Indisciplina na Escola

Por Keila de Fatima Maximo Aramoni | 14/01/2011 | Educação




INTRODUÇÃO


Nos tempos primórdios, desde os primeiros passos do homem em direção a uma vida em comum, uma vida em sociedade, ele sentiu a necessidade de organizar essa comunidade ou essa sociedade em que vivia, com a chegada de importantes descobertas para a evolução do homem esse querer organizar-se desvelou-se.
Com a invenção da escrita e tempos depois com o surgimento dos primeiros povos e mais tarde ainda o surgimento das primeiras cidades, nasce o "educar", que a princípio era um direito apenas dos nobres e dos homens, mas que com o passar do tempo o grande aumento populacional, as novas invenções, a chegada das primeiras indústrias com novidades tecnológicas, a emancipação feminina esse caráter da educação foi mudando de sentido, o ser humano sentiu enfim a necessidade de que todos tivessem o direito à educação, que por sua vez ficou como um dever do estado.
Começamos aos poucos ver todos na escola desde os pequenos aos de mais idade, fomos crescendo em número de escolas, de mestres, de alunos, de cursos técnicos para mão de obra qualificada, foram então criadas as primeiras universidades públicas e particulares.
Ou seja, se entendermos a educação como um processo de humanização ou um processo em que os seres humanos se organizam intencionalmente para que em sua relação com outros se apropriarem adequadamente do conhecimento em beneficio da própria coletividade humana, logo iremos entender que a escola é um dos pilares mais importantes para a sociedade.
A escola sem duvida é uma instituição muito complexa e sua principal função é a de facilitar a inserção do indivíduo no mundo social.
O que houve é que com o passar do tempo a escola foi ampliando as suas funções e teve que começar a abranger outras áreas além das que já são de sua responsabilidade, como a alfabetização e desenvolvimento de habilidades aritméticas e científicas, a escola teve que aprender como socializar, moralizar, colocar a criança em contato com as outras e ainda ensiná-las a agir de forma adequada e e também cuidá-las enquanto os pais trabalham.
Assim, a escola passou a ter mais funções do que podemos ver, pois o atendimento a tantas funções faz com que os alunos acabem permanecendo mais tempo na escola do que com os pais, sendo assim podemos perceber
que a possibilidade de formar um cidadão para a vida e para o mercado de trabalho esta diretamente ligada a freqüência escolar.
Começou a partir deste ponto a era do direito, todos temos o direito de ir a escola, de ter um lar, uma família, um atendimento hospitalar, de ir e vir entre tantos outros direitos que nos são conferidos como cidadãos, começamos a ensinar as famílias sobre os seus direitos e as famílias por sua vez começaram a ensinar os filhos sobre seus direitos, todos juntos em uma única direção, que é a de aprender e ensinar.
Para uma educação ideal a disciplina deveria ser um ato de livre escolha, com isso a liberdade iria enriquecer-se de suas próprias possibilidades e esses princípios liberdade e disciplina não deveriam ser vistos como conceitos tão contrários.
Em nossa atualidade esbarramos a cada dia de forma mais impactante a uma educação que parece estar á nau, se fazermos assim, não pode ser, se fazermos de outra maneira, não nos é permitido, encontramos profissionais despreparados e mais, abandonados pelo Estado. Assim podemos perceber uma influência direta de nossa sociedade capitalista que prioriza o ter, o que traz graves conseqüências para dentro da sala de aula, onde está o "inadequado", será que podemos localizá-lo? Será que há uma maneira para mudar nossa escola e dar um fim à indisciplina? O que será mesmo a indisciplina, porque ela existe, o que podemos fazer e será que há um caminho que a escola possa seguir para tentar amenizar esse problema?
Essas são algumas questões que tentaremos responder ao longo de nosso trabalho.


