dos que são aceitos.
Seu preço dispara como ouro e ações na Bolsa.
Vou embora e tento sonhar com os quadros.
Será que algum dia eu serei aceito?
Desisto a cada instante para recomeçar em seguida
Tudo é devidamente ensaiado, tudo se acerta no final.
Há apenas um cenário longo, extenso e antigo,
O drama nunca termina, só os atores morrem e são substituídos
Parece que é assim que tem de ser
Todos falam
Mas eu não acredito

Ivan Henrique Roberto
27 de junho de 1986