1.1 O QUE É INDISCIPLINA DE ONDE ELA VEM?


Se procurarmos em um dicionário o significado da palavra indisciplina encontraremos a seguinte resposta: "falta de disciplina, desobediência: dar provas de indisciplina, ou seja, a falta de obediência".
O que nos é importante tingir nesse termo é de que a indisciplina segundo Parrat (2008, p 21), é um conceito que pode se traduzir de muitas maneiras e por isso pode ter muitas interpretações. No entanto pode ser observada de diferentes pontos de vista: do aluno, do professor ou o ponto de vista da escola.
Primeiramente observou o referencial do aluno, que a sua noção de indisciplina irá se expressar nas suas relações inter-pessoais e com os profissionais da escola e ainda com o seu desenvolvimento cognitivo.
Logo, um aluno indisciplinado é aquele aluno que não segue as normas impostas pela escola, sejam elas implícitas ou não, um aluno indisciplinado será aquele que irá tentar sempre ir, digamos, na contramão do que a escola rege através de suas prioridades.
Se olharmos pelo ponto de vista escola na medida em que ela se manifesta contradizendo os seus próprios referenciais, pode-se então dizer que há ai também uma escola indisciplinada. Pois, se uma escola assume o caráter democrático não poderá de forma alguma agir contra esse tipo de regime, o que pode dificultar a relação entre alunos e professores, trazendo como consequência as rebeliões por parte de alunos e que nesse contexto não poderia, então, ser visto como indisciplina.
Se olharmos do ponto de vista do professor, a forma de agir e de conduzir é que irá mostrar se ele mesmo respeita as normas ou não, e também a forma como ele intervém para estabelecer as normas podem gerar indisciplina por parte dos alunos, sendo assim, se o professor acomoda-se e não dá importância para o andamento da aula, mata o tempo, não faz o planejamento adequado de suas aulas e ainda não busca de forma efetiva o conhecimento e a cultura , e não se sente apto para a tarefa educar, é claro que os alunos irão sentir essa deficiência no mestre e irão rebelar-se.
Ainda segundo Parrat, (2008, p 22), podemos perceber então que a indisciplina não é um fenômeno estático ou abstrato que mantém sempre as mesmas características, suas expressões são susceptíveis a mudança em função de uma época ou de alguma circunstancia, é preciso analisar cada caso e pensar qual a participação da escola nesse fato, e ainda procurar recursos para entender e solucionar o problema, e não simplesmente assumir uma posição ingênua ou autoritária, que irá sugerir que o problema está no aluno.
Outro problema que está intimamente ligado à indisciplina é o de que com o tempo os professores começam a adotar um sistema em que o aluno passou a ser tratado como que um fantoche em sala de aula, foi tirado do aluno o ato de pensar, é como se ele tivesse que ter uma função mecânica em sala de aula, usando a decoreba, e portanto, não adquirindo realmente o conhecimento, ou como segundo Freire na sua concepção bancária no livro da Pedagogia do Oprimido nos diz:
"Na concepção "bancaria" que estamos criticando, para qual a educação é o ato de depositar, de transferir, de transmitir valores e conhecimentos, não se verifica e nem pode verificar-se esta superação." (FREIRE, 2005)
Nessa concepção percebemos que o aluno não tem a oportunidade de expressar sua identidade e assimilações, acaba por não ter o espaço para a criatividade mental, lhe é tirada a oportunidade de desvelar o conhecimento e quando o faz, acaba por ser visto como um aluno indisciplinado por fazer com que o professor saia do seu roteiro.
Outro fator que importa frisar é de que a indisciplina é um problema que o professor enfrenta há muito tempo, ela não é um fato que ocorre só nos dias atuais, Santo Agostinho já sofria com a indisciplina de seus alunos na Idade Média, Agostinho não gostava de exercer o magistério ele o exercia apenas pelo dinheiro, e isso pode ter influenciado os seus alunos para que os mesmos viessem a se tornar indisciplinados.
Pareceu-me de bom alvitre, em tua presença não abandonar de modo ostensivo o ministério da minha língua, mas retira-lo suavemente do mercado da loquacidade, para que dali por diante os jovens, que não se preocupam com a tua lei ou paz, mas com as enganosas loucuras e contendas forenses, não comprassem de minha boca armas para seu furor. Felizmente faltavam pouquíssimos dias para as férias de vindimas. Decidi suportá-los até lá. AGOSTINHO (,2005, p 188).
Podemos assim, trilhar pelo caminho de que o problema da indisciplina está intimamente ligado ao professor, de como ele conduz a classe, se o professor realmente ama ser professor, se ele tem amor à profissão, se está satisfeito com o magistério, com o reconhecimento financeiro que lhe é dado, essas e outras muitas questões relacionam-se com o professor, ou seja o professor pode sim ser um dos responsáveis pela indisciplina, se ele não tem firmes suas próprias convicções.
Segundo a Revista Nova Escola (2009), "Ou ainda vemos que a autoridade do professor diante a classe só se da pelo conhecimento do professor, pelo domínio que o mesmo tem de seu conteúdo e ainda se ele sabe usar de boas estratégias para ensiná-lo, porque se não a aula pode ficar repetitiva e causar o tédio no aluno, e o tédio faz com que o aluno queira procurar algo melhor para fazer.".
A escola é sem duvida um espaço para o conhecimento, mas ainda assim precisamos deixar livre o espaço para a criatividade da turma.


1.2 REGRAS MORAIS E DISCIPLINA EM SALA DE AULA.


O tema indisciplina tem sido um tema muito discutido entre os educadores, pois estes acabam perdendo muito tempo de uma hora aula para tentar manter a disciplina, as maiores reclamações se dão por conta de conversas paralelas, uso de celular, dispersão em sala de aula; não podemos deixar de lembrar que há, como já discutimos em nosso trabalho, a forma da atuação docente, todos esses fatos vêm para perturbar o educador e a equipe pedagógica que, devem juntos unir forças para lembrá-los das regras disciplinares da escola.
Mas, e as regras morais não deveriam vir de casa ou de berço? Segundo Aristóteles na Ética a Nicômaco fala sobre a moral:
Em uma palavra: nossas disposições morais nascem de atividades semelhantes a elas. É por esta razão que devemos atentar para a qualidade dos atos que praticamos, pois nossas disposições morais correspondem às diferenças entre nossas atividades. E não será desprezível a diferença, se, desde a nossa infância, nos habituarmos desta ou daquela maneira. Ao contrário, terá imensa importância, ou seja, será decisiva. Aristóteles (2003, p 41)
Podemos perceber que Aristóteles deixa claro que os costumes morais devem vir da infância ou até mesmo antes dela, para que no futuro possa fazer uma grande diferença em nossas atividades e em nosso jeito de ser e conviver com o próximo. Quando a criança vem com esse referencial de casa, é mais fácil para a escola construir junto com o aluno o uso dessas regras estabelecidas pela instituição, fazer o aluno entender que as regras existem para o bem comum, para que possa haver uma ordem na comunidade em que vive e na sua sociedade.
Segundo Itiba (1996, p 159), a disciplina pode ser treinada pelos pais desde que as crianças são bem pequenas, ele faz uma comparação com um animal de estimação que será adestrado, o treinador ou disciplinador irá impor ao animal uma série de tarefas a título de um prêmio em troca das realizações das mesmas, aos poucos o treinador passa a perceber o que traz alegria e o que traz angústia ao seu animal de estimação, claro que isso tudo dentro de um clima afetuoso, pois o afeto irá garantir sempre o carinho e o agrado físico, deve haver a confiança de que realmente irá acontecer o que foi combinado, se a tarefa foi cumprida, recebe a gratificação, se não, deixa de ganhar o prêmio e essa privação é que irá causar sofrimento ao animal.
Bem, ele faz toda essa comparação para nos dizer que os filhos, às vezes, também têm comportamentos animais e buscam saciar apenas os seus desejos nem pensando se será adequado ou não o seu ato, porque não foram submetidos a um treinamento, o que claro que seria desumano, acabam por assim tendo um comportamento violento, quando lhes é pedido que façam algo que não é do seu agrado, usam palavrões fazem birra, enfim, fazem de tudo para conseguirem o que querem, inventam histórias, roubam, mentem.
A partir desse ponto torna necessário fazer com que os filhos usem os padrões humanos de comportamento e juntos devem usar a inteligência para resolver os problemas e assim enfrentar as dificuldades, fazê-los conhecer a ética, respeitar o próximo e o ambiente onde se encontram. Enfim, um ser humano para ter qualidade de vida deverá receber primeiramente dos pais uma educação que parta dos princípios morais de coerência e verdade.
Por esse caminho já podemos encontrar um dos primeiros obstáculos para a educação em sua essência, pois as famílias da nossa atualidade encontram-se sob estruturas frágeis e na sua grande maioria não podem dar o apoio necessário aos filhos na sua formação, passando essa tarefa para a escola que por sua vez não esta preparada para assumir por inteiro tal tarefa, pois à escola deve ser dado apenas o papel de escola; o que se deve entender é que temos que definir o dever da escola, e começar a distribuir outros deveres a toda a sociedade.
Na sua maioria, a família tem que contar com o trabalho da mãe para garantir o seu sustento, assim os membros da família relacionam-se pouco e esse pouco tempo que ficam unidos não é bem aproveitado, outra questão importante é a questão dos valores morais que hoje estão abalados pela nossa sociedade capitalista onde o que mais importa é o ter e não o ser, o ser humano vale menos que coisas materiais, prega-se descaradamente o consumismo, o sou o que tenho, se não tenho, não sou nada. Isso com certeza traz sérios prejuízos à formação moral e intelectual de nossos jovens, os próprios pais estão desorientados então como eles poderão orientar? se eles próprios já tem os seus valores corrompidos.
Segundo a Revista Nova Escola (2009)," Saber como o ser humano se desenvolve moralmente em sua trajetória é importante ou diríamos essencial para que se possa questionar quais as causas da indisciplina."
Pois, antes de as crianças entenderem o que é uma regra, elas simplesmente as seguem quando ditadas por terceiros, é a chamada moral heterônoma, e nessa fase é de fundamental importância a autoridade para com os pequenos.
A partir do momento em que a criança passa a perceber que o respeito mútuo se sobrepõe a coação, passa a ser fundamental a cooperação entre as relações crianças/ adultos.
Uma escola deve saber separar as regras morais das convencionais e deixá-las bem claras aos alunos, já que as regras morais ou não negociáveis são expostas apenas quando necessário, pois elas não são elaboradas por um grupo, não são negociáveis e nem estão sujeitas à mudanças, ao contrário das regras convencionais que dependendo da situação podem facilmente ser mudadas.
Segundo Macedo (1996, p 65), os educadores têm que frisar à criança a importância das regras, para ele nem tudo deve ou pode ser combinado, faz uso do exemplo de escovar os dentes, que não pode ser um combinado, porque é uma lei de boa saúde. Para colocar uma regra à criança é preciso dar certa margem de escolha, claro que dentro de alguns limites, como por exemplo, perguntar a criança se ela prefere passar protetor solar e brincar no sol e na água ou simplesmente brincar na sombra.
Quando se transforma uma limitação em uma escolha a criança vê, pelo menos, uma possibilidade de tomar uma decisão. As regras negociáveis sempre existem em pequeno número nas escolas e dizem respeito principalmente a cuidar de si próprio do próximo e do patrimônio, lembrando sempre que os adultos devem sempre pensar se essas normas são ou não justas.
No que pensamos as regras negociáveis iremos ver que elas servem para organizar o trabalho e sempre têm origem nas necessidades de um grupo, sendo assim constituídas entre todos os elementos da escola, lembrando sempre que uma vez essas regras estabelecidas devem ser cumpridas por todos inclusive pelo professor.


1.3 HÁ REMÉDIO PARA A INDISCIPLINA?


Como podemos perceber não há uma fórmula mágica para acabar com a indisciplina, o que há, sim, é muito trabalho para ser feito, primeiramente o professor deve tentar conhecer o universo da comunidade na qual o aluno está inserido para assim ter uma base de como é a sua realidade, por seguinte a escola deve manter as portas abertas a essa comunidade e especialmente um diálogo freqüente e franco com os pais de alunos, o professor por sua vez deve manter um clima amigável com os alunos e estabelecer as regras com a classe assim que a conheça, pois para o bom andamento da aula o professor precisa ganhar confiança da turma para assim estabelecer um diálogo e finalmente poder dar a aula que preparou.
A Revista Nova Escola (2009), propõe um projeto institucional muito interessante para tentar ao menos amenizar o problema hoje tão enfrentado por todas as escolas.
Segundo a revista, é essencial que a escola se responsabilize pela garantia de um ambiente de cooperação, onde haja respeito, dignidade e integridade entre as relações, isso pode ser dado através de formação continuada para a equipe, sempre tendo em mente que os conflitos irão acontecer e que juntos devem ser resolvidos sem tentar botar a culpa em ninguém, assim a revista apresenta quatro estratégias que são:
? Demonstrar que a honestidade é sempre importante os aluno devem aprender que podem se expressar sim, mesmo que isso não agrade ao professor, ele não deve ser punido e sim orientado para perceber que o sentimento do bem estar por seguir a verdade é o que mais conta;
? Não agir de improviso, esperar para saber qual a melhor decisão, pois se agirmos de improviso podemos tomar decisões inadequadas;
? O professor e a equipe devem procurar reconhecer sentimentos para orientar comportamentos, pois a raiva é um sentimento comum ao ser humano, não se pode dizer ao aluno "você não pode se sentir assim ou agir com raiva de seu amigo," é inadequado, o aluno deve ser orientado com algo do tipo: "você deve ter ficado mesmo muito bravo para bater em seu amigo, mas isso resolveu o seu problema?".
? A equipe deve acreditar que o conflito pertence aos envolvidos, o que não pode significar omissão ou alienação quanto ao problema, o professor deve ser o mediador, ajudar a descrever o problema, incentivar o aluno a expor seus sentimentos e ações para assim juntos buscarem uma solução, sempre respeitando os princípios.
Sugestões como essas são com certeza muito válidas para o dia a dia da escola, além, claro, que devem vir acompanhadas de um bom desempenho do professor com aulas bem elaboradas com conhecimento do que está sendo exposto ao aluno, com espaço para questionamentos e principalmente com respeito ao aluno.
Segundo FREIRE (2005, p. 144) "não importa com que faixa etária trabalhe o educador, o trabalho dele é realizado com gente que pode ser miúda, jovem ou adulta, ou seja, gente que esta em constante processo de busca, gente que esta se formando, crescendo, se orientando, mudando, melhorando, mas também por gente que pode negar valores, transgredir, distorcer. Não sendo superior nem inferior a outra pratica a prática docente exige sim, um alto nível de responsabilidade ética da qual a própria formação científica do profissional já faz parte.
Se o professor não pode estimular os sonhos impossíveis, também não deve negar ao aluno o direito de sonhar, isso porque o professor lida com gente e não com coisas, por isso não pode, por mais que sinta prazer, entregar-se a reflexão teórica e crítica em torno de sua própria prática seja docente ou discente, o fato de recusar a atenção dedicada e amorosa e a problemática mais pessoal deste ou daquele aluno, o professor não pode se fechar ao sofrimento e inquietação do aluno porque ele não é terapeuta ou assistente social, ele é gente, e pode perfeitamente ouvir o aluno sem que isso perturbe o seu tempo de docência.
Ainda segundo FREIRE (2005, p 146) a percepção de homem e mulher programáveis para aprender e, portanto, para ensinar, para conhecer e intervir é que faz da prática educativa um exercício constante em favor do desenvolvimento de educadores e educandos.
A educação não pode ser entendida como uma prática fria, que não tenha alma, sentimento, desejo e nem tampouco como uma prática educativa como uma experiência que possa vir sem o rigor que se gera a necessária disciplina intelectual.
Com certeza a imposição de limites é uma preocupação que todo o sistema educacional de hoje observa, precisamos lembrar que os pais, a família, a escola, a comunidade e toda a nossa sociedade devem compartilhar a responsabilidade pela educação de nossos jovens, devemos ter sempre muito claro em nossas convicções de que quem educa a criança é o adulto, que pode ser representado por toda a comunidade a qual o sujeito está inserido, sendo assim, o tipo de educação que a criança irá receber vai depender diretamente desse adulto, dessa sociedade e essa sociedade precisa ser segura de suas convicções, iniciativas e atitudes e, sobretudo amar e respeitar essa criança sem exageros e ausências em suas prioridades.
Pois, será essa educação que no futuro fará toda a diferença tanto para quem a recebeu como também para a sociedade na qual o indivíduo fará parte, percebemos assim que todo o futuro do ser humano, sem tratar aqui de utopias, pode sim estar diretamente ligado ao tipo de educação que ele recebe e recebeu em sua vida.



1.4 A ESCOLA DEVE SER UM ESPAÇO DEMOCRÁTICO.


Um dos termos mais ouvidos nos últimos tempos dentro da escola é o termo democracia, a palavra que vem do grego e significa governo do povo, ou seja, é um termo que podemos usar como um mecanismo que serve para delimitar e legitimar o poder público, com o passar do tempo conforme foi acontecendo a evolução da escola e da sociedade, mudanças nos termos econômicos e sociais, culturais e com a chegada de novas tecnologias os professores, a comunidade e os próprios alunos começaram a querer ter mais voz ativa dentro da escola e participar diretamente das decisões da equipe pedagógica e gestora, a partir de então, o Estado aderiu a tendência de políticas públicas que trazem a tendência de descentralização de poder, passando essa responsabilidade para as comunidades locais, assim todos os indivíduos da sociedade têm a oportunidade de decidir em conjunto com a equipe, gestor, governo e comunidade o que será melhor para a escola.
Esse tipo de gestão democrática ou compartilhada passa por dois aspectos:
? Aspecto interno; ira permear os processos administrativos, os projetos pedagógicos e a participação da comunidade em que a escola esta inserida.
? Aspecto externo; ira contemplar a função social da escola mesmo em como ela produz, socializa e divulga o conhecimento.
Segundo (HORA): a escola enquanto instituição deve procurar a socialização dos saberes para suprir as demandas sociais.
A escola como uma instituição que deve procurar a socialização do saber, da ciência, da técnica e das artes produzidas socialmente, deve estar comprometida politicamente e ser capaz de interpretar as carências reveladas pela sociedade, direcionando essas necessidades em função de princípios educativos capazes de responder às demandas sociais (HORA, p. 33).
No entanto, para fundamentarmos a gestão democrática temos que construir um espaço público que se comprometa a promover condições para que haja a igualdade entre todos os seus componentes, e essa mesma escola terá que dar garantia de estrutura e material para a oferta de ensino de qualidade, e assim contribuir para a superação do sistema de exclusão e de seleção e ao mesmo tempo dar a possibilidade de esses sistemas se co-realcionarem para a produção e distribuição de riquezas.
Para que uma escola tenha uma gestão democrática que realmente seja democrática um dos pilares para esse caminho é sem dúvida o gestor que irá compor um dos papéis mais importantes dentro dessa transformação de escola tradicional para escola participativa, para isso, o gestor terá que ter uma boa formação, além de saber como trabalhar com os conflitos que com certeza irão acontecer, terá que ter competência para buscar novas soluções, e essas soluções deverão atender aos interesses da comunidade escolar, o gestor tem que compreender que o desenvolvimento a qualidade da escola vai depender do engajamento de todos em realizar suas metas, sem nunca esquecer de respeitar a individualidade de seus membros.
Segundo LIBÂNEO (2004, p 102), para assumir esse papel o gestor terá que buscar a articulação de diferentes peças sempre em busca de uma educação de qualidade, o que ira proceder em uma gestão que tem a capacidade de estar envolvida como todos os segmentos da comunidade, sem dúvida a participação é o principal meio de garantir uma gestão democrática, porque somente essa participação é que irá possibilitar aos profissionais envolvidos uma participação efetiva nas tomadas de decisões.
A gestão democrática redistribui responsabilidades, idéia de trabalho em equipe, decisão sobre as atividades que serão desenvolvidas, e tudo isso sem levar em conta o nível de hierarquia dentro da escola, pois assim todos participam usando de seus talentos, e trazem com isso inovações positivas para a escola e para a comunidade.
Segundo LUCK ( 1998) :
No final da década de 1970, os educadores e pesquisadores de todo o mundo começaram a prestar maior atenção ao impacto de gestão participativa na eficácia das escolas como organizações. Ao observar que não é possível ao diretor solucionar todos os problemas e questões relativas a sua escola, adotaram a abordagem participativa em sua escola fundada no principio de que, para a organização ter sucesso, é necessário que o diretores busquem o conhecimento especifico e a experiência de seus companheiros de trabalho. Os diretores participativos baseiam-se no conceito de autoridade compartilhada, por meio da qual o poder é delegado a representantes da comunidade escolar e a responsabilidade é assumida em conjunto. (LUCK, 1998, p.19)

Dentro desse contexto do importante papel do gestor para a implantação da escola democrática, não podemos nos esquecer, mais uma vez, do fundamental papel do professor na escola para que as idéias gestoras sigam adiante e para que haja essa engrenagem entre gestor, educador, comunidade e escola para que enfim o aluno possa sentir que a escola é uma extensão de si próprio, assim irá desenvolver suas habilidades com mais facilidade e disciplina, pois dentro do ato de ensinar também esta inserido o ato de administrar, seja a classe ou a lição que será ensinada envolve a tomada de decisões, envolve um plano que obedece a um meio, uma técnica, o professor, portanto, administra a lição, ensina, transmite, comunica e ao mesmo tempo orienta ,aconselha o aluno exercendo também uma função moral, essas habilidades terão a oportunidade de florescer e dar bons frutos dentro de uma escola que tenha efetivamente caráter democrático.
Ferreira afirma que:
A gestão democrática da educação é, hoje, um valor já consagrado no Brasil e no mundo, embora ainda não totalmente compreendido e incorporado a pratica social global e a pratica educacional brasileira e mundial. É indubitavelmente sua necessidade para a construção de uma sociedade mais justa, humana e igualitária. É indubitável sua importância como fonte de humanização. (FERREIRA, 2000, p.167).


2 CONSIDERAÇÕES FINAIS


O tema da indisciplina na escola é de uma complexidade muito intensa, pois os problemas gerados pela indisciplina têm cada vez mais sido vivenciados dentro das escolas, e cada vez de maneira mais constante e violenta, o que pudemos concluir é de que as escolas têm a urgência em definir e desenvolver políticas internas para então agirem de forma preventiva com o tema da indisciplina, há sem duvida também a necessidade de formação de professores em serviços que sejam voltados para a discussão de problemas que são vivenciados no dia a dia da escola, há a urgência de investimento e comprometimento do poder público com a Educação para valorizar a escola e o professor e permitir o acesso dos profissionais da Educação a todas as formas de cultura para que assim todos os educadores possam sentir que fazem realmente parte do grandioso projeto educar, e que ao mesmo tempo tem o mesmo significado de evolução humana para a valorização plena do ser humano.
Pudemos saber que embora seja difícil o problema da indisciplina, o professor não pode desistir e tampouco acomodar-se, pois é dever do professor não permitir que a educação silencie e limite ou impeça o desenvolvimento criativo e participativo do aluno em sala de aula, em nossos dias precisamos de uma Educação que valorize as organizações que sejam coletivas e que contribuam de forma efetiva para a sua autonomia, visando sempre como fim o pleno desenvolvimento intelectual do aluno, a fim de que possamos conquistar uma sociedade democrática.
Assim, destacamos também como é importante a escola ampliar os seus limites de participação, para ai instaurar um novo diálogo, uma nova forma de comunicação, que se dará com a evolução do conceito de cidadania, conceito esse que tem muito a ver com próprio reconhecimento de si mesmo, pois se as desigualdades dificultam as relações de respeito entre as pessoas, somente o senso de reconhecimento no outro pode significar uma evolução dentro das relações que se dão na escola.
Tem-se a urgência em dar o amparo legal, justo e mais humano aos educadores para que possam fazer seu trabalho cada vez mais de uma forma que venha a ser brilhante, pois assim o objetivo principal da educação será atingido que é a de facilitar a inserção do individuo na sociedade.
No entanto, até que possamos assegurar mais essa evolução, continuaremos a ouvir a mensagem da indisciplina, até que possamos entendê-la melhor em seus sentidos para então aprender a reconhecer quais as necessidades e urgências que ela nos comunica.


REFERENCIA BIBLIOGRAFICA


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